quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A economia doméstica de Paulo Guedes de voos para a Disneylândia

O governo de Jair Bolsonaro é composto de tanta gente grosseira, com tamanha quantidade de besteiras, que o resultado final acaba obrigando a uma comparação em que salva-se o menos pior, com o risco inclusive da exaltação de figuras que nem seriam notadas por qualquer qualidade pessoal caso sofressem uma avaliação fora do lamentável contexto desse governo. Como não dá para separar trigo em meio a tanto joio, aceita-se um joiozinho que não seja de todo miserável.

O próprio presidente Bolsonaro se esforça para desequilibrar o escore de qualidade moral, política e, vá lá, intelectual. O exagero leva as pessoas a descuidarem dos demais bestalhões, que seguem as ordens do chefe que o tempo todo fala tanta besteira que até deixou para trás aquele outro presidente muito grosseiro, que fazia citações elogiosas na primeira pessoa, alardeando que tudo o que era feito sob seu comando acontecia pela primeira vez na história deste país.

Ultimamente virou um hábito buscar nas falas de Bolsonaro ou nas suas medidas práticas a base de alguma estratégia. Sempre que dou de frente com alguém fazendo isso, me vem à cabeça uma frase de Emerson, naquela praticidade dos filósofos americanos, com ele dizendo o seguinte: “Analisando a história não convém sermos por demais profundos, pois muitas vezes as causas são extremamente simples”. Resumindo e atualizando a questão, agora de forma popular, não faz sentido buscar interpretações profundas em um governo de tão baixa qualidade, liderado por um sujeito desqualificado que fala e age meramente por impulso.

Não há estratégia alguma, nem mesmo no sentido espúrio dos objetivos políticos desse governo, onde todos querem meramente se dar bem na vida como nos tempos das rachadinhas em gabinetes do baixo clero. Ainda bem que eles são incompetentes. E o duro é que provavelmente será por esta falta de jeito que os brasileiros podem ser poupados das tremendas maldades planejadas para o Brasil. A depender de ações da oposição — igualmente de baixa qualificação em sua maioria — estaríamos irremediavelmente perdidos.

O governo se entrega pela língua, naquela incontrolável vaidade que todo idiota tem pelo que ele próprio fala. A desmoralização é tão grave que de vez em quando até o presidente Bolsonaro sente que a coisa foi longe demais. Nesta terça-feira os jornalistas o questionaram sobre as declarações do ministro Paulo Guedes, que andou falando coisas muito parecidas com a cantilena do ex-presidente Lula, que vivia dizendo que seu governo havia aberto aos mais pobres o paraíso do mercado de consumo. Os pobres já não viajam tanto de avião como no tempo de Lula. Agora estão botando ordem na casa. Com o dólar alto, as empregadas domésticas não vão mais para a Disney. O Guedes é quem disse.

Ao contrário do que costuma fazer, Bolsonaro não quis se alongar neste assunto. “Pergunta para quem falou isso. Eu respondo pelos meus atos”, ele respondeu e mais não disse, mas numa situação assim nem é preciso falar mais nada. Não deve ser fácil para ele ver aquele que acreditava ser um Posto Ipiranga falando besteira no estilo do padrinho da Dilma. E neste caso tenho que apoiá-lo na sua indignação. Pode ser interpretado até como traição, digamos, filosófica, um ministro de Bolsonaro ir até o repertório histórico de outro presidente para buscar idiotices que obteria com a maior facilidade dando uma passadinha no Palácio do Planalto.
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POR José Pires

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