sexta-feira, 21 de abril de 2023

A demissão de Felipe Moura Brasil na CNN Brasil e o cerco que se fecha na liberdade de expressão

O jornalista Felipe Moura Brasil não faz mais parte do canal CNN Brasil. A informação foi divulgada nesta quinta-feira, por meio de nota que afirma que o profissional e a empresa  "decidiram, em comum acordo, pelo distrato do contrato por não terem chegado a um consenso sobre a conciliação das diferentes frentes de trabalho do jornalista com as demandas da emissora". Ele era um dos melhores dessa televisão, ao lado de William Waack, um dos raros profissionais que não deixa um programa de notícias políticas virar uma conversa vazia sem utilidade nenhuma.


A nota da CNN Brasil segue o padrão costumeiro de tratar do desligamento de jornalistas, no entanto parece certo que houve de fato uma demissão, em razão de opiniões de Moura Brasil em desacordo ao interesse da empresa. E um ponto crucial que levou à saída do profissional é a denúncia apresentada contra Sergio Moro pela PGR na última segunda-feira, pedindo a prisão do senador e ex-juiz federal. A palavra de ordem nas podres elites brasileiras, como se sabe, é acabar com Moro, conforme sintetizou Lula recentemente com aquele conhecido palavrão.


Só para situar melhor a questão, o proprietário da CNN Brasil é o bilionário Rubens Menin, dono também da construtora MRV. Esta empresa de Menin tornou-se a maior incorporadora da América Latina, em grande parte com programas do governo federal, como o Minha Casa, Minha Vida, que Lula pretende turbinar financeiramente, focando nas eleições municipais do ano que vem e na próxima para presidente.


A denúncia da vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, tem como base um vídeo de oito segundos no qual Moro aparece fazendo uma piada em tom descontraído, falando sobre “comprar” um habeas-corpus de Mendes. É um recorte que foi rapidamente propagado nas redes sociais, porém não se informa no vídeo que o senador está em uma festa junina, se referindo jocosamente à velha brincadeira que obriga alguém a “pagar” para sair da prisão que é montada na festa.


Moura Brasil tem se colocado com firmeza contra esta grosseira armação contra Moro, que conforme o próprio Lula grunhiu raivosamente, numa confissão pública sobre sua sede de vingança, será sempre um alvo preferencial do governo. No seu Twitter, logo que saiu a denúncia da PGR, ainda como apresentador e âncora na CNN Brasil, o jornalista publicou um vídeo que esclarece muito bem o contexto da fala de Moro, que nada mais é do que uma piada banal de festa junina, enquanto se bebe quentão e come canjica e amendoim. 


Ainda no Twitter, Moura Brasil publicou um post na noite desta quinta-feira, em que aponta a razão do desacordo com a direção da CNN Brasil. Ele escreve o seguinte: “Sobre meu jornalismo: Jamais fui nem serei cúmplice da prisão de alguém, só por piadas privadas, vazadas em registros de terceiros. Tive a mesma posição, em épocas distantes, com Lula (Pelotas), Hillary Clinton e Sergio Moro, entre outros”.


Se não estivéssemos no Brasil, seria impressionante ver um caso assim sendo tratado como algo sério, ainda mais merecendo a apreciação jurídica em qualquer tribunal. Mas a coisa está no STF e não é pouco o risco dessa desavergonhada armação dar certo. A denúncia da PGR pede que, se condenado a pena superior a quatro anos de prisão, Moro perca seu mandato parlamentar, para o qual foi eleito com grande votação em 2022. E a procuradora elaborou com cuidado a peça, para que se atinja essa pena de quatros anos.


É um pretexto absurdo para a continuidade da perseguição política à Lava Jato, servindo além disso para fortalecer ainda mais o clima de intimidação à liberdade de expressão, que é claramente um dos pontos mais fortes do projeto de poder do PT e de Lula, neste novo mandato presidencial. O Brasil está desse jeito, com uma ampla armação que junta o que há de pior nos três poderes da República para fazer deste pobre país um lugar em que prevaleça a impunidade para quem tem poder e dinheiro.


Pode-se discordar das opiniões de Sergio Moro e mesmo de seus posicionamentos políticos depois que ele deixou de ser juiz federal. Eu mesmo não gostei nem um pouco da sua entrada no governo de Jair Bolsonaro, muito menos do apoio direto dado à sua tentativa de reeleição para presidente, embora no segundo turno a outra opção fosse também de baixíssima qualidade. 


Voto nulo serve para esses falsos dilemas, no entanto eu não participava diretamente da política e muito menos era candidato. São fatos que podem fazer a diferença na posição de cada um nesta vida e claro que também numa eleição. E enfim, já faz bastante tempo que aprendi que na análise política existem muitas variantes que devem ser observadas, mesmo quando não cabem dentro do que acredito ser melhor para a nossa vida.


E no caso dessa perseguição à Lava Jato, com Moro simbolizando o alvo simbólico mais importante a ser atingido pelo esquema plutocrata que se armou neste país, deve-se observar que o plano de aniquilação do ex-juiz e atual senador não é pelos defeitos que eu ou você acredite que ele tenha. Tanto não é assim, que ele atrai o ódio de uma ampla parcela de poderosos, além de Lula e outros nomes manjados em investigações policiais, de uma porção de advogados cupinchas bastante endinheirados, figuras fortes do Judiciário, muitos maiorais da política brasileira e claro que também de chefões do crime organizado inclusive de fora do país.


Ninguém deve imaginar que esses coisas ruins  se arriscariam politicamente num processo ridículo como este, nas alturas do STF, neste plano de prender um senador e ex-juiz federal por causa de uma piada tola numa festa junina, para depois não darem continuidade à intimidação, caso obtenham sucesso. Moro é só o começo. O cerco à liberdade de expressão não vai parar por aí. O clima de ameaça seguirá com mais força, que ninguém duvide disso, impondo a própria piada jurídica como norma, de tal modo que numa festa junina, um dia desses, qualquer um pode acabar numa prisão de verdade se na cadeia de uma festa junina ousar falar no nome de Gilmar Mendes.

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Por José Pires

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