Está divertido acompanhar o estranhamento entre Marta Suplicy e a presidente Dilma Rousseff. Esse é o tipo de briga sem nenhuma necessidade de ser apartada. A origem do quiproquó é a cizânia que o PT vem tentado instalar na sociedade brasileira, colocando uns contra os outros conforme as necessidades políticas e eleitorais do partido e do governo. Hoje em dia não se pode dar opinião alguma sem que se tenha pronta uma boa explicação de que não somos racistas, homofóbicos, nada temos contra os direitos das mulheres, não somos da elite branca, e tantas outras considerações para prevenir-se de complicações que a militância foi treinada para criar para quem pensa diferente do gosto deles.
Então, em razão desse clima político até idiota que deixa o brasileiro ressabiado até para comentar o novo corte de cabelo de alguém, não é surpresa que uma simples mudança ministerial crie tamanho mal estar. O PT que prepare o estômago. O fel que tentaram derramar goela abaixo dos brasileiros deverá ser saboreado por eles mesmos, em brigas internas mais ou menos deste nível, em que a relação entre uma ex-ministra e a presidente parece bate-boca de boteco. Dependendo do boteco, é claro, pois tem uns lugares por aí que não aceitam certas baixarias.
É óbvio que a carta desaforada de demissão de Marta para Dilma deve ter tido como motivação alguma situação bem pesada entre elas. As duas não são fáceis. Será que quebraram pratos ou perdeu-se apenas um cinzeiro? Ontem a ex-ministra prosseguiu a discussão, para logo depois a presidente responder em Doha, no Qatar, de passagem para a reunião do G-20 na Austrália.
Em entrevista na Globo News, Marta justificou o teor do que escreveu como despedida do cargo. “Bom, porque eu sou uma mulher independente. Sempre tive isso de determinação e coragem para fazer o que eu acho que tem que ser feito”, ela disse, apontando ainda um problema que com certeza vai fazer a presidente descer na Austrália espumando e com saudades daquele mineiro tão bacana que a tratava com toda a educação nos debates, o Aécio Neves: “Eu sou paulista e São Paulo sente as agruras dessas dificuldades econômicas que o Brasil está vivendo”.
Ainda em Doha, sem conseguir escapar desta questão, trazida pelo jornalista, Dilma deu respostas entredentes, chamando as pessoas de “querido”, um termo que causa pânico entre a equipe que lida diretamente com ela na Presidência da República. Dizem que por lá, “querido” é prenúncio de choro até de ministro.
Sobre a tão falada carta, Dilma disse o seguinte: “Meu querido, esta é uma opinião dela. Eu acho que as pessoas têm direito de dar opinião. Eu não acho nem A, nem B”. E também descartou a sugestão de que o ex-presidente Lula poderia estar por detrás das bem endereçadas linhas escritas pela ex-ministra. “Não tem cabimento”, ela disse, sem deixar evidentemente de chamar o repórter de “meu querido”. É claro que a disputa promete, com a possibilidade até de que alguém quebre a canela. Até agora Marta vinha sendo estranhamente disciplinada na atuação como ministra e também nas atividades partidárias, mantendo-se relativamente cordial mesmo com os tantos chega pra lá que vem tomando do partido já faz tempo. Vem mais fogo por aí, o que da parte de Marta Suplicy nem pode ser chamado de “fogo amigo”. Com ela não tem disso: é amigos, amigos, fogo à parte.
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POR José Pires
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