segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Exagero de dose

A máquina de comunicação petista se esforça para disseminar a ideia de que a corrupção na Petrobras tem relação com variados partidos. Pode até ser que isso ocorra, mas os partidos envolvidos no saque à empresa são todos da base aliada do governo, tendo o PT como centro do esquema. Em depoimento, o ex-diretor Paulo Roberto Costa até detalhou a forma de organização da distribuição das propinas, controlada em parcelas, com fatias que reservavam ao PT grande parte até de propina que entrava em diretoria sob o controle de partido aliado.

Com a prisão de pessoas ligadas à empreiteiras, na última sexta-feira pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, deram uma reforçada nesta tese malandra que pretende diminuir a responsabilidade direta do partido de Lula com a corrupção. Uma justificativa para ampliar a culpa e desviar a atenção da opinião pública foi a criação de uma relação fajuta entre a atuação dessas empreiteiras no esquema e as doações eleitorais que costumam fazer aos partidos. Bem, desse jeito não sobra ninguém, o que é muito bom para os petistas. Faz muito tempo que o PT e seu governo vêm tentando fazer esse tipo de confusão. É dentro daquela tese safadíssima que eles gritam quando são pegos com a mão em variadas cumbucas, a desculpa de que na política todos fazem o mesmo. É o ladrão que sai gritando pega ladrão.

Mas vamos aceitar que os partidos que não estão com o PT não sejam mesmo lá essas coisas. Porém, é preciso ressaltar o diferencial que se impõe por uma condição muito simples: a posse da chave do cofre. É óbvio que não sou ingênuo de acreditar que haja inocência entre os políticos da oposição, mas nunca se ouviu falar de distribuição de propina para alguém que está fora do poder. Isso não existe. E se determinada empresa envolvida na corrupção da Petrobras fez também doações para este ou aquele partido da oposição, repito que isso acontece apenas pelo fato dessa prática ser comum em empresas que fazem negócios com o governo. E até naquelas que nunca prestam serviço algum para o governo, o que desmonta essa falsa ligação entre um escândalo da dimensão desse da Petrobras e doações de campanha. Por este raciocínio torto, toda empresa pega em qualquer falcatrua na iniciativa privada teria de ser relacionada de imediato a algum partido para o qual fez doações.

E se os demais partidos tem lá suas culpas antigas, então sempre foram mais capazes que o PT, que teve 12 anos para fazer uma devassa interna no governo (que fizeram com certeza) e não encontraram nenhuma incriminação para acabar com a oposição. A implosão agora desse esquema tem uma causa até cômica, que é a inépcia demonstrada até para a corrupção. Percebe-se uma dificuldade na administração até dos valores envolvidos na roubalheira. Até peixes pequenos foram pegos com milhões de reais. Uma regra já muito bem definida pelo hábito é que para evitar flagrantes policiais e escândalos os políticos precisam ter um certo controle no avanço sobre os cofres públicos. E é evidente que houve um descontrole na Petrobras, o que pode também ocorrido em outras estatais, sobre as quais poderemos ter notícias logo mais. Houve um excesso nos malfeitos, que extravasaram o limite da impunidade, infringindo até a tradição política brasileira de acobertamento. E aí sim juntam-se quase todos no hábito em comum de não mexer uns com os outros em casos de corrupção.

Mas existe um limite, que é de conhecimento até de ladrão pé de chinelo. O delegado pode fazer corpo mole quando roubam uma ou outra galinha dos galinheiros de seu distrito, mas terá que tomar sérias providências quando roubam um galinheiro inteiro. A incompetência na gatunagem pode fazer estourar escândalos, o que não é surpreendente porque tem origem na dificuldade desse pessoal em conduzir qualquer coisa que caia sobre seu poder. Metem os pés pelas mãos, atropelam os interesses de aliados e até de cúmplices em malfeitos, de tal forma que mesmo num país com o grau da impunidade desse nosso Brasil as autoridades são forçadas a agir.
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POR José Pires

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