quinta-feira, 9 de março de 2017

Demagogia não é política pública

Os brasileiros, mesmo os que são mais inteligentes e melhor informados, relacionam-se com os políticos de uma maneira que pode ser definida como próxima de um tipo de esquizofrenia. Ora, todo mundo sabe o nível baixo dos nossos políticos e cada um de nós tem plena consciência da má qualidade principalmente dos que são eleitos para cargos executivos. Nem é preciso se alongar sobre isso. A comprovação está neste país falido em todos os aspectos e em estados e municípios com dificuldades para honrar os compromissos financeiros básicos e que mal dão conta das obrigações corriqueiras.

A situação prática já serve para ter um amplo conhecimento do quanto está tudo muito difícil, tanto é assim que a gente pode ver o tempo todo condenações das mais variadas sobre o comportamento dos políticos. A impressão é que já está estabelecida uma consciência da necessidade de reformas profundas e que todo mundo já tem claro que atitudes isoladas deste ou daquele administrador público são meros tapa-buracos, insuficientes para criar um caminho sólido para que problemas sejam de fato resolvidos. Quando essa atitude isolada é repassada pelo próprio interessado, que filma, faz sua assessoria escrever textos elogiadores e manda publicar na internet, aí então nem é preciso saber muito de política para identificar de pronto a demagogia.

Parece que todo mundo sabe disso que estou falando, não é mesmo? É o que devia estar acontecendo. Por isso é que fica difícil entender a razão da euforia quando um prefeito de cidade do interior divulga na internet vídeo dele mesmo telefonando para um médico ausente ao trabalho num posto de saúde. Ninguém de bom senso vai ser contra cobrança de responsabilidade de qualquer funcionário. É uma questão não só de honestidade como também da eficiência que deve interessar a qualquer cidadão. Mas já deu tempo do brasileiro saber que, dentre os vários instrumentos políticos e administrativos para fazer o serviço público funcionar direito, o que dá menos resultado é dar pito em funcionário pelo telefone e repassar o feito para as redes sociais.
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POR José Pires

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