sábado, 1 de abril de 2017

O inesquecível 31 de março

Cartum meu publicado há três anos. É sobre a data de ontem, que esperei passar de propósito para observar que eu estava certo. E não teve parada militar, como felizmente já não acontece há muito tempo. Mas esquerdistas ainda fizeram questão de uma lembrancinha, sempre a favor deles. De fato, com exceção de alguns malucos que saem pelos aeroportos dando continência para juiz, o Exército Brasileiro parece querer esquecer o golpe militar de 1964 e nisso faz muito bem. O que sobra desta ação dos militares brasileiros é rescaldo e não a memória viva de feitos históricos com efeito conclusivo sobre as sociedades. É até engraçado, porque durante décadas o golpe de 64 foi reavivado, anos pós anos, mais pela leitura fraudulenta da esquerda do que pela verdade do acontecimento, um acidente grotesco na história brasileira.

Os milicos faziam um desfile por ano, enquanto a esquerda mantinha a chama acesa durante o ano todo nas universidades, na imprensa e demais áreas do pensamento. É pra rir mesmo. No afã de engrandecer seu próprio papel durante a criação do caldo de cultura que estimulou a intervenção militar, durante muito tempo a esquerda acabou concedendo um valor imerecido aos militares.

O superdimensionamento teórico esquerdista servia também para evitar que os brasileiros tivessem a leitura correta das destrutivas atividades de políticos, sindicalistas, jornalistas e também de intelectuais e até de militares no período que precedeu ao golpe. Com o golpe, essa mesma esquerda manteve a postura, desta vez com a militância acrescida de jovens com a mentalidade devidamente lavada por seus teóricos e pela liderança política.

É de gargalhar. Na intenção de dificultar a correta leitura das bobajadas cometidas antes e depois do golpe, praticamente em todo o período militar — que foi de 1964 a 1982 —, ao se colocar em um papel heróico a esquerda acabou dando aos militares um valor político muito acima do verdadeiro. Porém, pobre esquerda, que dificuldade seria assumir sua posição lamentável no governo de João Goulart e mesmo nos governos anteriores. A vocação da esquerda como criadora de encrencas vem desde a formação da grotesca tentativa de golpe comunista, com a Intentona de 1935, aqui capitaneada (literalmente) pelo Partido Comunista, sob o comando direto de Moscou.

A verdade é que são os democratas liberais e conservadores que sempre estiveram certos. Agiam com inteligência e equilíbrio, mirando resultados práticos, de uma forma que comprovadamente evitou que o país não descambasse para o horror. São muitos os nomes nesta liderança habilidosa, mas que fiquem simbolicamente crivados em dois deles, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, homens que o país faria bem em lembrar mais, junto com os outros, cujos nomes não cabem aqui. É verdade também que esses liberais salvaram a própria esquerda, estupidamente envolvida em seu descalabro que podia resultar inclusive em maiores violências físicas para todos os brasileiros.

A esquerda mesmo sempre correu do pau quando teve que enfrentar consequências de suas bravatas. Armaram o clima do golpe de 64, enquanto no gogó afirmavam a disposição para enfrentar em armas a direita. Na hora do embate, porém, fugiram em debandada. Atazanaram a paciência da oposição democrática enquanto os militares estiveram no poder, inclusive fazendo a suprema besteira da luta armada. Mas estavam sempre em fuga nos momentos cruciais. Nas correrias aproveitaram inclusive para criar problemas em outros países, radicalizando situações, como fizeram no Chile de Salvador Allende, para fugir novamente em busca de abrigo em países de “democracia burguesa”, conforme eles dizem até hoje.

Sobre a última pataquada da esquerda nem é preciso falar. Estamos sofrendo as consequências do desvario, antes colocado por eles em prática somente na oposição. Numa marcada lamentável dos brasileiros, suas maluquices foram aplicadas em um ciclo que durou incríveis 13 anos. Com o clima nacional de divisão política e social, o desastre moral e econômico em que nos meteram e até pela tremenda desarmonia pessoal que contagia a todos e cria desavenças tolas o tempo todo, é possível até para as novas gerações tomar uma lição viva do que foram os anos anteriores ao golpe militar. É óbvio que não justifica o golpe contra a democracia, mas dá para entender muito bem que o problema nunca foi exclusivamente os militares.
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POR José Pires

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