Partindo mais uma vez em viagem internacional, agora para Genebra, na Suíça, o presidente Lula disse que o ministro das Comunicações Juscelino Filho, “tem o direito de provar que é inocente”. O ministro foi indiciado pela Polícia Federal pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Mas tem também a grave suspeita de irregularidades no leilão de 263 mil toneladas de arroz. O custo é de R$ 1,7 bilhão. Isso mesmo: bilhão. Dessa quantia, a Conab já desembolsou R$ 1,3 bilhão. O governo do PT vai sair caro para os brasileiros, mas não deixa de ser engraçado: a PF na cola do ministro acabou evitando que Lula tivesse que responder sobre a compra de arroz, com indícios tão fortes de corrupção que fez o governo anular o leilão.
O governo Lula é um fiasco como nunca houve antes neste país. Aqui cabe o chavão que ele gosta de repetir. Já faz muito tempo que o Brasil carece de governos que sejam sequer razoáveis, no entanto, como em política o sucesso se mede na comparação com as expectativas, o PT vai encarar essa responsabilidade de ter o pior governo depois da redemocratização. Os petistas vão ficar à frente até do governo Sarney, quando a corrupção era pelo menos melhor organizada.
Outra ironia dessas encrencas sérias que desmoralizam totalmente os petistas é que esta falência política é resultado de suas próprias ações combinadas de desmonte da Lava Jato, com a decorrente sensação de impunidade da corrupção. Com o efeito moral negativo vem também uma pesada complicação na eficiência de gestão — inclusive na dificuldade de controle do equilíbrio da roubalheira, como eu disse.
Não é que precisasse experimentar para saber, mas o PT vai enfrentando mais uma vez, na prática, a incontestável consequência da corrupção no funcionamento da máquina pública. A roubalheira acaba com a qualidade de gestão. Na dimensão que os petistas costumam praticar maracutaias, no final sobra quase nada de bom na história de seus governos, com a sombra da escandalosa corrupção, em casos como mensalão, petrolão e outras gatunagens. Fica complicado até comprar arroz.
É muito simples. Se as licitações neste nível, imaginem a qualidade do arroz a ser oferecido para o consumidor com o logotipo de propaganda do governo. E outro exercício de imaginação interessante pode ser o de pensar sobre como andam outras negociações. Ora, quem “descuida” de compra de bilhão não vai prestar atenção à qualidade alguma em seus projetos de governo.
Será que os petistas não estão precisando de “compliance”? Lembram que falava-se bastante disso quando a Lava Jato dava a esperança de que o Brasil tinha jeito? É um procedimento interno para detectar ilegalidades e evitar sérios dissabores — como, por exemplo, ir pra cadeia, — como pode ocorrer com empresário que negocia com gestores de governos petistas ou seus aliados.
Um problema para o PT é que acaba com a impunidade. Daí que o Lula não gosta nem de ouvir esta palavra. Mas é o que vem faltando no seu governo, como nesta compra de arroz, o que traz inclusive a suspeita de que algo parecido poderia acontecer numa negociação de vacinas, por exemplo. Lula provavelmente não seria grosseiro numa pandemia, como foi Jair Bolsonaro, mas com uma equipe de larápios como essa que aí está, além, do Lula — coitadinho — ser tão descuidado com bilhões, não é de se duvidar que praticariam muitas maracutaias durante uma pandemia, na compra de insumos e de vacinas.
Teve outra falta de compliance no caso desse ministro de Lula apaixonado por cavalos, agora indiciado pela PF. É tanto amor que ele foi capaz de requisitar um avião da FAB para fazer uma visita aos bichos. A viagem de Juscelino Filho custou R$ 130.392,87 e ainda desmoralizou um pouco mais os nossos militares. Epa, não era o Bolsonaro que fazia essas coisas? Vejam no que dá a falta de compliance.
Mas claro que os milhares de reais da conta da FAB não é nada perto de outros custos do ministro do Lula para os cofres públicos. Ele tem espírito empreendedor, além de contar com a parceria de uma variedade de parentes. Apenas no caso de empresas de amigos e de uma cunhada o rombo foi de mais de R$ 36 milhões, dinheiro do orçamento secreto que foi para a prefeitura de Vitorino Freire, no Maranhão. A prefeita do município é irmã de Juscelino. A cidade tem 31 mil habitantes. Uma das obras foi o asfaltamento de uma estrada de 19 quilômetros que beneficia oito fazendas da família de Juscelino em Vitorino Freire. Claro que foi um amigo que ficou com a obra.
Por esse e outros casos, na quarta-feira houve o indiciamento do ministro de Lula, que deu a evasiva justificativa de que ele “tem o direito de provar que é inocente”. Pois o indiciamento dele pela PF já foi remetido ao gabinete de Flávio Dino, no STF. É uma coincidência interessante, pois as carreiras políticas de ambos correram em paralelo, de forma muito colaborativa, por quase uma década no Maranhão.
E aqui temos uma comprovação não só da extrema utilidade da compliance numa gestão pública, como também do benefício que pode ter uma palavra amiga, que neste caso poderia ter evitado a própria nomeação feita por Lula, matando o mal pela raiz, digamos assim. Juscelino Filho fez uma carreira milionária como político no Maranhão, com uma parte substancial dessa trajetória lucrativa percorrendo oitos anos, durante os dois mandatos seguidos de Dino como governador, que, como todo mundo sabe, é um sujeito absolutamente perspicaz. Data venia, companheiros: parece que o Dino não fez uma compliance amiga para o Lula.
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Por José Pires
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