Quem está perdendo com a greve das universidades e institutos federais “é o Brasil e os estudantes brasileiros”. Quem disse isso foi o presidente Lula no encontro com reitores nesta segunda-feira. Ora, vejam só: é o mesmo argumento que fazia a militância petista armar-se toda, colocando seu gabinete de ódio no ataque contra qualquer um que ousasse dizer algo parecido.
Durante o encontro, Lula disse também, várias vezes, que vai expandir o número de instituições de ensino superior. Claro que neste caso as contas não fecham. Só para ficar em uma parte dos gastos, como é que vão ser pagos os salários de novos professores se o governo não consegue sequer recompor os salários atuais?
Ora, mas aí temos uma reação politiqueira usual do Lula, de vir com a criação de novos planos com sedutoras promessas, sempre que é cobrado por não cumprir com suas obrigações ordinárias. Os reitores são antigos parceiros — há quem diga que foram cúmplices — do projeto de poder de Lula e seu partido, até que agora deram de encontro com uma realidade que complica a própria profissão do professor do ensino superior.
Uma recomposição de salários teria como resultado apenas o retorno a uma condição profissional de baixa qualidade de remuneração, como os professores estavam antes de terem seus ganhos dilapidados por perdas progressivas. Outra questão altamente negativa é a péssima condição de trabalho em quase todas as universidades, onde falta de tudo, desde as necessidades mais básicas até as ações na área de pesquisa e na assistência estudantil. Entre outras coisas, em abril Lula cortou verbas no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
E não existe nenhuma perspectiva de que a situação melhore até o final do governo, mesmo porque até agora, já quase na metade do mandato, Lula e sua equipe ainda não revelaram o que pretendem como ações de longo prazo para ao menos dar aos brasileiros um pouco de sossego para respirar ares de razoável normalidade. E nada de picanha. Agora ele veio com esse plano da entrada do governo no comércio de arroz. Mas claro que não é por aí que vai-se estimular a esperança em dias melhores.
Esse enfrentamento do governo petista e professores pode parecer uma daquelas complicações corriqueiras de governo, mas tem um peso muito importante, como causa e consequência. Serve como diagnóstico do desastre político em que se enfiou o partido de Lula, como resultado da sua gradativa transformação em uma sigla qualquer, como qualquer outro partido dos tantos que aí estão apenas para servir às ambições pessoais de seus caciques.
O grave desacordo se dá exatamente na área em que o PT sempre transitou como se fosse sua casa, não só utilizando o professorado como massa de manobra no aparelhamento político lamentável das nossas universidades, como aproveitando para enfiar na cabeça dos estudantes toda uma formação ideológica tosca no aspecto técnico e do conhecimento, mas apropriada para favorecer o projeto de poder de Lula e seus companheiros, que deu resultado até nesta última eleição, com o retorno à cena do crime, confirmando o antigo prognóstico do vice Geraldo Alckmin.
Não foi só com o país que o PT acabou. Lula demoliu suas próprias bases, O cenário é de total desmantelamento de qualquer esperança política da esquerda, mesmo porque, como eu já disse, não existe possibilidade alguma de haver uma transformação de qualidade nas universidades, não só pela falta de dinheiro como também porque falta capacidade a essa gente para aplicar com equilíbrio e inteligência os gastos do orçamento.
Lula já disse que pretende expandir o ensino superior. Em razão das circunstâncias, um ato falho, vá lá. Seu instinto de trapaceiro falou mais alto. É só isso que vai pela sua cabeça. Ele pensa que é como no “Minha Casa, Minha Vida”, esta tragédia urbana em forma de programa habitacional. É um fazedor de prédio — diga-se, a propósito, que muitos sequer são concluídos, como pode-se ver em várias universidades —, sem ter a mínima preocupação sobre o que vai colocar dentro para um bom funcionamento da coisa, com recursos humanos capazes, com boas condições de trabalho e ao menos razoavelmente remunerados.
É o multiplicador de universidades que por funcionarem muito mal vão destruindo a capacidade técnica do país, com a colocação no mercado de grande quantidade de mão de obra da pior qualificação, prejudicando seriamente várias profissões. Do jornalismo, fizeram terra arrasada. A área do direito e da medicina estão em condições preocupantes. E por aí vai, na degradação do ensino superior, que, por sinal, Lula teve grande contribuição de Fernando Haddad, o mais longevo ministro da Educação da era petista, que agora demonstra sua incrível habilidade também na economia.
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Por José Pires
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