sábado, 23 de abril de 2016

Dilma Rousseff: muito pra aprender com Michel Temer

Em vez de falar mal do vice Michel Temer a presidente Dilma Rousseff devia ter observado com atenção o que fez nos últimos dias e talvez aprender alguma coisa. É tarde para salvar seu mandato, mas sempre pode ter serventia qualquer lição aprendida de quem sabe o riscado da área que escolheu para atuar. É certo que Dilma não estaria nessa encrenca se estivesse de olho em Temer desde que formaram dupla para a eleição no primeiro mandato. Desde então ele vinha trabalhando pela sustentação do governo do PT, o que fez também atuando diretamente na crise política no período inicial do segundo mandato, quando a coisa começou a ficar feia para o lado da presidente. Após muitas burradas dos petistas na articulação política ele assumiu o papel de coordenador político a pedido da própria presidente e teve bons resultados. Até conseguiu aprovar as principais medidas do ajuste fiscal.
No entanto logo houve uma ruptura, que teria sido causada por ciúmes da própria presidente das boas relações que ele começava a estabelecer com os parlamentares. Até ali era uma questão de sobrevivência também dele, Temer, mas logo os petistas demonstraram que não estavam dispostos a apoio mútuo se pudessem se salvar sozinhos. Depois foi aquilo que todo mundo sabe, com Temer passando a ser hostilizado de uma forma que o levou a buscar seu um espaço político fora da esfera do governo. É claro que foi pior para os petistas. E bem no feitio deles, acabaram engolindo eles mesmos o veneno criado para o adversário.
Pode-se dizer que Temer foi cuidar da própria carreira. E como o danado é bom de serviço. Pode acabar até sendo presidente da República. Como eu já disse, Dilma devia estar aprendendo algo sobre política e não atiçando contra ele a militância petista. E o curioso é que a presidente tinha que estar fazendo exatamente o que seu vice vem fazendo, principalmente nas últimas três semanas. Em menos de um mês ele tornou-se o centro do debate político brasileiro, com um foco produtivo para sua imagem nesta discussão. Dialoga com personalidades influentes da política, da economia e do meio acadêmico, dando a esses encontros um tom de liderança que isolou de vez o Palácio do Planalto. Não é isso que Dilma devia estar fazendo, tendo inclusive ao seu lado o vice?
Mas ela fez o contrário, apelando para a cultura de palanque de seu padrinho Lula, fazendo agitação e criando um clima de intimidação quando devia estar transmitindo equilíbrio e capacidade de diálogo com todas as correntes políticas. No final ela viu seu ministério esfarelar, junto com a debandada da base aliada, que foi gritar "sim" à sua saída. E Temer já está com um ministério praticamente montado, no que ele está certo, já que o impeachment torna-se inevitável com a aceitação do processo pelo Senado, decisão que deve vir em poucos dias. Não sei se Dilma vai entender um dia o que aconteceu, mas os lances foram de muita habilidade. Na sua preparação para governar ele foi montando um cenário positivo para que isso venha de fato a ocorrer. Tirando proveito da incapacidade da presidente, com lances bem planejados e bem executados, em pouco tempo o vice-presidente fez do poder da presidência da República um capital negociável apenas no mercado futuro.
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POR José Pires

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