quarta-feira, 27 de abril de 2016

Representatividade tarde demais para a esquerda

Petista costuma fazer descobertas tarde demais e no caso da política, sendo ela de caráter partidário, não costuma caber o jargão "antes tarde do que nunca". Para certas coisas o "tarde" vale mesmo como "nunca". Digo isso porque vejo que a militância governista começa a descobrir a precariedade da representatividade política no Congresso Nacional. É óbvio que não teriam a súbita revelação se a votação do processo de impeachment na Câmara desse um resultado a favor da presidente Dilma Rousseff. Neste caso, veriam com emoção até os votos dedicados à mamãezinha, ao gato de estimação ou ao cachorrinho, assim como não acharam nada de mal deputado exaltando Carlos Marighela e sua violência política.
A representatividade no Congresso Nacional é realmente um grave problema nacional, sendo origem inclusive das repetidas crises políticas e da péssima administração dos negócios públicos. Este Congresso não representa de fato o eleitor brasileiro porque surge de um sistema político montado para o benefício pessoal de poucos líderes que atuam como caciques. A demolição da representatividade política começa nos partidos e vai se entranhando com suas más intenções e ambições de ganho fácil em todas as instituições brasileiras, inclusive nos organismos privados. Não sou dos que acham os nossos políticos a cara do brasileiro. Não são. Todo mundo sabe que o domínio de caciques nos partidos impede a entrada na política de qualquer pessoa que tenha o interesse em fazer política dando uma parcela de contribuição para a qualidade na administração pública, atuando com honestidade e respeito ao bem comum.
Esta dificuldade de alçar os melhores ao comando na política é uma questão velha, que já era discutida até nas rodas que se formavam na Grécia antiga em torno de Sócrates. Evidentemente o assunto também não é novo entre nós. E diz muito da hipocrisia em que se afundou a esquerda brasileira quando agora ela vem com a descoberta do assunto, só depois de ver na TV mais de três centenas de deputados votando pelo impeachment de uma presidente da República que comanda um governo corrupto e incompetente. Foi vagarosa demais a revelação, até pelo fato dessa necessidade de melhorar a representatividade política ter sido uma razão importante para o voto do eleitor brasileiro no PT, ainda na primeira vez com Lula. E isso já vai para mais de uma década. Nesse longo tempo de poder, em vez de atacar o problema com seriedade o governo do PT se lambuzou com suas facilidades. Por isso, ficou tarde para qualquer palpite esquerdista num debate importante como este.
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POR José Pires

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