terça-feira, 20 de junho de 2023

Flavio Dino, o ministro lacrador e as respostas que ainda não foram dadas sobre o 8 de janeiro

Dias atrás, Flávio Dino andava se gabando da sua capacidade de enfrentar o debate político com a oposição, frisando que estava aberto à participação em qualquer discussão proposta pelos parlamentares. O ministro da Justiça estava todo cheio de si — e como! — com supostas entortadas que havia dado em bolsonaristas que o interpelaram em comissões da Câmara. Houve um alarde nas redes sociais, na maior parte estimulado pela máquina governista, naquele estilo de memes que falam em “humilhar”, “triturar”, “calar a boca” e outras expressões bobocas contra adversários, garantindo que Dino é um bamba do debate político.


Claro que a parte elogiada é apenas um destaque de horas de discussão, mas acontece que a oposição também faz os seus recortes, acabando por levar vantagem nas redes sociais. Ninguém está interessado nas conversas fiadas do petismo, haja visto as lives de Lula com apenas seis mil pessoas acompanhando. No entanto, o ministro de Lula pensa que coloca em prática uma estratégia genial, partido para o ataque a parlamentares, com ironias e desprezo pelos questionamentos recebidos. É evidente que ele se julga um comunicador inigualável.


Pois eu penso que o efeito é contrário. Ao entrar no nível de certos deputados, precários na formação pessoal e política, o que ocorre é o fortalecimento desses políticos em suas bases. De forma alguma o público bolsonarista está disposto a comparar qualidades, abandonando por exemplo, a adoração por este ou aquele político da direita, substituindo seu apoio para presentear o ministro da Justiça por causa de suas supostas tiradas humilhando a oposição. Se fosse desse modo a percepção dessa gente, Jair Bolsonaro não teria sido eleito e por pouco, quase reeleito contra Lula.


Também não é verdade que Dino tenha ido tão bem assim nas suas participações recentes na Câmara. Ironia é algo que raramente vai bem em debate político, além de que é necessário muita habilidade para que não haja o entendimento do desrespeito ao cargo que o sujeito ocupa, por mais idiota que ele seja e por mais que se renha divergência com seus posicionamentos. No desrespeito à pessoa, atinge-se o sentimento corporativista e até o do eleitor.


Neste padrão de idiotia e posicionamento equivocado, outro exemplo que dou ;e que por mais que alguém sensato não apóie as baboseiras de petistas, não é aceitável assistir a um ataque grosseiro que desrespeite o cargo do imbecil. É isso que Dino vem fazendo, até porque não diferencia bem a resposta entre um questionamento razoável e um ataque pesado.


Esta figuraça que Lula, em reunião de ministério — 37 ministros! — afirmou que na hora do almoço tem que “receber menos comida”, não deveria dar também no seu chefe uma das patadas de que se orgulha tanto? Nos embates que teve com bolsonaristas, Dino não foi tão desrespeitado quanto nesta gozação de Lula por causa de seu excesso de peso, muito além do que a saúde pede, vá lá — mas não precisa humilhar.


Mesmo quanto aos embates na Câmara, o ministro sabe que computadas no geral, suas performances não são tão vitoriosas. Já vi vários recortes em que ele perde feio. Tanto é assim que a bancada governista está fazendo de tudo para que ele não deponha na CPI do 8 de janeiro, onde comparecem parlamentares capacitados, que não vão cair nas suas manipulações precárias, que parecem bullyings bobocas contra incapazes.


Dino não tem resposta aceitável para documentos oficiais avisando sobre o perigo que rondava a Praça dos Trâs Poderes, que comprovam que houve no mínimo omissão durante os atos de vandalismo em Brasília. Mas pode ter ocorrido coisa pior da parte do governo quanto a acontecimentos que, mesmo quem acompanhava distante da capital do país percebia que exigia maior cuidado das forças de segurança.


A suspeita mais séria é de que o governo Lula pode ter deixado a coisa correr, para faturar politicamente com a invasão e destruição de prédios públicos. Não é fácil a situação, para se inocentar os petistas precisam alegar incompetência. O interesse do governo do PT deveria ser o de comparecer para esclarecer tudo isso, mas Dino peleja para não ser convocado a depor. A bancada governista quer blindar todas as autoridades do governo que estavam no dia do vandalismo em Brasília.


As pessoas já sabem que o governo Lula está totalmente perdido. Lula não apresentou propostas durante a campanha eleitoral e pelo jeito não tem nenhuma noção do que oferecer a um país repleto de dificuldades. O sujeito está com a cabeça no passado, é um político anacrônico que vinte anos depois ainda tenta se sustentar politicamente com Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida.


Mas tem uma maneira de dar uma consertada na inoperância. Uma boa medida era o pessoal começar a trabalhar, algo que o próprio ministro da Justiça poderia começar a fazer na sua área, que tem graves problemas para os quais até agora ele nada fez. A insegurança dos brasileiros é triste, com alguns lugares tomados por uma condição de opressão e terror. Em várias cidades brasileiras é perigoso até sair na rua. Tem muita mulher que nem se arrisca a sair para os exercícios fundamentais para a saúde.


As milícias paramilitares tomam conta das cidades brasileiras, com o PCC avançando seu domínio agora também no controle da Amazônia. A corrupção está presente nos ambientes públicos de uma forma que até parece normal, o que Dino pode conferir inclusive dentro do governo. Sei que Lula e seus parceiros no Judiciário estão mais interessados em proclamar uma plutocracia no Brasil, mas podiam ao menos fingir que estão fazendo alguma coisa contra os corruptos, não?


O que não devia acontecer é algo como a visita feita pelo ministro da Justiça ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após a operação da Polícia Federal que há alguns dias atingiu Luciano Cavalcante, ex-assessor do deputado. Numa das buscas a PF encontrou mais de quatro milhões de reais em dinheiro vivo. Cá pra nós, visitar o deputado, em um encontro que parece um pedido de desculpas, não é algo que pega bem para um ministro lacrador. Por que Dino não deu de dedo em Lira, como fez com políticos bolsonaristas? Perdeu uma lacração.


Sobre o temperamento de lacrador de Dino, o jornal Estadão pesquisou para saber o que anda fazendo o ministro de um dos ministérios mais importantes de Lula: ele nada fez nesses seis meses de governo. No domingo, o jornal publicou uma matéria sobre sua produtividade. As ameaças e propostas de Dino não saíram do papel. Nestes seis meses de governo, seu ministério fica devendo muita coisa. As críticas aos reajustes de planos de saúde, suas ameaças a postos de combustíveis que não baixassem os preços, os pesados ataques às big techs, a “ação rápida” que disse que faria para combater grupos criminosos que fraudam apostas esportivas, nada disso teve resultado prático.


O ministro também falou na possibilidade de censura prévia ao músico Roger Waters por apologia ao nazismo. O músico, que foi do Pink Floyd, é de fato um antissemita conhecido, mas o problema é que este racista apoiou Lula na última eleição até com vídeos. Outra façanha de Dino que ficou apenas no discurso foi o aviso de que poderia usar o princípio da extraterritorialidade contra torcedores que ofenderam o jogador Vini Jr, mas de novo foi só papo, o que é lamentável.


Pensem no efeito que teria a entrada do ministro brasileiro em terras espanholas, acompanhado da nossa PF, para prender pessoalmente os ofensores do jogador do Real Madrid e da Seleção Brasileira. As redes sociais iriam explodir com essa lacração internacional, mas até aqui a ameaça do intrépido Dino fazer justiça na Espanha ainda dorme na gaveta.

. . . . . . . . . . . . . . .

Por José Pires

Nenhum comentário: