terça-feira, 9 de maio de 2023

Julian Assange, do Wikileaks, encontra afinal seu salvador

Lula voltou da viagem a Londres com mais uma tarefa que arrumou para se complicar: ele disse que vai lutar pela libertação de Julian Assange, o fundador do Wikileaks. O presidente falou sobre a sua nova missão na sexta-feira durante entrevista coletiva, quando explicou que o assunto não havia sido tratado na reunião que teve com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak.


Foi um jornalista que trouxe a lembrança de Assange, atualmente preso no Reino Unido e com a extradição para os Estados Unidos autorizada pelo governo inglês. Lula chegou a se desculpar, “porque esse foi um assunto que esqueci de falar”. O presidente garantiu que ligaria para o primeiro-ministro assim que chegasse ao Brasil. 


Eu duvido que tenha mesmo feito isso, mas seria interessante saber como o primeiro-ministro inglês receberia um assunto desses. É uma decisão do Judiciário e os ingleses costumam tratar desse tipo de coisa com uma discrição que Lula não demonstra em assunto algum. Entre os ingleses não é também como em certos países, onde questões judiciais transitam livremente pelo meio político, de uma forma privilegiada e podendo inclusive influenciar resultados, até mesmo em temas tratados no Supremo.


Falando sobre Assange depois de interpelado pelos jornalistas, na prática Lula acusou o sistema judiciário inglês de parcialidade, aproveitando para atacar novamente o governo dos Estados Unidos. A imprensa brasileira não deu atenção às palavras do petista, no entanto é óbvio que são declarações que revelam novamente um sujeito que parece perturbado. Mas com Lula, como se sabe, grande parte da imprensa tem uma tolerância inesgotável.


“É uma vergonha que um jornalista que denunciou a falcatrua de um Estado contra outro esteja preso e condenado a morrer em uma cadeia", disse ele após ser questionado por uma jornalista. Estamos ouvindo aqui o mesmo Lula que cala-se em relação aos crimes da ditadura de Daniel Ortega e até o defende, enquanto o ditador prende e mata opositores, além de perseguir padres e freiras.


A extradição de Assange vem obedecendo todos os trâmites legais. Ele teve todo o direito à defesa, sem ter que viver o terror que é enfrentar uma prisão em regimes que Lula costuma defender. E na realidade, o fundador do Wikileaks foi preso no Reino Unido pela acusação de estupro, em pedido de prisão feito pela Suécia. 


A extradição para os Estados Unidos veio depois e está para ser cumprida. Ele é acusado pelo governo americano por espionagem, roubo e conversão de propriedade do governo. Os vazamentos de registros militares e diplomáticos do país ficaram famosos na mídia e por isso ele pode ser condenado a 175 anos de prisão.


Mas por que afinal Lula está se metendo nisso? Ora, trata-se do efeito da reversão histórica e política que vem acometendo o petista. Lula se parece cada vez mais com o oposicionista anterior à sua chegada ao poder. Está cada vez mais “terceiro mundista”. O problema é que o Terceiro Mundo não existe mais, se é que existiu algum dia. 


E não é que Lula já não tenha cometido besteira parecida a esta, de atacar o próprio sistema judiciário de um país estrangeiro. Ele já fez isso como presidente, quando em 2010 seu governo deu guarida ao terrorista italiano Cesare Battisti, condenado na Itália à prisão perpétua por quatro assassinatos cometidos na década de 1970. Na época, os petistas atacaram o sistema judiciário italiano, acusado por eles de perseguir um inocente.


Três anos atrás, Lula disse ter se arrependido pelo refúgio concedido ao criminoso. Battisti já havia sido extraditado para a Itália pelo governo da Bolívia, onde entrou irregularmente depois de ter fugido do Brasil. O trapaceiro passou 40 anos alegando inocência e recebeu o aval dos petistas no Brasil> Pois há quatro anos ele confessou que de fato havia praticado os crimes. Para mim não haverá surpresa se uma confissão de culpa também surgir um dia da parte do fundador do Wikileaks.


Uma certeza absoluta é de que seus vazamentos não se pautaram pela liberdade de expressão ou pelo sentido exclusivamente jornalístico. No caso dos vazamentos feitos pelo seu Wikileaks, sem dúvida houve muita parcialidade nos assuntos escolhidos para repassar para a imprensa. No Brasil, por exemplo, o foco era o favorecimento dos petistas, o que pode ser que seja um motivo da solidariedade de Lula. Ou pode haver outros compromissos, nunca se sabe.


Nos Estados Unidos também havia um lado nos vazamentos, o que acendeu a suspeita que permanece até hoje da possível relação do Wikileaks com Vladimir Putin. Durante a disputa da presidência entre Donald Trump e Hillary Clinton, em 2016, foram divulgados e-mails da candidata do partido Democrata, que prejudicaram bastante sua campanha.


As informações que favoreceram Trump foram hackeadas da conta de John Podesta, chefe de campanha de Hillary. O Wikileaks trabalha basicamente com a invasão de informações confidenciais por meio de hackeamento, sem que nunca se saiba quem fez o serviço e como foi pago. Esse “modus operandi” torna difícil conceituar Assange exclusivamente como jornalista, como faz Lula.


Pode-se também fazer algumas ligações que permitam saber melhor com quem estamos tratando, sob a capa do defensor da liberdade de expressão. Assange está em uma penitenciária inglesa desde 2019. Antes disso, ficou asilado na embaixada do Equador em Londres desde 2012, onde entrou para escapar de um pedido de extradição da Suécia. Seu plano era conseguir asilo na Rússia. O presidente do Equador era Rafael Correa, também amigo de Lula. Com a saída de Correa do governo, Assange acabou sendo entregue à justiça inglesa.


É interessante a boa vontade do governo russo com o fundador do Wikileaks. Assange chegou a fazer uma série de programas de entrevistas na Russia Today, rede de televisão internacional fundada na Rússia e financiada pelo governo russo. Os programas são todos direcionados ideologicamente, na pauta e na escolha dos entrevistados.


Para se ter uma ideia da parcialidade, uma das conversas é com Sayyed Nasrallah, líder da organização terrorista Hezbollah. A transcrição mostra uma entrevista parcial, como um papo entre amigos. Cabe dizer que o Wikileaks jamais divulgou nenhum hackeamento com informações internas do Hezbollah.


O nome da série é “O Mundo Amanhã”, que parece ser um projeto ou antevisão do que vem por aí. Tomara que o plano não dê certo. Uma série de programas como estes jamais seria contratada sem a permissão de Vladimir Putin. Ou pode ser que o próprio Putin tenha feito o convite ao amigo do Lula.

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Por José Pires

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