A intromissão dos institutos de pesquisa nas eleições brasileiras já está virando um problema bastante grave. Ainda temos um mês inteiro até a eleição e muita gente já raciocina como se a eleição estivesse decidida. Esta avaliação prematura começou logo que surgiu a candidatura de Marina Silva. O clima irreal foi bastante estimulado pela pesquisa feita pelo Datafolha, ainda em meio à comoção com a morte de Eduardo Campos. É óbvio que naquela situação não dava para fazer uma análise lógica do quadro eleitoral. Com aquele clima causado pela queda do avião ninguém estava com a cabeça fria para responder sobre preferência eleitoral. Mas aquela foi uma pesquisa que serviu para promover o Datafolha e atrair a atenção para o jornal Folha de S. Paulo, ambos de propriedade da mesma empresa. Não dava para não saber que o resultado colhido passaria muito longe de uma avaliação científica, mas dava para saber muito bem que uma pesquisa naquela situação iria influenciar bastante o eleitorado, o que de fato acabou ocorrendo.
E hoje fala-se até na vitória de Marina Silva no primeiro turno ou descarta-se de antemão o candidato Aécio Neves, de um partido que foi ao segundo turno nas últimas três eleições. O clima é da histeria de pesquisas e nada mais. Isso faz lembrar a primeira eleição vitoriosa de Lula, em 2002. Na mesma data em que Marina Silva deu o primeiro salto no Datafolha (ficou com 21%), o então candidato Ciro Gomes tinha exatamente 27% também por este instituto. Isso foi em 16 de agosto de 2002. Depois ele foi caindo, até ficar com 10% na última pesquisa e acabar com 11,97% nas urnas. Naquela eleição, Ciro Gomes era a estrela na imprensa. E um dos candidatos teve pouca atenção dos jornalistas, exatamente porque foi mal nas pesquisas o tempo todo. Era Anthony Garotinho, que estava com apenas 13% quando Ciro tinha 27%. E no final da campanha Garotinho tinha apenas 5%. Com as urnas abertas sua votação ficou em 17,86%, muito acima de Ciro e bem próximo de José Serra, que foi ao segundo turno com 23,19%. Lula teve 46,44%.
Agora, com esta pesquisa feita no clima da morte do candidato do PSB, faltou ao Datafolha responsabilidade política com o fato, mas está cada vez mais difícil hoje em dia achar alguém que atue com responsabilidade com a notícia. Atrair a atenção a todo custo é a meta. E com os institutos de pesquisa, em época de eleições o que vale é o show. Nesse período alguns trabalham inclusive com o propósito de influenciar o eleitor favorecendo determinados candidatos. Falta uma legislação mais séria e dificilmente isso será feito, pois ela teria de vir dos políticos. E todos querem tirar sua casquinha na bagunça que foi criada.
Atualmente a influência perniciosa dos institutos de pesquisas ficou mais clara porque temos uma eleição bastante singular. Além disso, o prejudicado pelo clima criado pelos números é o candidato do PSDB, um dos maiores partidos do país. Os partidos menores é que sofrem mais com o descaso da imprensa causado pela suposta falta de popularidade aferida nas pesquisas. É um erro editorial, mas a maioria dos jornalistas se pautam pelas pesquisas. As últimas manifestações de rua ocorridas no país servem para demonstrar este equívoco de interpretação da política. Nem sempre o partido mais votado ou os políticos mais populares são os que criam fatos determinantes. As manifestações que incendiaram recentemente o país tinham por detrás delas grupos minoritários e partidecos que são sempre obscurecidos nas eleições em razão das baixas porcentagens nas pesquisas. No entanto, acabaram tendo um papel essencial nos protestos de rua, que foram de grande importância política inclusive nessas eleições.
Esta eleição mostra que as pesquisas eleitorais não estão ajudando o eleitor. Ao contrário, criam um ambiente que desfavorece o debate político aprofundado que poderia dar mais qualidade na escolha dos nossos dirigentes. É um embaralhamento de números que não ficam próximos do resultado real nem no final da eleição. Na última eleição para presidente da República todos os institutos trouxeram números errados no final do primeiro turno e também no resultado do segundo turno. As pesquisas não têm servido como boa referência para uma melhor avaliação do voto. Esta interferência vem sendo sendo negativa para a qualidade da nossa democracia.
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POR José Pires
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