O PT acostumou-se tanto a difamar quem pensa o contrário do que interessa ao partido que essa atitude tornou-se uma prática também autofágica. O petista sangra na própria carne, procurando matar os seus. E para isso nem é preciso uma justificativa muito séria, de traição aos ideais do partido ou alianças com o inimigo. Nada disso. Basta uma palavrinha, qualquer divergência de ocasião que desagrade o comando do partido, para que um companheiro comece a ser tratado feito o demônio. É o que está acontecendo agora com a senadora Marta Suplicy. O ministro da Cultura recentemente nomeado, Juca Ferreira, anda dizendo que levou uma “bolsada de Louis Vuitton”. É uma ironia com a senadora, que foi ministra da mesma pasta. Porém, ele não levou “bolsada”, coisa nenhuma. O que Marta afirmou foi na verdade a mesma coisa de dizer que ele é ladrão. Ela fez críticas pesadas à gestão anterior dele e disse que já encaminhou as denúncias ao Ministério Público. E agora temos o novo ministro do governo do PT tratando Marta como uma inimiga. A fala dele é boba, pois na prática está acusando Marta de algo que é natural na vida dela. Sempre foi rica e até onde sabemos não foi metendo a mão nos cofres públicos.
Marta Suplicy foi fundadora do PT e deu um apoio naquela época ao Lula como nenhuma outra pessoa fez. Até uísque do bom com certeza Lula deve ter começado a aprender a provar nas reuniões na casa da milionária paulista. E não digo isso para desqualificar Marta, como os petistas começaram a fazer agora, mas para situar o luxo que era poder comprar um uísque bom naqueles anos 80. Mais barato, só de contrabando. Mas além da satisfação ao alcoolismo do Lula, Marta teve uma influência na concepção do então nascituro PT para tirar o rótulo de partido apenas dos mais pobres. Foi com gente como ela que o PT ganhou vigor entre a classe-média, no meio acadêmico e entre os formadores de opinião. Veja na imagem a hora do cafezinho na casa dos Suplicy, em 1985, e repare nos copos de bebida que demonstra a qualidade dos bons anfitriões.
Antes do PT, Marta foi uma figura importante na cultura brasileira, com suas intervenções bastante avançadas na área do comportamento, uma ousadia que teve inclusive na televisão e que exigia coragem numa época em que bravateiros sexuais como Jean Wyllis não tinham idade nem para fazer troca-troca. Mas ela perdeu-se a partir do momento em que entrou de cabeça na vida partidária, passando inclusive a disputar eleições, elegendo-se deputada e logo depois ocupando o cargo mais importante na sua carreira política, como prefeita de São Paulo. A própria eleição de Marta como prefeita foi um fenômeno político importante, independente do que se pense dela.
Sua administração trouxe uma diferença política que poderia ter sido incorporada ao PT como um elemento forte do partido na questão das cidades brasileiras, especialmente naquelas em que vão se avolumando tragédias, as cidades médias e grandes. Se sou contra ou a favor é outra coisa. Tenho que apontar a história. Existe alguma outra administração que seja uma marca política eficiente para o PT? Eu duvido. Mas o interesse de um grupo forte no partido era o de bombardear Marta. A partir do momento em que seu nome cresceu na administração da capital paulista, o chefão Lula já começou a bolar rasteiras para derrubá-la e fez isso com a competência ímpar dele em patifarias. Não dá para saber ainda que imagem Lula terá numa análise futura da história política brasileira, mas dificilmente alguém toma dele o troféu de maior patife, com sacanagens cometidas em especial contra seus próprios companheiros. De vez em quando eu rio quando leio que Lula e Marta fizeram uma combinação para atacar Dilma. Bem, isso é coisa de quem desconhece os interesses da senadora e e também do ex-presidente.
A briga que Marta vem armando com lances bem pensados e que começaram no pedido de demissão do governo anterior de Dilma mostra que a senadora ainda é uma das pessoas que mais conhece a política brasileira, especialmente as necessidades de um eleitorado muito importante no Brasil, que é o de milhões de paulistanos. A senadora fez corpo mole na última eleição estadual e o partido viveu um vexame histórico. Marta sabe muito de política e ainda mais de PT. Uma de suas últimas falas foi a de que “ou o PT muda ou acaba”. É mais ou menos o que venho escrevendo já há algum tempo, menos no tocante às mudanças necessárias, que não vejo possibilidade do partido fazer. O PT não vai mudar e ela sabe disso. Por isso já prepara sua própria mudança, que será mais um empurrão pro fim do partido.
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POR José Pires
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