Olavo de Carvalho é uma das inteligências mais brilhantes que já apareceram no Brasil. Poucos dos nossos contemporâneos que estão no batente neste momento escrevendo o que pensam vão ser apreciados no futuro. Pouquíssimo do que se faz hoje no Brasil vai ficar, menos ainda o que jornalistas e acadêmicos de esquerda andam escrevendo. Na esquerda brasileira aconteceu uma inversão intelectual que é até engraçada: em vez de jornalistas e intelectuais de esquerda melhorarem o Lula foi o Lula que mudou o modo deles de pensar e escrever. Viraram lulistas até no que fazem. E quem é que vai ler essas coisas num futuro? O próprio lulismo será um período lembrado apenas pela politicagem baixa e a roubalheira, já que não tem conteúdo político alguma que valha uma análise séria.
Mas eu falava do Olavo de Carvalho, que acabou fazendo praticamente sozinho algo que a esquerda com todas suas tropas de penas alugadas e toda dinheirama pública à disposição não consegue fazer: criou um movimento conservador que hoje dispõe de milhares de jovens muito bem preparados política e intelectualmente. O próprio Olavo se incumbe em parte desse preparo, com uma grande produção de ótimos textos e suas aulas de filosofia, que também são muito boas. É claro que ele é um conservador. Tem algumas ideias que nada tem a ver com o que eu penso. Mas na sua labuta de pensador e professor, o Olavo não é um homem de dogmas, a não ser os do catolicismo. Na área do pensamento e do debate público não é de sloganzinhos fáceis que ele vive.
O que temos hoje no Brasil de oposição séria e consequente ao pensamento autoritário de esquerda, com gente que pensa e escreve de forma aprofundada, deve-se bastante ao Olavo de Carvalho. Já disse que divirjo bastante dele, mas não seria tolo de não atentar ao que é muito bom e nem seria leviano de procurar encobrir com uma cortina de silêncio o trabalho de alguém que escreve tão bem. Leio o tempo todo seus textos. É sempre uma lição técnica e política, independente do que eu possa pensar sobre o conteúdo desses textos. A esquerda não faz isso, é claro, principalmente esta nossa esquerda, que há tempos vem lendo apenas o que justifica sua ambição de poder. Ficaram burros por isso, o que não deixa de ser bom para o Brasil, mas também chateiam demais a paciência alheia com suas opiniões sem profundidade alguma, besteiras que dão até vergonha alheia.
Com o atentado terrorista islâmico à redação do jornal francês "Charlie Hebdo", foi de enxurrada o besteirol lançado na internet. E a esquerda, com sua indisfarçada empatia pelo islamismo (sabe aquele negócio da condenação ao sistema judaico-cristão?), está até agora fazendo uma ginástica danada para culpar os cartunistas e jornalistas metralhados. E ficam procurando trazer também aquela tragédia para o contexto da disputa política no Brasil. Foi numa dessas que apontaram para o Olavo de Carvalho, de uma forma muito estúpida, tentando fazer com que o leitor acredite que ele é um dos "estimuladores" do jihadismo, como se um fundamentalista islâmico precisasse de alguma justificativa para matar quem pensa diferente.
Foi o cartunista Laerte quem disparou (aqui vale este surrado chavão atual) contra o Olavo de Carvalho. Numa entrevista a um blog do site da "Folha de S. Paulo", ele veio com essa: "O que embasa o desejo terrorista não é uma construção racional de um coletivo árabe de uma liberdade de expressão, a ideia é outra, de propor uma ideia de guerra jihadista contra o mundo. É uma ideia louca, que é alimentada por Bushes da vida, Olavos de Carvalho da vida".
É duro ler um negócio desses, não é mesmo? Primeiro é coisa de quem sabe pouco do trabalho de Olavo de Carvalho e depois é uma atitude de quem não tem noção do assunto em pauta, mas isso o cartunista mostra também na porção de equívocos que comete no restante da entrevista, com furadas análises políticas e erros até mesmo na sua visão da relação do humor do Charlie Hebdo com o histórico do jornalismo brasileiro e da nossa política. O Olavo de Carvalho respondeu ao Laerte e republico abaixo seu texto, onde ele inclui o link da entrevista do cartunista.
O Olavo ficou muito bravo e com toda razão. Laerte foi irresponsável, pois a situação não está para brincadeiras. Os terroristas islâmicos estão matando. E do jeito que ele falou, a interpretação pode ser dele estar apontando um alvo. Para mim, Laerte vive já há algum tempo uma grave perturbação psicológica, mas isso é um problema dele, embora o desfile de seus dramas aconteça em público. Porém, o cartunista tem experiência política suficiente para saber que o atentado na França pode acender o pavio de muito maluco. Por isso é preciso que cada um controle seu próprio fogo. A resposta do Olavo é muito boa. Quanto aos palavrões, observo que é seu estilo pessoal só de Facebook, além do que neste caso está no nível do que foi falado dele.
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POR José Pires
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A RESPOSTA DE OLAVO DE CARVALHO
Por favor, escrevam para direcao.redacao@grupofolha.com.br reproduzindo, com ou sem comentários, esta carta que acabo de enviar ao sr. Frias:
Desprezado senhor,
A propósito da matéria publicada em Blog do Morris.blogfolha.com.br: Segundo esse senhor ou dona Laerte, "a guerra jihadista contra o mundo é uma idéia louca, alimentada por Bushes da vida, Olavos de Carvalho da vida". É incrível a leviandade com que palpiteiros me atribuem qualquer estupidez que lhes passa pela cabeça, sem quaisquer escrúpulos, sem qualquer consulta aos meus textos e sem conhecer absolutamente NADA do que penso e digo. Quem assim procede não merece respeito nem consideração, é apenas um cafajeste, um bandidinho pé-de-chinelo.
Nem vou perguntar o que tenho a ver com Bush ou com jihadistas, porque quem me lê -- o que não é o caso dessa pessoa -- sabe que é absolutamente nada e não vejo razão para insistir no óbvio só porque um ignorante com presunção de onissapiência o nega. Não espanta que as opiniões políticas dessa criatura nasçam de uma pura preferência sexual, o que consiste exatamente em pensar com o cu ou com o pau.
Associar o meu nome ao de George W. Bush já é absurdo em si, mas culpar-nos aos dois pelo jihad é puro delírio psicótico, que em tempos normais nenhum jornal publicaria. O jornalismo brasileiro desceu mesmo ao nível do esgoto. Responder a essa porcaria com um xingamento já seria conceder-lhe honra demais.
Responsabilizo pessoalmente o sr. Octavio Frias Filho pela publicação dessa enormidade e anuncio que, se ele não me pedir desculpas em público, cuspirei na sua cara tão logo tenha o desprazer de encontrá-lo.
Olavo de Carvalho
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