sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

No ataque às vítimas

Os terroristas são rápidos, inclusive no terrorismo praticado todos os dias nas redes sociais. Agora estão repassando um desenho supostamente feito pelo cartunista Charb, morto a tiros no atentado de terroristas islâmicos à redação do jornal "Charlie Hebdo". É um desenho que mostra a ministra da Justiça, Christiane Taubira, caracterizada como um macaco. A imagem é extraída do contexto, com o claro intuito de demonizar o cartunista que foi morto pelos terroristas islâmicos. A militância de esquerda já repassa do jeito adoidado deles a imagem. Esse pessoal é tristemente cômico. Vários deles ainda estão com a propaganda "Dilma 13" na imagem de perfil. A difamação que tentam fazer com a vítima é bem do jeito deles, que fazem qualquer coisa para justificar uma visão autoritária muito parecida com a do terror. E até parece que pode haver algo que justifique o massacre numa redação de jornal.

O "Charlie Hebdo" é uma publicação satírica do teor mais pesado que pode-se imaginar. Não existem tabus para seus humoristas que, é bom que se diga, vivem num país em que as divergências sempre foram muito francas e levadas a sério. Os islâmicos podem ter surpresas se acham que o respeito de que gozam até agora na França é fruto de algum temor dos franceses. Nada disso. É apenas democracia, algo muito simples para os ocidentais, ainda que não entre na cabeça de muitos povos. A história da França é de uma dureza danada, com uma carga de violência que inaugurou direitos e também problemas terríveis que enfrentamos até hoje. Na média, compensou. Todos sabem algo da revolução francesa, então creio que não é preciso aprofundar isso. Alguém vai ensinar a lidar com a crueldade um povo que inventou a guilhotina? Bem, não serei eu.

O humor do "Charlie Hebdo" vem desta cultura, gerada num clima histórico que não dá moleza até hoje. Na comparação com o semanário francês, o nosso 'Pasquim" teria de ser visto apenas como um moleque atrevido. E não é porque os cartunistas brasileiros sejam menos corajosos que os valorosos cartunistas que foram mortos nesta semana. É apenas por uma questão de cultura que o humor violento do "Charlie Hebdo" não é feito por aqui, em nossa terra. Se pouco gozamos figuras religiosas e nem abusamos do humor com o cristianismo é porque o anticlericalismo praticamente não existe em nosso país. Cadê o nosso Voltaire? Não temos, é claro, daí a necessidade inclusive de usarmos o Voltaire deles.

O "Charlie Hebdo" é feito mesmo para escandalizar e tenho que repetir o óbvio: é um jornal francês. No Bananão – como dizia o grande Ivan Lessa – é outra coisa. Se não for visto neste contexto, não dá para compreender de jeito nenhum o humor escrachado do "Charlie Hebdo". É bobagem fazer igual aos islâmicos, que usam um metro único e, pior ainda, absolutamente religioso. Essa comunidade que foi acolhida generosamente pelo povo francês insiste em tentar impor suas próprias normas no país dos outros. Querem que a França se adapte a seus costumes, quando é óbvio que tem que ser o contrário. Mas como eu dizia, o pessoal do "Charlie Hebdo" é terrível, mas nenhum deles é racista. O falecido Charb sempre foi ligado ao trabalho de instituições defensoras dos direitos humanos e inclusive apoiava o Partido Comunista Francês.

O que o "Charlie Hebdo" fez foi o inverso do que os terroristas querem passar, aqui com a ajuda safada da esquerda. O jornal fez criticas ao preconceito sofrido pela ministra Christiane Taubira, uma incompetente, como demonstra o fácil atentado, mas evidentemente não por ser negra, até porque tem como chefe o incompetente do presidente socialista François Hollande, que é branco. Aliás, branco azedo, se a militância branca me permitir o insulto. Racista na França é a direita, que pode sair fortalecida deste triste episódio.E na França não se admite o racismo, que é punido legalmente. O semanário direitista "Minute" foi recentemente condenado recentemente ao pagamento de uma multa de 10 mil euros por ter comparado a ministra fancesa a um macaco. Creio que nem é preciso desenhar para que os militantes idiotas entendam: o "Charlie Hebdo" teria sido punido também caso publicasse conteúdo racista. O que o semanário de humor fez foi exatamente se contrapor a este racismo cretino. E na tentativa de justificar seu gosto em passar a mão na cabeça de terroristas, a nossa esquerda fica repassando essas manipulações criminosas que favorece o terror e difama as vítimas.
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POR José Pires

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