O Brasil já tem 32 partidos, um excesso impressionante de siglas num país em que a diversidade de opinião não é tanta assim. Ao contrário, em nosso país o debate político é sempre muito restrito e eleições são definidas geralmente no contra ou a favor. É um voto do tira ou põe, em que raramente pesa a influência de propostas consequentes. E mesmo quando o brasileiro vota num determinado sentido político exposto durante uma campanha, logo aparece uma "Carta aos Brasileiros" ou qualquer outro documento desfazendo tudo o que havia sido prometido e mantendo o país na mesma linha de sempre. E não estou fazendo juízo de valor sobre o que é colocado em prática, apenas apontando os caminhos da política e da economia sempre empurrados da forma convencional.
Mas pode vir mais um partido para se juntar aos 32 já registrados no TSE. É o Novo. Não estou brincando. O nome do novo partido é exatamente este: Partido Novo. Soube de mais essa pela coluna de Rodrigo Constantino, no site da revista Veja. E ele está animado com a criação de mais esta sigla. O título é "Há algo de NOVO no ar… Ou: A energia veio para ficar e agora precisa se mobilizar", sendo esta "energia" de que ele fala o indiscutível vigor oposicionista entre a população revelado na campanha do candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves. E não estou falando no expressivo número de votos, mas no envolvimento espontâneo de parte considerável da população, com uma participação que na minha opinião foi consequência do estilo mais rigoroso da campanha dos tucanos em relação ao governo do PT.
Ficou claro que o crescimento político da oposição se faz pelo confronto com ideias de esquerda que estão cada vez mais implantadas na sociedade brasileira e não só por meio do partido que detém o governo. A máquina pública vem sendo usada para isso, impondo de forma gradativa uma pauta de esquerda por meio de entidades de classe e as instituições do Estado. As universidades também vêm sendo um meio eficiente para isso, especialmente na formação de novos profissionais que já saem formados com uma visão engajada de esquerda.
Até para o fortalecimento da democracia é preciso de partidos sérios que atuem na linha contrária. No entanto, a campanha dos tucanos apenas revelou este sentimento político como um potencial muito vigoroso na sociedade civil e de muito peso especialmente por vir também de setores qualificados da população e alcançar uma quantidade muito grande de pessoas jovens. Esta necessidade foi suprida eleitoralmente pelo PSDB, mas o partido terá que trabalhar muito e reformar-se bastante para incorporar como seu este potencial. O pessoal que pretende fazer o tal do Novo parece ter a consciência desta situação diferente que temos hoje na política brasileira.
Seria o caso de perguntar qual é a razão de não trabalhar esta ideia no próprio PSDB, sem vir com esta novidade até cômica de fazer mais um partido num país com 32 deles. Mas deixa pra lá, pois um questionamento desses com certeza baterá de frente num grupo que pretende criar um partido com um nome desses. O Partido Novo evidentemente é liberal, daí a animação de Constantino, que já começou de forma errada em sua coluna a propagação desta ideia. Fez algo parecido a um release, sem expor com objetividade o que realmente está por detrás dessa novidade. Constantino fez proselitismo em vez de jornalismo, o que nunca contribui para que o leitor compreenda de fato qualquer assunto.
Ele começa pela velha batida de que "o estado, muitas vezes, é o problema, não a solução" e segue o tempo todo com chavões liberais muito simplistas, na base da demonização do Estado e da exaltação da iniciativa privada. Pessoalmente, Constantino é defensor exaltado da venda da Petrobras. É um dos que acreditam que a solução para a ineficiência das estatais é passá-las nos cobres e depois deixar que a liberdade do mercado se incumba do papel que elas tem na nossa economia. Bem, creio que na atualidade esta é uma proposta que deve ser colocada em dúvida até mesmo de um ponto de vista liberal, mesmo que seja só por uma visão estratégica que leve em conta a progressiva carência dos recursos naturais. E um liberal responsável vai no mínimo ponderar que é preciso esperar para ver no que vai dar este desarranjo geopolítico e econômico que acontece atualmente em todo o mundo.
Além do mais, esta visão da iniciativa privada isolada da corrupção que aflige nossas estatais e a ideia do Estado como um estorvo ao crescimento econômico é de difícil convencimento num país subdesenvolvido em que tantas necessidades dependem do governo. O Partido Novo é muito parecido com o DEM, que com ideias semelhantes só tem trazido problemas nas eleições presidenciais em que está sempre atrelado ao PSDB. As dificuldades estratégicas do Partido Novo serão exatamente essas do DEM, que prejudicam bastante qualquer campanha política e que levaram a destruição deste partido. O DEM acabou, deixando até uma piada que não posso evitar: a causa de sua destruição deve ter vindo da virtude das leis de mercado.
É preciso esperar para ver. Porém, como Constantino garante que o Partido Novo será validado ainda este ano, a construção dessa ideia careceu de um debate público amplo. Nada liberal isso, não é mesmo? O partido apareceu do nada, sem ter buscado de forma aberta na sociedade civil os subsídios políticos para sua formação. Mas é sempre assim na política brasileira. Nisso o Partido Novo não mostrou nada de novo.
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POR José Pires
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