O
economista Eduardo Giannetti é alguém que admiro dos livros. Tenho
alguns livros dele na estante, todos muito bem escritos e falando em
economia de uma forma filosófica que me agrada bastante. No conjunto,
Giannetti tem uma obra ensaística que o eleva bem acima do
provincianismo comum entre a nossa intelectualidade. E um desses livros é
um ótimo ensaio sobre uma questão que atrapalha o Brasil já há um bom
tempo e que até virou um material que o governo do PT explora com
eficiência para dificultar a compreensão do estrago que vem sendo
produzido em nossa economia e tudo o mais que gira em torno dela,
inclusive o caráter da nossa nacionalidade. O assunto é o auto-engano e o
livro tem exatamente este nome, "Auto-engano". É uma leitura que pode
ajudar a entender muito bem o atrapalho que pode ser a ilusão comum de
que somos o máximo e que tudo vai bem. É uma análise muito boa sobre o
assunto e além disso é um livro escrito com um estilo de qualidade.
Giannetti escreve muito bem, algo que aliás é raro em economistas.
Para
identificar melhor este sujeito admirável, é sucesso na internet um
vídeo sobre a desigualdade, em que ele conta a fábula de dois meninos
que encontram duas maçãs (uma grande e outra pequena) e criam uma
situação para a discussão sobre as condições diferentes em que pode se
dar a desigualdade. Não vou estragar o efeito contando tudo. O link está
aqui.
Quando
soube do apoio dele à Marina Silva confesso que não gostei nem um pouco
e não foi por causa ela. Ficaria incomodado qualquer que fosse a
candidatura, pois quando um intelectual que a gente admira faz esse tipo
de coisa existe sempre o risco de prejudicar o que temos dele em nossa
estante. A política tem umas exigências que podem acabar envolvendo a
pessoa em questões que abalam bastante a credibilidade. É possível ao
leitor abafar esses problemas e se fixar na qualidade técnica do autor,
mas nunca mais será a mesma coisa. No valor integral da escrita pode
ficar sempre alguma nódoa política. Mas felizmente com o Giannetti ainda
não aconteceu isso e agora, neste domingo, ele tomou uma posição que me
fez respeitá-lo no plano da política.
Ainda
no domingo ele declarou apoio ao candidato Aécio Neves. Sua explicação
para isso é muito simples, porém o admirável é que ele tenha tomado a
atitude de primeira, sem aquelas enrolações que fazem parte da política.
"Eu, pessoalmente, apoio o Aécio. Mas não é uma posição da coligação.
Porque eu acho que não vai ser bom para o Brasil mais quatro anos de
Dilma. É muito tempo no poder. Eu acho que o primeiro mandato do Lula
foi excepcional. De alta qualidade. Talvez a melhor coisa da democracia
brasileira em muito tempo. A gente ter tido aquela alternância de poder
com a seriedade com que ela foi conduzida. Esse bom caminho começou a se
perder no segundo mandato do Lula, e se aprofundou ao pior no mandato
da Dilma", ele disse, alertando também para problemas graves que podem
vir por aí se houver mais um mandato para Dilma, que não tem condições
de reverter a deterioração preocupante da economia. "Isso ocorreu no
primeiro ano do segundo mandato do Fernando Henrique e ocorreu no
primeiro ano do primeiro mandato do Lula. Não é muito diferente. Agora,
tem de restabelecer a confiança. Com a Dilma não vai ter isso. A chance
que a gente tem é com o Aécio", ele disse.
Giannetti
deu uma razão simples e honesta para apoiar Aécio Neves, que acredito
que num segundo turno com Marina seria a mesma da maioria das pessoas
que votaram no tucano com a consciência da necessidade vital de mudar já
de governo. O economista também subiu no meu conceito. Não que eu fosse
jogar fora seus livros se ele fizesse algo que me desagradasse na
política. Não tenho essa radicalidade besta. Mas os livros do Giannetti
agora permanecem na estante sem abalo algum.
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POR José Pires
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