segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Giannetti, da estante para a política


O economista Eduardo Giannetti é alguém que admiro dos livros. Tenho alguns livros dele na estante, todos muito bem escritos e falando em economia de uma forma filosófica que me agrada bastante. No conjunto, Giannetti tem uma obra ensaística que o eleva bem acima do provincianismo comum entre a nossa intelectualidade. E um desses livros é um ótimo ensaio sobre uma questão que atrapalha o Brasil já há um bom tempo e que até virou um material que o governo do PT explora com eficiência para dificultar a compreensão do estrago que vem sendo produzido em nossa economia e tudo o mais que gira em torno dela, inclusive o caráter da nossa nacionalidade. O assunto é o auto-engano e o livro tem exatamente este nome, "Auto-engano". É uma leitura que pode ajudar a entender muito bem o atrapalho que pode ser a ilusão comum de que somos o máximo e que tudo vai bem. É uma análise muito boa sobre o assunto e além disso é um livro escrito com um estilo de qualidade. Giannetti escreve muito bem, algo que aliás é raro em economistas.

Para identificar melhor este sujeito admirável, é sucesso na internet um vídeo sobre a desigualdade, em que ele conta a fábula de dois meninos que encontram duas maçãs (uma grande e outra pequena) e criam uma situação para a discussão sobre as condições diferentes em que pode se dar a desigualdade. Não vou estragar o efeito contando tudo. O link está aqui.

Quando soube do apoio dele à Marina Silva confesso que não gostei nem um pouco e não foi por causa ela. Ficaria incomodado qualquer que fosse a candidatura, pois quando um intelectual que a gente admira faz esse tipo de coisa existe sempre o risco de prejudicar o que temos dele em nossa estante. A política tem umas exigências que podem acabar envolvendo a pessoa em questões que abalam bastante a credibilidade. É possível ao leitor abafar esses problemas e se fixar na qualidade técnica do autor, mas nunca mais será a mesma coisa. No valor integral da escrita pode ficar sempre alguma nódoa política. Mas felizmente com o Giannetti ainda não aconteceu isso e agora, neste domingo, ele tomou uma posição que me fez respeitá-lo no plano da política.

Ainda no domingo ele declarou apoio ao candidato Aécio Neves. Sua explicação para isso é muito simples, porém o admirável é que ele tenha tomado a atitude de primeira, sem aquelas enrolações que fazem parte da política. "Eu, pessoalmente, apoio o Aécio. Mas não é uma posição da coligação. Porque eu acho que não vai ser bom para o Brasil mais quatro anos de Dilma. É muito tempo no poder. Eu acho que o primeiro mandato do Lula foi excepcional. De alta qualidade. Talvez a melhor coisa da democracia brasileira em muito tempo. A gente ter tido aquela alternância de poder com a seriedade com que ela foi conduzida. Esse bom caminho começou a se perder no segundo mandato do Lula, e se aprofundou ao pior no mandato da Dilma", ele disse, alertando também para problemas graves que podem vir por aí se houver mais um mandato para Dilma, que não tem condições de reverter a deterioração preocupante da economia. "Isso ocorreu no primeiro ano do segundo mandato do Fernando Henrique e ocorreu no primeiro ano do primeiro mandato do Lula. Não é muito diferente. Agora, tem de restabelecer a confiança. Com a Dilma não vai ter isso. A chance que a gente tem é com o Aécio", ele disse.

Giannetti deu uma razão simples e honesta para apoiar Aécio Neves, que acredito que num segundo turno com Marina seria a mesma da maioria das pessoas que votaram no tucano com a consciência da necessidade vital de mudar já de governo. O economista também subiu no meu conceito. Não que eu fosse jogar fora seus livros se ele fizesse algo que me desagradasse na política. Não tenho essa radicalidade besta. Mas os livros do Giannetti agora permanecem na estante sem abalo algum.
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POR José Pires

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