domingo, 29 de março de 2020

Fake news e carreatas para atrapalhar a luta coletiva contra o coronavírus

Com Jair Bolsonaro trabalhando contra a estratégia de isolamento social para conter o novo coronavírus, aconteceram algumas movimentações em alguns pontos do país pedindo o fim do isolamento. São uns gatos pingados, porém o ruído atrapalha bastante, até porque é sustentado pela máquina de comunicação do gabinete do ódio em volta do presidente da República. O fundamento dessa posição é frágil. Nem é preciso buscar teorias para demonstrar que o tal “isolamento vertical” não funciona. Países que atualmente choram milhares de mortos chegaram a optar por esta via de combate ao vírus mortal, que hoje lamentam.

Defensores desse procedimento no Brasil também já demonstraram uma irresponsável má-fé, com o uso de notícias falsas para sustentar o isolamento vertical. Os fake news vieram de pessoas próximas a Bolsonaro, como na difusão pelo ministro Ricardo Salles de um vídeo de Drauzio Varella, com o médico dizendo que não se deve ter maior preocupação com o vírus. Acontece que a gravação foi em janeiro, quando de fato o problema ainda não tinha tomado uma dimensão perigosa.

Ficou evidente que a manipulação foi planejada, quando a falsidade saltou da publicação do ministro de Bolsonaro para seu pronunciamento em rede nacional, um discurso oficial com fake news.

Outra fake news criminosa foi o espalhamento da notícia de que a cidade italiana de Milão parou seu isolamento, com os cidadãos voltando ao trabalho mesmo com a pandemia. Era outra manipulação perigosa, invertendo um fato de modo temporal, escondendo que esta decisão da prefeitura de Milão foi em fevereiro e levou ao recrudescimento do contágio pelo vírus. A cidade teve que voltar ao isolamento, mas até agora sofre de forma dramática o efeito do erro.

Nessa questão, o melhor é ficar com a opinião de especialistas e dos que viveram o drama bem de perto. Já que Bolsonaro não cala a boca, que deixe de ser ouvido. A Itália é um exemplo a ser seguido, não Brasília. Nesta sexta-feira, o governador da Lombardia, Attilio Fontana, deu um conselho aos brasileiros: mantenham o isolamento. Milão é a capital da Lombardia, região italiana mais afetada pela pandemia. Milão está com 32.346 casos de pessoas contaminadas e 4.474 óbitos. No todo, a Itália chora quase dez mil mortos.

Em entrevista coletiva, o governador da Lombardia disse o seguinte: “Tenho tido contato com um amigo no Brasil e digo a ele para ficar o máximo possível em casa, evitar contato com pessoas e difundir esta mensagem”.

Aqui no Brasil, felizmente, em relação ao que deve ser feito com o coronavírus a população segue no sentido contrário ao de Bolsonaro. As poucas carreatas em algumas cidades servem inclusive para demonstrar a solidão política desse sujeito despreparado, que coloca em perigo a vida dos brasileiros.

Não há fundamento científico no que o presidente fala, nem mesmo conhecimento administrativo, que disso ele também não entende nada. A única base desse confronto de Bolsonaro com o esforço coletivo é a defesa de um interesse político pessoal e a sua total falta de empatia humana, que se resume na impressionante justificativa para o fim do isolamento. “Alguns vão morrer”, ele responde quando é questionado em sua patológica desumanidade.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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Imagem- O jornal italiano La Repubblica lança um apoio à cidade de Milão,
com um sentimento de solidariedade que é do mundo todo

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