segunda-feira, 9 de março de 2020

O erro e a insistência no erro de Drauzio Varella

Drauzio Varella é um sujeito que admiro bastante. É de imenso valor o trabalho desse médico pela informação de qualidade na área dos cuidados com a saúde, do comportamento e no conjunto das relações sociais, até mesmo em questões políticas ou nos relatos sobre sua vida pessoal. O doutor é sensato e bem informado, de grande capacidade de expressão, sabe analisar assuntos polêmicos de forma eficiente, sem deixar que a conversa descambe para o clima de sensacionalismo e conflito improdutivo que se tornou voga em toda discussão pública.

Então, no geral, todos os aplausos para o doutor Varella, porém não posso deixar de dizer que ele errou neste episódio do abraço dado em um preso transexual no programa do Fantástico, na Rede Globo. É difícil debater um assunto que ficou popular em razão da esquerda ter dado início à exploração da icônica imagem tentando turbinar sua pauta identitária, que depois reverteu negativamente com a descoberta de que o criminoso foi condenado por estuprar e matar uma criança.

Como a direita adorou o lamentável desfecho, saindo em campo para descer o sarrafo, a atmosfera política fica daquele jeito nauseabundo de sempre. O furdunço que a esquerda e direita criam no debate dos problemas brasileiros dificulta bastante a discussão de questões essenciais deste país. Mas o fato é que Drauzio Varella errou feio ao fazer a cena e continuou equivocado na sua resposta depois do site O Antagonista ter conferido no prontuário policial que na verdade o médico havia abraçado um condenado que cometeu um crime horrível.

Drauzio afirma que nada perguntou a respeito de delitos porque é um médico e não juiz. Para fundamentar esta justificativa ele lembra sua atividade profissional no consultório ou nas penitenciárias, quando — sempre de acordo com sua nota de esclarecimento — não pergunta sobre o que seus pacientes possam ter feito de errado.

Quanto a isso, nada a questionar. No entanto, um material de comunicação exige procedimentos que não se cobram de um médico no exercício de sua profissão. Quando me falaram dessa cena do abraço veiculada pelo Fantástico, a primeira coisa que apontei é que gostaria de saber que crime aquela pessoa cometeu para ter cumprido oito anos de prisão. Agora já se sabe. A cena era do médico e o monstro. É inegável o erro de Drauzio Varella e a produção do programa da Rede Globo tem responsabilidade ainda maior pela veiculação de algo que poderia ter vitimizado o autor de um crime hediondo.

Este é o tipo de coisa que pode acontecer com quem trabalha bastante, resultado apenas de um descuido e não de má-fé, o que certamente está garantido pela grande quantidade de coisa boa produzida até agora por Drauzio Varella. Tendo como referência sua qualidade como médico e na sua atividade em comunicação, bastaria ter reconhecido o erro e talvez, se fosse do seu interesse, pedir desculpas pela desatenção. Mas ele não agiu dessa forma. A resposta às críticas sobre o episódio do abraço serviu para reforçar o erro.
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POR José Pires

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