segunda-feira, 19 de julho de 2010

As boas e velhas tecnologias

A declaração do vice de Serra sobre a ligação do PT com as FARC é barbeiragem de campanha, mas não pode ser vista como um deslize individual de Índio da Costa. Que o vice carece de experiência política e parece não ter ainda ter compreendido que não está mais no papel de deputado federal do DEM, isso é bem evidente. Mas esta polêmica desnecessária tem origem muito mais complicada do que numa fala isolada em uma entrevista.

Acho até que esta polêmica até encobre outra gafe de Índio da Costa, bem mais grave, quando ele escreveu no Twitter que Dilma Rousseff é atéia. Se não fosse o rolo do PT com as FARC, seria este o tema polêmico de agora.

Sei muito bem do que Índio da Costa queria falar. Ele quis dizer que a candidata do Lula não expressa com sinceridade seus sentimentos religiosos. Talvez ele não tenha tido a intenção de fazer uma acusação de ateismo. Ou melhor, espero que seja assim, por que esse negócio de acusar o adversário de ser ateu é um tema delicado para seus colegas tucanos, tendo atingido lá atrás a figura históricamente mais importante do partido de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O vice de Serra é novo, mas deve saber disso.

Outra coisa que os políticos brasileiros ainda não perceberam é a velocidade em que uma pequena frase pode se tornar um grande problema político neste ritmo novo da internet. No Brasil isso ocorre também pela vagabundagem dos nossos jornalistas, que agora fazem notícia do que se escreve neste ou naquele Twitter, este instrumento que ninguém sabe ainda para o que serve.

Para fazer política é que não serve. Só um neófito da escrita acha que, no papel de vice numa chapa presidencial importante, pode sair escrevendo frases, lidas imediatamente por milhares e à vezes por milhões de pessoas, sem o risco de causar uma crise política, muitas vezes em decorrência apenas da fofocagem caracterizada falsamente como jornalismo.

Existe também uma dificuldade danada de lideranças do DEM (curiosamente uma parte importante deles de filhos de caciques; o partido do liberalismo acalenta oligarquias) em lidar com a rápida sintonia entre as notícias na internet.

Numa matéria lê-se o líder de bancada do DEM, Rodrigo Maia, criticando Índio da Costa e falando do seu jeito costumeiro de quem gosta de dar pito nos outros, noutra já é o filho dos Bornhausen, de Santa Catarina, apoiando a declaração e ainda acrescentando ataques ao PT. Dá uma impressão de bagunça política.

Tudo bem que eles estejam mesmo todos confusos, mas esse despreparo não é coisa que se deva aparentar. Mas a balbúrdia não deixa de ser engraçada. Numa outra matéria ficamos sabendo que o vice foi para São Paulo para se afinar com o ritmo da candidatura.

É a mesma coisa que aconteceu na crise que resultou na escolha do vice do DEM. Os tucanos e o DEM passaram alguns dias discutindo o assunto pela internet, inclusive com Rodrigo Maia ofendendo os colegas da aliança, inclusive o vice preterido dos tucanos. É aquela questão que já tratei aqui, sobre o fascínio incontido pelas novas tecnologias e o abandono dos bons hábitos antigos, muito simples, mas também bem práticos, coisas como pegar o telefone e depois sentar e conversar. São velhas tecnologias que dão ótimos resultados quando bem usadas.

Estou achando que esse pessoal passa tempo demais no Twitter. É aquela ligação direta com o eleitor, o contato online com as massas, entende? Mas para isso temos também tecnologias muito antigas e bem práticas. A bem da verdade, como instrumento político de transparência e ligação direta com o eleitor não se inventou nada melhor do que algo que já está aí há muito tempo e que esses meninos e também os velhotes poderiam começar a usar: chama-se partido político.
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POR José Pires

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