terça-feira, 13 de julho de 2010

Pelegos unidos

O manifesto das centrais sindicais contra o candidato José Serra é escandaloso, mas é algo que não surpreende. CUT, Força Sindical, as duas centrais mais conhecidas, e CGTB, CTB e NCSTO, que são siglas completamente desconhecidas, não representam o interesse dos trabalhadores há muito tempo.

Faz muitos anos que essas centrais atuam como máquinas político-eleitorais. A CUT, como todos sabem, tem sua origem no PT e desde sempre foi um braço da máquina partidária petista. Foi por meio da CUT que Lula, na campanha em que alcançou o primeiro mandato, amealhou sindicatos cutistas de todo o país para trabalhar pela sua candidatura.

Fala-se muito no carisma de Lula. Porém, sem a máquina sindical, ele teria bem mais dificuldades para derrotar Serra em 2002. Se no Brasil a lei fosse cumprida, pelo menos nos veríamos livres desse mito sobre vitórias eleitorais alcançadas por meio do carisma.

Em 2002 sindicatos de todo o país usaram suas máquinas a favor de Lula com tamanha desfaçatez que muitos até pintaram o nome do candidato em grandes painéis em suas sedes. Na época pouco se falou nisso e a atuação da Justiça Eleitoral foi nula.

Lá atrás, também era contra os tucanos que eles agiam. Espalharam tudo quanto foi boataria e até foram para a rua em manifestações vazias de conteúdo trabalhista, mas muito significativas como reforço para os planos eleitorais do PT, como as campanhas contra a dívida externa, que hoje sabe-se que eram apenas instrumentos eleitorais.

Um setor que muito trabalhou por Lula foi o dos bancários. Muito fortes em todo o Brasil, além do apoio explícito ao PT os sindicatos bancários serviam também como instrumento de pressão contra o governo de Fernando Henrique Cardoso, em greves, manifestações de ruas e falsas campanhas populares, como a que citei acima, atividades políticas bastante intensas que vinham fazendo bem antes das eleições.

É claro que essa transformação desses sindicatos em mero instrumento partidário acabou resultando em grave prejuízo para os trabalhadores do setor. Hoje os bancários vivem o paradoxo de ser uma profissão das mais empobrecidas trabalhando para o setor mais lucrativo do país.

Enquanto os bancos lucram cada vez mais, aumentando com o governo Lula a riqueza que já vinham tomando de todos os outros setores da economia em governos passados, os bancários sofrem com demissões e arrocho salarial.

Números divulgados esta semana pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revelam que os bancos estão demitindo trabalhadores e recontratando outros com salários menores. No primeiro trimestre deste ano, o sistema bancário demitiu 8.213 que ganhavam em média R$ 3.536,38 e admitiu 11.053 trabalhadores com remuneração média de R$ 2.197,79.

Números como esses já mostram que as centrais sindicais teriam muito mais o que fazer do que montar manifestos contra este ou aquele candidato, mas dirigentes comprometidos apenas com suas próprias carreiras políticas já perderam de vez qualquer compromisso com os problemas reais das categorias que deveriam representar.

A única novidade no esquema montado por Lula é que ele puxou de vez para seu lado a Força Sindical, central que anteriormente tinha mais relação com os tucanos. Hoje estão todos juntos servindo ao mesmo governo. Só falta vê-los nas ruas, de braços dados em manifestações e gritando "Pelego unido, jamais será vencido".

Antes eles até aparentavam diferenças. Agora é tudo uma coisa só. Não deixa de ser uma modernização, pois com isso nem se pode falar mais em pelego. O sindicalismo sob o lulo-petismo é um patchwork, onde pelegos de várias cores, inclusive o pelego vermelho da CUT, formam um apoio firme para o governo e uma ameaça constante para a oposição.

Isso dá um fecho formidável para a transmutação política que Lula e seus companheiros sofreram com a chegada ao poder. O mito Lula nasceu exatamente da luta contra o peleguismo, representado pelos sindicalistas que hoje formam a Força Sindical, enquanto o sindicalismo do ABC surgia como representativo de um sindicalismo autêntico e sem atrelamento com os patrões ou com o governo.

Este patchwork formado por pelegos da Força Sindical e pelegos da CUT, além da pelegada de outras centrais, é a bandeira perfeita para o que Lula e seus companheiros fizeram do sindicalismo brasileiro. Uma força política que representa apenas interesses particulares de castas aboletadas no poder.
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POR José Pires

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns por sua lucidez! Precisamos mudar essa máxima de "Em terra de cego, quem tem um olho só é rei". O povo precisa acordar.