sexta-feira, 23 de julho de 2010

Vox de quem mesmo?

Vamos fazer um jogo daqueles de múltipla escolha. Nesta semana o candidato José Serra afirmou seguinte: “Vou bancar a reforma política neste país, vou peitar e bancar”.

Sobre essa fala de Serra, anteontem alguém publicou um artigo cuja essência está neste trecho, que é o final do artigo:

"Os dicionários registram dois sentidos para a palavra peitar. O antigo é de pagamento de uma obrigação, mas também de “dar uma coisa para que se faça outra (...) subornar com dádivas”, segundo o Houaiss. Certamente, não foi pensando em fazer algo parecido no Congresso para aprovar a reforma política que Serra a empregou.

A segunda acepção, mais próxima do clima da entrevista, é “abrir caminho com o peito”, “arrostar de frente, de modo destemido”, “dar encontrão ou batida”. Parece que está prometendo que, se eleito, vai fazer com que Câmara e Senado aprovem a reforma nem que seja à custa de trombadas.

Como José Serra nunca foi disso na sua vida pública (ainda bem!), só se pode debitar ao nervosismo de campanha sua declaração. Que nada mais é que querer navegar na onda do inconformismo das pessoas comuns frente ao que veem na política. E lhes oferecer a (perigosa) ilusão de que é “na marra” que iremos adiante.

Uma pergunta: o que diriam alguns de nossos jornais se a declaração fosse de Dilma?"

Então, quem escreveu isso?

1 - José Dirceu
2 - Marcelo Branco
3 - José Eduardo Dutra
4 - Marco Aurélio Garcia
5 - Marcos Coimbra


É claro que foi Marcos Coimbra. Se quisessem dizer a mesma coisa, os outros nominados certamente tentariam pelo menos disfarçar.

Marcos Coimbra publicou este artigo anteontem, um texto que é praticamente a repetição do modo que vem fazendo supostas análises desta eleição presidencial e que vem sendo republicado em sites e blogs. Ele nem procura disfarçar o tom descaradamente governista dos textos. Alguns poderiam ser confundidos com panfletos da campanha de Dilma Rousseff.

Marcos Coimbra sempre foi um nome ausente dos nossos jornais. Agora, neste período eleitoral, ele tem publicado uma média de dois artigos por semana. Até virou articulista do semanário Carta Capital, que já foi uma boa revista e acabou virando uma publicação governista, no triste fecho que Mino Carta dá para sua carreira. Além dos artigos, Coimbra também participa de muitas entrevistas e debates, opinando da mesma forma parcial sobre o embate entre Serra e Dilma.

Vejam o final de um artigo seu publicado no dia 18 de julho, em meio à ampla discussão sobre o programa radical que Dilma registrou no TSE e substituiu por outro poucas horas depois:

"Quem reclama da falta de “planos de governo” nestas eleições talvez não se dê conta, mas, para a maioria das pessoas, eles são claros: Dilma quer manter e Serra mudar o que Lula está fazendo. Essa informação basta para elas."

Este trecho também daria um curioso jogo de múltipla escolha. E também aqui muitos leitores certamente não teriam dúvida em cravar como autor o nome de José Dirceu ou de algum companheiro do deputado cassado por falta de decoro

Pois hoje o Vox Populi, instituto de pesquisas que ele preside, divulgou uma pesquisa eleitoral que dá 8 pontos de vantagem a Dilma sobre Serra.

Nem discuto os números que o Vox Populi apresenta. Ainda é cedo para esse tipo de discussão e também não vejo credibilidade neste instituto, que por origem histórica está relacionado à montagem da candidatura vitoriosa de Fernando Collor para presidente da República, uma farsa que o próprio Collor se incumbiu de destruir. Ele se elegeu em 1989 e foi retirado do cargo pela Câmara federal em 1992 por corrupção.

O que acho lamentável é que nossa imprensa ainda repercuta qualquer dado eleitoral trazido por um instituto de pesquisas como o Vox Populi.
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POR José Pires

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