quinta-feira, 8 de julho de 2010

Uma candidata que parece não saber o que quer

Marina é a contradição em pessoa. Em teoria, nesta eleição representaria o meio ambiente, ela que foi durante seis anos, quase sete, ministra de um governo destrutivo neste plano e que falhou na tarefa inadiável de preparar as bases para que o país possa enfrentar um futuro muito preocupante e bem próximo. O resultado é que, com os oito anos de Lula já chegando ao final, quase tudo ainda está por fazer.

É um legado de Lula. Mas também é responsabilidade dela. Logo quando Marina saiu do governo parecia que a discussão ambiental iria ser um destaque no debate político, tanto que os outros candidatos também saíram a campo tentando mostrar que eles são ambientalistas desde criancinha.

Marina só tem sido poupada dessas críticas porque permanece no papel do patinho feito. Parecia um cisne no início e várias pessoas se apressariam em buscar meios para cortar-lhe as asas se tivesse continuado assim. Mas logo passou a impressão de candidatura emergente prestes a contagiar o eleitorado, queda de entusiasmo que se deve à dificuldade de definição da candidata.

Como vivemos num país onde discussão política é como lei, tem os assuntos que pegam e os que não pegam, rapidamente mudou-se de papo com a dificuldade da candidata em ocupar de forma inovadora o espaço que se abriu pra ela. Caberia a Marina impor o tema, o que ela não vem fazendo.

Deve ter muita gente piando na cabeça dela que “ambientalismo não ganha eleição”, um raciocínio torto em política e ignorante e preconceituoso em relação ao tema mais importante da atualidade.

Passa a impressão de que ambientalista é um ser louco capaz de discursar sobre o aquecimento global para platéias que sofrem com o transporte público, a falta de segurança, com dificuldades de saúde e econômicas básicas e a ausência de perspectiva pessoal e comunitária.

A questão ambiental está interligada aos vários problemas brasileiros, sendo forte demais, até um terrível suplício, na vida de grandes cidades e de cidades médias brasileiras. Atinge também as cidades pequenas, basta andar por aí para ver. É preciso situar o assunto de forma clara e inteligente e mostrar suas implicações na vida prática dos brasileiros, é claro, mas qual é a dificuldade em fazer isso?

Essencialmente, esta questão tinge de forma marcante o cotidiano urbano. Basta passar as linhas gerais do amplo conhecimento que existe hoje sobre isso a um marqueteiro eficiente que ele será capaz de botar nas ruas peças fortes, com grande poder de influência sobre o voto dos brasileiros. A base deste conhecimento já está aí, tudo muito bem descrito e até conceituado de forma clara. Mas será que Marina conhece? A julgar pelo seu comportamento no ministério de Lula e agora nesta campanha, tenho a impressão que não.

Ainda assim, vai ter gente dizendo que isso não ganha eleição. Mas, espere aí, compor uma candidatura em torno de uma candidata em visitas com formato oficial, apenas palestrando e fazendo passeatas e carreatas por aí, não estaria em conformidade com pensamento ecológico algum, pois basicamente a atuação ecológica consiste plantar idéias com empenho e persistência.

A candidatura de Marina Silva só vai pra frente se tiver este norte ecológico, aplicado ao dia-a-dia dos brasileiros e bem definido num bom trabalho de comunicação. Dessa forma ela pode até emplacar nesta campanha. A política cria possibilidades de um momento pro outro, mas é preciso estar bem estruturado conceitualmente para aproveitar oportunidades.

E no caso de não dar certo já nesta eleição, vale também o pensamento ecológico, pois é preciso sempre buscar o equilíbrio entre a urgência de algumas necessidades do agora e a visão do que o futuro nos reserva potencialmente no plano dos riscos e possibilidades.
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POR José Pires

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