sexta-feira, 28 de abril de 2023

As novas linhas aéreas revolucionárias de Lula com Havana e Caracas

Lula está completamente tomado pelo espírito de caudilho latino-americano. Ele está considerando de forma literal esse negócio de “supremo mandatário” — só fala no modo imperativo. Não faz pedidos, não procura conselhos e sugestões. Ele dá ordens e faz questão de dizer publicamente que é quem manda. Tenta fazer isso também no plano internacional, no entanto complica-se com a falta, lá fora, do privilégio de ter a chave do cofre — como é sua situação no Brasil. Discursando em países estrangeiros sobre suas propostas de reformular a ONU ou tentando determinar o que os Estados Unidos, a União Europeia e a Nato devem fazer, ele faz um papel patético. É um vexame, inclusive na linguagem.


Mas depois de passar vergonha lá fora, Lula voltou ao Brasil determinando ações meio difíceis de executar. E já tem puxa-saco divulgando as novidades. O ministro Márcio França, de Portos e Aeroportos, disse que o presidente quer que o Brasil volte a ter voos diretos para Havana e Caracas, capitais de Cuba e Venezuela, ainda neste ano.


França, que é um cascateiro já bastante conhecido (recentemente ofereceu passagens aéreas a 200 reais para todos os brasileiros), garantiu que as empresas estão de acordo com essas vontades de Lula, afirmando que “nós devemos voltar a ter um voo Brasil-Havana e Brasil-Caracas, que é um dos compromissos das empresas de aviação”.


Como eu disse, é o espírito de caudilho, do governante que acredita que movimenta a economia de acordo com a sua vontade ou de seu partido. É o pensador que disse que os livros de economia tem que ser reescritos. E acha que pode fazer agrados aos ditadores de países amigos sem prestar contas do esforço humano gasto para tanto ou no que isso custa em dinheiro. Ele tem para quem puxar. Quando era vivo e mandava na Venezuela, seu amigo Hugo Chávez fazia isso com Cuba, sustentando a ilha dominada por outro companheiro, Fidel Castro, inclusive mandando gasolina praticamente de graça para lá.


Nada contra que haja voo direto para Havana (as passagens para sair da ilha seriam bastante cobiçadas), mas ao que eu saiba, empresas de aviação abrem linhas conforme a demanda e não de acordo com o desejo de um governante. E Cuba atualmente não é um lugar muito procurado, pois está atolada numa crise em todos os níveis, em razão do desastroso governo de décadas sob o domínio da família de Fidel Castro e seus companheiros.


Havana é uma cidade totalmente destruída, com poucos lugares que o governo ainda conseguiu manter habitável ou apreciáveis para visitantes estrangeiros. Atualmente é possível assistir à vídeos no Youtube, feitos por cubanos que mostram Havana com quase todos seus prédios destruídos. A capital de Cuba é uma imensa cracolândia.


A miséria econômica do país chegou a um nível desesperador, com falta de comida, de remédios ou qualquer outra necessidade do cotidiano. Os cubanos sofrem também com a falta de energia elétrica. O país também depende totalmente da importação de petróleo. Os cubanos vivem agora com apagões diários, sendo obrigados ao racionamento de energia elétrica e também de combustível.


A falta de combustível é tão grave que pela primeira vez em mais de 60 anos de ditadura este ano não vai haver a gigantesca comemoração do Primeiro de Maio. A crise de desabastecimento de combustíveis obrigou o governo a cancelar a comemoração de alto peso simbólico, que a propaganda política sempre usou como respaldo popular à revolução e ao socialismo. Desde 1959, o governo organiza todos os anos um grande ato na Plaza de la Revolución, em Havana.


Nesta semana o jornal espanhol La Vanguardia publicou uma matéria sobre mais este apuro que passam os cubanos, que levou ao cancelamento da manifestação deste Primeiro de Maio. Simplesmente não tem gasolina para fazer a festa. A venda de combustíveis está racionada com rigor, sendo proibido o uso em veículos particulares. A prioridade é para ambulância, táxis, serviço funerário, com exclusividade em serviços públicos. A escassez é tanta que vem obrigando algumas universidades a voltar às aulas online, pois ficou difícil para os alunos o acesso ao transporte.


A falta de combustíveis dificulta inclusive o funcionamento de restaurantes e bares da capital, pois mesmo quem tem poder aquisitivo suficiente para consumir neles tem evitado sair de casa, para economizar gasolina. Ficou complicado até para chegar ao trabalho, o que vem sendo um tormento para os proprietários de novas empresas privadas criadas recentemente na liberação do governo para a abertura de pequenos negócios privados. Hoje em dia, Cuba está sob a ameaça de paralisação total.


O La Vanguardia conta que está havendo a suspensão inclusive de eventos culturais, como ocorreu no último mês, quando uma importante orquestra popular cubana teve que suspender ensaios. A suspensão foi para evitar que os músicos esgotassem a pouca gasolina que tinham em casa ou ter que gastar uma fortuna em táxi. A decisão foi suspender ensaios e apresentações até que se resolva este problema. Na semana passada houve o cancelamento de um concerto da Orquestra Sinfônica Nacional que estava programado com bastante antecipação.


É óbvio que este não é exatamente um destino muito favorável para as linhas aéreas que o intrépido Lula quer criar. Também não existe nenhum indicativo de que este destino tenha atrativos comerciais ou de turismo, numa projeção de muito tempo pela frente. Ora, mas tem também a rota para Caracas, outro sonho deste nosso magnata da aviação que usa parte de seu tempo — mínima, é verdade — para cuidar dos problemas nacionais.


Pois é da Venezuela que Cuba depende para ter todo seu combustível, que sempre foi cedido ao governo cubano a preço muito baixo, desde a época em que Chávez era vivo. Como se sabe, a Venezuela tem tanto petróleo que até faz parte da Opep. Mas acontece que o governo bolivarianista, que depois passou para Nicolás Maduro, destruiu toda a infraestrutura do país, afetando até mesmo a extração de petróleo.


A situação desesperadora chega a levar até autoridades cubanas, como o ministro de Energia e o próprio presidente atual, nomeado pela ditadura, Miguel Díaz-Canel, a se queixarem da falta de cumprimento na entrega do combustível da parte da Venezuela, que, disseram eles ao repórter de La Vanguardia, também atravessa uma “situação energética complexa”.


Está aí uma sugestão que pode ser incorporada aos planos do mais novo planejador do transporte aéreo internacional. Nas suas novas linhas revolucionárias, o intrépido Lula pode encaixar de início um importante serviço: enviar gasolina para os companheiros de Havana e Caracas.

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Por José Pires

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Os desconcertos das viagens de Lula pelo seu mundo do faz-de-conta

Parecia que tudo ia muito bem para Lula no plano internacional, com o presidente brasileiro bastante favorecido pelo cenário de terra arrasada deixado por Jair Bolsonaro com sua política externa destrambelhada. Sem querer desmerecer ninguém, estava fácil recuperar a imagem brasileira no estrangeiro. Bastava agir de forma equilibrada, além de demonstrar este equilíbrio também no discurso, afinal, na diplomacia é a palavra que garante a qualidade da imagem.


Mas faltou combinar com este presidente boquirroto, que na última eleição tomou o lugar do outro imbecil. E Lula nem precisa de morfina para fazer asneiras. Foi um belo estrago em poucos dias, em viagens que começaram na China, com uma rápida passagem pelos Emirados Árabes, para depois seguir para a Europa, tendo Portugal e Espanha no roteiro oficial do maljeitoso representante que foi vender a nossa imagem lá fora. A última parada foi com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, quando o petista insistiu na sua política de causar mal-estar por onde passa.


O socialista espanhol e o esquerdista brasileiro agora estão com uma divergência séria. Sánchez não tem dúvida alguma de que a Crimeia é da Ucrânia, um assunto que Lula trata com demagogia, como se estivesse no Brasil lidando com gente de olho em cargos, que aplaudem qualquer besteira que ele diga. A Espanha também fornece armamento para a defesa do povo ucraniano. A proposta de Lula é de que ninguém ajude Volodymyr Zelensky na reação contra os invasores russos. Sánchez não poderia gostar do que ouviu.


Desde antes de ser eleito, Lula vem afirmando que Volodymyr Zelensky é tão responsável quanto Vladimir Putin pela invasão da Ucrânia. Putin, é bom lembrar, foi há pouco acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia. Porém, de organizações internacionais a esquerda só aplaude o que lhe convém, como fazem os petistas e Lula até com decisões que não tem nenhuma validade oficial.


Ora, mas onde se viu um país invadido reagir ao invasor, não é mesmo? Esta é a lógica desse gênio da geopolítica, que tem dificuldade até de defender a sede do governo brasileiro de vândalos de camiseta amarela armados apenas com bandeiras brasileiras, mas tem a pretensão de reformular toda a política de segurança da ONU desde 1945.


Foi ele mesmo que falou dessa data, como marco da drástica revisão na ONU. Essa fala até permite uma interessante relação entre sua visão moderna sobre os conflitos globais com os acontecimento daquela época. Por esta opinião de Lula, a Polônia foi tão culpada quanto Adolf Hitler, quando houve a invasão feita pela Alemanha nazista em setembro de 1939, dando início à Segunda Guerra Mundial.


Do jeito que Lula fala, pode-se dizer a mesma coisa sobre outras agressões nazistas, até mesmo da invasão da União Soviética — evidentemente culpada não de ter sido invadida, mas também por ter reagido em vez de procurar a paz com Hitler. Ah, sim: e em vez de trabalhar pela paz com Adolf Hitler, já naquela época os Estados Unidos mandavam armas para os países europeus reagirem contra os nazistas.


Tenho que fazer piada, mesmo com coisas tão sérias. É o jeito, para refutar tamanhas asneiras. Lula ainda mantém o discurso de que os Estados Unidos e a União Européia são culpados por esta guerra. Ele tenta amenizar o estrago na sua imagem e do Brasil, que já é grande. Para se fazer de inocente chega até a fingir que não entende o português de Portugal, mas suas idiotices estão sendo muito bem compreendidas pelo mundo todo.


Ele já acusou os Estados Unidos de fomentar a guerra. Segundo o que disse, o apoio político e militar de americanos e europeus não permite que a paz seja alcançada. Vejam só: Estados Unidos e países europeus passaram a fornecer armas para a Ucrânia só depois que começou a invasão russa, mas na cabeça do Lula todos estão nivelados em responsabilidade pela guerra. Todos não, com sua relativização quem ganha é Putin.


Os americanos não trataram os insultos com meias-palavras. O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que Lula apenas “reproduz propaganda russa e chinesa”. É evidente que haverá uma deterioração da relação com os Estados Unidos de Joe Biden. A opinião de Lula é tão favorável a Putin que neste tema ele acaba ficando mais próximo de Donald Trump e até mesmo de Bolsonaro


Em poucos dias o Brasil perdeu a respeitabilidade como um país com independência para tratar de temas mais complicados nas relações entre os países, além de que nunca mais Lula terá o trânsito fácil que gozava até agora no exterior, especialmente nos países europeus, que estão perigosamente próximos da Rússia. Qual será o governante europeu que terá simpatia por alguém que propõe que não deve haver nenhuma ajuda militar a um país que tem seu território invadido?


Parece até que ninguém contou ainda para o petista que, diante da grande transformação que está em andamento nas relações internacionais, a Ucrânia é apenas o ponto inicial das complicações sérias que o mundo poderá ter que enfrentar pela frente, para as quais não cabe como solução a oferta de uma conversa com cervejinha, outra asneira que já foi dita sobre este conflito na Europa.


Lula volta para casa muito menor do que era quando embarcou para Portugal. Com esta lamentável viagem o Brasil também perdeu muito, mas bastante mesmo, em matéria de imagem e mesmo de abertura para acordos e negócios. Com o PT no governo vai-se firmando aquela frase famosa sobre um país que não é sério — que na verdade Charles de Gaulle nunca disse, mas agora nem importa mais.

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Por José Pires



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Imagem- Lula apresenta para o presidente espanhol, Pedro Sánchez, um importante parceiro de negócios que levou na caravana oficial


quarta-feira, 26 de abril de 2023


 

terça-feira, 25 de abril de 2023

Lula em Portugal: sentindo o gosto amargo do repúdio e piorando o que disse da agressão militar da Rússia de Putin contra a Ucrânia

Lula saiu correndo do Brasil logo que estourou o escândalo do vazamento das cenas gravadas durante o vandalismo de 8 de janeiro em Brasília, em vídeos que ele não queria que fosse assistido por muitos anos — ainda no começo de fevereiro, o presidente decretou o sigilo das gravações, contrariando o que bradava durante a campanha, nas críticas pesadas à ocultação de informações do governo de jair Bolsonaro.


O sigilo foi decretado em cima de um pedido da Folha de S. Paulo, pela Lei de Acesso à Informação, mostrando que essa é mais uma lei que, no notório ponto de vista do PT, só serve para os outros. Essa aversão à transparência sobre os acontecimentos também parecia estranha a quem se dizia vítima de tentativa de golpe. Mas logo que se deu o vazamento, divulgado pela CNN Brasil, ficou clara a razão de Lula querer que ninguém assistisse ao espetáculo.


Então Lula antecipou em um dia o embarque para Portugal, para a comemoração do 25 de abril, data da queda da ditadura salazarista naquele país. A presença do presidente brasileiro era tão vazia de sentido, que tiveram que correr para encontrar algo de peso para ele fazer por lá. Um político mais sério ficaria por aqui, já que o Brasil está penando com problemas gravíssimos, que exigem atenção exclusiva, mas todo mundo sabe que outro defeito parecido seu com o presidente anterior que ele gosta tanto de lembrar é o de bater perna.


Para preencher a agenda de Lula, o governo brasileiro teve que organizar assinaturas de acordos banais e até já em uso nos dois países, como a equivalência de estudos fundamental e médio ou a permissão da carteira de motorista brasileira em Portugal. São 13 acordos bilaterais, claro que com esse número, mágico para os petistas, que colocam propaganda eleitoral em tudo. Aí tem mais uma novidade internacional do Lula. O PT inventou um tal de “memorando de entendimento”, que é uma carta de intenção sobre algo a ser discutido ou acertado no futuro.


Sob aplausos, portugueses e brasileiros assinaram algumas dessas coisas, que lembram muito aquele meme do “é verdade esse bilete”. Um “memorando de entendimento” foi o das agências de cinema dos dois países, para coprodução audiovisual, um papo que, sejamos francos, podia ser feito por e-mail.


Noutras questões, muito mais práticas, Lula se incumbiu de arrumar mais confusão lá fora. Na fuga das complicações internas de seu governo, surgiu uma carrada de problemas. A mais grave é que o petista acabou firmando de vez a imagem de aliado de Vladimir Putin, na criminosa agressão à Ucrânia. A meu ver, estas falas abalaram ainda mais sua imagem em razão da forma como sua posição foi definida, com asneiras impressionantes — idiotices absolutas, mesmo analisando suas palavras nos próprios termos do que ele procurava defender ou nas explicações que agravam ainda mais o que já era barbaridade.


Lula parece que não entende que enquanto se ilude com a ideia de que que está fazendo bonito no exterior, o que ele diz é visto como uma papagaiada da propaganda russa e chinesa. A própria Casa Branca já disse isso, exatamente com este adjetivo. E quando talvez avisado por algum assessor, ele procura consertar o estrago, não só reafirma as asneiras como acrescenta algo mais. Nem o Twitter aguenta tanta mentira. A tentativa de dizer que não disse o que está devidamente registrado, acaba trazendo a repetição dos prints das asneiras, que mostram-se então ainda piores do que aquilo que estava na lembrança.


A presença do presidente brasileiro teve o repúdio de políticos de Portugal e manifestações da comunidade ucraniana, obviamente muito numerosa na atualidade em toda a Europa exatamente por causa da agressão militar da Rússia à Ucrânia, que forçou a fuga de milhares de pessoas buscando refúgio em vários países.


Esta é uma complicação da absurda posição do governo brasileiro: Lula vai encontrar em vários lugares refugiados que tiveram que abandonar suas casas, muitos deles próximos de gente que ainda luta contra os russos, pessoas desesperadas com a situação de amigos e parentes que podem ser mortos ou ficarem gravemente machucados durante esta guerra criminosa.


É claro que tudo que Lula falou durante sua desastrada passagem por Portugal foi parar nas mesas de autoridades dos Estados Unidos e da Europa. O problema é que além das opiniões que agridem autoridades americanas e européias no seu esforço em apoiar a Ucrânia, quando devidamente transcritas as palavras de Lula revelam uma retórica de vereador de cidade pequena, pela baixa qualidade na sua forma de falar e na expressão do que ele pensa.


Chega a ser engraçado, ainda que de humor negro para nós brasileiros: o mundo, que havia ficado perplexo com o discurso grotesco de Bolsonaro e até por isso procurou favorecer Lula para evitar sua reeleição, descobre afinal que neste país os eleitores apenas trocaram um imbecil por outro. Azar nosso. E não foi por falta de coisa muito menos pior que ambos no primeiro turno.


Lula vem tentando explicar do jeito dele as posições muito claramente favoráveis à Rússia de Vladimir Putin, que vinha expondo antes mesmo de ser eleito. O problema é que suas tentativas de manipulação se embananam no seu discurso tosco, de político de vocabulário reduzido e popularesco. Lula não é um Barack Obama, que comunica-se com plateias muito diferenciadas, simplificando ou sofisticando a linguagem conforme a necessidade, sem perder o estilo.


Além do mais, o mundo entendeu muito bem que o chefão petista se alinhou com os autocratas Xi Jinping e Putin, acusando os Estados Unidos, a União Européia e até a NATO de incitar a guerra. Para se redimir disso, teria de haver uma errata objetiva da parte de Lula. É necessário quase pedir desculpas, o que obviamente não vai ocorrer com alguém que até hoje culpa a Justiça por ter descoberto suas ilegalidades em vez de assumir que errou.


Então segue o turrão. Vai tentando enrolar autoridades estrangeiras, quase todos com uma formação pessoal muito superior à sua, além de contarem com assessoria mais capaz. Eu adoraria conhecer com detalhes a reação intelectual de uma figura como o presidente da França, Emmanuel Macron, ou de Joe Biden, ao lerem as palavras que saem da boca de Lula. Que delícia seria saber, por exemplo, da interpretação do texto lulista, no paralelo feito pelo petista entre Angela Merkel e o ditador Daniel Ortega, para justificar seus crimes na Nicarágua.


Mas nesta estadia em Portugal, nosso importante teórico político deixou uma carrada de textos para o estudo nos gabinetes da Europa e dos americanos. Valerá, com certeza, dar um crivo numa revolucionária proposta sobre o direito internacional de Lula, que pede a reformulação do Conselho de Segurança da ONU. A declaração foi feita ao lado do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, perfeito fazendo-se de sonso, mas que deve ter ficado surpreso com a audácia do gajo brasileiro, para quem, aliás, serviu como tradutor de português para a língua do Lula.


Sendo chapinha de Lula, Rebelo condecorou a primeira-dama Janja com a Grã-Cruz do Infante Dom Henrique, sob o pretexto de “serviços prestados a Portugal”, o que traz uma instigante dúvida sobre que raios afinal fez a mulher de Lula neste honorável quesito. O que sabemos é da gravata caríssima que ela comprou numa loja chique de Portugal, mas deve ter mais coisas que mereçam o agrado da medalha de Dom Henrique.


Mas o que dizer de Lula revisando o Conselho de Segurança da ONU, onde ele tentou entrar quando era presidente, fazendo concessões equivocadas à China, que depois não honrou o acordo? E o que falar sobre a visão lulista de que é preciso mudar tudo no mundo, ou “restabelecer uma nova geografia”, conforme suas próprias palavras, porque, conforme ele diz “a geografia de 1945 não é a mesma”.


Bem, para esta revisão na ONU e a mudança na compreensão do mundo todo sobre geopolítica, segundo o que na cabeça do Lula é uma brilhante reformulação global, ora, para isso ele não poderá contar com o Lira e o Pacheco nem com o Centrão. Mesmo a Janja ou a Gleisi Hoffmann não dão conta disso. Pelo menos até agora, todos tem varas curtas demais para cutucar esta instância mais poderosa até que a cadeira do Alexandre de Moraes e as de seus colegas do STF.

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Por José Pires


sexta-feira, 21 de abril de 2023

A demissão de Felipe Moura Brasil na CNN Brasil e o cerco que se fecha na liberdade de expressão

O jornalista Felipe Moura Brasil não faz mais parte do canal CNN Brasil. A informação foi divulgada nesta quinta-feira, por meio de nota que afirma que o profissional e a empresa  "decidiram, em comum acordo, pelo distrato do contrato por não terem chegado a um consenso sobre a conciliação das diferentes frentes de trabalho do jornalista com as demandas da emissora". Ele era um dos melhores dessa televisão, ao lado de William Waack, um dos raros profissionais que não deixa um programa de notícias políticas virar uma conversa vazia sem utilidade nenhuma.


A nota da CNN Brasil segue o padrão costumeiro de tratar do desligamento de jornalistas, no entanto parece certo que houve de fato uma demissão, em razão de opiniões de Moura Brasil em desacordo ao interesse da empresa. E um ponto crucial que levou à saída do profissional é a denúncia apresentada contra Sergio Moro pela PGR na última segunda-feira, pedindo a prisão do senador e ex-juiz federal. A palavra de ordem nas podres elites brasileiras, como se sabe, é acabar com Moro, conforme sintetizou Lula recentemente com aquele conhecido palavrão.


Só para situar melhor a questão, o proprietário da CNN Brasil é o bilionário Rubens Menin, dono também da construtora MRV. Esta empresa de Menin tornou-se a maior incorporadora da América Latina, em grande parte com programas do governo federal, como o Minha Casa, Minha Vida, que Lula pretende turbinar financeiramente, focando nas eleições municipais do ano que vem e na próxima para presidente.


A denúncia da vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, tem como base um vídeo de oito segundos no qual Moro aparece fazendo uma piada em tom descontraído, falando sobre “comprar” um habeas-corpus de Mendes. É um recorte que foi rapidamente propagado nas redes sociais, porém não se informa no vídeo que o senador está em uma festa junina, se referindo jocosamente à velha brincadeira que obriga alguém a “pagar” para sair da prisão que é montada na festa.


Moura Brasil tem se colocado com firmeza contra esta grosseira armação contra Moro, que conforme o próprio Lula grunhiu raivosamente, numa confissão pública sobre sua sede de vingança, será sempre um alvo preferencial do governo. No seu Twitter, logo que saiu a denúncia da PGR, ainda como apresentador e âncora na CNN Brasil, o jornalista publicou um vídeo que esclarece muito bem o contexto da fala de Moro, que nada mais é do que uma piada banal de festa junina, enquanto se bebe quentão e come canjica e amendoim. 


Ainda no Twitter, Moura Brasil publicou um post na noite desta quinta-feira, em que aponta a razão do desacordo com a direção da CNN Brasil. Ele escreve o seguinte: “Sobre meu jornalismo: Jamais fui nem serei cúmplice da prisão de alguém, só por piadas privadas, vazadas em registros de terceiros. Tive a mesma posição, em épocas distantes, com Lula (Pelotas), Hillary Clinton e Sergio Moro, entre outros”.


Se não estivéssemos no Brasil, seria impressionante ver um caso assim sendo tratado como algo sério, ainda mais merecendo a apreciação jurídica em qualquer tribunal. Mas a coisa está no STF e não é pouco o risco dessa desavergonhada armação dar certo. A denúncia da PGR pede que, se condenado a pena superior a quatro anos de prisão, Moro perca seu mandato parlamentar, para o qual foi eleito com grande votação em 2022. E a procuradora elaborou com cuidado a peça, para que se atinja essa pena de quatros anos.


É um pretexto absurdo para a continuidade da perseguição política à Lava Jato, servindo além disso para fortalecer ainda mais o clima de intimidação à liberdade de expressão, que é claramente um dos pontos mais fortes do projeto de poder do PT e de Lula, neste novo mandato presidencial. O Brasil está desse jeito, com uma ampla armação que junta o que há de pior nos três poderes da República para fazer deste pobre país um lugar em que prevaleça a impunidade para quem tem poder e dinheiro.


Pode-se discordar das opiniões de Sergio Moro e mesmo de seus posicionamentos políticos depois que ele deixou de ser juiz federal. Eu mesmo não gostei nem um pouco da sua entrada no governo de Jair Bolsonaro, muito menos do apoio direto dado à sua tentativa de reeleição para presidente, embora no segundo turno a outra opção fosse também de baixíssima qualidade. 


Voto nulo serve para esses falsos dilemas, no entanto eu não participava diretamente da política e muito menos era candidato. São fatos que podem fazer a diferença na posição de cada um nesta vida e claro que também numa eleição. E enfim, já faz bastante tempo que aprendi que na análise política existem muitas variantes que devem ser observadas, mesmo quando não cabem dentro do que acredito ser melhor para a nossa vida.


E no caso dessa perseguição à Lava Jato, com Moro simbolizando o alvo simbólico mais importante a ser atingido pelo esquema plutocrata que se armou neste país, deve-se observar que o plano de aniquilação do ex-juiz e atual senador não é pelos defeitos que eu ou você acredite que ele tenha. Tanto não é assim, que ele atrai o ódio de uma ampla parcela de poderosos, além de Lula e outros nomes manjados em investigações policiais, de uma porção de advogados cupinchas bastante endinheirados, figuras fortes do Judiciário, muitos maiorais da política brasileira e claro que também de chefões do crime organizado inclusive de fora do país.


Ninguém deve imaginar que esses coisas ruins  se arriscariam politicamente num processo ridículo como este, nas alturas do STF, neste plano de prender um senador e ex-juiz federal por causa de uma piada tola numa festa junina, para depois não darem continuidade à intimidação, caso obtenham sucesso. Moro é só o começo. O cerco à liberdade de expressão não vai parar por aí. O clima de ameaça seguirá com mais força, que ninguém duvide disso, impondo a própria piada jurídica como norma, de tal modo que numa festa junina, um dia desses, qualquer um pode acabar numa prisão de verdade se na cadeia de uma festa junina ousar falar no nome de Gilmar Mendes.

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Por José Pires

quarta-feira, 19 de abril de 2023

O parafuso de Lula e outras encrencas que o Brasil deve enfrentar

Uma das piores formas de vergonha alheia é a gente sentir isso pelo nosso país, o que já vinha acontecendo pesadamente nos últimos anos e já sabemos que não vai parar. Já é possível perceber que na eleição presidencial os eleitores apenas substituíram um imbecil por outro imbecil, com a diferença apenas de ideologia entre um energúmeno e outro.


O vexame é mundial, com a catastrófica destruição de uma qualidade importante que o Brasil possuía nas relações internacionais, a neutralidade construída durante décadas e que dava ao nosso país a possibilidade de agir politicamente em conflitos e crises, sem complicar a nossa situação com outros países.


Era inclusive uma forma de se meter em guerras sem ter que mandar nossos jovens para morrer em alguma delas. Os brasileiros que se acautelem, livrando-se de figuras como Lula ou mesmo Bolsonaro, pois o estilo político de espertalhões desse tipo pode levar a complicações que costumam saltar da retórica para banhos de sangue.


Essa ideia do Brasil como um país neutro acabou nesta viagem do presidente para a China, com o amontoado de asneiras ditas pelo petista, que levaram a um desgaste para a imagem brasileira como nunca houve antes em nossa história. Nem na ditadura militar se viu o Brasil ser posicionado internacionalmente de maneira tão errada e irresponsável, como fez Lula numa crise da importância da guerra da Rússia de Vladimir Putin contra a Ucrânia de Volodymyr Zelensky.


Estamos feitos com alguém assim como mensageiro da paz. O sujeito foi para a China, onde fez elogios ao autocrata Xi Jinping como intermediário da pacificação e colocou a belicosa Rússia no mesmo plano da Ucrânia, que tem seu território invadido e seu povo massacrado por bombardeios diários. E para o plano de paz ficar perfeito, ainda fez acusações aos Estados Unidos, à Comunidade Européia e à Otan. Na revisão lulista do direito internacional, o culpado é quem ajuda um país a se defender da agressão externa e restaurar sua soberania.


Já sei que alguns logo vão apontar a desastrosa condução das relações exteriores no governo de Jair Bolsonaro, num período em que o Brasil virou um estado pária. No entanto, o que temos agora de diferente é que o estado pária é de esquerda. Por sinal, ainda no início desta crise, o governo bolsonarista tinha a mesma posição do governo petista. Ambos como sabujos de Putin — ou “escova-botas”, expressão perfeita neste caso. A diferença é que, sobre este assunto, nem Bolsonaro foi capaz de falar tantas asneiras como Lula.


Numa agenda oficial de apenas quatro dias, Lula conseguiu se indispor com a Comunidade Européia e os Estados Unidos, com a Otan no meio. Seu governo foi para as manchetes da imprensa internacional com um estilo retórico de caudilho latino-americano. O plano de Lula era reposicionar internacionalmente o Brasil e especialmente seu governo, para criar um contraste com a péssima imagem deixada por Bolsonaro. Porém, boquirroto como sempre, acabou comprando brigas desnecessárias, revelando mais do que devia.


Lula parece que não está satisfeito apenas em revisar a seu gosto teorias econômicas que, na sua opinião, estão totalmente ultrapassadas. Dia atrás, este gênio teórico disse que “livros de economia estão superados”. Na realidade, foi sua implicância com o teto de gastos que levou o chefão do PT a esse desabafo com a patética pretensão de quem não sabe do que está falando. Então, confundido com os aplausos às suas platitudes e palavras vazias quando fala para plateias de olho na caneta que libera cargos e verbas do governo, ele atravessa o limite entre a demagogia e o conhecimento acadêmico.


Sua opinião sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia parece conter essa mesma sanha de revisar teorias e estabelecer novos parâmetros para o conhecimento, agora dando um retoque no direito internacional. Lula avalia um conflito colocando um governo que tem seu território invadido no mesmo nível de responsabilidade do invasor.


Mas cabe apontar, neste caso, como ocorre com as entortadas que pretende dar na economia (sendo ele próprio seu “Posto Ipiranga” — Haddad é o frentista), que não se pode lamentar que ele não tenha avisado que em relações externas haveria apenas a troca de um imbecil pelo outro.


Ainda no ano passado, em maio, Lula já colocava a culpa em Zelensky por ter seu país invadido pelas tropas de Vladimir Putin. Quase seis meses antes da eleição, em entrevista à revista Time, eram essas suas palavras: “Ele (Zelensky) quis a guerra. Se ele não quisesse a guerra, teria negociado um pouco mais”.


A invasão russa já havia ocorrido quando ele despejava asneiras na Time. O mundo inteiro já assistia com horror a mortandade causada pelos russos. Mas seria tolice esperar opiniões sensatas sobre mais uma guerra criminosa de Putin, ou que fosse ao menos esperar compaixão, de um político que quando era presidente do Brasil ia para Cuba beijar a mão do ditador Fidel Castro, sem se preocupar com gente que morria em greve de fome nos cárceres cubanos.


Este é o verdadeiro Lula. Um histórico parceiro seu já havia alertado: ele não tem caráter. E a única surpresa é que esteja abrindo seu coração sujo, pois até então ele fingia no exterior que era um estadista. Alguns até poderão dizer que isso pode ser um "problema de parafuso", conforme sua própria fala estapafúrdia desta quarta-feira, quando se referiu desse jeito à pessoas com transtorno mental, incluindo milhões que sofrem de depressão — causada em grande parte, por sinal, por obra da destruição moral, política e econômica promovida pelos governos petistas.


Citando dados da Organização Mundial da Saúde sobre o tema, Lula declarou: “Temos quase 30 milhões de pessoas com problema de desequilíbrio de parafuso, pode uma hora acontecer uma desgraça”. Será que este gênio das teorias pretende revolucionar também esta área do conhecimento humano? Esperemos: pode uma hora acontecer mais esta desgraça.


Mas a suspeita de “problema de parafuso” é apenas pelo inoportuno das palavras, que ele percorre, atropelando suas próprias pautas em temas dos mais variados, com estragos que estão preocupando inclusive seus aliados mais próximos. Não é pelo conteúdo. A expressão verbal surpreende, mas o que temos é nada mais, nada menos, que a revelação bruta de um método que antes costumava ser acobertado com relativa eficiência. Lula sempre torceu pelos piores, não só por aqui, em nossa terra, como também no estrangeiro. Tampouco esteve algum dia verdadeiramente ao lado da democracia ocidental, pois sabe que mesmo com todos seus defeitos, este é um sistema que, se bem aplicado, não favorece a políticos do seu feitio.

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Por José Pires


 

domingo, 16 de abril de 2023

Lula, China e Vladimir Putin: o governo do PT assume suas amizades internacionais

A viagem para a China serviu para que Lula tirasse finalmente a máscara, revelando que ele não tem nada de neutro no panorama mundial que se desenha a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia de Vladimir Putin. Lula fez o “Z”. O símbolo é visto em veículos militares, muros e fachadas, além de parecer pintado em carros e estampados em camisetas, inclusive em Moscou, com o significado de apoio à guerra.  Ao contrário do que pode-se pensar, não é algo antigo entre os russos. Apareceu no início dessa agressão praticada por Purin e não se sabe com exatidão qual é a sua origem e seu significado.


Existem os que interpretam o “Z” como uma abreviatura de “Za podeby” (“para a vitória", em russo), assim como tem quem crê que isso quer dizer “Zapad” (“oeste”). Outros acham que seria uma mensagem de “desnazificar”, mas aí já é uma interpretação que vem do argumento mentiroso de Putin como uma das justificativas para a invasão violenta do território ucraniano.


Para Lula, o significado pretendido é de um posicionamento forte da sua imagem no cenário internacional, como também no Brasil. No nosso caso, além de criar a ilusão propagandística de ter um papel determinante na resolução do grave problema criado com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que envolve Estados Unidos e países europeus, o petista tenta aproveitar a ocasião reforçar o combalido caixa do governo. 


Ao fazer o “Z”, o presidente brasileiro favorece vergonhosamente o interesse do ditador Putin e fortalece negociações com o enorme poder econômico da China, país aliado da Rússia na nova ordem mundial que se projeta, que tem do outro lado os Estados Unidos de Joe Biden. 


No espetáculo onde julga ser protagonista e fazer um bom papel, Lula chegou a fazer uma visita à fábrica da Huawei, que até parece provocação. A Huawei Technologies é considerada pelos americanos um risco à segurança internacional. A empresa está no meio do conflito político e comercial entre os Estados Unidos e o governo chinês. A visita esquentou uma pauta política delicada, neste caso favorável à China.


Outro fato que não deixa de ter ligação com a visita de Lula, ainda mais com as calorosas palavras do petista, é o acirramento da ameaça de invasão de Taiwan, com os exercícios militares feitos pela China exatamente em momento próximo da chegada do presidente brasileiro. Mesmo se fosse apenas coincidência, o resultado criado com a viagem coloca o nosso país muito próximo de uma complicação em que o melhor é ficar de fora.


O Brasil está sendo obrigado pela posição despropositada de Lula a fazer um papel feio. Em vez de posicionar-se com clareza na condenação de uma guerra injusta e extremamente cruel, o governo petista aproveita a difícil situação para tratar de interesses puramente econômicos, com o clima de destruição e massacres de civis servindo como barganha nos negócios com a China, com o Brasil dando em troca uma subserviência vergonhosa, falsamente colocada como neutralidade.


É isso mesmo: Lula joga com o sofrimento terrível do povo ucraniano, manobrando a diplomacia brasileira com retórica de palanque. O Brasil já não é um país neutro há bastante tempo, especialmente quando o PT está no poder, como agora. Lula e seu partido sempre tiveram excelentes relações com ditaduras do pior tipo, com o chefão petista apelando inclusive para aquela intimidade asquerosa que dispensa o respeito ao ritual do cargo — com alguns desses criminosos expressava até afeto fraterno, como foi com o ditador Muammar Kadhafi, que Lula chamava de “meu amigo e irmão”. 


A lista histórica das relações internacionais da diplomacia petista parece mais uma folha corrida, trazendo até muita suspeição sobre os laços fraternos com ditaduras da África e da América Latina, além de teocracias criminosas, como a da ditadura islâmica do Irã, todos, sem exceção, envolvidos em corrupção pesada, que em muitos casos atravessam décadas de roubo inclemente, impondo uma vida miserável e sem direito algum aos povos sob o domínio de castas de ladrões e assassinos. Nesta triste roubalheira, atuaram inclusive empreiteiras levadas por Lula a esses países.


Não é de hoje que Lula tem lado e é sempre de braços dados com o que há de pior no mundo, como na suspeita ligação até íntima com a ditadura da família Castro, em Cuba, onde ia quase todos os anos beijar a mão do ditador Fidel Castro,  certa vez até quando um prisioneiro político morria em greve de fome nos cárceres do regime cubano.


No continente africano, o petista também se lambuzou, com gosto, entre más companhias, levando inclusive empreiteiros amigos para desfrutar de negócios com ditaduras, como fez com José Eduardo dos Santos, em Angola, que chegou ao poder à frente do grupo comunista do MPLA e ficou durante quatro décadas no comando, deixando como legado apenas sofrimento e miséria aos angolanos. O MPLA governa o país até hoje.


Lula também se deu muito bem com a ditadura cubana, com a Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, sempre em parcerias muito suspeitas, em que parece haver um compromisso obrigatório do petista amenizar qualquer crime ou corrupção. Se com esse histórico de cumplicidade política com ditadores terríveis, alguém ainda acreditasse que Lula se comoveria com a mortandade praticada por Putin na Ucrânia, com seus bombardeios direcionados à população civil, espalhando o medo e o terror entre inocentes, ora, quem achasse que isso atingiria o coração de Lula teria que esquecer que ele nunca teve compaixão com o sofrimento alheio.


Este é o cara que até agora não desaprovou nenhuma vez o regime de Daniel Ortega, ditador da Nicarágua que ganha eleições prendendo os candidatos adversários, que acabou com a liberdade de expressão, manda milícias paramilitares matar manifestantes nas ruas e persegue até a Igreja Católica, prendendo religiosos e expulsando do país seus opositores, com a empáfia de decretar a anulação da nacionalidade dos que foram forçados ao exílio.


Ortega prende e mata nas ruas quem protesta contra sua ditadura — foram mais de 300 mortes nas últimas manifestações. As pessoas detidas são torturadas, submetidas à violência sexual. E mesmo assim a esquerda brasileira permanece em silêncio. A cumplicidade cruel de Lula, também muito suspeita, vai mais longe: ele chegou a comparar Ortega à ex-chanceler alemã, Angela Merkel, usando o paralelo para justificar o fato do ditador nicaraguense usar eleições fraudulentas para não sair mais do poder.


Com a Ucrânia, para amenizar os crimes de Putin, ele fez outras alegações.  E desta vez foi longe demais. Acostumado com a impunidade sobre as barbaridades que vem dizendo desde que ganhou a eleição, Lula avançou mais do que devia em um tema que exige responsabilidade. No final da visita a Pequim, o presidente pediu paciência com Putin e acusou os Estados Unidos de incentivar a guerra. Dá até para imaginar Joe Biden anotando o fato na sala oval da Casa Branca.


No seu raciocínio torto, Lula colocou no mesmo nível agressor e vítima, dando a entender que Volodymyr Zelensky não tem interesse na paz. Claro que ele aproveitou para exaltar a China como promotora da paz, bajulando o líder chinês Xi Jinping — outro que não quer mais sair do poder. Esta é a sua lógica absurda: as democracias ocidentais querem a guerra e o autocrata chinês anseia pela paz. O antiamericanismo da esquerda não é só idiota. É capaz também de dar o aval à barbaridades.


Vamos às asneiras de Lula: “Eu acho que a China tem um papel muito importante, possivelmente seja o papel mais importante (em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia). Agora, outro país importante são os Estados Unidos. Ou seja, é preciso que os EUA parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz, para a gente convencer o Putin e o Zelenski de que a paz interessa a todo mundo. A guerra só está interessando, por enquanto, aos dois". 


É tamanho o absurdo, que seria para indignar-se, não fosse previsível a asneira, vindo de quem vem. Invadidos pelos russos, cujo exército tem um histórico de horror e crueldade desde a Segunda Guerra Mundial, os ucranianos têm interesse na continuidade da guerra.


Depois de ser escorraçado por um povo que ele imaginava que poderia fazer render-se facilmente, Putin pratica a velha guerra suja, que vem desde os tempos da extinta União Soviética. Os bombardeios são planejados para atingir a população civil, para intimidar o povo ucraniano, com velhos, mulheres e crianças sendo trucidados, famílias inteiras com os corpos destroçados nas ruas de cidades. Gente é torturada pelos russos, violências aterrorizantes são praticadas contra pessoas desarmadas. As tropas de Putin roubam tudo por onde passam. 


Repete-se na Ucrânia um antigo método militar, que fazia dos russos as tropas de ocupação mais temidas na última guerra mundial, aterrorizando até seus próprios aliados. Só na cabeça de Lula nivela-se, desse jeito, a vítima e seu agressor altamente criminoso.


O governo petista vai procurar propagandear como um sucesso esta viagem lamentável, em que, na voz de Lula,  o Brasil rebaixou-se como poucas vezes em sua história. O governo petista vai procurar pautar os negócios em andamento como um peso fundamental nas relações retomadas com mais vigor com a China. Até pode ser, no entanto eu penso que o custo político disso pode ser alto demais, em razão do posicionamento internacional que o Brasil passa a ter a partir de agora. 


A confrontação política com os Estados Unidos, feita de modo desastrado e sem necessidade por Lula, ficará pendente para ajustes futuros de contas. E os americanos costumam fazer suas cobranças, às vezes de modo duro, mais cedo ou mais tarde. É óbvio que não acho que o governo do PT não deveria estabelecer relações comerciais mais firmes com a China. Mas penso que isso não deveria ocorrer sem comprar brigas desnecessárias. Ou será este um preço estabelecido pelo governo chinês?


Eu acho que essa conta vai sair cara. Depois dessa viagem, o Brasil não tem mais como sustentar sua imagem de neutralidade. O governo do PT coloca o nosso país em área de risco. Lula mostrou que tem uma posição clara, escolhendo numa época tremendamente perigosa o lado de autocratas, contra o ponto de vista de democracias ocidentais, inclusive do continente europeu, onde o risco é ainda mais sério, por causa da proximidade indesejável de Putin, o amigo do Lula que ameaça o mundo até com o uso de armas nucleares por Putin.

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Por José Pires

sexta-feira, 14 de abril de 2023