segunda-feira, 30 de março de 2020

O negacionista Bolsonaro e sua rejeição mundial

Logo que o presidente Jair Bolsonaro começou com seu espetáculo de cretinices, tentando sabotar o esforço coletivo dos brasileiros no enfrentamento do novo coronavírus, escrevi sobre o panorama político armado por ele no plano internacional com suas atitudes horrorosas, de um governante totalmente isolado, que perdeu totalmente a condição de comandar as relações externas do Brasil.

O efeito trágico do coronavírus em vários países é de uma dimensão próxima do que tivemos de pior no século passado, um período barra pesada da humanidade, que começou já nos primeiros anos, com a Primeira Guerra Mundial, passando pela Segunda Guerra, as explosões da bomba atômica, que teve até o horror do Holocausto e os Gulags comunistas, escritos assim, com iniciais maiúsculas, em razão do peso na memória humana desses genocídios instaurados como política de Estado, à direita e à esquerda.

Bolsonaro é um homem que fez da negação da realidade uma forma rápida de subir ao poder. Em política isso não é incomum, sendo uma forma de manipulação que infelizmente tomou conta do processo eleitoral brasileiro nos últimos tempos. A meu ver, o desequilíbrio do uso desse truque sujo veio do fato de Bolsonaro ser um negacionista meramente por intuição, sem um controle intelectual dessa manipulação.

Uma grave deficiência de formação deixou este sujeito sem noção completamente empolgado com a aparente facilidade de obter sucesso rápido falando certas besteiras ou agindo de forma polêmica.

Suas performances frente ao novo coronavírus estão relacionadas a esta dificuldade de avaliação mais ampla sobre as conseqüências de seus atos. Com a mortandade produzida na Europa, que começa agora a espalhar-se também pelos Estados Unidos, este vírus passa a se ligar a nomes próprios, com as histórias pessoais de quem morreu e das pessoas em torno. O número de mortos já está em 35 mil em todo o mundo. No Brasil já passa de uma centena, com previsão de morrer muito mais gente.

É um contágio mortal que impede até que o doente tenha quem ama ao seu lado durante o tratamento. Não permite também a proximidade dos entes queridos no enterro dos mortos.

Como escreveu o poeta inglês John Donne, qualquer morte nos diminui, pelo menos a quem faz parte do gênero humano, que não parece ser uma categoria em que Bolsonaro se enquadra, a julgar pelo que ele vem dizendo sobre os que morreram e serão mortos por este vírus, sem nenhum respeito pela dor de familiares e amigos, nem pelo arriscado trabalho de equipes médicas e profissionais que estão nas ruas mantendo as atividades essenciais do país.

A rejeição ao nosso presidente em todo o mundo vem dessa desumanidade que ele expressa no que fala e no que faz. Sua imagem internacional, sejamos francos, é a de um ser monstruoso, sem compaixão com os que sofrem e sem respeito por quem se ocupa em trabalhar para que tenha fim tanto sofrimento.

Depois de vencida a batalha contra este coronavírus, teremos em Bolsonaro um empecilho grave nas relações internacionais que serão exigidas para restabelecer o equilíbrio da nossa economia e o redirecionamento político e administrativo que com certeza terá de ser aplicado nos mais variados campos das atividades humanas, em governos de vários países, independente da ideologia de quem estiver no poder.

Será difícil que algum governante estrangeiro aceite receber um tipo como Bolsonaro em seu país e vai haver ainda mais dificuldade de estabelecer cooperação internacional com alguém que trata jocosamente como “gripezinha” uma das maiores tragédias mundiais de todos os tempos. Bolsonaro está com uma rejeição internacional que é impossível desfazer, mas isso é problema dele. Os brasileiros é que terão de decidir se aceitam permanecer colados nesta monstruosa rejeição.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

domingo, 29 de março de 2020

Bolsonaro e seu passeio de sabotagem da luta contra o coronavírus

Pode-se discordar do isolamento social que vem sendo aplicado por prefeitos e governadores e que até o momento é indicado pelo Ministério da Saúde, no entanto ninguém que tenha sensatez coloca em dúvida que o Covid-19 espalhou-se por todo o país e que seu contágio é perigoso, não só para quem adquire a doença como também para os que convivem com o portador. Evita-se o vírus não só em defesa própria como também em respeito ao próximo.

Só alguém muito estúpido não estaria sabendo que o risco do contágio está em aglomerações humanas, de modo que, além de evitar o contato com muitas pessoas ao mesmo tempo, jamais iria estimular que isso seja feito. Claro que esta consciência é exigida muito mais dos que ocupam cargos públicos ou qualquer posição como dirigente, quando a obrigação com a coletividade está acima do interesse individual.

Daí que o passeio do presidente Jair Bolsonaro, na manhã deste domingo em Brasília, provocando aglomerações e fazendo selfies com apoiadores e até mesmo com menores de idade, fortalece a necessidade de encontrar um caminho democrático para retirá-lo do cargo. Bolsonaro atenta contra a integridade física da população. Um político que coloca em perigo até sua própria integridade, já que está com 65 anos, numa faixa perigosa da doença, certamente não tem estabilidade psicológica para o comando do país.

Imaginem a insegurança social causada no povo de uma nação, durante uma crise sanitária mundial que com certeza causará graves estragos na economia de todos os países, vendo sua maior liderança se expondo ao risco de contrair uma doença perigosa, podendo perder dessa forma uma figura essencial numa difícil luta, com efeitos desastrosos que seguiremos enfrentando nos próximos anos.

Bem, haveria essa preocupação se o presidente da República não fosse um sujeito sem noção como Bolsonaro, de quem cada vez menos brasileiros esperam uma atitude de qualidade ou minimamente decente. É impossível encontrar qualidades em um governante que desde que assumiu o mandato faz todo esforço para provar que é um imprestável.

Ninguém está nem aí para Bolsonaro, cuja estupidez não causa espanto, mesmo ele sendo até desumano no que fala e tenta impor aos outros. Só não se sabe ainda como os brasileiros vão se livrar de um problema tão grave, que como eu já disse, é a saúva que pode acabar com o país. O episódio patético desta manhã de domingo mostra um alto grau de falta de empatia até dentro de seu círculo familiar. Qual é o filho que deixaria um pai já idoso arriscar sua saúde do modo que ele fez neste domingo? Ora, os filhos do Bolsonaro.
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POR José Pires

Fake news e carreatas para atrapalhar a luta coletiva contra o coronavírus

Com Jair Bolsonaro trabalhando contra a estratégia de isolamento social para conter o novo coronavírus, aconteceram algumas movimentações em alguns pontos do país pedindo o fim do isolamento. São uns gatos pingados, porém o ruído atrapalha bastante, até porque é sustentado pela máquina de comunicação do gabinete do ódio em volta do presidente da República. O fundamento dessa posição é frágil. Nem é preciso buscar teorias para demonstrar que o tal “isolamento vertical” não funciona. Países que atualmente choram milhares de mortos chegaram a optar por esta via de combate ao vírus mortal, que hoje lamentam.

Defensores desse procedimento no Brasil também já demonstraram uma irresponsável má-fé, com o uso de notícias falsas para sustentar o isolamento vertical. Os fake news vieram de pessoas próximas a Bolsonaro, como na difusão pelo ministro Ricardo Salles de um vídeo de Drauzio Varella, com o médico dizendo que não se deve ter maior preocupação com o vírus. Acontece que a gravação foi em janeiro, quando de fato o problema ainda não tinha tomado uma dimensão perigosa.

Ficou evidente que a manipulação foi planejada, quando a falsidade saltou da publicação do ministro de Bolsonaro para seu pronunciamento em rede nacional, um discurso oficial com fake news.

Outra fake news criminosa foi o espalhamento da notícia de que a cidade italiana de Milão parou seu isolamento, com os cidadãos voltando ao trabalho mesmo com a pandemia. Era outra manipulação perigosa, invertendo um fato de modo temporal, escondendo que esta decisão da prefeitura de Milão foi em fevereiro e levou ao recrudescimento do contágio pelo vírus. A cidade teve que voltar ao isolamento, mas até agora sofre de forma dramática o efeito do erro.

Nessa questão, o melhor é ficar com a opinião de especialistas e dos que viveram o drama bem de perto. Já que Bolsonaro não cala a boca, que deixe de ser ouvido. A Itália é um exemplo a ser seguido, não Brasília. Nesta sexta-feira, o governador da Lombardia, Attilio Fontana, deu um conselho aos brasileiros: mantenham o isolamento. Milão é a capital da Lombardia, região italiana mais afetada pela pandemia. Milão está com 32.346 casos de pessoas contaminadas e 4.474 óbitos. No todo, a Itália chora quase dez mil mortos.

Em entrevista coletiva, o governador da Lombardia disse o seguinte: “Tenho tido contato com um amigo no Brasil e digo a ele para ficar o máximo possível em casa, evitar contato com pessoas e difundir esta mensagem”.

Aqui no Brasil, felizmente, em relação ao que deve ser feito com o coronavírus a população segue no sentido contrário ao de Bolsonaro. As poucas carreatas em algumas cidades servem inclusive para demonstrar a solidão política desse sujeito despreparado, que coloca em perigo a vida dos brasileiros.

Não há fundamento científico no que o presidente fala, nem mesmo conhecimento administrativo, que disso ele também não entende nada. A única base desse confronto de Bolsonaro com o esforço coletivo é a defesa de um interesse político pessoal e a sua total falta de empatia humana, que se resume na impressionante justificativa para o fim do isolamento. “Alguns vão morrer”, ele responde quando é questionado em sua patológica desumanidade.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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Imagem- O jornal italiano La Repubblica lança um apoio à cidade de Milão,
com um sentimento de solidariedade que é do mundo todo

Conselho de notáveis com o corrupto Lula no meio

O PT está procurando uma brecha política para encaixar no combate à pandemia do coronavírus uma nova modalidade de lavagem, a lavagem de ex-presidente corrupto. A bancada petista no Senado pretende propor a criação de um conselho de ex-presidentes da República para atuar durante a pandemia.

Os petistas argumentam que “é preciso ter pessoas com autoridade de quem já dirigiu o país para definir o rumo do combate à doença”. Ora, todos sabem como se exerceu a “autoridade” dos governos dos dois presidentes eleitos pelo PT, em quase quatro mandatos, com o último felizmente interrompido ao meio pelo impeachment de Dilma.

Lula está por detrás de esquemas corruptos que arrasaram com o país, primeiro na articulação do mensalão e depois com o petrolão. Os governos do PT foram tão nefastos na sua ruína moral, na incompetência e na desunião promovida entre os brasileiros por mais de uma década, que isso causou até o monumental erro da eleição de Jair Bolsonaro.

O objetivo óbvio dessa armação de um “conselho de ex-presidentes” é favorecer Lula, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, crimes pelos quais até já esteve preso.

O chefão do PT tem o currículo tão sujo que seria favorecido mesmo misturado a tipos como o ex-presidente Fernando Collor e José Sarney. No mesmo grupo desses dois crápulas, mais sua pupila Dilma e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula posaria de condutor de um combate honroso como é a luta contra o novo coronavírus.

O PT sempre procura aproveitar um descuido dos brasileiros, para aplicar de modo traiçoeiro alguma armação. A tentativa de lavagem de imagem foi muito esperta. Ainda bem que todos estão de olhos abertos com Lula e seu partido. Essa lavagem de imagem com certeza não irá adiante. Um lugar que Lula precisa ocupar com urgência é a cadeia, de onde jamais deveria ter saído.
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POR José Pires

sexta-feira, 27 de março de 2020

O bolsonarismo apela com medo das ruas

Não que me surpreenda, eu que conheço bem a direita brasileira e sei muito bem como os bolsonaristas se igualam à esquerda lulopetista em hipocrisia, mas tenho que registrar o surgimento entre seguidores de Jair Bolsonaro de um sentimento de "não vai ter golpe", agora que uma ampla parcela de brasileiros começa a compreender o gravíssimo risco para o país da permanência desse sujeito sem noção no cargo de presidente da República.

Com a probabilidade do surgimento de um forte movimento de "Fora, Bolsonaro!" — podendo até haver a organização de amplas manifestações de rua depois de passar a crise do coronavírus —, bolsonaristas já acenam para um "Não vai ter golpe!". É sério, se é que se pode dizer assim. A direita fala neste tom ridículo nas redes sociais.

É real a possibilidade da queda de Bolsonaro, depois que ficou muito claro que sob seu comando fica muito difícil enfrentar seriamente qualquer problema nacional, dos inúmeros e muito complicados problemas atuais que impossibilitam que o país encontre um caminho de equilíbrio e prosperidade.

A gota d’água, como se costuma dizer, é a bagunça improdutiva que ele vem provocando nesta crise do coronavírus, na contramão do esforço de governadores e prefeitos, que estão tendo grande colaboração da população na tentativa de evitar o contágio em massa.

Para usar uma expressão popular, nessa e noutras questões Bolsonaro foi colocado para escanteio. Todos sabem que nem adianta levar qualquer solução ao Palácio do Planalto que com certeza ele dificultará a realização.

Quem trabalha diretamente com o presidente vive em constante tensão por causa de sua péssima personalidade, dificuldade agravada ainda mais pela sua total dificuldade de lidar de modo efetivo com qualquer questão da administração pública. A classe política e dirigentes ligados a iniciativa privada já não contam com Bolsonaro para nada. A conclusão geral é que com ele na presidência da República o país pode ir para o buraco.

Até nos meios militares já se fala em sua saída. Segundo a colunista Maria Cristina Fernandes, em texto publicado nesta quinta-feira no jornal Valor, entre os militares uma solução que vem sendo colocada é a renúncia de Bolsonaro.

A partir desse clima de rejeição, como eu disse, bolsonaristas que ainda persistem na ridícula idolatria deste criador de encrencas estão ensaiando nas redes sociais um “Não vai ter golpe!”, copiado do risível argumento da esquerda para chorar o impeachment de Dilma Rousseff.

A direita vai completando o círculo da grotesca semelhança com a esquerda. Que ninguém me mande pra Cuba, mas não vou achar ruim se um dia essa militância direitista tiver a oportunidade de apelar também para um "Bolsonaro livre!".
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

Bolsonaro, um presidente isolado do mundo pelo deboche com o coronavírus

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson está infectado com o coronavírus. Ele e seu secretário de Saúde tiveram teste positivo. Johnson foi o último governante europeu a adotar medidas oficiais de isolamento social. Demorou para se convencer desse remédio e agora sente na própria pele que não há outra maneira de lidar com a epidemia. Com sintomas leves, ele ficará isolado na residência oficial de Downing Street. Bem, até o direitista britânico tomou jeito e ainda infectou-se com o coronavírus.

Até agora o presidente Jair Bolsonaro não se convenceu da necessidade do isolamento. Ele anda receitando a cura milagrosa do Covid-19 com a cloroquina, sem a conclusão de nenhum estudo. Também exalta a segurança contra o vírus com o uso de vidro blindado no atendimento no comércio.

Governadores e prefeitos trabalham para manter uma quarentena para evitar o contágio em massa, enquanto Bolsonaro atiça a população contra a prevenção, dizendo que isso é uma grande besteira que vai quebrar o país. O ex-capitão do Exército Brasileiro age como quinta-coluna contra a saúde de seu próprio povo, procurando desestabilizar uma guerra vital, na única maneira que existe até o momento para conter este vírus mortal.

Entre a opção de salvar vidas e a demagogia, Bolsonaro optou por criticar os esforços de dirigentes brasileiros que seguem o exemplo de países do mundo todo, tentando culpar adversários políticos pelas dificuldades em uma economia que sob seu comando já se esfolegava no chamado vôo de galinha. Seu primeiro ano de mandato terminou com um PIB mais lamentável que os pibinhos vergonhosos dos governos da petista Dilma Rousseff e de Michel Temer.

Quando passar o risco mortal do coronavírus será preciso lidar com outro grande problema do Brasil, deste sujeito sem noção que infelizmente foi eleito presidente da República. Cresce a consciência de que será impossível encontrar um rumo de progresso e equilíbrio enquanto Bolsonaro estiver no Palácio do Planalto, bagunçando a vida do país. É uma saúva política, que precisa acabar de forma democrática ou acabará com o país.

Com Bolsonaro como presidente, outro problema grave no pós-coronavírus será o isolamento do Brasil no plano internacional. A passagem deste vírus pelo mundo todo deixará um rastro de dor em países essenciais nas relações externas do Brasil. Teremos um presidente com dificuldade em ser recebido em qualquer país estrangeiro. Depois de suas piadinhas, quero ver Bolsonaro aparecer na Itália ou na França ou mesmo dar um alô para os colegas da direita da Espanha.

Creio que nem seus telefonemas terão retorno. Boris Johnson é que não querer ser fotografado ao lado de Bolsonaro, isso se depois dessa ele conseguir se manter como primeiro-ministro. Com o efeito dramático deste vírus nos Estados Unidos, se for reeleito, Trump mudará bastante sua relação com Bolsonaro e sua equipe de dezenas de contaminados.

E claro que o desavergonhado Bolsonaro querendo botar o pé em algum país estrangeiro terá da população de países atingidos pelo coronavírus uma recepção condizente com as suas piadas de mau gosto com o sofrimento dos outros. Qual é o povo que não se indignará com a presença de um governante desrespeitoso que faz piada com um vírus que vem matando tanta gente?

Com Bolsonaro no poder, os brasileiros ficarão isolados do mundo, em um país ridicularizado internacionalmente pelo presidente da “gripezinha”.
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POR José Pires

quarta-feira, 25 de março de 2020

Olavo de Carvalho e Bolsonaro, o "olavete" mais perigoso do Brasil

Pelo que Jair Bolsonaro vem falando nos últimos dias sobre o novo coronavírus e que teve uma definição completa no discurso presidencial desta terça-feira, nosso inviável presidente resolveu ganhar projeção internacional na área médica, talvez até para levar um próximo Prêmio Nobel. Será o Nobel da “gripezinha”. Com a notória audácia dos ignorantes, Bolsonaro resolveu confrontar a opinião de quase todos os especialistas no controle de epidemias e da classe política, além de tentar ordenar aos brasileiros que saiam do confinamento e marchem em sentido contrário aos povos de quase todos os países que lutam contra o contágio do vírus.

Felizmente para os brasileiros, Bolsonaro está falando sozinho. O bolsonarismo trouxe este fenômeno político ao país, de um governante que faz uma proposta enquanto todo o país quer exatamente o contrário. O pronunciamento da noite de terça-feira não tem o apoio de ninguém, a não ser de seguidores ainda fanatizados por um mito que poupou aos adversários o trabalho de desconstruí-lo. 

Os dedos de uma só mão fazendo arminha servem para contabilizar os que acreditam na incrível tese do presidente: o dono da rede de lanches gourmetizados Madero, o Véio da Havan e também outro velhaco, o Véio da Virgínia, ele mesmo, Olavo de Carvalho, mas este não conta como simples seguidor. Ele está por detrás da construção desta, digamos, concepção de Bolsonaro sobre a pandemia que já matou mais de 15 mil pessoas pelo mundo afora e que não dá sinais de parar, grande parte da mortandade ocorrendo em países de economia muito mais forte que a do Brasil e com muitos mais recursos na área da medicina, além de melhor organização e equilíbrio social.

Nas páginas de Olavo de Carvalho nas redes sociais pode ser consultado toda a base do percurso politicamente errático de Bolsonaro nos últimos meses, a partir da agressiva confrontação pessoal com os outros poderes — que teve até incitação à militância contra o Congresso Nacional e o STF —, até chegar a estas receitas estrambóticas contrárias às ações contra o coronavírus, totalmente em desarmonia com a quase a totalidade dos brasileiros e, repito, de praticamente o mundo todo.

A página de Olavo virou um repositório de fake news em relação ao assunto, ele mesmo produzindo materiais absurdos, como a incrível tese de que até este momento o coronavírus não fez nenhuma vítima. Ele repete o tempo todo que fazem “a mais vasta manipulação da opinião pública que já aconteceu na história”. O vídeo foi compreensivelmente apagado pelo Youtube.

Na visão de Olavo, a população da Espanha está em uma alucinação coletiva ao chorar seus mortos, que nesta quarta-feira já chegou a 3.434 falecidos, ultrapassando a China, onde começou a pandemia. Do mesmo modo, se formos levá-lo a sério, os italianos também vivem um surto ilusório ao derramar lágrimas pelos mortos da maior tragédia no país desde a Segunda Guerra Mundial. Olavo afirma que o confinamento vem de uma histeria criada pela manipulação feita por poderes que ele, como sempre, não aponta com objetividade. Também não passa a informação de como arrumar leitos hospitalares para os doentes se a curva de contágio não for achatada.

É claro que o guru de Bolsonaro vem fazendo a cabeça do presidente nesta questão do novo coronavírus. Suas falas batem com o que Olavo vem publicando há meses e tudo se juntou de forma explosiva agora, na confrontação do presidente com as ações coletivas para conter a propagação do vírus. Bem, uma coisa é um velho professor disparando asneiras de seu escritório nos Estados Unidos e outra coisa muito diferente é um presidente da República repetindo os disparates no Brasil, feito um papagaio.

Olavo afeta a sanidade mental de um grupo cada vez mais reduzido de basbaques discípulos. O problema sério é que um desses idiotas políticos é o presidente do Brasil. Então passamos a ter um “olavete” que coloca em risco a integridade física de todos os brasileiros. O ensandecido professor não pensou nisso, o que é muito comum da parte dele, na irresponsabilidade com que espalha teorias absurdas, acolhidas por despreparados como se fossem ideias originais, de alta compreensão da vida humana.

O claro endoidecimento de Olavo é um problema individual, para o qual, quando situado apenas na esfera do debate político, cabe somente refutação intelectual. Já com Bolsonaro é muito diferente. O país precisa anular de forma democrática o grave perigo deste político eleito para a presidência da República, que no cargo se comporta como um Nero em seus piores momentos como imperador romano.
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POR José Pires

domingo, 22 de março de 2020

Bolsonaro, um presidente blindado ao bom senso

Como já escrevi antes de se instalar no Brasil o medo do contágio pelo novo coronavírus, além do país ter que lutar contra o risco grave desta doença somos obrigados a enfrentar uma batalha diária contra o presidente da República mais ignorante da história deste país, para citar o chavão daquele outro ignorante, poderoso até há pouco tempo e irregenerável representante de uma imbecilidade de esquerda.

Bolsonaro ainda não virou capa da Time ou da The Economist — que na edição desta semana sintetizou o fechamento do planeta — nem foi para as manchetes de jornais importantes como o Washington Post, o New York Times ou os diários europeus Le Monde, Libération, La Repubblica, Corriere Della Sera, El Mundo, El País e tantos outros, mas nosso presidente não virou uma estrela internacional em relação ao tema deste vírus porque o mundo está ocupado com algo realmente muito sério. Ninguém vai se ocupar agora com um governante idiota que chama o Covid-19 de “gripezinha”, mesmo depois do vírus ter contaminado mais de duas dezenas de membros da equipe que ele levou aos Estados Unidos, em visita ao presidente Donald Trump.

Enquanto governadores e prefeitos brasileiros procuram fazer algo para conter a proliferação de um vírus que até agora já matou mais de 10 mil pessoas no mundo, um trabalho que conta com uma paciente colaboração da população, Bolsonaro desmerece o esforço coletivo contra a contaminação, que é ainda mais desgastante porque em mais de um ano de mandato seu governo não organizou a máquina pública nem direcionou o país para um período de desenvolvimento e equilíbrio moral, tarefa para a qual ele foi eleito e não cumpriu.

Bolsonaro é um cínico. Depois de esgotar quase metade de seu mandato sem conseguir realizar nem o que há de prático em um governo e dando ao país um PIB pior do que os pibinhos dos dois presidentes que o antecederam, ele tenta de forma hipócrita colocar a culpa nos outros por seus fracassos. E pior: procura desavergonhadamente justificar a incompetência administrativa e econômica apontando o desastre como efeito de medidas sanitárias absolutamente necessárias.

Neste caso específico, pode-se dizer que o discurso de Bolsonaro tem uma base fascista de linguagem, pois o presidente tenta jogar os brasileiros contra seus adversários políticos. Seu argumento é detestável: procura culpar exclusivamente as medidas necessárias de confinamento pelo esvaziamento econômico do país.

Feito um caudilho de direita com ares mussolinianos, ele vem tentando aproveitar-se do medo da população para se fortalecer politicamente, talvez até para adquirir um poder acima do que é conferido ao presidente da República pela Constituição. Para esta situação serve aquela velha história de que se deve acabar com a saúva: o que não se pode é deixar Bolsonaro acabar com o país.

A sorte dos brasileiros é que muito antes do aparecimento deste vírus mortal, de tanto falar besteiras e bater e aprontar com todos — inclusive contra amigos que o apoiaram —, Bolsonaro já vem sendo tratado como um inimputável a quem não se deve dar ouvidos. Imaginem o estrago que ele estaria fazendo se a sua palavra ainda tivesse um peso diante da opinião pública. Felizmente é mínima a quantidade de pessoas que levam a sério esse sujeito sem noção, sendo que, por sua vez, esses seguidores fanáticos não têm mais influência no debate político. Servem apenas como ruído agressivo.

No entanto, a própria “inimputabilidade” de Bolsonaro deve cessar logo que o risco do Covid-19 diminuir a ponto de permitir as manifestações de rua. Provavelmente os brasileiros sairão às ruas para exigir sua deposição legal, isso se a classe política não antecipar a retirada da presidência da República deste despreparado perigosíssimo. Já existem os ensaios desse bota-fora democrático, com a volta dos panelaços que deram início à queda também democrática da petista Dilma Rousseff e o esquema de poder do lulopetismo.

Quando acabar o medo do coronavírus, com certeza vai ficar na memória a lembrança do comportamento de cada um dos nossos dirigentes durante esta grave crise que afeta nossa sobrevivência. Não tenho dúvida de que então os brasileiros sairão às ruas — com camisa verde-amarela, laranja, lilás, rosa, até mesmo vermelha ou de qualquer outra cor — para exigir a saída deste sujeito sem noção de qualquer coisa e totalmente desqualificado para o cargo que ocupa.
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POR José Pires

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Imagem- Ilustração de minha autoria, feita com a imagem
da Terra fechada, tirada da capa da revista The Economist

quinta-feira, 19 de março de 2020

A esquerda e sua relação de amor e ódio com panelaços

Então, como é que é? Estou esperando as violentas manifestações de petistas nas redes sociais de ataque aos panelaços contra o governo de Jair Bolsonaro. Os protestos foram em bairros paulistanos como Perdizes, República, Santa Cecília e ainda “nas varandas” de Vila Madalena, Higienópolis e Pinheiros, conforme noticiou a Folha de S. Paulo, jornal que era hostilizado pela militância petista quando noticiava os panelaços contra a então presidente Dilma Rousseff, em fevereiro de 2016.

Do mesmo modo que fez com Dilma, a Folha de S. Paulo deu o panelaço na capa nesta quinta-feira. E como daquela vez, é óbvio que este é um protesto feito pela classe média, tudo gente de poder aquisitivo mais alto que a população em geral.

Eu me lembro que o PT detestava panelaço da classe média. Então cadê os posts dos companheiros desmoralizando este panelaço? Também não vi os memes zoando um protesto como este, que quando era contra a Dilma eles diziam que era coisa de elite. Onde foi parar aquela professora de filosofia da USP que, muito doidona, gritava histericamente que odiava a classe média, enquanto do lado dela o ex-presidente Lula ria com satisfação?

Estou estranhando a falta de combatividade dos companheiros do PT e da militância dos partidos dos puxadinhos da esquerda. Quando é que vão sentar a lenha nessa classe média que faz panelaço contra Bolsonaro?
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POR José Pires

Bolsonaro e seu panelaço de apoio

A direita brasileira é bastante abilolada, por isso não se deve esperar de modo algum que haja alguma lógica em seus atos. No entanto, esses direitistas excederam o limite de sua estupidez com esta história de "panelaço" a favor do governo de Jair Bolsonaro. Isto é coisa de quem está batendo a cabeça.

Anotem aí, bolsonaristas: não existe panelaço a favor. Isto é impossível, porque o costume de protestar batendo panelas existe para denunciar que elas estão vazias, quando um país está atolado em uma crise econômica, com a falta de emprego e a quebradeira geral.

Qualquer batidinha numa panela vai lembrar exatamente isso. É uma questão de memória histórica, do significado da coisa, entendem? É mais ou menos como a vaia. Não existe vaia a favor, nem mesmo quando acompanhada pela idiotice de bater panela para aplaudir Bolsonaro.
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POR José Pires

quinta-feira, 12 de março de 2020

Jair Bolsonaro e o coronavírus: um problema encontra o outro

O presidente Jair Bolsonaro está sendo monitorado por médicos, depois de ter sido confirmado que o secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten, foi infectado com o coronavírus. Os médicos recomendaram que Bolsonaro fique no Palácio da Alvorada até sair o resultado de seu exame, que deve ficar pronto nesta sexta-feira — toc, toc, toc —, dia 13.

Mas para que tanto cuidado, se o próprio Bolsonaro andou dizendo que o coronavírus é “mais fantasia” e não é “isso tudo”? Segundo ele disse, não havia necessidade de alarde e, como sempre, colocou a culpa na mídia. O presidente falou isso durante sua viagem aos Estados Unidos, na visita ao presidente Donald Trump, onde provavelmente seu ministro sofreu o contágio.

É Bolsonaro novamente falando do que não entende. E, por favor, não me perguntem se ele entende de alguma coisa. Ontem, El capitán voltou ao tema, afirmando que do que ouviu "até o momento, outras gripes mataram mais" que o novo coronavírus. Ele disse que obteve a informação de amigos médicos.

Bolonaro deu a declaração na portaria do Palácio do Alvorada, no mesmo dia em que a OMS declarou pandemia para o Covid-19, infecção causada pelo novo coronavírus. A epidemia se espalhou para dois ou mais continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa, como é provável que agora Bolsonaro já deve estar sabendo, depois do vírus ter sido transportado pela sua equipe até o Palácio do Planalto.

Bolsonaro dizia essas bobagens enquanto o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta afirmava em entrevistas que a OMS deveria ter declarado a pandemia muito antes. Bem, nem vou perguntar se Bolsonaro não tem tido reuniões com seu ministro da Saúde nos últimos dias. É mais provável que tenham conversado bastante, do mesmo modo que também é possível que o presidente tenha entendido pouca coisa do que o seu próprio ministro vem falando.

Tem mesmo que dar nessas besteiras quando um sujeito de personalidade alarmista tem a responsabilidade de acalmar o país, como agora passa a ser a obrigação de Bolsonaro. Ele passou a vida jogando gasolina no fogo, fez carreira com este perfil incendiário e até subiu ao poder no meio do fogaréu, onde não parece saber o que fazer. Agora sua atitude terá que ser outra e todo o país vai sofrer muito porque, definitivamente, Bolsonaro é o pior líder em uma situação de crise, como os brasileiros já sabem muito bem neste um ano e pouco de seu mandato repleto de crises.

O governo já está num bate-cabeças danado, nada incomum em equipe sob o comando de Bolsonaro. O prognóstico é que sofreremos duplamente, do mesmo modo que penamos em dose dupla nesta crise econômica: teremos de suportar o coronavírus e as burradas governistas.
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POR José Pires

quarta-feira, 11 de março de 2020

O coronavírus e o desafio do bolsonarismo nas ruas

A declaração da Organização Mundial da Saúde de que há uma pandemia do novo coronavírus no mundo livrará o presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores do desafio criado por eles mesmos para este domingo, 15 de março. Governadores já avaliam decretar a proibição de aglomerações em locais públicos e dificilmente isso não ocorrerá. Não tenho dúvida de que deve ter muito governista aliviado com esta possibilidade de se safar da responsabilidade de promover em todo o país atos de apoio a um governo que vem sendo decepcionante.

Desse modo, bolsonaristas podem ter uma justificativa para evitar este grande teste de força política, que na minha visão estava se encaminhando para demonstrar o contrário do que eles acreditam. É improvável que consigam convencer muita gente a se juntar a manifestações em apoio a este governo. Já não teve muito sucesso o último ato promovido por grupos envolvidos na organização da manifestação prevista para o próximo domingo, valendo destacar que o teor daqueles atos não era tão governista.

Tirando as pessoas mais fanáticas, não se vê animação com este governo, que vem gradativamente traindo suas bandeiras de campanha. Da parte de Bolsonaro não se garante nem o fortalecimento da luta pela prisão de corruptos e contra a impunidade. Existe muita dúvida sobre a real posição de Bolsonaro em relação a muito temas importantes que levaram a sua eleição. Nos últimos dias o governo se envolveu em negociações de uma baixeza lamentável, no caso do orçamento impositivo.

Não se sente nas redes sociais um envolvimento visível que possa prever um bom público na manifestação nacional que provavelmente terá de ser cancelada. Com isso, o bolsonarismo talvez se livre de ter que organizar uma grande demonstração de força nas ruas, que na minha opinião iria acabar sendo um grande fiasco neste domingo.
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POR José Pires

terça-feira, 10 de março de 2020

Regina Duarte na cultura filosófica da fritura bolsonarista de Olavo de Carvalho

A passagem de Regina Duarte pela Secretaria da Cultura, do governo Bolsonaro, pode servir muito bem para um conhecimento mais apurado da cultura política deste governo. Quando se fala em “bolsonarismo”, quem faz isso com conhecimento de causa sabe que o termo serve apenas para categorizar um movimento político que na verdade não tem conteúdo próprio que possa definir para que afinal se elegeu esta coisa. Neste sentido, o chamado bolsonarismo vai-se definindo pela prática, no que podemos ver como um “work in progress”, para usar a expressão literária em inglês, evidentemente pedindo perdão ajoelhado no milho pela, digamos, licença poética.

Na pressa em ocupar o poder, faltou tempo para a direita estabelecer anteriormente uma doutrina filosófica para tocar o serviço. Foi uma falha do guru Olavo de Carvalho, mestre muito ocupado e que parece sofrer de hiperatividade desde o berço, um empecilho que não permitiu sequer que ele sistematizasse tudo que fez até agora, dando uma ordem no todo de sua conturbada experiência de vida para que pudéssemos ler o que afinal estava em sua cachola.

Nesta ansiedade que prejudicou o cuidado com sua própria obra, claro que Olavo também não conseguiu estabelecer princípios básicos para montar um governo de eficiência razoável. Mas agora é tarde, tanto para a obra filosófica quanto para a tal da governabilidade.

Nesta andadura vai valendo mais o empirismo, a experiência em cada passo ou mesmo cada patada, dependendo de como se vai fazendo o caminho — que esclareço nada ter a ver com o grande poeta espanhol Antonio Machado, coitado, totalmente inocente do que está acontecendo por aqui. A entrada de Regina Duarte teve a serventia de acelerar conceitos essenciais desta filosofia olavo-bolsonariana, que tem como base elementar muito ruído e fritura constante de qualquer um que, mesmo de longe, seja visto como empecilho para a gloriosa missão do olavismo, que por ora depende bastante de boquinhas no governo.

Antes de assumir o cargo, Regina Duarte já estava sendo fritada pelo olavismo, porque antecipadamente fez uma limpa na Secretaria da Cultura, demitindo olavistas incrustados no organismo de governo. Antes do presidente assinar a nomeação o próprio Olavo de Carvalho deu a deixa do ataque em massa contra a ex-atriz da Rede Globo.

Agora ela já está sendo obrigada a plantar notícias na imprensa garantindo que não pedirá demissão, isso quando completa apenas uma semana na pasta. Não deixa de ser uma impressionante exacerbação da tradicional fritura de costume na política brasileira, mas o olavismo é assim mesmo, altamente revolucionário no tratamento aos adversários, postura que provavelmente mestre Olavo aprendeu nos anos em que serviu ao comunismo, na sua juventude.

A atriz que acabou de saltar para a banda de lá do balcão da política também está sendo forçada a engolir sapos repelentes, como as provocações do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, olavista que Regina queria substituir por um dos seus, mas foi impedida pelo próprio presidente Jair Bolsonaro. Camargo dá uma tuitada atrás da outra esculhambando aquela que deveria ser sua chefe. E fica por isso mesmo. Regina também teve uma nomeação na sua equipe anulada pelo presidente.

Da fritura da atriz participa até um padrinho dela, o ministro Luiz Eduardo Ramos, general que Bolsonarou levou para a Casa Civil. Nesta segunda-feira, Ramos enquadrou sua pupila pelo Twitter, puxando-lhe a orelha em público por ela ter dito numa entrevista que é atacada por uma “facção” dentro do governo.

Para alguém da idade de Regina, uma palavra deveria bastar, mas o general foi quase que didático, ainda que na linha do educador Weintraub, mas foi. “São seus ministros e secretários que devem se moldar aos princípios publicamente defendidos pelo presidente da República, não o contrário”, ele avisou pelo Twitter.

O recado pode ter também uma leitura nas entrelinhas, mesmo que não tenha sido a intenção do general. Como os princípios de Jair Bolsonaro como presidente com certeza são providos de lições filosóficas assopradas diretamente em seus ouvidos por Olavo de Carvalho ou repassadas ao pai pelos filhos, que são fãs do velho professor da Virgínia, para evitar uma queda rápida do cargo, a nova secretária da Cultura terá de submeter-se a um amoldamento com um perfil olavista.
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POR José Pires

segunda-feira, 9 de março de 2020

O erro e a insistência no erro de Drauzio Varella

Drauzio Varella é um sujeito que admiro bastante. É de imenso valor o trabalho desse médico pela informação de qualidade na área dos cuidados com a saúde, do comportamento e no conjunto das relações sociais, até mesmo em questões políticas ou nos relatos sobre sua vida pessoal. O doutor é sensato e bem informado, de grande capacidade de expressão, sabe analisar assuntos polêmicos de forma eficiente, sem deixar que a conversa descambe para o clima de sensacionalismo e conflito improdutivo que se tornou voga em toda discussão pública.

Então, no geral, todos os aplausos para o doutor Varella, porém não posso deixar de dizer que ele errou neste episódio do abraço dado em um preso transexual no programa do Fantástico, na Rede Globo. É difícil debater um assunto que ficou popular em razão da esquerda ter dado início à exploração da icônica imagem tentando turbinar sua pauta identitária, que depois reverteu negativamente com a descoberta de que o criminoso foi condenado por estuprar e matar uma criança.

Como a direita adorou o lamentável desfecho, saindo em campo para descer o sarrafo, a atmosfera política fica daquele jeito nauseabundo de sempre. O furdunço que a esquerda e direita criam no debate dos problemas brasileiros dificulta bastante a discussão de questões essenciais deste país. Mas o fato é que Drauzio Varella errou feio ao fazer a cena e continuou equivocado na sua resposta depois do site O Antagonista ter conferido no prontuário policial que na verdade o médico havia abraçado um condenado que cometeu um crime horrível.

Drauzio afirma que nada perguntou a respeito de delitos porque é um médico e não juiz. Para fundamentar esta justificativa ele lembra sua atividade profissional no consultório ou nas penitenciárias, quando — sempre de acordo com sua nota de esclarecimento — não pergunta sobre o que seus pacientes possam ter feito de errado.

Quanto a isso, nada a questionar. No entanto, um material de comunicação exige procedimentos que não se cobram de um médico no exercício de sua profissão. Quando me falaram dessa cena do abraço veiculada pelo Fantástico, a primeira coisa que apontei é que gostaria de saber que crime aquela pessoa cometeu para ter cumprido oito anos de prisão. Agora já se sabe. A cena era do médico e o monstro. É inegável o erro de Drauzio Varella e a produção do programa da Rede Globo tem responsabilidade ainda maior pela veiculação de algo que poderia ter vitimizado o autor de um crime hediondo.

Este é o tipo de coisa que pode acontecer com quem trabalha bastante, resultado apenas de um descuido e não de má-fé, o que certamente está garantido pela grande quantidade de coisa boa produzida até agora por Drauzio Varella. Tendo como referência sua qualidade como médico e na sua atividade em comunicação, bastaria ter reconhecido o erro e talvez, se fosse do seu interesse, pedir desculpas pela desatenção. Mas ele não agiu dessa forma. A resposta às críticas sobre o episódio do abraço serviu para reforçar o erro.
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POR José Pires

quinta-feira, 5 de março de 2020

Carioca: o chacoteiro que virou piada do personagem Bolsonaro


Existe uma grande diferença entre humorismo e chacota. O que se faz hoje em dia no Brasil é em sua maioria apenas chacota, com a intenção de zombar de uma pessoa ou de uma situação. É apenas zoação, como se costuma dizer nas redes sociais. Ao contrário do humor, a chacota não incomoda o poder, nada traz de questionamento profundo do assunto tratado e por isso mesmo este falso humor é bem aceito pelos políticos.

“PIB? PIB? O que é PIB? Pergunta o que é PIB”, foi o que o presidente Jair Bolsonaro mandou o comediante Carioca dizer aos jornalistas que o esperavam em frente ao Palácio do Alvorada na manhã desta quarta-feira. Carioca é conhecido por uma imitação que faz do presidente desde que Bolsonaro ainda estava em campanha. É uma encenação tão vergonhosamente favorável que durante a campanha Bolsonaro chegou até a comparecer a um show de Carioca e agora ainda cedeu ao comediante um veículo oficial para a apresentação diante dos jornalistas.

Carioca estava no Alvorada para gravar uma entrevista com Bolsonaro, que deve ser apresentada na estréia de seu programa na TV Record — onde mais poderia ser? Claro que existe uma curiosidade sobre o que sairá de bobagens da conversa entre os dois, mas dificilmente nada será mais desastroso do que os acontecimentos dessa lamentável manhã, que foi de dar vergonha alheia.

Ao lado do imitador do presidente, desembarcou do carro o chefe da Secom, Fabio Wajngarten, que acompanhou a performance de piadas fáceis, como a da tentativa de distribuição de bananas aos jornalistas, que se recusaram a participar da encenação sem graça e despropositada.

Carioca é um legítimo representante da chacota nacional, um dos que se fazem passar por humorista, mas que na verdade apenas faz gracinhas que não incomodam os poderosos.

Desta vez errou feio, passando para o lado do personagem que representa, usando inclusive aparatos oficiais, além do equívoco de tentar fazer graça logo no dia da divulgação do pibinho do governo de Bolsonaro, quando todo o Brasil esperava explicações sobre o fiasco da política econômica, depois da alta expectativa criada pelo próprio presidente em torno da suposta eficiência de um ministro que ele prometeu que seria um Posto Ipiranga.

O chacoteiro Carioca foi tão infeliz que ficará marcado por este dia em que a criatura assumiu em público o poder sobre o criador. Executando o que Bolsonaro mandava fazer, repetindo frases como um cachorrinho em obediência ao dono da voz, o pretenso humorista quebrou a cara ao tentar aliar sua imagem a um governante tão desmoralizante que é capaz de esculachar até sua própria piada.
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POR José Pires

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Imagem- Bolsonaro e seu imitador que virou piada