terça-feira, 31 de outubro de 2017

Caetano Veloso e seus companheiros libertários

Caetano Veloso se queixa na imprensa da proibição de sua apresentação em invasão de sem-tetos no ABC paulista. É mais uma jogada dele. O embargo pedido pela prefeitura até defende a integridade física do público, sempre um risco em show improvisado, ainda mais no clima explosivo nesta ocasião, na qual ele dá uma de suas aproveitadinhas. No local, só de gente pobre querendo uma casa para morar são cerca de 7 mil pessoas. A ocupação em um terreno de São Bernardo é organizada pelo MTST, movimento liderado por Guilherme Boulos. A cidade onde mora o ex-presidente Lula era até há pouco comandada pelo grupo de Luiz Marinho, político ligado por laços de amizade ao ex-presidente e prefeito pelo PT por dois mandatos. Na eleição de 2016 o partido de Lula sequer foi para o segundo turno. Agora o prefeito é Orlando Morando, do PSDB.

Marinho foi denunciado pelo Ministério Público Federal por fraudes em licitações, desvios e superfaturamento de recursos da obra do Museu do Trabalho e do Trabalhador, uma das encrencas sérias de Lula com a Operação Lava-Jato. Há denúncias de desvio de R$ 11 milhões nas obras da instituição conhecida como “Museu do Lula”, iniciadas no final do segundo mandato do petista na prefeitura, mas que ficaram paradas por quase um ano e estão inacabadas. O ex-prefeito Marinho é um dos desastres administrativos do PT. Foi reeleito com um rombo de R$ 987,5 milhões e no segundo mandato fez sua própria dívida explodir. Deixou a cidade com uma dívida de R$ 2,2 bilhões.

Estas informações são importantes para situar bem o contexto político e econômico do lugar onde Caetano Veloso resolveu posar como artista ligado à justiça social, situando também a questão no plano da política nacional. Ainda que se faça de independente e queira se colocar como ativista imparcial dos direitos civis, na verdade Caetano atua como vanguarda do partido que jogou o país na maior tragédia econômica, social e cultural de sua história. São informações relativamente fáceis de coletar e deviam obrigatoriamente estar presentes em toda matéria na qual o artista baiano joga sua lorota social.

Sem nenhuma intenção de partidarizar a questão, mas apenas deixando mais claro o papel interpretado cinicamente por Caetano, cabe observar também que Boulos não teve tanta preocupação com justiça social na cidade enquanto a administração era de um maioral do PT, em paralelo com o mesmo partido no governo federal por dois mandatos seguidos. Que grande chance perdida para fazer “justiça social” e talvez até uns bons shows de protesto, não é mesmo?

Este neolibertário é também o mesmo artista que formou um grupo recentemente para garantir por lei o poder de personalidades vetarem biografias em desacordo com a visão do biografado. Felizmente não deu certo a tentativa de instaurar esse tipo de censura. Seria brutal o retrocesso cultural, podendo acabar com a publicação de biografias no país. Mas que ninguém pense que tanta contradição é fruto da ambiguidade própria de um artista de sensibilidade, na qual não caberiam essas materializações políticas. O foco do compositor é essencialmente material. Encaixa como ninguém em Caetano aquele jargão do “fulano sendo fulano”, usado para identificar atitudes muito marcantes em uma pessoa. Caetano está sempre sendo Caetano, como ele faz agora com esta apresentação que pretendia fazer para os miseráveis manipulados pelo grupo político de Boulos, que ambiciona até ser candidato a presidente da República.

O compositor é um manipulador da mídia, habilidade que exerce desde a ditadura militar. Claro que o sucesso dessa utilização se deve aos benefícios mútuos. Ele fornece à imprensa material que pode ser transformado em notícias supostamente polêmicas. O custo é baixo, com pouca necessidade de trabalho jornalístico, na reportagem ou pesquisa. Dá para fazer pelo celular, inclusive vídeos e fotos. Às vezes até pelo email. Caetano é garantia de audiência, com baixo custo para as empresas e nenhuma necessidade de esforço do jornalista. Esta barganha facilitada vem dando certo, tanto é que com ela construiu para si um prestígio superestimado como artista. Não que ele não tenha uma obra, não é disso que estou falando. O que ocorre é que hábeis jogadas de exploração das mais variadas situações vêm garantindo para ele durante anos uma evidência exagerada em relação à sua real qualidade artística. É até injusto na comparação com profissionais de altíssimo nível, que ficam fora da mídia, ocupada o tempo todo por ele como fenomenal artista brasileiro, graças ao seu poder de manipulação conjugado com uma imprensa de valores editoriais cada vez mais baixos.

Bem, veremos como ficará no futuro, com a obrigatória acomodação do fato político à dimensão artística de cada um. Teremos então a avaliação da obra e não das performances casuais. Na questão propriamente artística ele próprio sabe que na memória nacional não há jeito de ser mantido este alargamento forçado na atualidade. E na questão política, dependendo do que poderá ser feito para ao menos minimizar a tremenda crise que está só no começo, Caetano corre o risco de ser lembrado com desprezo e talvez até com ódio pelos brasileiros que no futuro terão que segurar este terrível rojão que foi acendido por seus companheiros atuais.
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POR José Pires

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Imagem- Caetano e uma dileta companheira quando estava no poder: para ele, foi golpe

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O bate-boca de Gilmar Mendes e Barroso e lembranças de um passado recente

O falecido Ivan Lessa, grande jornalista brasileiro, um dos criadores do semanário O Pasquim, é autor de uma frase que diz que “de dez em dez anos o brasileiro esquece os últimos dez anos”. Isso já era muito ruim na época da criação da frase, no final dos anos 70, quando o país já queimava neurônios. Um lugar sem memória resulta sempre em precariedade política e cultural, que no geral abre espaço para o pior, especialmente para as trapaças da política. Não foi à toa que chegamos a essa situação trágica atual, da qual não se vê perspectiva de saída.

A perda de memória do brasileiro já era de efeito dramático quando ocorria de dez em dez anos. Então imagine o estrago de agora, com este período bastante diminuído. Com a fragmentação terrível da comunicação, sem a relativa sistematização que era feita antes pela imprensa e com a intelectualidade caindo na safadeza à direita e à esquerda, a memória coletiva vem pifando em questão de meses. Estou dizendo isso em razão da polêmica criada pelo bate-boca entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, nesta quinta-feira, no plenário do STF. Os dois trocaram acusações gravíssimas, que na minha opinião mereceria para cada qual um processo.

Aponto a questão da memória exclusivamente no que Gilmar Mendes falou sobre Barroso. Todo mundo já aceitou as acusações de Barroso. Na sua fala, Gilmar Mendes insinua que Barroso absolveu o ex-ministro José Dirceu por motivações que não seriam exatamente de motivação legal. De imediato, o ministro alegou que sua decisão obedecia ao indulto presidencial assinado por Dilma Rousseff. Mas fugia do assunto de fato. E como vivemos em um país em que a memória é descuidada mesmo em assunto importante como o do mensalão, todos caíram na embromação de Barroso. Gilmar Mendes tentou alertar de que falava de outra coisa, mas como ele é a bola da vez em satanização política, todos se concentraram na fala agressiva de Barroso, muito objetiva por sinal, mas ainda opinativa, mesmo que haja razões para desconfiar muito de Gilmar Mendes.

Não tem indulto algum no assunto trazido novamente ao debate por Gilmar Mendes, desta vez em forma de acusação. O indulto presidencial usado por Barroso como justificativa é de outubro do ano passado. Gilmar Mendes falava é da votação dos embargos infringentes, que apareceram de surpresa já na finalização do julgamento do mensalão, em setembro de 2013. Os brasileiros nem sabiam o que era esse negócio, que na verdade, até pela forma que surgiram, lembravam mais uma negociata. Luís Roberto Barroso foi um apoiador não só do acatamento dos embargos infringentes pedidos pela defesa dos mensaleiros, como até se entusiasmou no final na aprovação desses embargos, que livraram José Dirceu e mais sete de uma condenação importante, que se fosse aplicada provavelmente teria evitado a roubalheira do petrolão, que viria depois. De dez anos e dez meses, em regime fechado, a pena de Dirceu caiu para sete anos e onze meses de prisão, em regime semiaberto. Cabe lembrar que Barroso não estava no STF quando as penas do mensalão foram definidas. Só entrou no julgamento dos embargos, depois de nomeado por Dilma Rousseff em junho de 2013.

Com os embargos, Dirceu livrou-se do crime de formação de quadrilha, que fez do mensalão na visão do julgamento do STF um esquema curioso: ocorriam por casualidade os crimes da ampla rede que operou por mais de dois anos e que na peça acusatória do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, aparecia ligada a três núcleos: político-partidário, o publicitário e o financeiro. A tese de Barroso foi a de que houve coautoria e não quadrilha no mensalão. Durante o julgamento que livrou Dirceu, o ministro Barroso teve também um bate-boca com outro ministro de personalidade forte, Joaquim Barbosa, que criticou o voto pela absolvição dizendo que o voto foi um "discurso político". Mais que isso, Barbosa disse também que o julgamento dos recursos teve influência de “maioria formada sob medida para lançar por terra o trabalho primoroso levado a cabo por esta Corte no segundo semestre de 2012”. Ele falava da condenação dos criminosos, que sem os embargos teriam recebido penas maiores. Pela desgraça que vivemos atualmente, já se sabe que o Brasil teria tido muito menos prejuízos com esse pessoal na cadeia.
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POR José Pires

Lula e a culpa do poste

Quem ainda defende Dilma Rousseff, que se prepare, porque parece que para Lula seu governo subiu no telhado feito o gato da anedota. O ex-presidente já começa a colocar a culpa em sua sucessora pelo insucesso do projeto petista de poder. Bem, para quem até já estabeleceu como estratégia de defesa jurídica botar a culpa na falecida mulher, Marisa Letícia, até que demorou em apontar o dedo para seu poste. O assunto entrou na pauta de Lula em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, publicada no último domingo.

Lula afirma que eles começaram a perder credibilidade com o anúncio de ajuste fiscal feito por Dilma. Com isso, conforme suas palavras ao jornal espanhol, “o eleitorado que a elegeu em 2014, para o qual havíamos prometido que manteríamos os gastos, se sentiu traído”. O chefão petista fala de outros assuntos atuais, como a crise na Venezuela, o governo de Donald Trump e até da crise na Catalunha. Nas suas respostas deve ter feito ao menos um bem ao povo espanhol, que precisava mesmo desopilar o fígado. Em meio aos problemas com o nacionalismo catalão umas risadas podem fazer bem.

Sobre Nicolás Maduro, claro que Lula passa longe do autoritarismo cruel do ditador bolivariano. Merece ser transcrito na íntegra o que ele diz sobre a matança na Venezuela: “Não entendo por que a Europa se preocupa tanto com Maduro, afinal ele foi eleito democraticamente e os venezuelanos têm que resolver seus problemas entre eles”. Já sobre Trump ele vem com uma piada pronta. Disse que fica surpreso com o presidente americano se pondo a falar sobre tudo. E indagado pelo entrevistador sobre sua opinião quanto ao problema com o separatismo na Catalunha, não se contentou em tratar o assunto de forma geral. Resolveu dar um conselho ao rei Felipe VI, por quem, bem a seu modo, disse conhecer e “ter muito carinho”. Como não podia deixar de ser, o “conselho” que ninguém pediu é banal. Para ele, o rei tem que exercer “papel de mediador”.

Tem mais outras patacoadas na entrevista ao El Mundo. Como eu disse, Lula pelo menos ofereceu aos espanhóis a chance de espairecer um pouco de seus problemas dando umas gargalhadas. No entanto, na política nacional já fica claro que o governo Dilma entrará na pauta petista como bode expiatório da derrocada do projeto petista. A culpa é do poste. E para manter esse discurso é evidente que Lula já deve ter à mão um monte de recibos falsos para mostrar como prova.
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POR José Pires

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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Temer: um governo que é o que lhe parece

Se as aparências enganam, Michel Temer resolveu demonstrar claramente que não há engano algum na cara desonesta de seu governo. Nove ministros foram despachados para a Câmara Federal para votar a seu favor. É o governo do bate-volta. São exonerados dos ministérios, votam como deputados pelo chefe e depois voltam a ser ministros. É claro que esta é a desmoralização definitiva de seu governo, se é que isso pode ocorrer com algo que nunca teve moral. E quanto aos partidos e deputados, também fica absolutamente visível que os ministérios são uma troca, com os mandatos valendo como moeda. Para este governo não deixa de ser um avanço. Dispensa os brasileiros de se deixarem levar pelas aparências.
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POR José Pires

Bolsonaro ao natural

O jornalista Claudio Dantas, do site O Antagonista, fez uma boa entrevista com o deputado Jair Bolsonaro, que permite compreender bem o nível do pré-candidato. Como Bolsonaro anda bastante ocupado fazendo campanha eleitoral fora do prazo legal, Dantas teve que colar nele a partir das cinco horas da manhã, acompanhando-o numa visita a Uberlândia. A entrevista foi se desenvolvendo durante o deslocamento do deputado até Minas Gerais, o que acabou resultando num formato de reportagem e deu naturalidade ao diálogo entre o jornalista e o político.

A viagem produziu também outro vídeo, que nada tem a ver com O Antagonista, mas mostra também de forma natural como é o candidato que a direita oferece para salvar o país. Em Uberlândia, Bolsonaro disse a um público reunido em volta de um caminhão-palanque que tinha muito orgulho de "também ser paulista desse estado maravilhoso que é a locomotiva da nossa economia". Em um cochicho no ouvido, foi avisado por um assessor de que estavam em Minas Gerais, mas não adiantou. Ele ainda disse que "como integrante do Exército brasileiro" queria saudar a Polícia Militar de São Paulo. Então pediu "uma salva de palmas para a Polícia Militar de São Paulo". Da plateia gritaram "Minas Gerais" e o deputado foi alertado novamente por gente que estava em cima do caminhão. Só então ele entendeu que não estava no estado de São Paulo.

A direita brasileira está com um problemão. Antes da largada conseguiram uma candidatura que surpreende nas pesquisas, mas que nasce com um sério problema que precisa se resolvido com urgência: o próprio candidato. Na entrevista, o jornalista de O Antagonista conseguiu extrair muita coisa que permite conhecer a complicação que será para que Bolsonaro chegue a 2018 com credibilidade para a disputa de fato, quando terá de enfrentar debates e questionamentos. Tudo indica que ele terá muita dificuldade com questões mais sérias que "pagar flexões". Uma boa mostra de como anda a cabeça de Bolsonaro é revelada numa significativa pergunta que saiu não do entrevistador, mas dele mesmo. "Eu tenho que entender tanto de economia?", foi o que ele perguntou de volta quando Dantas quis saber quais são suas diretrizes para a economia, indagando sobre nomes da equipe econômica e sua opinião sobre a atual situação do país neste setor.
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POR José Pires

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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Defesa de Lula investe na comunicação

A defesa de Lula vai atuar também nas redes sociais. Agora é oficialmente, claro, já que desde o início dos processos contra o chefão petista a atuação de seus advogados tem como foco colocar a opinião pública contra a Justiça. O modo de agir está mais para agitação política do que defesa jurídica. Tentaram tirar Moro do sério, com uma agressividade que eu duvido que seria tolerada no sistema judiciário de outros países. Não deu certo em razão do equilíbrio de Moro. Mas a intenção era a de criar um estrago na imagem dos nossos tribunais. Como forma de defesa foi desenvolvida por eles a tática absurda de encenar uma criminalização política do próprio juiz. Que até agora não tenham tomado uma reprimenda legal diz muito da precariedade do sistema judiciário brasileiro para colocar em seu devido lugar os poderosos metidos em ilegalidades.

Mas agora o uso da comunicação política é oficial. Cristiano Zanin e Valeska Teixeira têm sob contrato de seu escritório profissionais para produção de imagens, com vídeos sendo feitos no ritmo de um por dia. A equipe conta com roteirista, produtor e câmera. O jornal Folha de S. Paulo não obteve respostas sobre o custo da estrutura. Também não se sabe quem é que paga, conforme lembrou bem o site O Antagonista. E eu pergunto como é que pode ser permitido algo assim. Imaginem quando esse material cair nas redes, a confusão que pode ser criada sobre o real entendimento das pessoas de como se dá o andamento de um processo jurídico e sobre a imagem dos advogados. Usando a máquina federal, Lula bagunçou a política brasileira e agora pretende bagunçar também a imagem do direito brasileiro e do sistema judiciário. O serviço é completo.
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POR José Pires



Caio Blinder sai da Jovem Pan: a imprensa brasileira perde mais qualidade

Os ouvintes da rádio Jovem Pan perderam Caio Blinder. Ele esteve na emissora durante 23 anos. A rádio também demitiu outros profissionais. O jornalista é mais um nome conhecido na onda de demissões na imprensa brasileira e fará falta em um setor que já sofre desmonte há tempos, o jornalismo internacional. Caio é um dos melhores do ramo, além do que, traz suas informações e análises diretamente dos Estados Unidos. É muito bem informado e tem conhecimento histórico, principalmente da política americana, essencial para situar-se no mundo. Outra qualidade importante sua é o cuidado em assinalar fatores culturais na política americana. Seu texto é muito bom e ele sabe fazer o assunto ficar divertido, sem alterar a profundidade necessária não só do conhecimento da política internacional, como de qualquer outra forma de relação humana.

A queda de qualidade do jornalismo internacional em nossa imprensa ocorre já há algum tempo — em 2015 o próprio Blinder saiu do site da Veja, onde ficou cinco anos. A demolição vem de muito antes da popularização da internet. É o que ocorre também com as demissões, cuja relação não é só com o advento de novas tecnologias, ao contrário do que se costuma dizer. É uma política antiga de várias empresas jornalísticas, com um ponto histórico neste caráter destrutivo, que teve até nome: "reengenharia". Atinge televisão, rádios e claro que segue curso na implantação desses veículos na internet. Basicamente, o objetivo é lucrar mais, com menos esforço financeiro e menor interação com o jornalismo, principalmente no que se refere à influência política e criativa do próprio profissional em seu trabalho. Neste aspecto, sempre foi acirrada a disputa nas empresas jornalísticas, no que pode ser resumido como um embate entre o interesse comercial e o jornalismo. Publicações que alcançam um bom meio termo sempre tiveram o melhor conteúdo. Na internet, os sites já começam com as redações por baixo. Não é preciso dizer qual será o resultado, até pelo fato de que hoje em dia a baixa qualidade de conteúdo da internet brasileira já permite ter uma ideia para onde isso pode nos levar.

A demissão de Caio Blinder —sem falar de tantos outros profissionais experientes que se foram do mercado — mostra em parte o andamento da comunicação no Brasil e pode servir também para observarmos graves deformações no comportamento político e cultural no Brasil. Certas reações à sua demissão mostram como vamos mal. A cultura brasileira vem sendo prejudicada bastante pela abertura geral ao internauta de má índole, gente ignorante do que comenta e por isso o mesmo sempre tomados de uma violência impressionante. No geral, claro que não passam de bravateiros, mas o problema é que ocupam os espaços com aquela audácia própria dos que não sabem que nada sabem. E os veículos procuram satisfazer esses bandos. A própria Jovem Pan, por exemplo, tirou Caio Blinder, mas a rádio mantém grupos de jornalistas palpiteiros e de comportamento exótico, que passam horas conversando fiado e estimulando a pauleira.

O risco é que este clima acelere ainda mais o rumo equivocado da imprensa ou até desça ainda mais de nível na qualidade do objetivo. Já tem muito site que em seu formato editorial procurando contentar esse tipo de gente. Existe também uma satisfação da direita, que atualmente parece em maioria na exposição cotidiana de desatinos, mas cabe alertar que o clima de grosserias independe de ideologia. Vale sempre o tom dos que tem mais poder no momento. E isso é cíclico no Brasil. Só não muda a qualidade. A direita anda animada e se comporta exatamente como os petistas faziam no poder. Até comemoram certas demissões, como ocorre nas redes sociais com o fim da participação de Caio Blinder na Jovem Pan. Um problema desses brucutus nativos com o jornalista é que ele é crítico a um presidente que lhes chutaria o rabo na primeira oportunidade: ele mesmo, Donald Trump. Agora a direita solta fogos de apoio à demissão de bons profissionais, da mesma forma que o petismo (que logo depois deu chabu) comemorava quando saía algum jornalista que contrariava o interesse de Lula e seu partido. O estilo é o mesmo: mentiroso, caluniador, difamante. A falta de informação e conhecimento, a grosseria, o mau gosto e a má fé só mudaram de lado.
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POR José Pires

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Aécio Neves leva vantagem e leva também o PSDB para o buraco


Existe a "Vitória de Pirro" — que todo mundo sabe o que é — e existe a vitória do senador Aécio Neves. Precisamos achar um nome para isso, principalmente pelo efeito desta "vitória" em seu partido, o PSDB. Os tucanos, no geral, precisam ter garantido um bom lucro nas transações do senador mineiro, senão terão que passar por idiotas por terem jogado seu partido definitivamente no buraco depois da votação de ontem no Senado.

Aécio Neves descobriu uma forma muito interessante de tomar empréstimos, que é recebendo o dinheiro em espécie, em malas conduzidas por um portador, bem diferente dos empréstimos normais depositados na conta do tomador. Espera-se que a chefia dos tucanos tenha recebido cada qual sua mala estofada (depois pode-se matar o portador), porque o custo do que foi feito ontem vai pesar muito na imagem do partido.

O PSDB entrará na eleição de 2018 com este fato muito forte influenciando a rejeição do partido, que já era considerável. Os tucanos já teriam dificuldades eleitorais só pela participação no governo de Michel Temer, presidente que ficou conhecido por seus despachos secretos noturnos. Com a votação que beneficiou o presidente do partido, Aécio Neves, o PSDB cravou em si uma marca terrível, do desprezo pela ética e do acoitamento de uma corrupção sistemática que deforma as instituições e destrói a qualidade administrativa.
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POR José Pires

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Imagem- A imagem não é meramente ilustrativa. Uma parte dessa dinheirama era para o senador Aécio Neves, até ser apreendida pela Polícia Federal


Danilo Gentili: a crítica do crítico

Nunca gostei do comportamento de Danilo Gentili, desde a época em que existia aquele lamentável programa de televisão, o CQC, onde supostos comediantes fingiam ser jornalistas para acossar artistas e políticos, forçando situações constrangedoras e extraindo cenas impactantes para o programa obter audiência. Do CQC saíram duas estrelas, Gentili e Monica Iozzi, uma de direita e outra de esquerda, lamentáveis quase na mesma medida, o que não poderia ser diferente em razão da origem dos dois e do fato de não terem acrescentado nada de mais inteligente às suas atividades. Pode-se prever um futuro de muito sucesso para essas figuras. Vivemos tempos em que a capacidade técnica e a criatividade foram rebaixadas como critérios de mérito.

A esquerda também não gosta de Gentili, mas evidentemente não é pelo meu padrão de avaliação. A militância do PT e de outros partidos esquerdistas costumam atacar o apresentador de televisão mais por qualidades inerentes ao que ele faz do que por seus defeitos. É o que vem acontecendo neste episódio da demissão de um jornalista da Folha de S. Paulo, ocorrido logo após uma entrevista com Gentili. A demissão de Diego Bargas veio da polêmica entre ele e o apresentador, que não gostou da matéria publicada pelo jornal sobre seu filme "Como se tornar o pior aluno da escola", com estreia recente.

Com o advento das redes sociais essas polêmicas ficaram comuns e costumam ser usadas até com objetivo meramente comercial, como parece ser nesta polêmica artificial. É evidente que ele está usando a esperteza de sempre. Batendo de frente com a Folha conseguiu colocar seu filme como um assunto dos mais comentados. Ele faz isso de forma pesada. Seu humorismo é grosseiro, com o uso inclusive de escatologia, sexismo dos mais chulos, apelando até para deficiências humanas congênitas. Ele surfa numa onda atual, em águas sujas que instigam um público da pior índole.

A pressão que este tipo de celebridade pode lançar sobre os adversários não é justa e exige ser melhor regulada pelo bom senso editorial dos veículos de comunicação, mas quem se mete em comunicação tem a obrigação de saber que este é o processo que envolve hoje em dia o debate com certas figuras de peso na internet. Um jornalista de um órgão como a Folha tem ainda menos justificativa para se fazer de desavisado depois de entrar em polêmica com alguém como Gentili. Isso é tão verdadeiro que o próprio jornal determina regras contratuais de comportamento para seus jornalistas nas redes sociais. E foi pela transgressão dessas regras que o jornalista foi demitido e não pelo fato de Gentili ter “pedido sua cabeça”, como tem muito esquerdista espalhando por aí.

E olhem que este foi um dos casos em que Gentili pegou menos pesado, levando em conta que ele é o sujeito que esfregou nas partes baixas um documento enviado pela Câmara Federal em nome da deputada Maria do Rosário, filmou a cena e pôs o vídeo na internet. Neste quiproquó armado por ele com a Folha, o apresentador apenas divulgou o vídeo da entrevista para o jornal (no qual o entrevistador demonstra um despreparo que só não impressiona porque já se sabe que hoje em dia está assim no jornalismo) e foi atrás do histórico do jornalista, encontrando várias manifestações suas em apoio ao PT, a Lula e à Dilma Rousseff, algumas delas de um despreparo político ridículo. O que se formou a partir disso foi um espetáculo grotesco — infelizmente tão comum que ninguém pode se fazer de surpreendido nem de vítima — com manadas de ignorantes impelidas ao ataque, inclusive a esquerda comprometida com o governo petista derrubado pelo impeachment. A única diferença é que a esquerda teve dispersada a poderosa manada de antes e agora só ataca em pequenos bandos.
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POR José Pires

O exemplo de conduta de Sergio Moro

O juiz federal Sergio Moro deu uma entrevista ao Wall Street Journal, publicada nesta terça-feira, onde fez uma declaração muito importante nesses tempos em que o Brasil parece assolado por enxames de moscas azuis. Hoje em dia dá a impressão de que o único jeito de fazer algo que preste na vida é sendo presidente da República. Mesmo com as amplas referências de que isso é uma ilusão. Basta alguém se destacar em alguma coisa, que já surgem conversas de candidatura e logo já estão colocando seu nome em pesquisas e até montando a chapa completa e escolhendo partido para o fenômeno político.

Mas vamos à declaração de Moro ao jornal americano. Mais uma vez ele negou que vá se candidatar em 2018 e disse o seguinte: “Se eu entrasse para a política, daria uma falsa impressão sobre as razões de minha conduta. É possível influenciar positivamente a sociedade sem ser presidente da República”.

Esse ponto sobre as “razões de minha conduta” é essencial na negativa de Moro. Atualmente, quando alguém está fazendo algo de bom surgem especulações sobre sua entrada na política. Pode acontecer também que a pessoa já esteja ocupando um cargo, aí então aparecem as pressões para que abandone o serviço pelo meio. E com isso vem o descrédito sobre suas razões profissionais ou de conduta, como disse Moro, às vezes atingindo a totalidade do que ela vinha fazendo e atrapalhando toda uma realização de equipe.

Pode acontecer até da opção individual pela política contribuir para a desmoralização da própria instituição onde a figura picada pela mosca azul atingiu uma relevância que trouxe o papo de que candidatando-se ou apoiando determinado candidato é possível ter maior influência positiva.

Já vimos muito trabalho bom se perder em nosso país em razão desse comportamento, que cabe dizer que sempre foi muito forte na atuação da esquerda, que tem como prática antiga o comprometimento direto das pessoas com bandeiras políticas e até com projetos eleitorais ligados a partidos. Com isso, até obras musicais e literárias historicamente importantes acabam comprometidas unicamente com uma forma de pensamento, às vezes envolvidas em intrigas meramente eleitoreiras, de tal modo que depois fica muito difícil ouvir aquela música de que tanto gostávamos ou ler aquele autor cujo livro não saía da nossa cabeceira.

É disso que Sergio Moro está falando. E disse no momento certo, além de estar na posição ideal para o alerta sobre o risco do desmonte moral e profissional que pode ser causado pela ilusão da política como um meio mais rápido de alcançar determinados fins.
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POR José Pires

terça-feira, 17 de outubro de 2017

O debate indigesto da nova ideia de João Dória

O prefeito João Doria apresentou uma boa ideia que já vem sendo bombardeada, nesta tarefa de desconstrução da sua imagem, moda atual em que todos buscam tirar uma casquinha. A mais nova encrenca enfrentada pelo prefeito paulistano é a do alimento processado a ser distribuído entre pessoas pobres, uma invenção para a qual já estão querendo dar o apelido ruim de "ração”. A informação de que o produto é feito a partir de alimentos próximos à data de vencimento também vem sendo usada para caracterizar mal o produto, por mais que isso seja aceitável e até já aconteça de empresas doarem alimentos próximos do vencimento. A novidade no que Doria está implantando é o formato granulado, cujo processamento tem a capacidade de alongar a data de validade desses alimentos.

Como não podia deixar de ser, já apareceram teóricos para desqualificar o projeto da prefeitura com palavras bonitas. Um pesquisador da Unifesp disse que o produto “descontextualiza totalmente o caráter do que é comer”. Outros falam do respeito ao caráter cultural do alimento. E por aí vai. Mas o granulado do Doria nada mais é que algo parecido a produtos que estão à venda em lojas principalmente de alimento integral. E que são até bem caros. O aspecto desse granulado até que é dos melhores. E obviamente não é apenas esse tipo de alimento que vai constar na cesta básica dos mais pobres. Neste tema, aliás, o prefeito já andou oferecendo até omeletes para moradores de rua.

O que querem mesmo é pegar no pé de Doria o que seria feito com ou sem o granulado. Mas a verdade é que pode ter faltado um cuidado maior para apresentar a proposta, que caiu de imediato na boca da oposição e tornou-se mais um fato polêmico. E ainda teve descuido de assessoria, com o secretário de Assistência Social, Felipe Sabará, caindo na besteira de provar o granulado a pedido de uma rede de TV. Logo destacaram uma imagem parada na qual parece que ele comeu e não gostou, o que não é confirmado pela imagem em movimento e nem por sua declaração. Mas quem é que vai conferir veracidade, nesses tempos em que a ironia e a desqualificação é que pautam a maioria dos debates? O objetivo da prefeitura é altamente nobre, de evitar que alimentos sejam jogados fora. A lei é do próprio Doria. Porém, o debate já começou do modo usual, pela busca de defeitos e o estímulo para que a coisa não dê certo. É o preço que o prefeito paga por ser presidenciável e parte desse custo vai também para a população, com o desmonte pretensamente jocoso de boas ideias administrativas.
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POR José Pires

Lula e Marisa: o casal milionário

Saiu o inventário de Marisa Letícia, morta em fevereiro deste ano. A relação de bens dela e do marido, o ex-presidente Lula, mostra que estamos falando de milionários. O patrimônio dos dois chega a quase 12 milhões de reais. Bem, com essa fortuna revelada agora, tive que ir atrás da última declaração de bens de Lula, apresentada à Justiça Eleitoral em 2006. Disputando o segundo mandato, ele tinha então R$ 839.033,52 de patrimônio. Em dez anos foi um enriquecimento e tanto. Esse Lula tem mesmo uma prodigiosa habilidade em negócios. A menos que ele diga que isso também é por conta de dona Marisa.
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POR José Pires

Gleisi Hoffmann: prestígio em baixa até na Rússia

A senadora Gleisi Hoffmann e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, foram vaiados na Rússia. Vaia internacional não é pra qualquer um. O casal foi vaiado neste domingo por um grupo de brasileiros, durante visita ao Museu Hermitage, em São Petersburgo. Não se sabia dessa inclinação pela arte dos dois petistas, mas o passeio diz muito da imoralidade desses tempos. Enquanto os brasileiros sofrem os efeitos terríveis do governo do PT, dois dos responsáveis pela tragédia nacional — ambos réus no STF por corrupção — fazem turismo.

O Hermitage é conhecido pelo grandioso acervo, com obras modernistas maravilhosas, de artistas como Matisse, Picasso, Monet, Gauguin e outros grandes mestres. O rico acervo nada tem a ver com o sistema comunista tão admirado por Bernardo e Gleisi. É de antes da revolução de 1917, quando uma elite de alta qualidade intelectual já tinha olhos para o que de melhor se fazia na arte ocidental. Era preciso muita sabedoria para compreender propostas que o público nem queria ver nessa época. Parte essencial da coleção do Hermitage vem de visionários, como o industrial russo Serguei Shchukin.

Mas voltemos à vaia ao casal petista nos corredores do museu russo. Isto é só uma pequena mostra dos dissabores reservados aos dois, especialmente para Gleisi Hoffmann, que ainda está com a intenção de manter a carreira política. A presidente do PT precisa muito de um mandato para ajudar na sua defesa, ela que na planilha da Construtora Odebrecht é chamada de “Amante”. Caso não tenha sido condenada e presa até a próxima eleição, sua campanha em 2018 não terá nenhuma das facilidades das anteriores, principalmente no fator financeiro, que permitia a contratação dos marqueteiros mais caros do ramo.

É evidente que o Senado estará livre de sua presença. Em baixa no seu estado, o Paraná, Gleisi só pode tentar uma eleição para a Câmara Federal. E isso vai abrir uma acirrada disputa interna no PT estadual. O partido vem caindo ano após ano. Nesta última eleição municipal a performance petista foi um desastre em todo o estado. No plano federal, de 2010 para 2014 a bancada caiu de cinco para quatro deputados eleitos. E em 2014 a eleição foi com Dilma Rousseff na cabeça de chapa, com a dinheirama correndo solta, conforme foi revelado depois pela Lava Jato. Também em 2014, Gleisi já mostrou como vai mal de prestígio eleitoral. Disputou o governo estadual e foi um fiasco: ficou em terceiro lugar, com 881.857 votos. Portanto, são péssimas as previsões para a carreira política da senadora petista. É provável até que no ano que vem Gleisi tenha saudades dos bons tempos, esses de agora, quando é vaiada na Rússia.
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POR José Pires

Arrependimento tardio

O Datafolha colheu junto aos cariocas uma opinião totalmente contrária à Olimpíada realizada no Rio em 2016. Para 70% dos entrevistados, o evento trouxe mais prejuízos do que benefícios. Este é o tipo de coisa que causa a impressão de que as desgraças que se abatem sobre nosso país se devem muito a um problema de caráter dos brasileiros. Durante o processo de escolha da cidade sede, os moradores de Chicago se manifestaram em massa contra a realização da Olimpíada na cidade. Mesmo com o presidente Barack Obama lutando para que Chicago fosse a escolhida, houve entre os moradores intensa mobilização contrária. No Rio não aconteceu nada disso.

Mesmo no Brasil, no geral, foram poucos os que alertaram sobre os altos custos da realização de uma Olimpíada, que em vários lugares já exibia o histórico de deixar uma conta pesada para ser paga pelo país que sedia a competição. Falamos muito naquela época sobre a dificuldade natural de uma Olimpíada, cuja estrutura implica em muitos gastos. Não deixamos de apontar também a evidente corrupção que fazia parte do jogo, com o indicativo de que seria ainda pior na condição política em que estava o Brasil.

Naqueles dias o PT e sua militância eram ainda fortes. Estavam no poder e batiam pesado em quem criticava seus planos. O Rio ficou calado, a maioria dos brasileiros também. E agora parece que estão acordando para o prejuízo. Mas isso acontece só na hora de pagar a conta. Sempre é bom que haja uma reação, mas o brasileiro precisa aprender rápido que é preciso agir antes da porta ser arrombada.
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POR José Pires

segunda-feira, 16 de outubro de 2017


segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A birra de Lula com a pipoca de Sergio Moro

Os advogados de defesa do ex-presidente Lula estão implicando até com as sessões de cinema do juiz Sergio Moro. Eles protocolaram no Comitê de Direitos Humanos da ONU um documento contra a atuação da Justiça em relação a Lula, anexando fotos de Moro no lançamento do filme “Polícia Federal — A lei é para todos”, em agosto. A notícia saiu na Folha de S. Paulo. Um trecho dela: “A queixa conta com imagens de Moro entrando no cinema por um tapete vermelho e comendo pipoca. A alegação é a de que um juiz que conduz um processo sem decisão final não poderia ter comparecido à estreia de um filme que, dizem os advogados, ‘viola a presunção de inocência’ do réu”.

Bem logo saberemos da decisão da ONU sobre esse importante incidente internacional de um juiz brasileiro assistindo a um filme. E ainda por cima comendo pipoca, que barbaridade. Mas fiquei com uma curiosidade sobre a opinião dos brasileiros. Bem que o Datafolha podia fazer uma pesquisa nacional perguntando se foi correto da parte de Moro assistir ao filme. Com duas questões, talvez. A segunda pergunta é se ele agiu certo ao comer pipoca durante o filme. Apesar de que talvez seja melhor deixar o assunto pra lá. Este é um tema que pode dividir o país.
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POR José Pires

Cesare Battisti, a herança do PT que ninguém manda embora

Ao tentar viajar para a Bolívia de forma clandestina o terrorista italiano Cesare Battisti transgrediu normas elementares de asilo político e até de respeito pessoal ao país pelo qual foi acolhido. Com isso, deu ao presidente Michel Temer uma oportunidade política para decidir pela sua extradição para a Itália, onde é condenado por crimes violentos. A extradição de Battisti ajudaria a reconduzir o Brasil a uma imagem de um pouco mais de respeito à verdadeira Justiça no plano internacional, no que se refere a indivíduos que usam a política para extravasar índoles de pura crueldade. Bastaria uma assinatura de Temer para despachá-lo para resolver suas pendengas com seu próprio povo, mas aí Temer teria de ser o que nunca foi e nem conseguiu chegar perto, mesmo com a oportunidade que o destino lhe deu: um estadista.

Já se sabe que tudo estava pronto para resolver o caso de Battisti, inclusive com um avião da FAB à disposição para levá-lo para a Itália. Porém, no último momento Temer teve a mão segurada por Gustavo Rocha, advogado que comanda a assessoria jurídica do Palácio do Planalto. Ele impediu o presidente de assinar o documento. A revelação é do jornalista Rocco Cotroneo, do Corriere della Sera. E o assessor Rocha (ora vejam: uma daquelas informações ao revés, de que tanto falo) é advogado de Eduardo Cunha, o deputado corrupto que foi preso pela Lava Jato. As histórias se cruzam. Com um mau resultado, como sempre.

A história de Cesare Battisti também faz cruzamento com o que há de pior no projeto de poder do PT, seja na má índole de vários de seus dirigentes ou da ideologia inclemente que faz uso do que for necessário para se impor. Battisti é um dos pequenos bandidos que se juntaram ao extremismo de esquerda na Itália no final do século vinte. O terrorista é condenado por quatro homicídios, todos com vítimas sem nenhuma relação com política. O grupo que acolheu o ladrão (era isso que ele fazia antes) chamava-se Proletários Armados pelo Comunismo e era um dos bandos de extrema-esquerda que aprontavam horrores na Itália dos anos 70, época em que a Brigada Vermelha sequestrou e matou o líder democrata-cristão Aldo Moro, então primeiro-ministro italiano. Cabe lembrar que a Itália vivia em plena democracia, inclusive com o Partido Comunista e outras agremiações comunistas na legalidade.

O asilo a Battisti não é algo à parte do modo petista de fazer política. Está plenamente inserido na visão de poder do PT, tanto é assim que na acolhida do criminoso houve um grande esforço do próprio ministro da Justiça no segundo mandato de Lula, o dirigente petista Tarso Genro. O Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) já havia rejeitado o pedido de refúgio. Lula teve também a oportunidade de assinar a extradição, decidida pelo STF com a condição da autorização presidencial, mas não o fez. O fator político do apoio a Battisti vem de laços ideológicos do partido de Lula anteriores à sua fundação, do modo de pensar de dirigentes com relação ideológica antiga e até sentimental com o regime de Fidel Castro e de outros países comunistas. Gente que até hoje não julga condenável este passado. Ao contrário, ainda acreditam que este é o caminho.

O caso de Battisti tem inclusive forte semelhança com a estranha ligação do PT e inclusive de Lula, de forma pessoal, com os seqüestradores do empresário Abílio Diniz, terroristas egressos do movimento comunista MIR chileno que praticaram o crime no Brasil exatamente nos dias anteriores à eleição presidencial de 1989, que Lula perdeu para Fernando Collor. Mesmo tendo sido prejudicados pelo episódio, o PT e Lula mantiveram incondicional apoio aos criminosos, que foram presos. A estranha relação de dependência ideológica e sentimental até hoje não ficou bem explicada. Temer teve a oportunidade de simbolicamente fechar as portas para esse tipo de política. Mas deu para trás e deixou tudo do mesmo jeito que estava.
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POR José Pires

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Imagem- O agradecimento de Cesare Battisti em janeiro de 2012, no encontro com Tarso Genro, já no governo do Rio Grande do Sul

João Doria cai na realidade

Com a divulgação de sua queda de aprovação em nove pontos percentuais no Datafolha, o prefeito João Doria procurou justificar o resultado negativo atribuindo à gestão do petista Fernando Haddad as dificuldades para administrar São Paulo. Segundo ele, o orçamento da prefeitura tem um déficit de R$ 7,5 bilhões, deixado por Haddad. “É duro fazer gestão pública sem recursos, depender de apoio do setor privado, da cooperação e solidariedade de muitas pessoas”, ele disse.

Faz sentido apontar a falta de recursos, com o rombo deixado pelo PT na capital paulista, porém esse problema não era desconhecido de nenhum candidato à prefeitura, muito menos por Doria, que se elegeu com apoio e estrutura do governador Geraldo Alckmin e por isso tinha ainda mais possibilidade de saber que não estava fácil a situação da prefeitura. A explicação de Doria serve mais para apontar um grave erro político cometido por ele, que foi o de não desconstruir a gestão Haddad. Com isso, a população não ficou ciente da condição em que ele pegou a prefeitura.

E o interessante é que muitos prefeitos costumam cometer este erro, deixando de comprometer a gestão passada com os problemas deixados como herança. Da parte de Doria este descuido é uma grande surpresa, afinal ele tem obrigação profissional de dominar esta questão, que essencialmente é de comunicação. No que é referente à Haddad, aliás, em muitas ocasiões estranhamente o petista foi poupado por ele, às vezes até procurando fazer uma diferença entre o ex-prefeito e o PT. Não é possível saber o que rolava nos bastidores para Doria agir desse jeito, mas agora, com sua queda de popularidade, já dá para saber o resultado.

Mas não foi só por isso que houve a queda. O prefeito paulistano tem também forçado a barra, se expondo de forma excessiva. Este é outro equívoco estranho para alguém com sua experiência em comunicação. A super exposição inclusive alimentou outro risco sério para qualquer administrador. Desde que assumiu o cargo, Doria vem ampliando demais as expectativas da população. O apoio do setor privando, agora tratado por ele como “dependência”, vinha sendo vendido como uma diferença positiva de sua administração, o que foi um acerto de marketing. Mas da forma que foi divulgada para a população, esta parceria com o setor privado criou ainda mais expectativas, que financeiramente não há jeito de contemplar.

A verdade é que Doria se encantou em ser um presidenciável e a partir daí perdeu o pé exatamente no que fez dele um nome nacional, que é ser prefeito da maior cidade do país. Embalado por esta nova possibilidade e provavelmente ocupado demais com suas inúmeras viagens, deixou passar até erros crassos, como no caso recente de uma empresa doadora da prefeitura que ganhou um serviço sem licitação, ao preço de R$ 800 mil reais. Não importa que não haja ilegalidade, assim como pouco importa também que suas viagens pelo país não atrapalhem seu trabalho como prefeito. Na política, muitas vezes o que vale é a percepção e não a lógica do que está sendo feito. O prefeito que se cuide. Se os erros se mantiverem neste ritmo, a próxima pesquisa pode trazer números piores.
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POR José Pires

domingo, 8 de outubro de 2017

Dilma Rousseff e Sergio Cabral em parceria para encobrir o jogo sujo

A prisão de Carlos Arthur Nuzman, na manhã de quinta-feira, só aconteceu por causa da delação de Eric Maleson, ex-dirigente desportivo que foi presidente da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBVG). Maleson fez a delação à autoridades da França, de onde vem a descoberta dos crimes do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Rio 2016.

Maleson deu entrevista à ESPN logo depois da prisão de Nuzman e contou que a prisão poderia ter ocorrido muito antes, se não tivesse havido um acobertamento de autoridades brasileiras. Ele disse que há quatro anos deu um depoimento parecido à Polícia Federal, no Rio de Janeiro, quando foi iniciada a “Operação Cabo de Guerra”. Mas “por ordens de Brasília”, segundo ele, as investigações foram encerradas. Dilma Rousseff era presidente da República e Sergio Cabral governava o Rio de Janeiro. E nos bastidores (ou nem tanto) quem mandava de verdade era o ex-presidente Lula.

O contato com as autoridades francesas ocorreu depois que Maleson percebeu que aqui no Brasil nada seria feito em relação à corrupção no COB. Nuzman é apontado como o intermediário do pagamento de propina de US$ 2 milhões para Papa Diack, feito por meio do empresário Arthur Soares, o "Rei Arthur", que está foragido. A revista Piauí publicou recentemente um perfil de Soares, ou Rei Arthur, relatando que ele vivia em um exílio de luxo em Miami. O empresário está com Cabral desde sua primeira eleição como governador, em 2006. Fez fortuna em contratos de terceirização com o governo carioca. Conforme o site O Antagonista publicou em novembro do ano passado, ele faturava R$ 1,7 bilhão por ano.

A escandalosa corrupção na escolha do Rio como cidade sede da Olimpíada está fazendo muito mal para a imagem do Brasil. E este é um problema que poderia ter sido evitado se Dilma não tivesse acobertado Nuzman, em parceria com Sérgio Cabral. É claro que havia também este petista que está em tudo que não presta, o ex-presidente Lula, que tinha com o então governador do Rio uma aliança preferencial. É óbvio que também sobre isso o chefão petista vai dizer que de nada sabia. Mas está muito bem registrada sua insistência para a escolha do Rio como cidade sede. Agora começam a ser revelados os acertos criminosos dessa jogada, que foi um dos lances da reeleição de Dilma.
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POR José Pires