sábado, 31 de março de 2012

Falso epitáfio

Li em vários lugares que a morte de Millôr Fernandes foi uma "perda irreparável", assim como também vi essa mesma expressão que não significa absolutamente nada ser usada em relação ao Chico Anysio. Agora foi a ministra da Cultura que veio com essa conversa de "perda irreparável", falando sobre o Millôr. Bem, a perda de um ser humano é sempre irreparável. Ainda não foi inventado um jeito de substituir uma pessoa depois que ela morre.

Mas quanto à discussão da perda de criadores como Chico Anysio ou Millôr, "perda irreparável" só existe porque vivemos num país onde não existe permanência e muito menos continuidade em qualquer coisa, seja na questão criativa, técnica ou intelectual.

E esse negócio de "perda irreparável" vem da repetição da falta do que falar que nos acomete nos velórios. Como não dá para dizer a nenhuma viúva um "até que enfim", vamos mesmo de "perda irreparável". Nâo é lá essas coisas, mas soa melhor do que "morreu como um passarinho", "parece que está dormindo", ou qualquer outro jargão.

Mas, que uma ministra da Cultura venha com papo de velório é bem um sinal dos tempos. Hoje em dia, até para chorar os mortos o que move as pessoas é a projeção na dita mídia. Há cerca de duas semanas morreu também Aziz Ab'Saber, pesquisador, geógrafo, um sábio com uma obra da maior qualidade, um homem com um pensamento original, tão bom que o estilo inteligentíssimo se via até nas entrevistas.

Se fosse possível comparar atividades tão diferentes, pode ser até que alguém provasse que a contribuição de Ab'Saber em seu campo tenha sido maior do que a de Chico Anysio ou Millôr. Não é o caso de ir por aí, mas o fato é que menor sua contribuição não é. No entanto, pouco se ouviu falar em "perda irreparável" quanto ao fim do geógrafo.

Então chega desse negócio de "perda irreparável" cada vez que morre alguém de extrema qualidade do ponto de vista técnico ou criativo. É bem verdade que quando morre um Millôr, um Chico Anysio, um Ab'Saber, ocorre sempre uma interrupção de todo um processo que deveria se estender por outras gerações e não ser enterrado com eles. Mas aí é porque o Brasil é que é irreparável.
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POR José Pires


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Imagem: Desenho de Millôr Fernandes em um fúnebre hai-kai


Objeto de acordo

No boletim eletrônico que recebo sempre da Câmara dos Deputados uma notícia me chamou a atenção. Este boletim é praticamente um porta-voz oficial da Câmara, então o fato passa a ser até mais relevante do que quando lido num jornal ou site.

Lá vai, na íntegra, um trecho que mostra o teor do que me mandaram: "De volta ao comando da Câmara, após exercer Presidência da República interinamente desde segunda-feira, o presidente Marco Maia informou que a liberação da venda de bebidas alcoólicas durante a Copa ainda está sendo objeto de acordo".

Acho que isso pede um repeteco de um cartum que fiz há dez dias sobre este mesmo assunto. Lá da forma deles, o presidente da Câmara está botando minha piada na pauta do poder legislativo.
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POR José Pires


Fuçando no lixo

Os petistas estão mais felizes do que pinto no lixo com as gravações das conversas entre o senador Demóstenes Torres (DEM) e o bicheiro Cachoeira. Como estão sempre sempre maquinando para amoldar a realidade às suas teses, a felicidade deles é com a consagração da sua desculpa de sempre quando são pegos em suas maracutaias: os políiticos são todos iguais.

Para o senador do DEM o jogo acabou. Mesmo não tendo que disputar a reeleição para o Senado senão daqui a seis anos, não é provável que ele tenha mais peso na política nacional depois da revelação de seus papos ao telefone, em conversas em que até pedia dinheiro ao bicheiro.

É uma pena, pois ele era um dos poucos parlamentares que vinha fazendo uma oposição rigorosa às imoralidades deste governo. Porém, depois desta ele ficou sem moral para falar qualquer coisa. E quem ganha com sua desmoralização é Lula,a Dilma e a companheirada.

Daí a felicidade de pinto no lixo. Ou será melhor usar na expressão outro bicho, talvez o rato ou mesmo o porco? São dois bichos que também ficam muito satisfeitos enquanto estão fuçando na imundície.

O desmonte moral do senador goiano traz até umas indagações à nossa cuca, nós que sempre estivemos muito encabulados com a estranha passividade da oposição. Para ficarem tão quietos muitos não estarão sendo ameaçados nos bastidores? Afinal, nada deve escapar de quem tem o poder sobre a máquina do Estado, inclusive das áreas investigativas.

E agora entrou na história até o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ontem ele disse que as denúncias contra Demóstenes "são graves". É uma fala bem esquisita para alguém que até agora se manteve calado sobre as carradas de denúncias contra companheiros seus de partido e até mesmo de colegas de ministério, vários dos quais tiveram que pedir demissão para evitar que a própria presidente da República tivesse que mandá-los embora.

Calado, não. Cardozo até chegou a comentar denúncia de corrupção, mas para defender o colega de partido e de ministério. Em maio do ano passado, no auge das denúncias sobre o comprovado enriquecimento em curto tempo do então ministro da Casa-Civil, Antonio Palocci, ele foi rápido em defendê-lo. Neste caso, Cardozo não viu nada de grave. Segundo ele, nas denúncias contra Palocci havia “muita fumaça e pouca fagulha”. O final do caso, todos conhecem: Palocci saiu para não ser demitido.

Não estamos aqui para cobrar coerência de petista, pois não somos malucos. Sei muito bem que a indignação deles é bastante seletiva. E também já vi que coerência não é o forte do ministro Cardozo. Ele foi deputado federal na legislatura passada e um pouco antes do final de seu mandato dizia estar tão revoltado com a forma das eleições no Brasil que resolveu não disputar a reeleição para a Câmara. Em maio de 2010 chegou a divulgar uma espécie de carta-aberta onde, entre várias críticas ao peso do poder econômico e da corrupção na política, dizia o seguinte: “Há tempos não me sentia confortável com disputas onde o dinheiro cada vez mais decide o sucesso de uma campanha”.

Dali por diante devem ter acendido alguma grande luz que iluminou suas idéias. De imediato ele se incorporou à campanha presidencial do PT, tornando-se um dos chamados “Três Porquinhos”, o grupo que estava em todas com a candidata Dilma Roussef. O próprio Cardozo definiu desse jeito a famosa trinca: “"Ficamos pensando o que tem em comum entre nós além da barriga. Vimos que o prático é o Palocci, o Heitor é o Dutra, e o Cícero sou eu".

Faz tempo que nada me espanta vindo do PT, mas acabou sendo curioso ver o ex-deputado que se queixava do uso abusivo do dinheiro na política acabar na chefia da condução de uma campanha riquíssima, que usou o poder político e econômico até para compor um quadro eleitoral favorável à vitória do PT.

Não vale a pena perguntar se Cardozo mudou, mas a situação que ele criticava mudou bastante: para pior. E é claro que lá dos altos gabinetes do Planalto ele sabe muito bem que a maracutaia que corre solta hoje no Brasil não é na oposição.
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POR José Pires


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Imagem: Pinto, rato, ou mesmo porco, não importa a expressão: mas dá pra ver a felicidade deles.

quinta-feira, 29 de março de 2012

quarta-feira, 28 de março de 2012


O Millôr, não!

A grandeza de um artista pode ser medida pelo respeito da nova geração, principalmente dos novos que também atuam na sua área. O... (como vou definir alguém que foi tanta coisa?) bem, o Millôr Fernandes, que morreu hoje aos 88 anos no Rio de Janeiro, sempre esteve num patamar acima no humor brasileiro e penso também que no jornalismo.

O Millôr fazia de tudo: escrevia, desenhava, era artista plástico dos bons, foi poeta, escritor e editor de alta qualidade. Foi um dos principais criadores do jornal O Pasquim e também fez uma publicação na década de 70 menos conhecida, o "Pif-Paf', de impressionante qualidade editorial e gráfica. Durou poucos números, afinal estavamos numa ditadura e o Brasil já era o que sempre foi. Muito atrasado, apesar dos tantos talentos que pelejam para fazer algo de bom, além dos gênios, como o Millôr.

Ele teve uma especial participação na modernização da imprensa brasileira, o que foi importante para a modernização de todo o conjunto da nossa mídia e até mesmo da arte brasileira. Com seus desenhos e o excelente texto foi um dos jornalistas que tiraram a casaca da linguagem do nosso jornalismo, mudando o comportamento dos brasileiros.

O respeito por ele foi sempre muito grande entre seus pares, nos quais estou incluido. E era tamanho esse respeito que, na década de 70, havia uma história entre os cartunistas mais novos que mostra isso de forma divertida. Naquela época estávamos sempre na redação da Folha de S. Paulo, onde faziamos vários trabalhos. Eram cartuns e ilustrações, capas e a página de humor do suplemento semanal "Folhetim", um sucesso editado pelo Tarso de Castro, que saía encartado na Folha.

Daquela turma de desenhistas que ficavam num estúdio ao lado da redação do jornal participavam eu, Glauco, Angeli, o falecido Petchó, Luiz Gê, o Luiz Carneiro estava sempre por ali também, a ilustradora Mariza, além de outros desenhistas que de vez em quando faziam alguma colaboração na Folha.

É claro que estávamos sempre falando sobre os cartunistas da velha guarda, que eram o Ziraldo, Jaguar, Henfil, Fortuna, Claudius. E o Millôr. Também é evidente que sempre aparecia no meio da conversa uma crítica a um ou outro desses cartunistas mais experientes. Pois uma vez alguém falou alguma coisa mais pesada sobre o Millôre e eu de pronto protestei bem alto; "Espera aí, o Millôr, nâo!". E todos caímos na gargalhada.

Aquilo ficou entre nós como um jargão. Sempre que sobrava alguma crítica ao Millôr, alguém alertava: "O Millôr, não!". Era meio de brincadeira, mas havia naquilo uma expressão de respeito por um artista que se elevava acima de todos pela imensa criatividade.
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POR José Pires

O combatente que não é virtual

As redes sociais costumam ser palco de muita valentia. Sempre virtual, é claro, pois as campanhas na internet raramente põem em risco algo de quem se mete em manifestações que se dizem a favor da liberdade de expressão, contra a corrupção e tantas outros temas que de vez em quando surgem como se fossem ações transformadoras, mas que de fato mal ultrapassam os limites da tela do computador.

A coragem humana só pode ser reconhecida quando atua sobre a vida real. E aí é preciso mesmo bravura para encarar a situação e dar a opinião abertamente. Eu penso que um exemplo disso foi o cubano que nesta segunda-feira em Cuba gritou "abaixo o comunismo, abaixo a ditadura" próximo ao altar onde estava o Papa Bento XVI. Para ver a cena, clique aqui

Independente do que se pense da manifestação política feita por esta pessoa, está aí alguém que realmente se dispôs a fazer acontecer. Mesmo quem defende o regime cubano terá de concordar comigo que no aspecto da atitude pessoal como uma força política transformadora o cubano que deu o grito isolado merece um curtir.
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POR José Pires


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Imagem: Em imagem extraída de vídeo, depois de gritar "abaixo o comunismo, abaixo a ditadura" um homem é detido por agentes policiais cubanos, em um protesto corajoso que vai muito além de qualquer gesto virtual.



sexta-feira, 23 de março de 2012


Jogo em armação

Sem acordo sobre o Código Florestal, a votação da Lei da Copa é adiada. Com a insatisfação da bancada ruralista, não teve acerto.

O jogo é muito claro: estão trocando um campo pelo outro. E o resultado também está na cara: o Brasil vai perder de goleada nos dois casos.
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POR José Pires

O lamentável Ciro Gomes

Dos políticos com maior destaque na imprensa, Ciro Gomes é o mais lamentável. Sei que a afirmação parece exagerada em razão da má-qualidade generalizada entre os nossos políticos, mas acontece que o ex-deputado junta tudo o que a política brasileira tem de muito ruim à uma grosseria pessoal que é bastante perigosa num país como o nosso, com a democracia sempre instável e as pessoas cada vez mais violentas.

Vou dar um exemplo com um político que todos que entram aqui com certa frequência sabem que não gosto: o ex-presidente Lula. Entre Ciro Gomes e Lula não vejo diferença na postura política referente ao jogo sujo da política e até na questão da honestidade pessoal. Os dois se acomodam perfeitamente no mesmo saco.

Mas acontece que o Lula não ameaça de agressão as pessoas de cima de um palanque e nem desce para resolver as coisas na briga, como Ciro Gomes costuma fazer em meio à multidão, ameaçando inclusive a integridade física de pessoas mais fracas, como as crianças e idosos. Sei que Lula não faz mais que uma obrigação não partindo pra violência como é o costume do colega, mas na tragédia que é a nossa política isso tem que ser visto como uma qualidade.

Não só por isso, é claro, mas o Ciro Gomes sempre foi o mais lamentável dos nossos políticos. Porém, eu tinha um certo respeito à uma única postura dele, que era a relação estável com Patrícia Pillar. Sempre tive uma simpatia muito grande por esta atriz, que me parece uma profissional séria, bem distante daquela ostentação que é comum em estrelas da Rede Globo.

Pois sapeando agora há pouco pela internet leio no site do jornal Extra, do Rio, que os dois se separaram. Como costumo fazer com toda notícia, fui dar uma pesquisada e até fico sabendo também que estou atrasado na novidade. Tem site falando da separação desde o início do ano. Mas hoje o Extra avança bastante no assunto. Conta que Ciro Gomes trocou a atriz por uma moça de 26 anos da alta sociedade cearense. E o Extra conta também, bem do jeito deles, que o namoro "já subiu no telhado".

Bem, se não subiu no telhado, não vai precisar de escada para logo estar lá. Fico imaginando uma moça de 26 anos aguentando o Ciro Gomes falando do Serra o tempo todo. Com o Ciro Gomes ao lado qualquer mulher deve se sentir como a Dona Flor, sempre com dois maridos.

Mas o fato é que a Patrícia Pillar não precisa mais aguentar esse papo. Os dois se separaram, o que me libera também desse resquício de respeito pelo político cearense. Agora sim, ele é o mais lamentável político brasileiro.
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POR José Pires


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Imagem: A bela Patrícia Pillar vai ter, enfim, um descanso merecido do ex-deputado Ciro Gomes. Dele e do Serra, é claro.

Em extinção

Dados trazidos pela jornalista Daniela Kresch, em matéria do jornal O Globo: no berço do cristianismo os cristãos vão ficando cada vez mais raros.

O Oriente Médio tem hoje cerca de 500 milhões de habitantes, sendo que apenas 15 milhões são cristãos, algo em torno de 3%. Em Belém, cidade histórica para os cristãos, a situação é bem grave. A população era formada há vinte anos por 80% de cristãos. Hoje eles são menos de 35%.

No Líbano os cristãos já foram maioria. Na época da independência do país em 1943 eram 75%. Hoje são 35% da população. E por aí vai.

Os números parecem revelar um resultado que vem de diferentes posturas das religiões. O cristianismo se aprimorou com o tempo e apreendeu a tolerância e o respeito a quem pensa de forma diferente, o que não acontece com a religião predominante atualmente no Oriente Médio, o islamismo. Com a intolerância que predomina por lá, hoje em dia é até perigoso ser cristão naquela região.
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POR José Pires

quinta-feira, 22 de março de 2012


O trânsito brasileiro atropelando o bom senso

Acredito que todos já sabem do atropelamento do ciclista Wanderson Pereira da Silva, de 30 anos, por Thor Batista, de 20 anos, ocorrido na noite de sábado, numa rodovia da Baixada Fluminense.

Thor é filho do milionário Eike Batista. Depois do acidente o paí andou postando textos no Twitter dizendo que o culpado é o ciclista, que morreu na hora. Numa entrevista à colunista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo, o empresário foi até indelicado com a vítima, dizendo que além de imprudente, o ciclista poderia "ter matado meu filho".

"A imprudência do ciclista causou, infelizmente, a sua morte. Mas podia ter levado três pessoas [Thor e o amigo que estava com ele no carro]", ele disse à colunista. Como costuma falar a rapaziada, menos, menos, mas muito menos mesmo.

Nem vou perguntar por que é que Eike Batista está dando entrevista sobre o atropelamento para uma prestigiada colunista, e ainda mais com conclusões tão definitivas de quem inclusive não pode alegar independência nenhuma no caso, mas, como já fiz isso, fica como uma pergunta retórica.

Mas o que é fato mesmo é que é sempre muito difícil um ciclista causar a morte de um motorista dentro do carro. Nunca soube de algo assim. Você já viu alguma manchete sobre a morte de um motorista causada por um ciclista? Desconheço. Deve ser mais fácil encontrar a manchete do homem que mordeu o cachorro.

Mas o contrário ocorre sempre. Só na cidade de São Paulo são mais de 50 ciclistas mortos todo ano. E mortandade parecida acontece pelo país afora. Sem falar nos muitos que ficam com sequelas graves. E a razão é na maioria das vezes o desrespeito do motorista. Muitas dessas mortes seriam evitadas se o motorista seguisse uma regra legal muito simples: passar a pelo menos 1,5 metro de distância do ciclista.

O filho de Eike Batista também culpou o ciclista pelo acidente. Fez isso no Twitter. Ele disse que dirigia com cuidado e "repentinamente" o ciclista veio do acostamento em sua direção. Thor dá inclusive o detalhe de que Wanderson, o ciclista, empurrava a bicicleta com o pé esquerdo no chão. E destaca que ele estava "sentado, porém, no banco da bicicleta". Gostei do "porém", tão bem colocado, ainda mais num texto do Twitter, "naum" é mesmo? E, sem dúvida, são informações de alguém com uma memória muito boa, mesmo tendo passado por um trauma como este.

Mas acontece que a versão do advogado do ciclista morto no atropelamento é bem diferente. Ele diz que Thor atropelou no acostamento. Segundo o advogado, moradores locais afirmam que Thor tentou cortar um ônibus, quando perdeu o controle do veículo e atingiu o ciclista no acostamento.

Poderíamos ficar então na velha fórmula dos dois lados, mas surgiram também fatos que são pra lá de condenadores da atuação de Thor Batista por detrás de um volante.

Por lei, Thor Batista nem poderia estar dirigindo um carro. Ele já somou 51 pontos na habilitação e isso em apenas 1 ano e meio ao volante. Desses pontos, 21 são por cinco infrações por excesso de velocidade. Ele estava então em período probatório e se não fosse a lentidão no registro de multas nem teria tirado a carteira definitiva.

A assessoria de Thor, disse que "o rapaz não sabia da existência desses pontos". Aliás, até o Grupo EBX, do pai do "rapaz", lançou nota sobre o atropelamento. A empresa afirma também que o ciclista "atravessava inadvertidamente". Não, o grupo EBX não está no ramo de bicicletas e nem mesmo no do carro Mercedes SLR McLaren, que Thor dirigia no momento do atropelamento. Na Europa o carro custa R$ 890 mil e pode chegar a 334 km por hora de velocidade.

É bastante gente no assunto, não é mesmo? E é claro que será mais um caso de atropelamento que não vai dar em nada. O destino provável é o mesmo de outras mortes no trãnsito, seja de ciclistas ou não.

E nem estou dizendo isso só porque está em cena gente de muita grana, de bastante influência política. E nem tampouco estou prejulgando o atropelador. Mas ocorre que morte no trânsito já virou uma banalidade na vida brasileira, como se fosse um processo natural. É algo já inserido no cotidiano e visto como inevitável, da mesma forma que uma fruta cai de uma árvore e espatifa-se na rua.
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POR José Pires


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Imagem: A sombra deste ciclista que escreve. Já fui fechado, acossado pelos carros por detrás da minha bicicleta, recebi luz alta na cara e até objetos lançados contra mim. E o iinteressante é que os motoristas estavam sempre certos.

terça-feira, 20 de março de 2012




Lixo reciclável sempre fora da pauta política

O jornal O Globo publica uma boa matéria sobre a reciclagem do lixo no Rio de Janeiro. Eles estão fazendo uma série chamada "Desleixo insustentável", que fala hoje sobre a situação do catador. O que ficamos sabendo não é muito diferente do que ocorre com o catador na maioria das cidades brasileiras, quase todas elas sem nenhuma atenção à questão da coleta do lixo que pode ser reaproveitado.

Em todo o Brasil a miséria é muito grande entre os catadores. Ganham pouco, trabalham sem nenhuma infraestrutura e são mantidos numa informalidade que não permite que alcancem uma situação digna na vida. Como ocorre em todas as partes do país, esta função essencial é vista como atividade de miserável. Não se profissionaliza de forma alguma.

Em muitos casos, o catador é explorado por máfias que lucram com seu trabalho sem que ele possa obter qualificação e uma vida digna. No Rio, segundo a reportagem (que ser lida aqui) a informalidade movimentava R$ 24 milhões por ano, até 2011. É claro que o catadores não levam nem migalhas disso tudo.

A reciclagem no Brasil também é explorada por políticos que usam a necessidade dos mais pobres para fazer deste setor mais um instrumento assistencialista que serve à demagogia, sem que tenha uma real influência no ataque ao problema do lixo.

O Globo conta que um catador ganha hoje na dita Cidade Maravilhosa cerca de R$ 35 por noite. E o serviço tem que ser acelerado, numa batalha contra o tempo. Eles precisam se antecipar aos caminhões da Comlurb para encontrar garrafas PET, papelão, papel branco, latinhas, ferro, cobre e o que mais possa ter valor.

Este serviço é feito sem nenhum tipo de transporte que não seja o do "burro sem rabo", conta o jornal. Ou seja, homens e mulheres têm que puxar carrinhos sempre muito pesados para fazer o recolhimento de material reciclável.

Como eu disse, é igualzinho ao que acontece nas ruas de cidades de todo o país. E isso quando a cidade ainda pode contar com o trabalho de gente que é levada a esta função tão importante apenas pela necessidade de ganhar o pão de cada dia.

Em todo o Brasil não existe política alguma de profissionalização deste setor essencial para começarmos a enfrentar os dias duros que já se pode antever que virão na ecologia mundial. O que atualmente vemos é a notória praga que são os políticos se aproveitanto do tema de forma irresponsável e demagógica. Enquanto isso, seguimos com mais este problema se acumulando nas ruas das nossas cidades.
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POR José Pires


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Imagem: Na foto de Pedro Kirilos, de O Globo, catadores chegam a um aterro de lixo no Rio de Janeiro. Uma atividade que deveria ser encarada com profissionalismo é relegado ao assistencialismo e à exploração de gente muito pobre.

Pedalando com segurança

Quem disse que não surgem dos nossos políticos boas idéias para a resolução de problemas? O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Police Neto (PSD), mostrou de forma simples como um ciclista pode pedalar com segurança pelas ruas da capital paulista.

Há um ano e meio Police Neto é um adepto da bicicleta e quando sai para pedalar tem sempre na sua cola uma equipe de PMs, segurança a que tem direito como presidente da Câmara. Os policiais seguem de bicicleta o vereador e vão gesticulando o tempo todo para os motoristas, indicando por onde vão as bicicletas e exigindo o devido respeito ao prestigiado ciclista.

No site da Folha de S. Paulo a gente fica sabendo que outro dia Police Neto foi fechado por um carro, coisa que é comum acontecer com qualquer ciclista, mas no seu caso os PMs pararam o veículo infrator e deram uma espinafrada no motorista.

Está aí uma solução para resolver os dramas que os ciclistas enfrentam sempre que saem para dar umas pedaladas pelas ruas de qualquer cidade brasileira. Mais seguro ainda que andar com um PM ao lado seria ter batedores de motocicleta à frente, mas isso acredito que pode ficar para depois.

E como temos eleição municipal daqui a poucos meses, está aí uma promessa boa para ganhar votos entre o eleitorado ciclista.
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POR José Pires


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Imagem: O vereador e presidente da Câmara paulistana, José Police Neto, pedala com segurança pelas ruas da capital paulista, com o PM ao lado de olho nos carros. A foto é do site da Folha de S. Paulo, cujo link está embaixo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Buscando aquele livro

Ter uma biblioteca desorganizada é sempre um problema, principalmente pela perda de tempo na localização de referências essenciais para o trabalho ou até para completar alguma leitura. Mas a desordem tem sua compensação. No meio da livraiada algumas vezes surge a alegria de reencontrar uma obra que a gente nem se lembrava de possuir e aí temos então mais um bom livro para reler.

E de vez em quando encontro até dois títulos iguais, cuja explicação muito fácil é a da compra em duplicidade ter sido provocada não só pela desordem da biblioteca, mas também pela dificuldade de lembrar de tantos livros que vamos juntando pela vida afora. Só depois de ter adquirido o livro em um sebo (com grande contentamento pela descoberta) é que fui ver que já tinha o mesmo título na biblioteca. Mas essa descoberta é quase sempre feita quando estou buscando outra coisa. Bem, mas o livro sendo bom é sempre melhor ter dois volumes da mesma obra do que não ter nenhum.
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POR José Pires


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Imagem: Livro de madeira desenhado e feito à mão pelo grande Saul Steinberg (1914–1999). E o autor do livro também é muito bom.

terça-feira, 6 de março de 2012

Defendendo o que é nosso

Agora vai. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, está esperando o "ok" da presidente Dilma Rousseff para perdoar o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke. Ele pediu desculpas por ter dito que o governo brasileiro precisa de um pé na bunda para começar a trabalhar direito na organização da Copa de 2014.

Valcke alegou que teria havido um erro na tradução para o português do que ele falou em francês. É claro que ninguém acredita numa lorota dessas, mas Valcke até tem que agradecer da sua declaração não ter sido traduzida por um poeta.

Tem gente que garante que o secretário-geral disse mesmo "se donner un coup de pied au cul". Um poeta teria de respeitar o ritmo e a rima da frase e aí a coisa ficaria bem mais complicada para o lado do bocudo do da Fifa.

Mas na minha visão acho que a decisão de perdoar ou não Valcke não deveria ficar só com a Dilma. O que aconteceu é coisa muito séria. Como a bunda da pátria foi ofendida, acho que é caso para plebiscito nacional.
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POR José Pires

Acelerando com o pé

Nesta patética polêmica sobre o secretário-geral da Fifa e sua declaração sobre as dificuldades de tocar as obras da Copa de 2014, se existe dúvida é só mesmo de tradução. O correto é chute na bunda ou no traseiro? Mas de qualquer forma o resultado é o mesmo.

E até quem acha que foi grosseria do dirigente da FIFA não pode negar o mérito de suas críticas. Falta empenho, não existe projeto e no meio temos como sempre o domínio da corrupção. Penso até que o Brasil não tinha a necessidade de fazer essa Copa e no momento nem tem a capacidade para isso. Este é o tipo de jogo em que o empate já estaria muito bom, mas o mais provável é que venha uma goleada feia contra o país. Mas fazer o quê? Lula precisava emplacar sua candidata Dilma Rousseff na presidência da República, então temos aí uma Copa para fazer.

E todo mundo vê que a coisa não anda e também percebe que aquilo que está sendo feito não fica próximo nem de um nível de qualidade apenas aceitável. As pessoas sabem também que agindo dessa dessa forma, o governo do PT está colocando o país em um risco tremendo de acontecer até alguma tragédia durante a realização deste torneio de futebol, se é que ele vai ocorrer mesmo. Todos sabem, mas como acontece o tempo todo por aqui, são poucos os que tem peito de tocar no assunto.

Chute no traseiro ou chute na bunda, não importa. Mas se tivesse o efeito de fazer este governo acordar para a necessidade de trabalhar com seriedade até que um pé certeiro desses viria bem.
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POR José Pires

domingo, 4 de março de 2012

A bicicleta como alvo


A morte da ciclista Juliana Ingrid Dias, atropelada por um ônibus na Avenida Paulista, é um retrato da difícil convivência entre os carros e as bicicletas nas cidades brasileiras. Quem anda de bicicleta sofre muito com a falta de respeito de quem está atrás de um volante. E eu sei disso muito bem, pois sou ciclista.

No geral, há pouco respeito pelo ciclista e existe também aquele motorista que adota um comportamento criminoso quando vê alguém de bicicleta à sua frente. Conforme testemunhas do acidente em São Paulo, foi o que aconteceu com a ciclista Juliana. Ela foi fechada por um ônibus e quando discutia com o motorista perdeu o equilíbrio e caiu, quando veio um outro ônibus e a matou.

Segundo a polícia, o motorista que causou o acidente será indiciado por homicídio culposo. Ele foi preso em flagrante, mas foi solto depois de pagar fiança. E é improvável que a justiça seja feita num caso como este. Do jeito que está o país a tendência é que este caso siga os descaminhos de tantos outros, que seguem por anos sem chegar a nenhum resultado justo.

Juliana morreu na sexta-feira e foi enterrada ontem. Era bióloga e trabalhava no Hospital Albert Einstein. Ela usava a bicicleta diariamente para ir de casa ao hospital e foi exatamente neste percurso que acabou sendo atropelada.

A repercussão da sua morte se deve à rápida mobilização de amigos ciclistas, que são bastante organizados na capital paulista. São muito unidos e ocupam a cidade com suas magrelas que cada vez mais se tornam uma opção de transporte bastante usada, principalmente pelos jovens. Ela própria era uma militante pelo uso da bicicleta, além de fazer parte de um grupo que plantava árvores pela cidade.

Ainda no sábado, logo depois do atropelamento, os amigos de Juliana foram chegando à Avenida Paulista e se deitaram no chão em sinal de protesto, parando a Avenida Paulista. Outras manifestações foram se seguindo, inclusive a colocação de uma bicicleta pintada de branco (chamada por eles de “ghost bike”; veja abaixo) simbolizando a ciclista morta. Eles também plantaram cerejeiras numa praça. A árvore era a preferida de Juliana.

As manifestações serviram para chamar a atenção para o uso da bicicleta na capital paulista, destacando a falta de respeito dos motoristas com quem anda de bicicleta e a ausência de fiscalização e punição sobre os que não cumprem leis que protegem o ciclista. No caso de Juliana, sua morte não teria ocorrido se o motorista do ônibus cumprisse uma lei simples que proíbe qualquer veículo de ultrapassar ciclistas se estiver a menos de 1,5 metro de sua lateral. É também muito claro pelos testemunhos que ele pressionou a ciclista e causou a desatenção que levou á sua morte.

Mas o descumprimento de uma lei tão óbvia como esta não é a única forma de desrespeito com o ciclista. Uma série de riscos poderia ser evitada se quem está por detrás de um volante usasse o bom senso, a começar pela compreensão de que uma pequena batida pode resultar na queda do ciclista. Carro com carro causa um leve risco na lataria. Já com a bicicleta isso pode causar morte.

E cair da bicicleta pode ser muito grave, mesmo que ela esteja em pouca velocidade. Isso é uma coisa que aprendi por experiência própria e numa situação que sem o uso do capacete eu poderia ter morrido. Ou coisa pior.

Outra questão muito simples é o respeito a um direito óbvio do ciclista, que é o de trafegar pelas ruas. Parece piada falar isso, mas muitos motoristas agem com o ciclista como se ele fosse um intruso trafegando ilegalmente pelas ruas.

Carros forçam a passagem e passam tirando fina das bicicletas, dão buzinadas para pressionar e alguns ainda aceleram de forma ameaçadora, afligindo o ciclista com freadas bruscas às suas costas e forçando passagem com fechadas. Quase todos que fazem essas barbaridades também acham sempre que estão com a razão e dizem isso xingando a vítima que vai sobre duas rodas.

Em alguns motoristas a visão de um ciclista parece despertar instintos bárbaros de ocupação do espaço das ruas pela violência. E quando isso acontece, perde sempre quem está na bicicleta, como aconteceu em São Paulo com a Juliana e acontece com tantos ciclistas neste Brasil que valoriza de forma estúpida o carro e não vê que na verdade o veículo do futuro é a bicicleta.
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POR José Pires

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Imagem: A bicicleta pintada de branco lembra a morte de mais um ciclista. Juliana Ingrid Dias, uma garota bacana que amava o ciclismo e plantava árvores pela cidade morreu em São Paulo por causa da estupidez de um motorista de ônibus. A foto é do blog Corredor Disciplinado.

sábado, 3 de março de 2012

Time unido

O Blog do Menon deu uma informação importante nesta quinta-feira sobre a resistência de Ricardo Teixeira na presidência da CBF. Teixeira dava sinais de que ia renunciar, mas no último momento desistiu. O Blog do Menon conta que ele se convenceu a ficar na presidência depois de um telefonema do ex-presidente Lula.

Quem pediu ao Lula para ele ligar para Teixeira foram o ex- jogador Ronaldo, que virou cartola da CBF, e Andrés Sanchez, que foi presidente do Corinthians e atualmente é diretor de seleções da CBF. No telefonema, Lula falou a mesma coisa que os dois vinham dizendo sem conseguir convencer o presidente da CBF: para eles, renunciar seria como uma confissão de culpa.

Lula repetiu o argumento e Teixeira desistiu da renúncia. Até quando, ninguém sabe. Mas o apoiamento entre Ronaldo, Sanchez e mais o Lula e o Ricardo Teixeira só vem confirmar aquele velho ditado gaúcho que diz que “os gambás se cheiram”. E como se cheiram, tchê.
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POR José Pires

quinta-feira, 1 de março de 2012

De olho nos peixes

O senador Marcelo Crivella foi nomeado para o Ministério da Pesca, a incrível pasta criada pelo PT. É um ministério insignificante, mas de qualquer forma lida com um assunto específico com o qual o escolhido não havia mostrado até hoje nenhuma proximidade. Crivella é um assim chamado “bispo” da Igreja Universal do Reino de Deus. Mais que isso, é sobrinho do dono da igreja, o auto-intitulado bispo Edir Macedo. É seu predileto e certamente seu herdeiro.

A nomeação do bispo da Igreja Universal para o Ministério da Pesca dá espaço para a piada fácil sobre a multiplicação dos peixes. Mas essa gente não é de multiplicar peixe algum. O negócio deles é tomar o peixe dos pobres. Já se veicula que o verdadeiro motivo da nomeação de Crivella seria aplacar a ira dos evangélicos com as encrencas armadas pelo governo petista e sua militância. Outra razão seria fortalecer a candidatura de Fernando Haddad a prefeitura paulistana. A eleição em São Paulo virou uma guerra santa para PT, que está fazendo tudo para emplacar o candidato nomeado por Lula — a coisa está assim: agora no PT tem nomeação até de candidato.

No meio de tudo isso nós temos a rede de comunicação da Igreja Universal, concentrada na Rede Record e que tem jornais, rádio e a própria televisão cobrindo o país todo. E alguém pode achar que o bispo Macedo está sozinho nessa?

Uma coincidência que dá firmeza a suspeita de que esta empreitada vem sendo fortalecida também de fora da Igreja Universal é que lá na TV Record vão parar todos os jornalistas que prestam um bom serviço na internet de defesa do governo e ataque cerrado contra a oposição. Os cargos são sempre muito bem pagos, é claro.

A rede de comunicações da Igreja Universal junta controle da informação, religião fundamentalista e políticos com poder direto sobre a comunicação, além de ter como base a manipulação de sentimentos religiosos, de onde inclusive veio de início o dinheiro para a montagem da forte estrutura desta igreja que se sustenta da exploração da crença religiosa principalmente dos mais pobres.

São ingredientes péssimos para a democracia de qualquer país, mas especialmente perigosos para um sistema político como a nosso, que até hoje não se acertou. Enquanto as militâncias incitam a ira contra a TV Globo, Folha de S. Paulo, revista Veja e outras publicações, vão chocando o ovo desta que é a verdadeira serpente.
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POR José Pires

A grande causa de tudo

Estava demorando, mas os petistas descobriram afinal a causa da administração do país na mão deles ser tão precária, repleta de trapalhadas e projetos que não andam de jeito nenhum: o problema é que o Brasil é muito grande.

Parece até marcação, coisa dessa raridade brasileira que é gente que faz oposição, mas foi exatamente isso que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse em audiência no Senado, onde esteve dando respostas à Comissão de Educação.

Explicando os seguidos problemas do Enem, com vazamentos de dados e extravio de provas, Mercadante disse o seguinte: “O MEC não tem culpa de o Brasil ser tão grande e diverso. São 140 mil salas, 400 mil pessoas fiscalizando. E tem de ter um sigilo absoluto. O risco logístico sempre haverá”.

Então ficamos assim: o Haiti é aqui porque o Brasil não é do tamanho do Haiti.
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POR José Pires