terça-feira, 21 de novembro de 2023

O roubo da Mafalda pela esquerda e a manipulação sórdida da obra de Quino

Nos dias anteriores à eleição presidencial da Argentina, resolvida neste domingo com a vitória acachapante de Javier Milei sobre o peronista Sérgio Massa, rodou pela internet a charge que ilustra este post, do abraço das personagens de quadrinhos Mônica e Mafalda, com a evidente confiança de que Massa derrotaria Milei. É propaganda para o peronista, o que é lamentável mas não surpreende. A esquerda está sempre roubando alguma coisa, mas que sacanagem roubar a personagem do Quino.


A mensagem da charge tem como base apenas um anseio político baseado em desinformação sobre o segundo turno da eleição argentina. Mas para saber disso é preciso acompanhar, saber ler e pesquisar de modo dinâmico. E militante político sabe fazer algo parecido? Vejam o post da mulher do presidente, com o ineditismo de uma primeira-dama se metendo nos negócios internos de um país vizinho. Duvido que Janja saiba responder a umas poucas perguntas sobre o assunto. Mas petista é assim.


O clima na Argentina era de derrota do peronismo, mesmo com o esforço empreendido por Lula, evidentemente com o uso do cargo de presidente do Brasil. O petista fez viagens para a Argentina e recebeu o presidente Alberto Fernández em Brasília. Lula procurou também criar um clima de prestígio para o governo de Fernández, com a articulação da entrada da Argentina nos Brics. Até um empréstimo internacional foi cavado com a influência do governo brasileiro, para que Massa, no comando da economia, pudesse aliviar o falido cofre do governo peronista, passando para a população uma imagem de eficiência.


Lula mandou também uma equipe de marketing e conselheiros políticos para darem uma mão na campanha de Massa, levando em especial um know how — ou “expertise”, como se fala hoje em dia — em que o PT se aperfeiçoou durante década: do jogo sujo em eleições, da construção de mentiras sobre o adversário, do assassinato de reputação e do convencimento do eleitor de que as coisas podem ficar ainda mais piores do que os petistas conseguiram fazer.


O marketing dos petistas procurou estabelecer um clima de medo na Argentina. Ficou flagrante o dedaço de Lula na política argentina, uma interferência estrangeira que pode inclusive ter aumentado a rejeição eleitoral ao candidato peronista.


No Brasil houve um alvoroço da esquerda. A tigrada abusou das bravatas, aproveitando esses tempos em que a partir das redes sociais é possível ter a sensação de participação política, sem os riscos inerentes à atividade política no modo presencial. Nem é preciso fazer pesquisa para saber que o lugar de fala preferido da militância esquerdista é o celular ou o computador.


A participação dos valentes valeu-se de memes violentos e no compartilhamento de textos com ataques ferozes a Javier Milei, com as palavras de ordem já conhecidas, em que não faltou o xingamento especial de “fascista”, o que soa até como piada para classificar um oposicionista argentino, já que o peronismo tem na origem várias características em comum do fascismo. Ademais, Juan Domingos Perón tinha admiração pessoal por Benito Mussolini, seu contemporâneo.


Mas com a esquerda brasileira é assim: se é do outro lado é fascista. Uma condenação que obviamente é anulada de imediato quando o “fascista” adere ao governo Lula. Por esta leviandade política é que andaram repassando a charge em que a personagem Mafalda recebe um abraço da Mônica que lhe diz: “Mejorará”.


A charge esconde que a tragédia social e econômica da Argentina foi construída pelo grupo de Sérgio Massa, na mistura peronista e kirchnerista que destruiu o país. Se algo tem que “mejorar” é porque os argentinos foram envolvidos em um ciclo de governos populistas, trazendo dificuldades tão graves que, na melhor análise, não se via em nenhum dos candidatos meios de tornar o país pelo menos governável. Claro que não dava para confiar muito menos no peronista, que comandava a economia de um país em que a inflação está em 140% e tem vivendo abaixo da linha da pobreza 40% da população.


A charge não podia mesmo durar. Com a vitória de Milei sobre Massa com quase 12 pontos de diferença, a esquerda voltou ao vitimismo. Mas tem outro ponto importante nesta charge hipócrita, que permite ampliar a visão sobre a apropriação indevida da esquerda da obra do desenhista Quino, autor de Mafalda. É preciso também apontar a destruição cultural que essa leviandade da esquerda vai criando ao usar linguagens, simbologias ou qualquer outra expressão humana, sem ter nenhum cuidado com a verdade criativa, a origem real da obra e sua integridade. É uma manipulação política absolutamente improdutiva do ponto de vista da qualidade, que vai inclusive emburrecendo cada vez mais a militância.


Quino, que era argentino e viveu os mais variados processos da conturbada história política daquele país, sempre foi muito discreto sob o ponto de vista pessoal quanto às suas posições políticas. Era um socialista, conforme ele próprio disse umas poucas vezes. Mas tinha uma posição antiperonista muito firme. Mais que isso, não tinha nenhum respeito pelo kirchnerismo, conforme expressou sobre a própria Cristina Kirchner, atual vice-presidente e maior responsável pela trágica condição da Argentina. Foi a grande derrotada nesta eleição.


Numa matéria com o Quino no jornal Clarín, em setembro de 2016, chegaram a perguntar-lhe se Mafalda teria gostado de Cristina Kirchner, que era presidente na época. “Não, não, não, não...”, ele disse. A jornalista então perguntou o que Mafalda falaria  para Cristina. “O que todo mundo já disse”, respondeu o desenhista, “que não seja prepotente, tão soberba”.


Esta era a visão de Quino sobre o peronismo e a sua derivação ainda mais cretina, o kirchnerismo. É claro que, de modo algum, ele teria alguma empatia com Milei. Mas não aceitaria o uso eleitoral da Mafalda, ainda mais com este conteúdo marqueteiro e tão banal, mesmo porque nunca permitiu ou fez ele próprio da sua personagem a mensageira de ideias partidárias diretas, que sempre se perdem no período curto de uma eleição. A proximidade direta com a política mata a arte.


Quino foi um grande artista, era inteligente e tinha conhecimento político. Sabia disso. Não iria gostar de ver seu trabalho metido numa jogada sórdida dessas. Para a Mafalda, seria como engolir uma sopa. Falando francamente, é uma grande mentira. Mas mesmo que em tese os propósitos fossem honestos, existe sempre a possibilidade da destruição do prestígio da obra criativa, com a quebra de compromisso que vem depois de uma eleição, que é praticamente uma regra entre os políticos.

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Por José Pires


domingo, 19 de novembro de 2023

O dedaço furado de Lula na Argentina de Javier Milei

Lula foi derrotado na Argentina. Javier Milei atropelou o peronismo e o kirchnerismo. Lula batalhou por um empréstimo bilionário para favorecer o candidato Sérgio Massa, mandou uma equipe de marketing para fazer uma camapanha do medo contra Milei, fez de tudo pelos compañeros. Mas o dedaço do petista recebeu um espetacular não dos argentinos. 


Milei deixou o peronismo e o kirchnerismo mais de dez pontos atrás. O despudorado endosso à candidatura de Massa foi mais uma estupidez do petista nas relações externas. Agora ele terá que passar o resto do seu mandato com um adversário difícil de lidar em um país de grande relevância na América Latina e no qual o mundo está de olho.


Este será um efeito colateral que fará Lula roer-se de ressentimento e inveja. O presidente eleito Javier Milei terá a maior atenção internacional a partir deste domingo, fazendo do petista uma figura ainda menor e mais repudiada do que já ficou depois da porção de barbaridades que cometeu no primeiro ano deste mandato, entre elas os asquerosos acenos a Vladimir Putin e as vergonhosas passadas de pano para o grupo terrorista Hamas.

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Por José Pires

Lula e o PT no perde e perde da eleição na Argentina

Qualquer resultado que tenha neste domingo a eleição para presidente da Argentina, com a vitória de Javier Milei ou Sérgio Massa, o Brasil já está encrencado e terá sérias dificuldades a partir da hora em que o vitorioso colocar a faixa presidencial. O presidente Lula e seu partido envolveram-se de tal forma nesta eleição argentina, que o Brasil foi um dos temas mais discutidos na campanha deste segundo turno, com o nosso país ganhando a fama de promotor da desmoralização da disputa eleitoral e instigador do jogo sujo na eleição.


A situação do governo do PT é tão complicada, que pode-se avaliar até como mais difícil de administrar se houver a vitória de Sérgio Massa, candidato do peronismo-kirchnerista apoiado por Lula com excessivo empenho, colocando inclusive o governo brasileiro para garantir a autorização de um empréstimo de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões) do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) ao país, favorecendo o candidato peronista Massa, que é ministro da Economia.


É também dos petistas uma interferência importante para Massa, com a entrada na campanha de Massa de uma equipe de publicitários que já trabalhou para candidaturas petistas, inclusive a de Fernando Haddad à presidência da República, quando ele perdeu para Jair Bolsonaro. A receita marqueteira contra Milei foi muito parecida com a que fizeram no Brasil. Foi uma artilharia pesada, explorando inclusive vínculos pessoais do candidato da oposição para colar nele a pecha de doido. 


A base da propaganda feita pelos marqueteiros brasileiros foi colocar medo na população argentina, colocando a vitória de Milei como uma ameaça grave à estabilidade da Argentina, inclusive apontando no oposicionista um risco para a própria democracia no país. Não é preciso detalhar o modelo de propaganda política, cabendo, é claro, que fora do que é oficialmente fiscalizado na eleição tem também os esquemas de ataque, com os assassinatos de reputação famosos do PT, que foram usados até contra companheiros históricos, como aconteceu com Marina Silva, na sua candidatura a presidente em 2014, contra Dilma Rousseff, apadrinhada de Lula. 


A interferência de Lula foi tema de debates pesados na eleição argentina, sendo também muito comentada entre a população. Até pela linguagem agressiva, com a exploração do medo e da desconfiança nos materiais de campanha, o Brasil ganhou entre a população a fama de promotores de sujeira política, o que é uma façanha e tanto em um país em que a briga pelo poder sempre foi uma barra pesada.


Liderados pela liderança de Lula, os petistas erraram a mão mais uma vez em relações externas, agora comprometendo-se com os rumos de um país onde não existe absolutamente nada que sustente a previsão de uma mudança da sua condição de ingovernável. Haja ou que houver no dia de hoje, com a vitória de Milei ou Massa, o candidato de Lula. 


O destempero político dos petistas foi tanto desta vez, que a eleição de seu preferido pode até ser pior do que se os argentinos recusarem o voto a alguém como Massa, que já provou que não tem capacidade de tocar o país e terá muito menos ainda capacidade de colocar em prática as propostas de campanha, meramente marqueteiras. 


No entanto, com a falta da possibilidade de escolher algo ao menos razoável, a maioria pode optar por Milei, que ao menos oferece algo que não se tentou ainda na falida Argentina. Com isso, os peronistas voltariam a uma transformação que fazem muito bem: voltariam a ser pedra nas vidraças do governo, numa quebradeira de vidros que, tenho certeza, começariam o estrago já na segunda-feira. 


Massa também ficaria na posição mais confortável de oposicionistas, que o PT conhece muito bem, onde se passa lições daquilo tudo que não se fez no poder. Então, o que parece uma perda para Lula, o livraria de um compromisso político que promete complicação já nos primeiros meses do mandato presidencial. A falta de cautela no apoio de Lula acabou na prática sendo um endosso. Se Massa for presidente, quero ver como o governo brasileiro vai bancar este apoio ao falido projeto peronista.

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sábado, 18 de novembro de 2023

Os românticos verões que não saem da cabeça dos publicitários

Não é de hoje a falta de sintonia da publicidade com as reais necessidades das pessoas. Como linguagem, publicidade e realidade não combinam. Mas é pesada demais a alienação dos publicitários com a transformação global que vem alterando o clima, tornando difícil a vida mesmo nas atividades mais simples.  


Fechados em seu universo compactado, chupando ideias uns dos outros, todas de segunda mão, os publicitários entram neste verão com uma antiga visão do que já foi esta estação do ano, quando, em priscas — e bota priscas nisso — eras, tínhamos um período de relaxamento e prazer com a temperatura.  Só que agora estamos em outro mundo. 


Tenho visto muito material de propaganda mostrando pessoas numa satisfação total, aproveitando prazerosamente o verão, com casais, crianças e até mesmo idosos numa alegria invejável, claro que aproveitando para ir às compras nesta maravilha que é o verão.  Só que não é mais assim. Acabei de ver um vídeo com um casal que esbanjava alegria com a temperatura, o que me trouxe uma dúvida à cabeça, sobre o planeta de onde vinham aqueles dois.  


Ora, o doce casal é do planeta dos publicitários. Ninguém suporta mais o calor que está fazendo, além de que as altas temperaturas se relacionam com ventanias assustadoras, chuva em excesso destruindo tudo ou a água faltando até para manter o jardim, tudo isso trazendo um sentimento de que este verão calorento demais poderá ainda dar saudades, comparado ao que pode acontecer logo mais com o clima no planeta.  


Mas, em meio a esta realidade atordoante que parece um sobreaviso  de coisas piores, a publicidade nos brinda com a repetição de jargões mais que gastos, fórmulas antigas na contínua exaltação sem fundamento para as vendas de verão.  


Só que desta vez a realidade deu uma trombada destrutiva na falta de percepção dos nossos publicitários. Eu, se fosse dono de empresa, mandava desligar o ar condicionado do departamento de criação. E iria demitindo, um atrás do outro, aqueles que não entendessem a mensagem.

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Por José Pires

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

O país que já foi do futebol e hoje em dia não sabe mais qual é a sua

O torcedor de futebol tem algo parecido, na sua psicologia, com quem acompanha política sem estar em nenhum dos lados ideológicos onde se encaixam incompetentes e ladrões. Sofre-se muito, embora os acontecimentos sejam previsíveis. Estou falando do eleitor e contribuinte, que depois arca com tudo, às vezes até com a vida ou perdendo tudo que tem.


Digo isso ao observar o desespero da torcida brasileira com o que acontece nos campos, coisa corriqueira já de algum tempo, como o que se deu nesta quinta-feira com a derrota do Brasil para a Colômbia por 2 a 1. Não vejo jogo algum, mas não deixo de ficar atento ao debate esportivo, onde não só na linguagem mas na teorização sobre os objetivos pode-se obter muitos elementos de aplicação na vida e no trabalho.


Não era necessário assistir a este jogo para saber que o Brasil ia se estrepar, do mesmo modo que não é preciso esperar o final do governo Lula — e de anteriores, mesmo os outros dele — para saber que nada vai dar certo. Em ambos os casos, falta elenco e gestão de qualidade. Não tem como alcançar um objetivo bem sustentado do modo que o futebol brasileiro é pensado e praticado. O máximo que poderia ocorrer seria uma vitória do Brasil por acaso.  


Pelo que eu sei, o futebol é o esporte em que o acaso mais interfere no resultado final. Política também é assim. Entre as quatro linhas, é uma tristeza ver um bom time ser desmontado ou nascer uma ilusão por causa de um lance inesperado. Poderia acontecer, por exemplo, algo como o belo chute de bicicleta de Richarlison, contra a Sérvia, que encantou até quem não acompanha futebol e deu uma animação geral muito boba sobre o destino da Seleção Brasileira. Foi só a explosão de um acaso, que até o momento parece que foi inclusive do jogador.


É desse jeito que a coisa vai, mas no auto-engano cada otário se resolve com o que tem à mão. Teve até quem fizesse uma relação do lance de Richarlison com o famoso gol de Pelé, que inclusive virou uma marca gráfica do ganhador do tricampeonato. Mas é assim: a ilusão no futebol permite até achar que Gabigol pode se emparelhar historicamente com Zico — na verdade, Gabigol (ou, rá rá rá!, “Lil Gabi”) acha que está acima do Galinho.


O acaso poderia ter entrado no jogo de ontem, mas o destino da Seleção Brasileira permaneceria com o mesmo horizonte tenebroso que dificilmente conhecerá um tempo de estio até a próxima Copa do Mundo, simplesmente porque está tudo errado, lá de cima até embaixo da grama dos estádios.


Por causa da trágica gestão, já faz um tempo em que o ponto em que se toca sempre como solução é do craque que resolve tudo, uma expectativa besta que felizmente foi ficando para trás, afinal Neymar envelheceu caindo na grama e se lesionando enquanto foi enriquecendo sem salvar o escrete nacional. 


A ilusão do craque salvador é alimentada pelo noticiário esportivo. Serve para comentaristas desqualificados alimentarem semanas de conversa fiada, sem a necessidade de se aprofundar em um debate sério, que não serve para lacração e não é do gosto da cartolagem. Isso é também o que chamo de “síndrome do Pelé” (um problema sério para o Brasil em todos os setores), que acomete aos desinformados que falam da história do futebol, como se Pelé resolvesse tudo sozinho na Seleção Brasileira.


E o torcedor encara com realismo essa tragédia? Nada. O bruto liga a televisão e sofre. “Nunca foi tão desesperador”, chora a tigrada. O itinerário do torcedor de quem acompanha política é praticamente o mesmo. Comentaristas esportivos de qualidade — que existem, acredite — mostram como tudo está sendo organizado de forma errada, os elencos são fracos, não recebem bom treinamento nem estratégia que permita encarar o adversário com uma unidade no jogo.


A coisa está feia e de certo modo até humilhante. O mau estado do nosso futebol leva o brasileiro a ter mais interesse na próxima terça-feira, no Maracanã, em ver o time da Argentina com Messi do que a Seleção Brasileira.


Não me impressiono. Sabe-se que tudo está encaminhado de forma errada, mas estão sempre esperando um craque que resolva. Mas não é assim também na política? Em qualquer instância, das prefeituras ao governo federal e os parlamentos em todos os níveis, a tola esperança é de que a eleição de um craque venha a resolver os problemas, isso quando não se acredita que um craque vai tornar o Brasil numa potência.


E que a torcida brasileira não caia na falsa esperança de que o jogo vai melhorar. O torcedor e o eleitor brasileiro podem esperar muito chão pela frente, numa caminhada em que terão que suportar o domínio da cultura perna-de-pau instalada em nosso país. A gente sabe o que vai acontecer. Mas a tigrada tem razão: é desesperador.

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Por José Pires

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Israel encurrala o Hamas e avança para a segunda fase do contra-ataque ao terror

A imprensa errou demais desde o massacre de 7 de outubro, na invasão do Hamas ao território israelense, que levou ao contra-ataque de Israel, que segue até agora. Vergonhosamente, jornalistas caíram em engodos do grupo terrorista, sem encarar com o devido realismo — e desconfiança quanto à manipulações — o efeito colateral da violência sofrida por civis. Qualquer guerra contém esse risco, porém num embate com o Hamas é praticamente certo que civis sejam atingidos porque faz parte da estratégia dos terroristas o uso da população da Faixa de Gaza como escudos humanos. 


Esta é uma forma de inibir contra-ataques, além do uso posterior da dor de inocentes, para sensibilizar a opinião pública, expondo os cadáveres e feridos, sem obviamente esclarecer que as pessoas são obrigadas por eles a servir de alvos. Não havia como não saber disso, pois é jogada antiga de propaganda política. E os próprios líderes falam disso sem nenhum escrúpulo. A imprensa, porém, calou sobre esta manipulação espúria, ajudando os terroristas a jogar parte da opinião pública contra as verdadeiras vítimas: os israelenses.


Não havia passado nem uma semana do horroroso massacre para diversos órgãos de imprensa praticamente esquecerem da mortandade provocada pelo Hamas, com o fuzilamento de jovens pelas costas, torturas, espancamentos, mulheres estupradas, um horror de tal tamanho que o governo de Israel só um mês depois foi mostrar as cenas, muitas delas captadas por câmeras dos próprios terroristas mortos ou presos pelas Forças de Defesa de Israel.


Foi uma forma de abrir os olhos dos jornalistas, que faziam o mundo esquecer que o contra-ataque de Israel tinha como origem o horror de 7 de outubro. As exibições foram privadas. Jornalistas veteranos chegaram a chorar durante a apresentação, teve gente que não conseguiu assistir até o fim. 


Cheguei a ver algumas gravações do que fizeram com jovens no festival de música e os moradores de kibutizs que guardavam pacatamente um feriado religioso. Aparentemente as imagens foram espalhadas pelos próprios bandidos do Hamas na internet. Nunca imaginei que veria coisa pior do que já conhecia dos vídeos feitos pelas próprias facções criminosas do México para mostrar o que fazem com seus inimigos. Os terroristas islâmicos conseguiram suplantar o horror.


Havia outra opção para Israel que não fosse a de ir atrás dos assassinos e eliminar a capacidade militar do Hamas? Bem, só se fosse para entregar Israel como refém permanente do grupo terrorista que é bancado pelo Irã, uma ditadura teocrática atrasada e tremendamente feroz, que aboliu a liberdade dos iranianos e mata mulheres apenas porque uma mecha de cabelo aparece entre os panos do hijab obrigatório.


Ainda bem que as Forças de Defesa de Israel seguiram com a tarefa de pegar os terroristas e eliminar na fonte o perigo, uma missão que deveria ter sido encarada pela imprensa ao menos com realismo, sabendo fazer a separação moral, deixando visível as diferenças entre  uma democracia e uma organização terrorista que está entre as mais cruéis do fundamentalismo islâmico.


Mas as coisas estão andando, pelo menos até aqui, com prejuízo total para o terror. Hoje o ministro da Defesa de Israel informou que a zona Oeste da cidade de Gaza foi liberada, depois da parte norte ter sido tomada pelos militares israelenses. As forças israelenses conquistaram e eliminaram todas as ameaças terroristas do lado ocidental da cidade, disse o ministro Yoav Gallant, na tarde desta quinta-feira. A notícia é do The Jerusalem Post.


Os combatentes de Israel estão fazendo uma limpeza geral nos túneis onde terroristas se escondem. O jornal conta que debaixo de um hospital evacuado no norte de Gaza, os engenheiros do exército israelita encheram a passagem com gel explosivo e dispararam o detonador, “que explodiu tudo o que estavam esperando por nós no túnel”, conforme disse um oficial do Exército a repórteres.


Isso parece mostrar que os militares já têm o conhecimento sobre o exato ponto em que os terroristas estão com reféns. Uma imagem simbólica disso que estou falando é a foto de militares israelenses posando no parlamento do Hamas. 237 reféns, inclusive de gente que não é de Israel, estão nas mãos dos bandidos. É outra coisa que ficou encoberta nas coberturas jornalísticas.


O bunker e antiga residência de Ismail Haniyeh, chefe político do Hamas, em Gaza, também foi destruído. O local era usado como “infraestrutura terrorista e ponto de encontro para os principais líderes do Hamas”. Haniyeh é bilionário e atualmente mora em Doha, no Catar. Em Gaza, dezenas de lideranças do Hamas já foram mortas. A organização criminosa foi desmantelada. Os terroristas estão encurralados nos túneis, à espera do ajuste final.


Certamente não haverá descanso, até que todos paguem pelo que fizeram, mesmo os que se escondem em países amigos do terror. Israel trouxe uma forma objetiva e determinada de lidar com o terrorismo. Esta é uma parte interessante do que está acontecendo, que certamente os terroristas não esperavam.


É total o controle das FDI sobre o território antes dominado pelos terroristas, que a imprensa alardeava como inexpugnável. Pelo menos até agora, esta foi outra avaliação errada de certos jornalistas. Combatentes israelenses aparecem em vídeos em vários lugares, inspecionando instalações que eram usadas pelos Hamas em hospitais, escolas e em outras edificações civis, o que mostra o controle militar sobre a cidade.


Israel entra agora na segunda fase do contra-ataque ao terror, numa guerra que devia ter sido apoiada por qualquer um com senso de humanidade e mesmo de bom senso. Afinal, o projeto de poder do Hamas, que só existe sob a chefia do governo do Irã, não se restringe à Faixa de Gaza. É um plano de longo prazo, de domínio global, com a imposição de uma religiosidade autoritária e retrógrada, contrária à liberdade do indivíduo, com um foco especial na submissão das mulheres.

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Por José Pires

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Os encontros do crime organizado com a equipe de Flávio Dino no Ministério da Justiça

O governo Lula tem escândalos que permitem optar entre duas conclusões: são incompetentes ou cúmplices. Está bem, pode acontecer de ser as duas coisas. Os assessores do ministro da Justiça, Flávio Dino, receberam no ministério uma integrante do Comando Vermelho. Luciane Barbosa Farias foi condenada em segunda instância por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. É conhecida como “dama do tráfico amazonense”. Pegou dez anos de cadeia, mas recorre em liberdade. O governo que a recebeu em reunião tem como líder máximo aquela notória figura que saiu da cadeia depois da prisão em segunda instância ter sido derrubada, após insistência na mais alta corte do judiciário brasileiro. Já avisei várias vezes que a aliviada seria obrigatoriamente geral, para todo tipo de criminoso.


A reunião no Ministério da Justiça foi revelada pelo jornal "O Estado de S.Paulo". A dama do tráfico amazonense esteve em duas ocasiões com secretários do ministro. Seu nome não foi registrado na agenda oficial. Luciane esteve também no Ministério dos Direitos Humanos, de Silvio Almeida. No ministério de Dino, ela esteve em março com Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos. Ela também se reuniu com a diretora da Ouvidoria Nacional de Serviços Penais (Onasp), Paula Cristina da Silva Godoy, e com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), além de Sandro Abel Sousa Barradas, diretor de Inteligência Penitenciária da Senappen.


Em Brasília, a partir do encontro com o secretário Nacional de Assuntos Legislativos, Luciane foi encaminhada para a Secretaria Nacional de Políticas Penais. Ela pedia melhorias nas condições dos presos. Uma reivindicação recorrente dessas Ongs é a do fim do que chamam de “vistorias vexatórias”, que é o rigor nas revistas, necessário para evitar um leva-e-traz de ordens de lideranças do crime. 


A amenização do rigor no sistema penitenciário tem um histórico de apoios organizados da esquerda. Na penalização de crimes e no cumprimento de penas a esquerda brasileira tem uma forte tendência de usar a política para amenizar o rigor da lei. Ao mesmo tempo que gritava pelo esclarecimento do assassinato da vereadora Marielle, na Câmara dos Deputados o Psol manobrava para derrubar projetos de lei contra o crime organizado. E enquanto passam pano para bandidos, vão estendendo a impunidade — à jato, vale o trocadilho — na leveza ao tratamento da corrupção. Ninguém mais vai preso por roubar os cofres públicos.


O ministro Dino já disse que não sabia de nada da reunião de seus secretários com a sentenciada. Com esta alegação, apenas repete o chefe. O sabichão nunca sabe de nada. Lula não sabe nem como foi que Janja chegou um dia de sapatinhos de cristal e sua carruagem de abóboras no acampamento petista em volta da Polícia Federal, onde ele estava preso em Curitiba, disse-lhe “namastê”, ele se encantou e a convidou para viajarem de mãos dadas pelo mundo. 


Em nota explicativa, o Ministério da Justiça se refere à Luciane Barbosa Farias como “cidadã”. Pois bem, a cidadã é esposa de Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, líder da facção criminosa Comando Vermelho no Amazonas. Ele foi condenado a 30 anos de prisão, mas nunca se sabe até quando ficará na cadeia. O mesmo andamento judicial que soltou Lula costuma liberar de uma hora para outra lideranças do crime organizado. E mesmo quando algum ministro resolve consertar o “erro”, anulando a soltura, o ingrato não volta mais.


No governo Lula se preocupam unicamente com o estrago político causado pela reunião, quando se sabe, ou se devia saber, que deve-se evitar o contato com gente de periculosidade tão alta por causa das implicações perigosas que esta relação pode trazer. Calma, ninguém vai atirar no ministro Dino. Ele tem o escudo do Capitão América. Mas é preciso se cuidar.


Claro que faço o alerta sobre autoridades empenhadas na luta contra o crime. Se não houver este foco no combate a criminosos dispensa-se o zelo de perguntar com quem se tem o prazer de conversar nos amigáveis gabinetes de Brasília.


Serão amadores no ramo? Dino, conforme ele mesmo disse, é o “Capitão América”, então não tem o que temer. Porém, qualquer cidadão de menor conhecimento técnico que vive em bairro dominado por alguma facção ou mesmo alguns bandidinhos sabe que com sujeitos armados não se deve ter intimidade. Reunião que pode criar ligações, digamos, psicológicas, ministro Dino, nem pensar. 


Mas o ministério do Dino vê a coisa de outro modo. Para o ministério, era impossível o setor de inteligência da pasta detectar previamente a presença da dama do tráfico amazonense. Isso significa que nas reuniões com altas autoridades do Ministério da Justiça entra qualquer um — Olha o escudo, Dino: pode entrar um vilão que não é companheiro. Já o Estadão destaca, com razão, que “a falta de controle pode representar um risco para os servidores”. Os honestos, cabe dizer.


É óbvio que não foi recentemente que Luciane Barbosa Farias ficou conhecida como “dama do tráfico amazonense”. Antes de ser preso em dezembro do ano passado, seu marido Clemilson dos Santos Farias, conhecido como “Tio Patinhas”, era considerado o “criminoso número um” entre os procurados pela polícia do Amazonas. Segundo a polícia, de 2012 para cá o casal enriqueceu com o dinheiro do tráfico de drogas. 


Uma dica boa de segurança para Dino é que ele deveria dar uma pesquisada antes de abrir as portas do ministério para visitas. Sem querer desmerecer a sapiência dele, que é tido como o ministro mais esperto de Lula, que já deu bronca até no Mossad, organismo de inteligência e ação militar do governo de Israel famoso no mundo todo, além de ser capaz de enfrentar, no mesmo nível, oponentes como o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira. Dino é o cara. 


Deve ter alguém no ministério que saiba percorrer os organismos de Estado, da segurança e das diversas polícias, para dar uma conferida no elemento que bate à porta. Uma simples busca no Google já traz a capivara gritando. Uma clicada no lugar certo e lá vem um processo por “tráfico de drogas e condutas afins”, com Luciane Barbosa Farias como ré.


É só uma dica. Creio que até na equipe do ministro Dino encontrem com relativa facilidade algo sobre uma pessoa denominada “dama do tráfico”, que além disso estaria presa se o PT não derrubasse a prisão em segunda instância. Pode evitar “erros”, como já estão chamando o encontro suspeito.


A coisa já está pronta para ser abafada. Com o apoio do silêncio que virá de parte da imprensa, totalmente domada com verbas públicas. Se em outro governo acontecesse muito menos do que estamos vendo, os petistas já teriam pedido a demissão do ministro. Em certos casos, colocariam para gritar nas ruas seus puxadinhos políticos e sindicais e as organizações fajutas. 


Agora, a oposição ao governo petista já pede a saída de Dino. Já tem até pedido de impeachment. Está havendo também um debate nas redes sociais, porém os brasileiros estão desgastados até a alma. Nem fazer piada está ajudando mais a amenizar o desgosto. A esperança é quase nenhuma, até porque para resolver alguma coisa é necessário existir algo melhor como substituição. 


No entanto, o escândalo terá ao menos um efeito. Provavelmente se saberá menos de encontros de altas autoridades de Brasília com figuras do crime organizado, embora o motivo não seja pelas portas não mais estarem abertas.

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Por José Pires