quarta-feira, 27 de maio de 2020

Fake news: o inquérito do STF pode chegar até a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro

Complicações muito sérias podem às vezes surgir de modo inesperado. Os bolsonaristas aprontaram bastante durante a campanha eleitoral, com mentiras e ataques desonestos aos adversários, abusando do uso de notícias falsas e manipulações absolutamente imorais e até criminosas, tomando gosto depois pela coisa.

Tanto é que após a eleição de Jair Bolsonaro não conseguiram parar com o emporcalhamento das redes sociais e o uso da comunicação como meio de pressão contra quem não atendesse aos interesses do bolsonarismo. Foi neste embalo que chegaram aos ataques contra ministros do STF.

Pois este exagerado método de tentar obter tudo por meio de pressão teve um efeito reverso, levando a um inquérito que pode mergulhar na movimentação da onda que levou Bolsonaro ao poder, um impulso que sabe-se que exigiu águas muito sujas, mas que até agora não era possível investigar.

Pois no inquérito do STF que investiga as fake news, o ministro Alexandre de Moraes determinou a quebra de sigilos bancário e fiscal de Luciano Hang, o empresário bolsonarista dono das Lojas Havan.

A mesma medida será aplicada a Edgard Corona, dono da maior rede de academias de ginástica da América do Sul, a Smart Fit, além de Reynaldo Bianchi Junior e Winston Rodrigues Lima.

A quebra de sigilos bancário e fiscal vale para o período de julho de 2018 a abril deste ano, que acaba pegando parte fundamental da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro à Presidência. É provável que a investigação avance por onde não se esperava, alcançando resultados muito além do objetivo do inquérito.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

O inquérito das fake news avança sobre blogueiros governistas, deputados e empresários bolsonaristas

Blogueiros bolsonaristas, políticos e empresários ligados ao presidente Jair Bolsonaro acordaram nesta quarta-feira com a Polícia Federal na porta. Eles foram visitados pela polícia em busca de provas no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura produção de notícias falsas e ameaças à Corte, o chamado “inquérito das Fake News”. As ordens judiciais assinadas pelo ministro Alexandre de Moraes foram cumpridas no Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Santa Catarina e Paraná.

Entre os alvos estão o blogueiro Allan dos Santos, figura destacada da agitação governista, além de Sara Winter, militante bolsonarista que ultimamente chamou a atenção com a organização de um acampamento em frente ao Congresso Nacional, com cerca de duas dezenas de barracas de um modelo vendido nas lojas Havan, de Luciano Hang. Sara Winter, cujo nome verdadeiro é Sara Geromini, já foi da equipe da ministra Damares Alves.

O grupo de Sara Winter ou Geromini lançou um manifesto que fala em “tomar o poder para o povo”. Recentemente, em discussão pelo Twitter a militante direitista apontou como mentor de suas ações Olavo de Carvalho, o guru do presidente Jair Bolsonaro. “Quem me pediu pra fazer tudo isso foi o professor Olavo”, escreveu.

Blogs e sites bolsonaristas criadores e distribuidores de notícias falsas vem tendo o financiamento do governo de Jair Bolsonaro, por meio de publicidade de estatais. Suspeita-se também que exista um financiamento feito por empresários governistas, com apoio financeiro também para youtubers que defendem Bolsonaro e atacam a oposição. Desse modo, o governo bolsonaro repete exatamente o que o PT fez quando esteve no poder.

Em recente apuração sobre financiamento de um site bolsonarista, o TCU revelou que o Banco do Brasil gastou no ano passado 119 milhões de reais na internet. O Banco do Brasil chegou a retirar a publicidade de um blog bolsonarista que espalha fake news, mas voltou a anunciar depois de reclamação feita por Carlos Bolsonaro.

A operação desta quarta-feira também teve como alvos o ex-deputado federal Roberto Jefferson, o empresário Luciano Hang, da Havan, e Edgard Corona, dono da maior rede de academias de ginástica da América do Sul, a Smart Fit.

O inquérito das fake news é uma das grandes complicações de Jair Bolsonaro e teria sido um dos motivos da sua tentativa de interferência na Polícia Federal, que provocou a demissão de Sergio Moro. Segundo o colunista Merval Pereira, de O Globo, Bolsonaro se preocupa muito com esta investigação porque o inquérito “de 10 a 12 deputados bolsonaristas, mais empresários”.

Além da operação policial desta manhã, o ministro Alexandre de Moraes determinou que deputados bolsonaristas prestem depoimento à PF. Serão ouvidos os deputados federais Filipe Barros, Bia Kicis, Carla Zambelli, Luiz Phillipe Orleans e Bragança, Daniel Silveira e também os deputados estaduais Cabo Junio Amaral, Douglas Garcia e Gidelvanio Santos Diniz.

A rede bolsonarista na internet naturalmente já se levantou contra a ação da polícia, com violentos ataques ao ministro Alexandre de Moraes. Deputados bolsonaristas alvos do inquérito também estão reclamando. No Paraná, o deputado Filipe Barros, que na sua conta do Twitter se apresenta como “Deputado Federal eleito por Jair Bolsonaro”, ficou indignado com a operação da PF. Ele usou o Twitter para um apelo às massas. “É mais que oficial: vivemos uma ditadura do STF”, ele escreveu. “Só o povo na rua pode detê-la”.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

terça-feira, 26 de maio de 2020

O bolsonarismo e seu estranho amor pelo ex-ministro Nelson Teich

Um acontecimento surpreendente nos últimos dias foi o surgimento de um clima de exaltação ao ex-ministro Nelson Teich nas redes sociais entre os bolsonaristas, que repassam em grande animação trechos de vídeo em que o médico dá respostas atravessadas em uma entrevista concedida a um programa da Globo News.  Não é desse jeito que seguidores de Bolsonaro costumam tratar quem sai do governo, porém não acho que este tratamento diferente vá fazer bem a ele.

Como não podia deixar de ser, os bolsonaristas gostaram de momentos em que Teich é extremamente grosseiro nas respostas a questionamentos feitos por colegas e jornalistas. O médico que ficou menos de um mês como ministro da saúde no governo Bolsonaro tem dificuldade de compreender que está em destaque na pauta jornalística apenas porque esteve neste cargo.

Não tivemos tempo para conhecer a personalidade de Teich durante seus poucos dias como ministro, mas nesta entrevista à Globo News deu para notar como ele é chucro. Mas deixemos para lá este seu lado comportamental. Ele deve ter mesmo dificuldades sérias de compreensão de papéis sociais ou não firmaria uma parceria com Bolsonaro imaginando ser possível um trabalho de qualidade ao lado desse presidente.

Embora no geral tenha exposto opiniões equilibradas durante a participação no programa de entrevistas, o ex-ministro também deu o pior de si, que é exatamente o que vem sendo destacado pelo bolsonarismo, afinal é do pior que eles gostam.

O problema é que com isso ele deixou de firmar uma discordância profissional com as atitudes irresponsáveis e perigosas do presidente Bolsonaro, que encaminha o país para uma catástrofe sanitária.

A partir de algumas respostas grosseiras, Teich virou ídolo do momento do bolsonarismo nas redes sociais. E isso não é nada bom de constar no currículo qualquer um, muito menos de um médico.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Bolsonaro, o presidente negacionista que afundou o país

O Brasil caminha a passos largos para tornar-se um país isolado internacionalmente, em um mundo que exige condução totalmente diferente do que se fez até a explosão internacional da crise do coronavírus. Até agora Jair Bolsonaro e sua equipe de alucinados não entenderam como tudo mudou depois do Covid-19. A capacidade de lidar com o combate ao coronavírus pesa na integridade física de cada nação e também influirá e muito no futuro de seu povo. Somos observados com rigor, do mesmo modo que aqui, do Brasil, olhamos para os outros países tendo como foco obrigatório esta crise sanitária.

O governo Bolsonaro já perdeu o respeito internacional a partir da estúpida desumanidade do presidente, mas sua credibilidade também desce até a sarjeta quando se observa suas ações práticas. Na reunião de 22 de abril a crise do coronavírus não esteve na pauta de discussão, a não ser na sugestão do uso da mortandade para fazer “passar a boiada”, conforme o espantoso senso de oportunidade do ministro Ricardo Salles, dizendo que o governo tira proveito do desespero causado pelo Covid-19 para eliminar leis e regulamentos de proteção ao meio ambiente, aproveitando que os brasileiros estão concentrados na enorme quantidade de contaminados e mortos.

Já o chamado Posto Ipiranga de Bolsonaro, o inacreditável ministro Paulo Guedes, que levou quase duas semanas para ser convencido por membros de sua equipe, ainda em março, que a proliferação do vírus pelo mundo e sua chegada ao Brasil exigiam uma política econômica diferente do mero enxugamento de gastos. Na espantosa reunião em que Bolsonaro lançou raivosamente perdigotos em todos o colegas de governo, Guedes apareceu com a proposta da liberação de cassinos, como sendo um grande impulso para a economia.

Bem, a forma de trabalho que se viu nesta reunião nem dando seus resultados, como o fechamento dos Estados Unidos ao Brasil, anunciado ontem pelo governo americano. Vários outros sinais do descrédito desse governo adoidado de Bolsonaro podem ser observados, além de que é provável que outros países também fechem as portas, depois de Donald Trump ter apontado várias vezes o Brasil como um risco sanitário e finalmente decretando o país como um lugar infectado.

São vários os sinais de sérias complicações internacionais para o Brasil. Nesta segunda-feira o tradicional jornal britânico The Telegraph publicou uma matéria sobre Jair Bolsonaro e seu governo, com o título “O homem que quebrou o Brasil”. No centro da classificação de Bolsonaro pelo jornal britânico está o monstruoso perfil pessoal e político do nosso negacionista. O relato do jornal é trágico, de um governo em implosão política e um país com um vírus fora de controle. Segundo o The Telegraph, o Brasil é hoje considerado “o novo epicentro da pandemia, registrando médias mais altas do que em qualquer outro lugar do mundo”.

É enorme o impacto negativo de reportagens como estas para o governo Bolsonaro. E esta tem sido a tônica do tratamento que a imprensa internacional vem dando à situação atual do Brasil, principalmente depois das atitudes lamentáveis do presidente em meio à dramática crise do coronavírus e os sérios problemas políticos que já fazem parte do cotidiano e que envolvem toda sua família, com suspeitas inclusive de ligação com milícias paramilitares.  O jornal americano The Washington Post já chegou a chamar Bolsonaro de “pior presidente do mundo”, por causa da sua posição quanto ao Covid-19.

Outros jornais importantes também fizeram críticas a este comportamento condenável. Em editorial publicado no final do mês passado, o jornal Financial Times, também da Inglaterra, reconhecido como uma das publicações econômicas mais influentes no mundo, relacionava Bolsonaro ao que seus antecessores fizeram de ruim, classificando o atual presidente como parte de um “circo de horrores”. Para o diário britânico, o Brasil vive uma crise tripla, na saúde, na economia e na política. O jornal também usou a imagem do médico e o monstro, ressaltando que com a crise do Covid-19, a faceta de monstro tomou a gestão Bolsonaro.

O editorial trazia o título “A autodestruição do Trump tropical”, falando inclusive da demissão de Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro, dois ministros importantes que saiam em momentos delicados. Até então, segundo o jornal, havia uma tolerância de elites econômicas em relação ao governo brasileiro, sustentadas na confiança em Paulo Guedes, ainda conforme o Financial Times, considerado um “adulto na sala”. Bem, como o mundo viu no vídeo liberado pelo STF, o ministro da Economia revelou-se como um dos piores da turma da balbúrdia no fundo da sala.

Ainda mais grave para o governo Bolsonaro é que essas publicações são de veículos que, como se diz, estão todos os dias na mesa de dirigentes importantes do mundo todo, tanto os poderosos da política quanto os da iniciativa privada. E qualificá-los como “esquerdistas” servirá apenas para fake news muito bobocas, compartilhados por idiotas manipulados. A maioria é conservadora, sendo uns poucos de posição liberal, claro que não de um liberalismo como o de Paulo Guedes e tipos parecidos, “liberais” que mesmo hoje, em pleno século 21, ainda estão em busca de um Pinochet para chamar de seu.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

domingo, 24 de maio de 2020

Donaldo Trump fecha os Estados Unidos ao Brasil

Os Estados Unidos vão fechar as portas para o Brasil. O governo americano anunciou neste domingo que a partir do próximo dia 29 irão barrar a entrada de pessoas vindas do Brasil por causa da pandemia do novo coronavírus. O decreto de Trump impede a entrada de estrangeiros que tenham passado 14 dias no Brasil.

Já faz algum tempo que Trump vem falando da situação do Brasil frente ao coronavírus, apontando erros na condução do enfrentamento do problema. No final do mês passado, ele afirmava estar preocupado com o crescimento da contaminação em nosso país. “No Brasil, o número de casos é muito, muito alto”, ele disse em uma entrevista. “Se você olhar os gráficos, quase todos apontam para o alto”.

Na semana passada, Trump já avaliava proibir voos do Brasil aos Estados Unidos. “Não quero que as pessoas venham aqui e infectem o nosso povo”, ele avisou. Agora, finalmente aplicará a medida, que deve prejudicar bastante o Brasil, mesmo porque é muito provável que outros países sigam o exemplo dos Estado Unidos, selando a imagem brasileira como um país infectado.

E não tem como deixar de dar razão para qualquer governo estrangeiro que não aceite mais contacto com gente do Brasil durante a pandemia. Com a irresponsabilidade criminosa do presidente Jair Bolsonaro em relação ao combate ao coronavírus, nosso país foi criando a imagem internacional de um país que está tendo pouco cuidado com esta doença durante a maior crise sanitária mundial em décadas.

Bolsonaro vem se esbaldando, nas suas provocações irresponsáveis no meio de uma pandemia que preocupa governantes de todo o mundo. Por isso, em relação ao coronavírus até já foi chamado em editorial pelo jornal The Washington Post de “o pior presidente do mundo”. Neste domingo, ele saiu por Brasília provocando aglomerações e ainda levou junto o ministro interino da Saúde. Este sujeito sem noção — o pior presidente que este país já teve — faz isso sem se dar conta de consequências como esta porta na cara, dada por Trump.

O preço pode ser muito alto com esta imposição de distanciamento, que como eu disse, pode ser agravada com outros países tomando a mesma medida. Bolsonaro sabotou o esforço de governadores e prefeitos, que mais conscientes dos riscos se empenham para um controle da contaminação e a diminuição no número de mortes, procurando até mesmo jogar contra eles a população.

>O presidente mais que brinca com o perigo: ele também zomba da dor de milhares de brasileiros que perdem entes queridos, na condição desesperadora causada por uma doença que não permite nem que se chegue perto dos que sofrem.

O resultado foi uma assustadora quantidade de contaminação e mortes pelo Covid-19, com pelo menos mil óbitos por dia, sem que até agora se tenha qualquer prenúncio da tão esperada curva. O Brasil já é o segundo país no mundo em número de contaminados, atrás apenas dos Estados Unidos, que agora nos fecha as portas.

Desde o início das contaminações e mortes, Bolsonaro age como um desequilibrado, criando aglomerações, espalhando desinformações e ataques contra a necessidade do isolamento social. Pois o Brasil vai entrando agora internacionalmente em um isolamento compulsório.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

sábado, 23 de maio de 2020

Governo Bolsonaro: uma reunião de desatinos, grosseria e irresponsabilidade

Uma reação até engraçada que pode ser observada entre manifestações de contentamento de bolsonaristas com o que trouxe a gravação da reunião de 22 de abril é a tentativa de minimizar aquele espetáculo de desumanidade e grosseria usando a expressão “a montanha pariu um rato”. De fato, em tempos de pandemia, a expressão faz sentido. Eu só apontaria o aspecto plural do problema: na verdade a montanha pariu muitos ratos.

A reunião de governo dirigida por uma das figuras mais espantosamente estúpidas já surgidas na política brasileira, este inacreditável presidente da República que é Bolsonaro, seria inaceitável do ponto de vista institucional nem que fosse apenas pelo tom abjeto de conversa de boteco sórdido dominando o que deveria ser uma reunião de trabalho, pelo comportamento condenável de um grupo político — porque Bolsonaro é apenas isso: chefe de um grupo — que transforma o Palácio do Planalto em um ambiente dominado pela grosseria e o mandonismo mais lamentável que poderia ser assistido em uma democracia. Bolsonaro agride a própria institucionalidade do cargo, mas isso não surpreende em um autocrata destrambelhado.

É patente na reunião o total descompromisso com a vida dos brasileiros, ressaltado pela preocupação exclusiva de Bolsonaro com o interesse pessoal e da família, com um claro desprezo pelos compromissos institucionais. A condução do que deveria ser um encontro de trabalho é conduzido com o estilo de um “duce”. E não estou aqui situando Bolsonaro como um fascista, que lhe falta suporte doutrinário para isso, ainda que tenha revelado que, ao contrário do que dizia, sua obsessão pelo armamentismo não é para a proteção contra bandidos, mas para o uso no ataque a poderes legais. Espera-se que não esteja planejando fazer isso de forma paramilitar.

O governo Bolsonaro é conduzido na primeira pessoa, com uma abertura apenas para a própria família e “amigos”. O chefe tem até um “sistema particular” de informações, uma confissão que parece confirmar que está em andamento a “ABIN paralela”, denunciada pelo ex-ministro bolsonarista Gustavo Bebbiano, em entrevista ao programa Roda Viva em março, onze dias antes de morrer — também nesta entrevista, Bebbiano confirmou a existência de um gabinete do ódio, montado no Palácio do Planalto.

O tal gabinete, formado para espalhar desinformação, investigar a vida de adversários e atacar as pessoas, já havia sido denunciado por outra colaboradora próxima de Bolsonaro, a deputada Joice Hasselmann, hoje rompida com o presidente. A gravação desta reunião mostra que o ódio não se restringe a um gabinete: é uma política de governo.

O interessante da liberação desse retrato dos bastidores do governo é que as descobertas foram além do objetivo jurídico do material, de servir como prova do inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal. Quanto a isso, ficou tudo confirmado pelas palavras de Bolsonaro na reunião, além de que, do ponto de vista jurídico e político, a intenção de interferir já foi confirmada por ele em conversas com servidores e nas suas lives, além do objetivo ter sido confirmado por ações práticas, como transferências e demissões.

No entanto, o horror se sobrepõe aos crimes de responsabilidade quando o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, levanta a necessidade do governo tirar proveito desse momento em que a população está focada no combate ao coronavírus e fazer avançar pautas de desregulamentação, como ele disse, “porque só fala de COVID, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”.

Este negócio de “ir passando a boiada” enquanto o povo está distraído já está estabelecido como política de governo. A pandemia entra de forma natural neste caso, mas desde que assumiu, Bolsonaro vem procurando desmontar leis e regulamentos do país de modo a facilitar a aplicação de propostas absurdas que desestruturam tecnicamente a máquina pública, alteram controles essenciais da economia e da defesa do patrimônio público, avançando de modo destrutivo sobre valores profissionais e de mercado, direitos de populações indígenas, da preservação do meio ambiente.

E que se cuide quem pensa que essas mudanças pretendidas estão focadas em um rearranjo mais apropriado das relações de trabalho, na desburocratização como forma de impulsionar o desenvolvimento seja no meio urbano ou no campo. Como se pode ver por esta reunião do dia 22 de abril, “ir passando a boiada” foi a única proposta prática em relação a uma pandemia que, no dia da reunião de 22 de abril registrava 2.906 mortes no Brasil. Apenas um mês depois, nesta sexta-feira, o número de mortes já chegou a 21.048, com pelo menos mil óbitos ocorrendo a cada dia.

Nessa política de ir “passando a boiada” o governo Bolsonaro cuida inclusive da criação de formas de impedir que a população se concentre no que realmente importa, desviando a atenção dos brasileiros com fake news e conflitos de araque, armados apenas para que não se perceba o maléfico projeto de poder que vai se instalando, com benefícios milionários para uma casta de privilegiados. Um exemplo do que vai passando com esta boiada é a abertura de cassinos no Brasil, que tem como articulador o senador Flavio Bolsonaro, que obviamente está fazendo isso a mando de seu pai e cujos lucros certamente também ficarão em família.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Celso de Mello libera vídeo da reunião ministerial do governo Bolsonaro

O ministro Celso de Mello liberou na íntegra a gravação em vídeo da reunião ministerial do governo de Jair Bolsonaro. A única restrição foi a trechos específicos com referência a dois países com os quais o Brasil mantém relação diplomática. Um deles é claro que é a China, país insultado tanto por Bolsonaro quanto por ministros, com falas específicas sobre o coronavírus, chamados por eles de “comunavírus”, conforme todos sabem.

O governo chinês também sabe do que se trata e quanto a isso provavelmente fará uso mais a frente de retaliações contra um governo que quer tachar a China como o país que infectou o mundo.

Celso de Mello aproveitou a decisão para em seu preâmbulo dar uma aula — breve mas muito boa — a respeito do cumprimento de decisões judiciais. Além de servir como estudo, certamente pode ser vista como uma resposta ao ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, que em nota emitida nesta sexta-feira afirma que um pedido encaminhado à apreciação da Procuradoria-geral da República, se acatado, “poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.

Na ótima exposição sobre o respeito à Justiça, a qual devemos nos sujeitar, conforme citação do ministro de uma frase de Cícero. “Somos servos da lei, para que possamos ser livres”, disse o filósofo, “grande tribuno, político, Advogado, Senador e Cônsul da República romana”, nas palabras do juiz do STF.

Para sustentar sua visão, Celso de Mello cita também Alexander Hamilton. O federalista da independência dos Estados Unidos deve ser um dos nomes mais procurados hoje em dia na internet, pois foi também largamente citado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, em artigo publicado há poucos dias no Estadão e objeto de muita discussão, até porque pareceu a alguns que trazia um recado autoritário. Claro que a referência, digamos cruzada, também não é à toa.

No início da decisão, fazendo referência a Alexander Hamilton, o ministro do supremo elogia Jair Bolsonaro, de uma forma que também me pareceu um recado geral e até meio irônico. Bolsonaro é elogiado pelo cumprimento da ordem judicial que pediu a entrega da gravação, agora liberada com toda a transparência a todos os brasileiros.

Vejam o que Celso de Mello escreveu:

“O Senhor Presidente da República, certamente atento à lição histórica de Alexander Hamilton, e mostrando-se fiel servidor da Constituição Federal, cumpriu ordem judicial emanada desta Corte e apresentou ao Supremo Tribunal Federal, por intermédio do eminente Senhor Advogado-Geral da União, a gravação que lhe havia sido requisitada (HD externo/número de série NA88DDP3, patrimônio da Presidência da República nº 195.1992). Vale assinalar que o Senhor Chefe do Poder Executivo da União, ao assim proceder, submeteu-se, como qualquer autoridade pública ou cidadão deste País, à determinação que lhe foi dirigida pelo Poder Judiciário, cujas decisões – como todos sabemos – devem ser fielmente atendidas por aqueles a quem elas se dirigem, cabendo observar, neste ponto, por relevante, que eventual inconformismo com ordens judiciais confere a seus destinatários o direito de impugná-las mediante recursos pertinentes, jamais se legitimando, contudo, a sua transgressão, especialmente em face do que prevê o art. 85, inciso VII, da Constituição Federal, que define como crime de responsabilidade o ato presidencial que atentar contra “o cumprimento das leis e das decisões judiciais” (grifei).”

Para quem tiver o interesse em ler na íntegra a decisão de Celso de Mello, deixo aqui o link. Aconselho a leitura.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


O bolsonarismo vai pro ataque na tentativa de se defender do desastre causado por eles mesmos

Bolsonaristas estão atacando com ferocidade o ministro Celso de Mello, do STF, em uma ação concentrada, que vai de Olavo de Carvalho ao deputado Marcos Feliciano, claro que com a participação de seguidores e ainda mais ativa com os milhares de robôs. A máquina bolsonarista é turbinada artificialmente para parecer espontânea. O ministro mandou para a análise da Procuradoria-geral da República três notícias-crimes contra Jair Bolsonaro apresentadas por PV, PDT e PSB. Os partidos pedem o depoimento do presidente, a busca e apreensão dos celulares dele e de seu filho Carlos Bolsonaro, para passarem por uma perícia.

O bolsonarismo têm bons motivos para odiar o decano do STF. Relator do inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal, ele tem dado à investigação uma velocidade desconcertante para os governistas. Provavelmente podem surgir provas que sirvam a outro inquérito que perturba o sono de bolsonaristas, este a cargo do ministro Alexandre de Moraes, que vem trabalhando no chamado “inquérito das fake news”.

De qualquer modo, os inquéritos se cruzam, já que pelo que até agora se sabe dos casos que levaram a abertura de cada inquérito, os métodos empregados indicam que existe um comando central das patifarias que incomodaram os juízes do supremo, que não estão preocupados apenas com fake news espalhadas pelas redes sociais por robôs e idiotas úteis que servem a um projeto de poder de uma malignidade rara em nossa história política.

Esta direita desequilibrada ultrapassou limites, com uma afobação que não permitiu que eles notassem que ainda não haviam adquirido força suficiente para avançar na ousadia criminosa que alertou o STF do perigo para a democracia. Um exemplo prático sobre a dimensão desse risco está na pressão que vem enfrentando o  empresário Paulo Marinho, que foi um dos principais apoiadores da campanha presidencial de Jair Bolsonaro. Na semana passada ele denunciou o vazamento da Operação Furna da Onça, da Política Federal, para Flávio Bolsonaro, filho do presidente.

Marinho sofreu ameaças de morte e teve que pedir proteção policial, além de ter tido indícios de que contas bancárias suas no Bradesco e no Banco do Brasil foram acessadas ilegalmente. Segundo a revista digital Crusoé, o empresário sofre também uma devassa em seus negócios, inclusive com a busca de informações “sobre as circunstâncias em que um apartamento de luxo na Fisher Island, em Miami, foi transferido para uma empresa ligada à mulher dele”. Segundo a revista, ex-amigos do empresário ajudaram a reunir as informações.

As linhas de investigação fatalmente devem se juntar nos inquéritos do STF, em outras investigações que podem surgir mais a frente ou mesmo com descobertas feitas pela imprensa, como aconteceu com as revelações de Paulo Marinho, que surgiram em matéria da Folha de S. Paulo, com a denúncia de que um mês antes da eleição de primeiro turno Flávio Bolsonaro foi avisado por delegado da PF sobre investigação na qual ele seria alvo e que atingiriam a campanha presidencial de Jair Bolsonaro.

Ministros do supremo já tiveram parentes ameaçados e eles próprios já denunciaram que foram alvos de invasão de privacidade, intromissões ilegais que atingem também jornalistas e políticos que fazem oposição a Bolsonaro. Claro que com o clima de conturbação criado pelo presidente e seus seguidores surgem ameaças vindas de malucos que não configuram ameaça real. No entanto, aloprados criando confusão e compartilhando fake news é o que menos preocupa. O que de fato é muito perigoso está mais acima, nos organizadores que estão por detrás de graves ameaças à democracia no Brasil.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O direito de ver o vídeo de 22 de abril: libera tudo, ministro Celso de Mello

O ministro Celso de Mello já tem pronto seu voto sobre o sigilo do vídeo com a gravação da reunião ministerial de 22 de abril, a mais famosa reunião de trabalho do governo de Jair Bolsonaro, quando segundo Sergio Moro o presidente ameaçou intervir politicamente na Polícia Federal.

O ministro do STF disse que anuncia sua decisão nesta quinta-feira ou amanhã. Não importa o dia: a gente espera. O mais importante é que a liberação seja na íntegra. Segundo o que se diz, Celso de Mello ficou chocado com o que viu. Bem, nós também queremos ficar chocados.

Acho até que isso é um direito de todo cidadão. Como a nossa Constituição tem de tudo, podia até constar nela um artigo que garantisse a liberação na íntegra de vídeos como esse. Todo brasileiro tem o direito de se chocar com reuniões ministeriais do governo federal. E revogam-se as disposições em contrário.
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POR José Pires

O dramalhão de Regina Duarte e os rombos bolsonaristas na cultura brasileira

Que triste carreira Regina Duarte vem fazendo no governo de Jair Bolsonaro. Como é que uma artista pode jogar no lixo desse jeito décadas de construção de um prestígio que fez dela uma das personalidades mais marcantes da história da televisão brasileira?

Regina ficou apenas 78 dias na Secretaria da Cultura, nos quais não conseguiu nem formar uma equipe. Entrou com a promessa de carta branca e saiu com um bilhete azul disfarçado de transferência para outro cargo. Foi despachada pelo presidente para a Cinemateca Brasileira, onde eu já disse que dificilmente poderia durar muito tempo.

Pois até para assumir o cargo enfrentará dificuldades jurídicas, criadas pela falta de efetividade desse governo em qualquer área. Mas tem mais. Com o anúncio da transferência da atriz a imprensa foi atrás do assunto e descobriu problemas graves na Cinemateca, que está abandonada pelo governo. A instituição que existe para cuidar da memória do cinema brasileiro está próxima da falência.

Seus custos de manutenção são de quase R$ 13 milhões por ano e o governo Bolsonaro descumpre o compromisso financeiro. Em 2019 foram repassados pelo governo apenas R$ 7 milhões. Nenhum real foi pago este ano, o que obrigou a Fundação Roquette Pinto a colocar R$ 10 milhões de seu próprio orçamento para evitar o colapso.

Cabe lembrar que a instituição que deve zelar por uma memória essencial para a cultura brasileira sofreu um grave incêndio em 2018. Também dá para imaginar a dificuldade que a instituição vem tendo no atendimento ao público e as dificuldades na preservação do patrimônio nacional.

Essas coisas só aparecem quando um assunto atrai a atenção da imprensa. Deve ter muitos mais desastres desse tipo, mantidos escondidos nesses quase dois anos de Bolsonaro no poder, prontos para serem detonados causando prejuízos ao país. Está aí uma caixa preta que vai dar o que falar depois que o Brasil conseguir se livrar desse traste político.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

O discurso sabotador de Bolsonaro demolido pelo contágio do coronavírus

Aparecem o tempo todo comprovações de que Jair Bolsonaro está errado na sua visão sobre o combate ao coronavírus. Nesta quinta-feira o jornal O Globo traz uma notícia que diz que o deputado bolsonarista Luiz Lima pegou Covid-19. O deputado é um dos parlamentares que no final do mês passado Bolsonaro levou para a frente do Palácio da Alvorada para defendê-lo e atacarem prefeitos e governadores nas suas políticas de combate ao vírus. Foi nesse dia que Bolsonaro soltou a frase horrorosa do “E daí?”, sobre os mortos do coronavírus.

O Globo revela hoje que também estão com Covid-19 a mulher e a filha do deputado bolsonarista. As duas haviam sido detidas pela PM do Rio de Janeiro porque estavam violando a quarentena na praia de Copacabana e Lima falou desse episódio no dia em que esteve ao lado de Bolsonaro. Desde então, o presidente usa este fato para acusar governadores de excessos durante a pandemia.

A mulher e a filha do deputado bolsonarista pegaram Covid-19 e eram assintomáticas. O deputado Luiz Lima também pegou. O Rio de Janeiro está próximo de um colapso hospitalar por causa da enorme quantidade de infectados pelo coronavírus, problema que saiu do controle do governo estadual em grande parte por causa do descumprimento de regras de isolamento social, atacadas pelo deputado bolsonarista junto com Bolsonaro.

Cabe perguntar quantas pessoas não foram contaminadas por ele, sua mulher e sua filha. O mesmo questionamento deve ser feito a Bolsonaro, que comanda a sabotagem e a desinformação que favorecem o aumento da doença, com uma mortandade que nunca se viu na história do país.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Lula fazendo das suas com o coronavírus

Não há porque espantar-se com Lula vendo um lado bom na pandemia do coronavírus. O chefão petista sempre foi um ignorante e a esquerda atolou-se em um projeto político do atraso ao vincular-se a uma figura dessas, que além do mais é um corrupto. O que não se sabia é que a direita elegeria um presidente ainda mais ignorante que Lula. Pobre Brasil.

Em live transmitida nesta terça-feira, Lula disse o seguinte: “Ainda bem que a natureza criou esse monstro chamado coronavírus para que as pessoas percebam que apenas o Estado é capaz de dar a solução, somente o Estado pode resolver isso”.

Quebrou a cara e depois pediu desculpas, mas a verdade é que uma fala idiota como esta faz parte da essência de seu pensamento. O que é morte de mais de 17 mil pessoas pelo vírus para quem fez carreira explorando o quando-pior-melhor? Haja paciência. Temos que aturar um sujeito que devia estar preso, mas foi solto para fazer suas politicagens, tentando aproveitar-se do desespero dos brasileiros.

Não é a primeira vez que o condenado por corrupção solta suas besteiras, tampouco será a última. Em setembro de 2003, logo depois dele assumir seu primeiro mandato, houve uma explosão na base de Alcântara que provocou a morte de 21 técnicos. Pois esse bestalhão disse então que “há males que vêm para bem”, emendando a idiotice dizendo que a tragédia “ao invés de prejudicar, pode estimular os avanços do conhecimento tecnológico”.

Claro que o episódio ficou apenas na cretinice dita por ele, pois em todo o período de governos do PT a área da ciência e tecnologia foi totalmente desprestigiada. Do mesmo modo, Lula e os petistas também não podem falar da crise do coronavírus sem arcar com a responsabilidade dos quatro mandatos petistas nas graves dificuldades da saúde pública, abalada inclusive pela roubalheira instalada pelos petistas no Governo Federal.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

Bolsonaro e Regina Duarte: uma relação masoquista chegando ao fim

Ao tirar Regina Duarte da Secretaria de Cultura, mandando-a para ser diretora da Cinemateca Brasileira, Jair Bolsonaro humilhou a atriz com uma promoção para baixo. Geralmente quando um governante é obrigado a fazer algum remanejamento, mas quer manter prestigiado um colaborador, costuma-se fazer a transferência para um cargo equivalente em prestígio, nem que seja apenas no aspecto oficial.

Pois Bolsonaro não teve este respeito com Regina Duarte. E o surpreendente é que ela aceitou a mudança, que foi na realidade uma tentativa do presidente livrar-se de um incômodo. Parece que não rolou o “casamento” entre o ex-capitão e a ex-atriz da Globo, conforme a expressão usada  pelo próprio Bolsonaro quando os dois estavam acertando a entrada dela no governo há pouco mais de dois meses.

A mudança de cargo foi tão surpreendente que nem a direção da Cinemateca sabia que Regina iria assumir o comando da instituição. A Folha de S. Paulo conta que o atual superintendente, Roberto Barreiro, até estava em negociação com a própria atriz para resolver um problema da falta de repasse de verbas entre a Secretaria e a Cinemateca, cujo orçamento é de cerca de R$ 12 milhões.

Agora é Regina Duarte quem terá de implorar por esta verba, o que deve aumentar um pouco mais a humilhação imposta por Bolsonaro. Claro que a atriz não vai conseguir ficar nem na Cinemateca, o que deveria ser muito óbvio para alguém da sua idade, apesar de que não dá para esperar esta consciência de uma artista que arriscou um prestígio de décadas entrando em um governo quase pelo meio e já em péssimas condições. Coitadinha da “namoradinha do Brasil”: estimulou mais que ninguém o sadismo de Bolsonaro.

O caso de Regina Duarte é mais um que merece ser estudado, dessa atração pelo poder, que acaba dominando as vontades, levando tanta gente à mais servil submissão, mesmo que seja para um projeto político já muito ruim na origem e que, comprovadamente, está em condição miserável de qualidade. É curioso que alguém com tantos anos de vida não tenha referencial para compreender a diferença entre a ilusão e a realidade, ainda mais sendo uma artista. São os mistérios do fascínio pelo poder.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

terça-feira, 19 de maio de 2020

Dias de muita tristeza no país do pior presidente do mundo

O Brasil termina mais um dia em grande tristeza, numa terça-feira com o país registrando mais de mil mortes causadas por Covid-19 — foram 1.179 em 24 horas. Como sabe-se que existe muita subnotificação é preciso preparar o coração para dias ainda mais difíceis que virão pela frente.

Era previsível que este número oficial seria alcançado, no entanto o presidente Jair Bolsonaro passou o dia despreocupado com a dor e o desespero de seus compatriotas. Suas pautas eram outras. Ele anda bastante ocupado com o andamento dos trabalhos da Polícia Federal no Rio de Janeiro e parece que por ora está bem mais satisfeito com o que estão lhe passando.

Enquanto brasileiros morriam — um óbito a cada 73 segundos  — ele almoçava nesse dia com os presidentes do Flamengo, Rodolfo Landim, e do Vasco, Alexandre Campello. Discutiram um modo de driblar a necessidade do isolamento social em estados com gobernadores mais responsáveis, para fazer voltar os campeonatos estaduais.

Claro que não faltou cloroquina. Mais tarde, já de bucho cheio, ele disse que o novo protocolo que amplia o uso de um remédio sobre o qual ainda existem muitas dúvidas científicas será assinado na quarta-feira por Eduardo Pazuello, responsável interino pelo Ministério da Saúde, que teve dois ministros demitidos em menos de um mês.

Em plena pandemia a pasta da Saúde não tem ninguém oficialmente no comando. E o mais recente cotado para o cargo é uma figura amalucada que afirma que o coronavírus é “uma porra de um viruzinho”.

Ah, sim: num dia em que tivemos a terrível notícia de que esta doença já está matando um brasileiro a cada minuto, Bolsonaro não lamentou nenhuma dessas mortes nem mandou uma mensagem de compaixão e solidariedade para seus parentes, os amigos e, claro, para todos nós, que sentimos cada batida dos sinos.

O presidente aproveitou para fazer mais uma piada com a doença. Em live sobre o novo protocolo da cloroquina, Bolsonaro disse o seguinte: “Quem for de direita toma cloroquina. Quem é de esquerda toma Tubaína”.
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POR José Pires

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Italo Marsili; Um ministro na exata medida da qualidade do governo Bolsonaro

Dizem que Jair Bolsonaro já tem um nome para o Ministério da Saúde. Italo Marsili está sendo cotado para suceder Nelson Teich, que pediu demissão antes de completar um mês no cargo. O sujeito é psiquiatra e tem o apoio de olavistas. Com o surgimento de seu nome como provável ministro, começaram a aparecer trechos de vídeos com suas opiniões, naquele nível de sarjeta que costuma ser o que sai da cabeça de bolsonaristas.

Assisti a trechos de um vídeo onde ele diz que o novo coronavírus “não é letal”. É a mesma conversa de Olavo de Carvalho, o que deve ter causado admiração em Bolsonaro, ainda mais que o jeito de falar do ministeriável é muito parecido ao do amalucado guru do presidente. Ele não só foi aluno de Olavo como morou um período com ele nos Estados Unidos.

A gravação é de 21 de abril, numa conversa do psiquiatra com integrantes do Brasil Paralelo, grupo que tem um nome perfeito: de fato, essa rapaziada vive num mundo paralelo. No bate papo, o provável novo ministro bolsonarista diz o seguinte sobre o Covid-19: “Que covardia é essa? Está falando de uma porra de um viruzinho”.

Claro que ele é contra o isolamento social, que na sua visão é uma conspiração que tem por detrás uma “agenda oculta muito clara” para “desestabilizar o Brasil”, chefiada por governadores e ministros do STF. Para ele, o STF é “vagabundo e ignorante”. Como reforço da sua teoria, ele diz que "para tirar o comandante eles vão abater o avião". Obviamente o "comandante" é Bolsonaro.

Marsili fala com voz exaltada, com aquela certeza absoluta própria dos fanáticos. Para ele, é covardia temer o vírus. Neste trecho que rola pela internet ele dá até o exemplo da morte acidental do apresentador Gugu para fundamentar sua teoria de que não é necessário haver prevenção contra a contaminação.

“Óbvio que as pessoas morrem. As pessoas morrem engasgadas numa noite de orgia, não sei se você sabe disso”, ele disse, afirmando ainda que as pessoas morrem batendo a cabeça, apontando então o apresentador: “O Gugu está aí e não deixa a gente mentir”.

Outra consideração sua sobre o tema é de causar inveja aos mais doidões entre esses pastores neopentecostais que faturam os tubos explorando a religiosidade popular. Ainda sobre os riscos do coronavírus, vejam a dica que ele dá: "Está tão preocupado assim que vai morrer? Faça um exame de consciência e deixe sua alma preparada para morrer".

Já está rolando uma indignação nas redes sociais, ainda mais que além dessas barbaridades ditas sobre a terrível crise do coronavírus, este endiabrado bolsonarista afirma também que o direito de voto para as mulheres fez mal para a qualidade da democracia. Bem, eu até entendo a revolta contra tantas idiotices, mas para ministro no governo de Jair Bolsonaro eu acho que Italo Marsili tem todos os predicados.
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POR José Pires

domingo, 17 de maio de 2020

Nise Yamaguchi: a ministra ideal de Bolsonaro e da defesa da cloroquina

Em meio a uma crise sanitária sem precedentes, de gravíssimas conseqüências econômicas e outras sérias complicações que evidentemente exigem equilíbrio, planejamento e unidade política, o presidente Jair Bolsonaro entrará nesta segunda-feira com o Ministério da Saúde sem um comando. Não tem ministro, não se sabe qual afinal é a política do governo para o enfrentamento do coronavírus, enquanto o vírus vai dizimando os brasileiros em quantidade assustadora. O número de mortes já passou de 15 mil — com óbitos todos os dias próximos da casa do milhar.

O Brasil já é o quarto país do mundo com mais casos de coronavírus, com 233.142 mil. De sexta para sábado foram acrescentados 14.919 ao balanço assustador e tem sido assim dia após dia, o que permite um prognóstico triste sobre a mortandade que se avizinha. Para quem se lembra como era aterrorizante há cerca de dois meses saber do desastre que menos de 10 mil mortes vinham causando na Itália, dá até medo do que vem por aí.

Bolsonaro, no entanto, mantém-se na mesma toada. Não marcou nenhum churrasco para este sábado nem pilotou jet ski, mas chamou seus desajustados seguidores para fazer furdunço neste domingo na frente na rampa do Palácio do Planalto. Como costumo dizer, só mesmo o Bolsonaro.

O país vai entrar nesta segunda-feira com 15.633 mortes — eram 14.817 mortes na sexta-feira — e o presidente mantém-se um negacionista, ignorando a mortandade. A impressão que ele passa é que está até gostando do aperto que os brasileiros passam com o Covid-19. Bem, para ele teve uma vantagem, já que ficou impossível ter manifestações de rua para exigir que dirigentea políticos cumpram suas obrigações e tirem pela via democrática esse desequilibrado do poder.

A tragédia nacional parece também favorecer outros propósitos de Bolsonaro, daí sua satisfação com o que vem acontecendo. E quanto ao triste sofrimento causado por uma doença que não permite nem chorar ao lado dos mortos, ele já disse: “E daí?”. Bem, e daí que o Brasil segue para um destino atroz, sem que sequer tenhamos um ministro da Saúde. Pois Bolsonaro devia deixar a médica Nise Yamaguchi assumir o Ministério da Saúde. É óbvio que ela está querendo muito o cargo e creio que os dois irão se dar muito bem.

Eu poderia dar inúmeros exemplos da habilidade dessa médica em proporcionar a um fanático a resposta que ele precisa, com a garantia de acabar com problemas complexos usando as soluções imediatas e mais fáceis, mas fiquemos no que é mais recente, de uma entrevista à CNN Brasil logo depois da queda em menos de um mês do segundo ministro da Saúde.

Nise Yamaguchi falou sobre a profusão de cloroquina, a panacéia de Bolsonaro para o vírus. “Nós precisamos disponibilizar para a população. Isso é fundamental, tanto na produção, quanto na importação de insumos, distribuição e acesso”, ela disse. Bacana, não é mesmo? Como não concordar com ela sobre a importância “da importação de insumos, distribuição e acesso”. A doutora é desse jeito, de uma maestria em obviedades. E não estou destacando nada. Todas as declarações da médica da cloroquina são com estas pontificações acacianas, apontando com ares professorais o que é mais óbvio.

Querem mais um exemplo? Ela chega a dizer que com a cloriquina “o Brasil não será um epicentro, e sim um exemplo”. Isso mesmo, daremos uma rasteira em todos os outros países, com seus governantes e especialistas e todas suas populações tomando conhecimento dessa nova modalidade do jeitinho brasileiro: a cloroquina. Mas a doutora Yamaguchi não fica só nisso. Falando sobre novo protocolo do governo que coloca o uso da cloroquina em primeiro plano — que ela acredita que “vai mudar o curso da doença e da pandemia” —, a médica diz o seguinte: “Eu tenho a certeza que estas normas podem ser incorporadas rapidamente a um modelo de atuação que seja ágil, concreto e eficiente”.

Pegaram o jeito da coisa? Imaginem a satisfação de Bolsonaro ao saber que, ao contrário do que os chatos do Mandetta e Teich diziam, as coisas são até mesmo mais fáceis do que ele próprio pensava.

Bolsonaro encontrou na medicina alguém à altura daquele outro guru governista, Olavo de Carvalho. A doutora Yamaguchi tem também aquela habilidade de fazer parecer que diz algo muito inteligente usando para isso colocações muito óbvias. É provável até que ela saiba javanês, lingua que evidentemente todo mundo sabe que o guru de Bolsonaro domina muito bem. Olavo que se cuide: Nise Yamaguchi é que pode passar a ter razão.

Seu entusiasmo com a cloroquina não se abala nem com ponderações quanto às gritantes dificuldades logísticas em meio a uma crise que abalou estruturas de saúde que já não vinham bem. Vamos a mais uma pílula de sabedoria da doutora da cloroquina. Falando sobre o remédio, ela disse que o general Eduardo Pazuello, ministro interino da pasta, vai fazer com que ele seja bem distribuído a todas as regiões. “Me parece que ele está disponibilizando algum decreto nesta direção”, ela disse.

Fácil, não é mesmo? O general devia aproveitar e decretar também respiradores para todos os estados. E leitos hospitalares, se não for pedir demais. Eu bem disse que Bolsonaro encontrou a ministra ideal. Faça logo a nomeação, presidente. Vai facilitar até aquele hábito de publicar determinações no Diário Oficial dispensando a opinião de ministros. Já vejo o ex-capitão de estetoscópio no pescoço e roupa branca receitando sua cloroquina às tortas e às direitas, com a doutora assinando tudo em branco, sem nenhuma preocupação com qualquer efeito colateral. Os doentes que usem seus físicos de atletas, ora bolas.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌