terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Alvaro Lins: um mestre da crítica literária dá lição de dignidade na política externa

“Um cronista bibliográfico, atacando a poesia moderna, diz que ela tem tanta poesia como 'o coaxar das rãs num charco de inverno'. Ignorará o idiota que realmente há poesia no 'coaxar das rãs num charco de inverno'?"

A frase é de Alvaro Lins (1912-1970), o grande Alvaro Lins, para mim um dos grandes críticos brasileiros, intelectual do mais alto nível e de especial valor para a nossa cultura, já que foi um dos primeiros intelectuais a compreender e dar espaço para a modernização da literatura brasileira. E isso lá atrás, a partir da década de 20.

A frase eu tirei de “Literatura e vida literária: diário e confissões”, um livro precioso de 1963 da editora Civilização Brasileira, livro que leio, releio e leio novamente, porque Lins é um desses autores que me ajudam a manter a cabeça em ordem e não descuidar da escrita. Nas entrelinhas ele dá também lições de dignidade, o que é muito útil no Brasil de hoje.

O livro saiu quando Lins completou 50 anos e traz anotações que ele vinha fazendo desde a juventude. Ele não identifica o crítico que ataca a nascente literatura moderna com o argumento de uma total falta de visão poética, mas muitas figuras importantes da nossa história política e literárias estão ali identificadas. Mas não são os nomes que importam. O que interessa é seu alto grau de sensibilidade, um intelectual com uma visão da literatura e da política como poucos em nossa história. Em alguns desses textos tão antigos ele chega a ser profético.

Alvaro Lins teve também uma participação de destaque em nossa história política, sendo protagonista de um fato que a meu ver é de muita relevância histórica, mas infelizmente permanece apagado. É um episódio importante até porque revela uma grande nódoa na propagada imagem de erfeito democrata do ex-presidente Juscelino Kubitscheck.

As relações de seu governo com a ditadura salazarista de Portugal foi um dos grandes erros políticos de JK. Ele deu apoio ao regime de Oliveira Salazar, uma das ditaduras mais atrasadas do século 20, um poder autoritário e mesquinho instalado exatamente no país mais próximo de nós historicamente. O fato relatado por Lins é da década de 50.

Alvaro Lins foi embaixador de Portugal nessa época e lutou para que Juscelino Kubitscheck rompesse com Salazar. Como a relação entre Salazar e JK manteve-se, o crítico literário rompeu publicamente com JK. Tenho toda a história num outro livro muito bom, “Missão em Portugal”, onde ele conta toda esta experiência. É óbvio que não é uma narrativa fechada naquele pequeno país, já bem decadente na época. É uma aula de história, mais uma aula do mestre Lins onde ele passa noções de independência nas relações externas que poderiam ser muito úteis hoje em dia, com este governo que tem a prática de se ligar politicamente a ditaduras detestáveis.

O fato importante nesta história é quando o embaixador Lins deu asilo a um importante opositor perseguido por Salazar (o general Humberto Delgado) e não cedeu às terríveis pressões para entregar o asilado político, que ficou sob proteção do embaixador na sede da embaixada brasileira. O general ficou na embaixada durante janeiro e fevereiro de 1959. Todo este tempo o prédio esteve cercado pela temida política política de Salazar, a PIDE, e com os telefones censurados.

Delgado é importante personalidade tanto na instalação do regime de Salazar quanto na oposição posterior. Em 1959, Salazar manteve a ditadura com uma eleição fraudulenta contra Delgado. que em sequência pediu asilo na embaixada brasileira. O general foi depois para o Brasil e acabou sendo assassinado pela PIDE na fronteira espanhola em fevereiro de 1965. O essencial no rompimento entre Lins e JK é que o presidente brasileiro foi cúmplice da ditadura portuguesa.

É uma história relativamente longa, fica para outro momento, mas o resumo é que JK perdeu a chance de dar um basta à ditadura de Salazar, o que talvez tivesse tido influência inclusive na política interna do Brasil. Não esqueçamos que poucos anos depois tivemos o golpe de 64.

Mas o fato é que se JK tivesse sido ao menos firme com Salazar, seria uma figura histórica mundial. Teria dado início também a um conceito de relações externas mais aberto aos direitos humanos e à democracia internacional.

Mas o nosso JK vive mesmo é da superestimação que vem sendo feita da sua figura, uma elevação da sua imagem que tem servido meramente a propósitos eleitorais.

A carta de “rompimento político e pessoal com o presidente Kubitscheck” escrita por Lins é uma das grandes peças da nossa história. Não é um texto longo, sou capaz de um dia desses fazer um trabalho de datilografia para publicá-la na internet. Com a demissão, evidentemente Lins não permitiu o famoso expediente político de pegar qualquer outro cargo — o que já havia feito anteriormente, quando recusou a nomeação para ministro do Tribunal de Contas oferecida por JK. Isso mostra de forma prática o caráter do mestre, neste país em que facilmente troca-se a dignidade pelo osso.

No livro dos diários, Lins discute também política, ele que naqueles tempos já expunha divergências com a esquerda, especialmente intelectuais que se guiavam pelo marxismo. Num trecho, ele fala que todo marxista deveria conhecer e praticar uma frase que numa famosa discussão Marx disse aos gritos. A frase é a seguinte: “A ignorância nunca foi útil a ninguém”. Pelo que a gente vê hoje em dia, muitas décadas depois a esquerda ainda não ouviu a frase.
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POR José Pires

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Imagem: A obra de Alvaro Lins na minha estante. O mestre está lá sempre pronto a me ensinar

Banheiro errado

Não é nenhuma novidade que o cartunista Laerte se veste de mulher. Pois agora há pouco me chegou uma notícia de que ele pretende entrar na Justiça para poder freqüentar banheiros femininos.

O cartunista andou sendo expulso de banheiro feminino o que, cá pra nós, faz muito sentido: nas entrevistas que deu sobre este hábito que adquiriu há cerca de três anos, ele faz questão de deixar claro que não... é homossexual. Segundo a notícia, foi uma cliente com uma filha de dez anos que não gostou de vê-lo no mesmo banheiro com elas. Mas faz todo sentido mesmo.

Quando soube do ocorrido, a coordenadora estadual de políticas para a diversidade sexual, Heloísa Alves, ligou para o cartunista e disse que ele pode reivindicar seus direitos. O caso já chegou à Secretaria da Justiça de São Paulo, o que é mais uma demonstração da distorção que o politicamente correto causa hoje em dia no país. Realmente o direito do cartunista Laerte freqüentar banheiro feminino é um dos grandes problemas da atualidade. Chega a ser uma questão crucial dos direitos civis.
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POR José Pires

Feeling dos bons

Revista velha costuma informar mais que revista nova. É que o tempo traz acontecimentos que permitem uma compreensão melhor da notícia. Vou dar um exemplo. Leio numa revista Época de agosto do ano passado uma entrevista do presidente do PT, Rui Falcão, onde ele sentencia: “A Marta não vai desistir”.

Ele falava de Marta Suplicy e das prévias que escolheriam o candidato petista à prefeitura de São ...Paulo. Falcão estava convicto de que Marta iria até o fim: “Meu feeling é que ela não vai desistir”.

É o caso da gente torcer para que agora ele use esse feeling magnífico na eleição do candidato que enfiaram goela abaixo dele e da Marta. Não teve nem prévia. Um cara desses tem que pegar no mínimo a coordenação da campanha do Fernando Haddad.
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POR José Pires

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Pinheirinho, o fenômeno

Se a oposição tivesse juízo devia tirar conclusões políticas do que podemos chamar de “Fenômeno Pinheirinho” e se mexer rápido para fazer política de forma mais conseqüente, que é o que tem feito o PT. É evidente que não estou falando em fazer “como” os petistas fazem. Não é correto e não faz bem algum à democracia usar movimentos sociais apara atiçar a violência entre gente que passa por necessidades e é ainda menos correto distorcer fatos para obter ganhos eleitorais. E é isso que tem feito nos últimos dias essa grande rede de comunicação que funciona oficiosamente para o PT neste caso ocorrido em São José dos Campos, São Paulo

Nos últimos meses o PT vem propagando de forma eficiente pela internet uma porção de virais midiáticos. Para isso serviu até a prisão de uma trinca de maconheiros dentro da USP. Fizeram de uma encrenca banal uma discussão nacional onde quiseram envolver até a autonomia universitária. E conforme o planejado, nesse debate entrou muita gente por inocência. Se os maconheiros tivessem sido presos numa universidade do Rio Grande do Sul, o assunto não teria saído dos limites do campus. É que hoje os gaúchos não têm um governador da oposição.

Até um livro escrito por um jornalista envolvido em um conhecido esquema de quebra de sigilo fiscal de um candidato da oposição em época de eleição virou um debate sobre a liberdade de expressão. Foi uma situação bizarra em que o criminoso escreveu um livro para atacar suas vítimas. Mas aí também a rede petista mostrou eficiência. O caso invadiu a internet e poucos fizeram o esforço de denunciar a montagem da farsa.

Temos outros casos, mas vamos ficar com este recente, o da desocupação do terreno na periferia de São José dos Campos. Foi aí que montaram o que chamo de “Fenômeno Pinheirinho”, pois mais que a luta por um pedaço de terra, o que se vê é um fenômeno de mídia.

Não é de hoje que o PT faz política com a facilidade incrível de dispor de uma variedade de elementos para compor o que é de seu interesse: pode primeiro construir o fato e depois propagá-lo por meio de sua rede nacional. É um controle da notícia que deve deixar babando qualquer político. O PT tem hoje o poder de fazer até o homem morder o cachorro. Controle de mídia é isso.

Antes de pegar o governo federal o partido tinha como instrumentos básicos os sindicatos e movimentos sociais. Hoje possui também esta imensa rede, que é até azeitada com dinheiro público.

Qual é o político que não sonha em ter esta facilidade de criar o fato e ao mesmo tempo fazer sua exploração? E nem vou falar da facilitação criada pela existência hoje em dia de uma ampla massa de profissionais de comunicação com pouco conhecimento histórico e uma precária informação política. E também não é o caso de se aprofundar na análise sobre petistas que de forma deliberada fazem confusão entre jornalismo e ideologia.

Eu falei do governo do Rio Grande do Sul, onde hoje governa o PT com o ex-ministro Tarso Genro. Poucos se lembram, mas no governo anterior a imprensa nacional vivia cheia de notícias de conturbações políticas. Era um governo do PSDB. E a agitação foi fundamental para a vitória do PT. Sindicalistas foram gritar seus insultos até na porta da casa da governadora.

Isso faz só um ano. E de lá pra cá aumentou o nível salarial dos funcionários públicos gaúchos, os professores estão melhores, diminuiu a violência urbana ou ocorreu uma melhoria significativa na habitação? Nada disso. Mas o Rio Grande do Sul se aquietou. E a equação política é muito simples: quando o governo é do PT a tranquilidade social se estabelece em qualquer canto do país.

A oposição pode ficar muito indignada e tem todas as razões para isso. O que foi agora sobre Pinheirinho já foi tentado anteriormente quando houve a desocupação da “cracolândia” encravada no centro de São Paulo. Como nesta situação o artifício não deu certo, foram procurar outro lugar para articular uma encrenca e deram em Pinheirinho.

A oposição pode ficar brava, repito, mas seria muito mais produtivo se encarassem isto por seu lado didático. Sem dúvida, o que o PT tem feito está errado quanto ao uso do Estado e até de dinheiro público para sustentar sua rede. No entanto, no aspecto político eles estão certos. É preciso mobilizar as pessoas. Não basta fazer oposição no Congresso. É preciso sair a campo e trabalhar a sociedade civil, o que deve ser feito hoje em dia especialmente com a comunicação.

É isso o que o PT faz, com a lucratividade política que aí está. E como a oposição tem sido incompetente nesta área, aí facilita ainda mais o serviço da rede da companheirada.
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POR José Pires

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Imagem: Bomba no Youtube, o Pinheirinho é deles! A ocupação que realmente importa é a da rede.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Dez anos da morte de Celso Daniel

Há dez anos era encontrado o corpo de Celso Daniel, então prefeito de Santo André pelo PT, sequestrado dois dias antes. Os petistas que faziam política com ele na época e hoje estão no poder querem que o Brasil esqueça este caso. Mas a gente não esquece.

Falei sobre isso anteontem aqui no Facebook, basta descer alguns posts para ler. É um crime assombroso e entre os espantos está o esforço dos am...igos petistas de Daniel para que o caso fosse encerrado logo como um crime comum.

Parece uma coisa esquisita alguém não querer que seja esclarecida com o máximo rigor a morte de um amigo, mas foi o que se viu. Com exceção da família de Celso Daniel, todos os que tinham intimidade com ele passaram a fazer tudo para que não houvesse um aprofundamento das investigações.

É tudo muito estranho. Primeiro foi criada uma paranóia nacional pelas lideranças maiores do PT, entre eles Lula, que no ano da morte do prefeito petista seria eleito presidente da República. Assim que se soube da morte, os petistas passaram a afirmar que havia uma conspiração para matar vários políticos do PT. Mas o alarido durou pouco. Em poucos dias todos afirmavam que não havia ocorrido nada de extraordinário e que aquilo era um crime comum.

O assassinato de Daniel, que era o coordenador de campanha de Lula na época de sua morte, é cheio desses fatos estranhos, mas bastante reveladores. Um desses fatos é a gravação de telefonemas entre líderes do PT comentando as estratégias para enfrentar a situação.

Vejam um diálogo entre Gilberto Carvalho, que desde o primeiro mandato de Lula é um homem poderoso no governo do PT e que hoje é ministro da Secretaria Geral da Presidência. Ele conversa com Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, acusado de ser o mandante do crime. Sombra estava com Celso Daniel na noite do sequestro. Os bandidos levaram o prefeito e Sombra ficou ileso na cena do crime.

O diálogo entre Carvalho e o Sombra é resultado de um grampo da Polícia Federal feito a pedido do PT, mas foi descartado como prova. Foi divulgado em julho de 2005.

Carvalho: “É, eu vou agora, marcamos às três horas na casa do José Dirceu. Vamos conversar um pouco sobre a nossa tática da semana, né? Porque nós vamos ter que ir pra contra-ofensiva”.

Sombra: “Vou falar com meus advogados amanhã. A nossa idéia é colocar essa investigação sob suspeição. Arrumar um jeito de...”

Carvalho: “É, acho que é um bom caminho”.
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POR José Pires



As faxinas que nunca são feitas



A diferença entre a coluna social e a coluna policial é um bom advogado.






"Don’t talk to anyone. Don’t touch anyone", diz o texto do cartaz do filme "Contágio". É fácil achar um tradutor na internet. Mas corra, antes que a Motion Picture e seus parceiros de lobby resolvam que esse serviço também é ilegal...



O governo do PT precisa maneirar um pouco com esse negócio de acabar com a pobreza. Não vão manter nem uma reserva estratégica para fazer a ditadura do proletariado?


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Celso Daniel:dez anos de um caso muito suspeito

O seqüestro do prefeito Celso Daniel completa hoje dez anos. Dois dias depois de seqüestrado ele foi encontrado morto, com sinais de tortura. Na época de sua morte, ele era um dos amigos mais próximos de Lula, que logo seria eleito presidente da República. Com o cargo de prefeito de Santo André, acumulava a coordenação da campanha presidencial do PT. A morte brutal foi em janeiro de 2002, o ano em que Lula se elegeu pela primeira vez. Já estão no terceiro mandato sucessivo, no que é de fato um governo de 9 anos.

Este é um daqueles casos políticos importantes que acompanhei de perto. No mesmo dia em que Daniel foi morto, o PT levantou por todo o Brasil uma estranha teoria de que podia estar em curso uma matança de petistas, num plano orquestrado pela direita.

Lembro-me de noticiário de televisão com Lula discursando em voz alta no enterro do prefeito e de várias autoridades petistas falando em todos o jornais e revistas sobre o que viam como uma conspiração criminosa contra o PT no Brasil. Um fato que pode muito bem servir para aferir a confiabilidade desta cúpula petista de então é que quase todos afundaram depois em denúncias de corrupção, envolvidos em maracutaias pesadas como foi o caso do mensalão.

Até altas personalidades petistas que se desviaram do mensalão, como Antonio Palocci, acabaram caindo depois por denúncias de corrupção, como aconteceu com ele primeiro no governo Lula e depois no governo de Dilma Rousseff, quando a imprensa revelou seu fantástico enriquecimento . Mesmo com a demissão no governo Lula, Palocci foi prestigiado na campanha eleitoral de Dilma Roussef e ganhou um ministério importante, para acabar sendo obrigado a pedir demissão levado pelas graves denúncias de corrupção

O poder de Palocci no PT foi sempre muito grande. Tanto que recebeu um voto de confiança de Dilma Rousseff mesmo depois de seu envolvimento num dos fatos políticos mais condenáveis deste país: a quebra criminosa do sigilo bancário de uma testemunha que servia como base de delitos praticados por ele na condição de ministro da Fazenda. É o famoso caso do caseiro Francenildo.

Palocci e seu peso extraordinário nas decisões de governo e também no PT servem muito bem para mostrar o significado que Celso Daniel poderia vir a ter com a vitória de Lula. Com a morte do prefeito petista, foi Palocci quem ocupou o seu llugar de coordenador da campanha de Lula e veio depois a ser poderoso no governo.

Com a morte de Daniel, a paranóia nacional que estava sendo instalada pelo PT foi resolvida de forma rápida pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, que colocou o Ministério da Justiça no caso e puxou para o gabinete da Presidência a condução do processo, oferecendo inclusive de forma pública proteção do Estado para qualquer um que se sentisse ameaçado.

Porém, estranhamente os líderes do PT não levaram nem um mês para abandonar qualquer referência política à morte do companheiro. Ao contrário disso, com o poder que conquistaram logo depois passaram a fazer tudo para que o caso fosse definido como um crime comum. Existem inclusive gravações feitas pela Polícia Federal de telefonemas entre petistas de alto poder que são até um constrangimento pela forma desumana das maquinações para o abafamento de investigações de um crime que causou a morte de um companheiro de partido e também amigo de todos eles.

O crime que vitimou Celso Daniel parece uma peça de ficção, com elementos que seriam tomados como inverossímeis até num desses filmes policiais que os americanos fazem aos montes. Só para ficar num exemplo, oito pessoas ligadas ao caso foram mortas. Assassinaram até o garçom que serviu a última refeição de Daniel, antes dele seguir de carro até a emboscada onde foi morto a tiros.

O garçom foi assassinado a tiros depois de perseguido em sua moto. Vinte dias depois foi executada com um tiro nas costas também a testemunha que viu o garçom ser morto. Até um daqueles diretores exagerados de Hollywood cortaria do enredo coisas tão incríveis.

Os acontecimentos extraordinários em torno deste crime são tantos que só um esclarecimento rigoroso permitiria apagar as suspeitas que foram crescendo ano após ano. É o que a família de Daniel tem pedido desde que ele foi morto e estranhamente é contra isso que lutam os que faziam política com ele na época.

Este é o ponto em que eu queria chegar, no que é para mim o essencial na suspeita sobre implicações muito mais graves do que a tese de crime comum que é sustentada com muita ênfase por gente que estava ao lado de Daniel na época de sua morte e que hoje mandam no PT e no governo.

Minha dúvida se sustenta numa pergunta muito simples que todos podemos fazer internamente: Qual é o amigo que não faria tudo para ir até o fim no esclarecimento do assassinato de alguém muito próximo? Pois o que os petistas têm feito nesses dez anos é um esforço brutal para que todos esqueçam o que aconteceu com o amigo deles.
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POR José Pires

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Olho vivo

Piada pronta não falta no Brasil. Agora apareceu mais uma com a abertura pelo Ministério da Justiça de processo administrativo para apurar denúncia de irregularidades na compra de câmeras e microfones e outros equipamentos de vigilância.

O material seria de péssima qualidade, informa um relatório reservado onde se diz que câmeras não estão em funcionamento e as que estão instaladas são de péssima qualidade. Suspeita-se também da compra de produtos contrabandeados do Paraguai para o Brasil e sem comprovação de origem. Ou seja, podem ser produtos piratas.

Bem, até aí tudo normal, em conformidade com os métodos das demais licitações públicas feitas no país. Então cadê a piada pronta? É que os equipamentos foram adquiridos para os presídios federais de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná, e de Campo Grande, no Mato Grosso.

São coisas assim que fazem a gente se perguntar quem é que afinal está vigiando os ladrões.
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POR José Pires

Senso crítico desabilitado

É lamentável a forma que parte da imprensa tem usado para cobrir as aulas que o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, passou a fazer para recuperar a carteira de motorista que perdeu por infrações graves no trânsito. O ministro, que é um dos chefões do PT nacional e cacique poderoso do partido no Paraná, faz aulas de reciclagem na Escola de Educação de Trânsito de Brasília.

Em grande parte das matérias que saíram sobre o assunto os jornalistas tentam fazer humor, quando a situação, a meu ver, deveria ser tratada com seriedade e bastante rigor.

Brinca-se com o fato do ministro ter perdido a carteira, quando o que devia estar sendo dito de um modo claro é que Bernardo é um irresponsável por ter descumprido leis sobre as quais devia demonstrar até mais respeito que o cidadão comum, já que é uma figura destacada do governo federal. O ministro ocupa cargos no governo do PT desde o primeiro mandato de Lula e com isso alcançou fama nacional. Daí sua obrigação de dar exemplo de correção e cumprimento das leis. Mas fez o contrário.

Alguém acredita que num país sério uma autoridade federal seria mantida no cargo depois de perder a carteira de motorista e, além disso, sua falta de respeito à leis extremamente importantes ainda seria tratada de forma pitoresca em matérias jornalísticas?

Acidente de trânsito é algo tão grave no Brasil que, na minha visão, uma autoridade que perde a carteira deveria perder também o cargo. É uma questão de respeito ao motorista que respeita a lei. E também o respeito devido aos milhares de brasileiros mortos e feridos no trânsito, aos que ficaram incapacitados fisicamente e aos familiares que irão sofrer por toda a vida os efeitos da tragédia que é nosso trânsito.

O Brasil é campeão mundial em acidentes de trânsito, em sua maioria causados por excesso de velocidade, uma das causas do ministro ter acumulado pontos negativos suficientes para perder a habilitação.

Ninguém tem dúvida de que uma causa importante dos acidentes de trânsito no país é exatamente a falta de seriedade para encarar este assunto, inclusive com as leis excessivamente brandas que deixam impunes até motoristas que agem de forma criminosa.

Eu penso que parar de tratar um assunto tão sério de forma pitoresca pode ajudar bastante a conscientizar os motoristas dos terríveis riscos à vida provocados pelo mau comportamento na direção, que foi o que levou Paulo Bernardo a perder a carteira.
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POR José Pires

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012



quinta-feira, 12 de janeiro de 2012



Dos diários de Edmund Wilson

"Os movimentos são dominados por slogans e jargões, os quais poupam seus seguidores do trabalho de pensar."

A frase é de Edmund Wilson (1895-1972), o grande crítico literário americano. Ele escreveu isso em seus diários dos anos 20, publicados depois de sua morte. Esses anos 20 são os do século passado, é claro, o que mostra que vem de longe a existência de rebanhos da militância.

Seus diários Wilson foram publicados no Brasil pela editora Companhia das Letras, que infelizmente seguiu a receita cretina de abolir o índice onomástico, o que cria um trabalhão danado na hora de consultar. A editora fez o mesmo com os outros livro do crítico. Mas este dos diários traz uma ótima introdução feita por Leon Edel, o editor de seus textos póstumos.

Wilson é um antecipador de muita coisa de qualidade que surgiu na literatura ocidental, desde que começou a escrever em publicações importantes dos Estados Unidos. Só para se ter uma idéia, ele mostrou a importância de Ulisses logo que James Joyce conseguiu lançar o livro, em 1922. Quando Wilson escreveu sobre Ulisses, a obra ainda era tratada como pornografia e havia sido impressa apenas na França pela lendária Sakespeare and Company, de Silvia Beach.

Outros livros dele editados no Brasil são "Os manuscritos do Mar Morto", "11 ensaios" e "O Castelo de Axel", sendo este o seu livro mais conhecido, uma edição pioneira onde revela um olhar admirável e muita audácia para defender novidades literárias que ninguém queria aceitar naquela época.

"O Castelo de Axel" é traduzido por José Paulo Paes. "11 ensaios" tem seleção e prefácio de Paulo Francis, por sinal um belo prefácio. A tradução também é de Paes. Lá e cá, na escrita foi respeitada a qualidade.
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POR José Pires

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

De espírito novo

Já falei aqui sobre a novidade petista dos primeiros 100 dias de governo no segundo mandato. É o tal do estilo petista de governo: se não deu no primeiro ano, fica para o segundo. Neste mês de janeiro a presidente Dilma Rousseff tem a chance de finalmente começar seu governo. O primeiro ano deixa pra lá.

Ela pode começar inclusive anunciando medidas de impacto para os desabrigados pelas chuvas de...ste ano. Pode vir até com as mesmas promessas do ano passado, as mesmas que fez e não cumpriu. Os 100 dias começam agora.

E para não dizerem que só penso em fazer oposição ao PT, dou de graça um slogan mais apropriado para este recomeço. É um aproveitamento do logotipo do governo do ano passado — o que não está mais valendo. Como sei que vem crise braba por aí, não vou ser eu a criar gastos novos.

É a nossa esperança de que seja um governo de espírito novo, bem diferente do espírito cultivado nos nove anos anteriores.
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POR José Pires

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012



De forma lamentável, o Brasil já ultrapassou a fase da necessidade de separar o joio do trigo. Agora o que tem que ser separado é o trigo do joio.




Está mais do que comprovado que dinheiro não traz felicidade, mas quem é que não quer uma chance de provar o contrário?


Dividindo os lucros

Stanislaw Ponte Preta tinha uma boa frase sobre a eterna crise moral que assola o Brasil: “Restaure-se a moralidade ou nos locupletemos todos”. A frase é da década de 70, mas infelizmente ainda vale para hoje. E duvido muito que ela fique desatualizada algum dia neste país.

Que a corrupção sempre existiu, isso é algo sobre o qual ninguém diverge. É mesmo uma herança maldita, que vem sendo passada... de governo a governo desde muito tempo. Mas parece que com essa herança maldita o PT não tem nenhum problema.

Eles gostam muito dessa herança, tanto que aperfeiçoaram a rapina dos cofres públicos, que hoje é sistematizada de forma a contemplar uma porção maior de pessoas. Democratizaram a corrupção entre a companheirada, tornando popular o hábito de passar a mão no dinheiro do contribuinte. Não nos locupletamos todos, mas em tempo algum a corrupção atingiu tanta gente.
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POR José Pires