sexta-feira, 31 de maio de 2019

A fantástica teoria do asfalto quente do ministro das Relações Exterriores

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, realmente não bate bem da cabeça, talvez por causa de algum trauma de juventude — outro ministro, o da Educação, machucou o ombro, por isso tomou uns zeros feios quando começava na universidade e até hoje não se recuperou. Além de um provável trauma, Araújo tem sérios problemas de formação, com este sentido de missão que a tigrada da direita coloca acima do conhecimento. Mas, enfim, não é da parte do Araújo que algo vai me surpreender.

Mas nem por isso deixei de achar suspeita a notícia que rola na internet em que o chanceler brasileiro atribui o aumento da temperatura da Terra a asfalto quente. É tamanha a barbaridade que tive que conferir. Pois é verdade. Ernesto Araújo expôs essa teoria espetacular, falando nesta quarta-feira aos deputados da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara.

Suas palavras: “Nos Estados Unidos, foi feito um estudo sobre estações meteorológicas, e diz que muitas estações que, nos anos 30 e 40, ficavam no meio do mato, hoje ficam no asfalto, na beira do estacionamento. É óbvio que aquela estação vai registrar um aumento extraordinário da temperatura, comparado com a dos anos 50. E isso entra na média global”.

Ele não adiantou nada sobre a localização desses estacionamentos, mas do ponto de vista científico parece claro que são lugares de um calorão de rachar, daí a interferência nas medições atuais de temperatura. A gente aqui temendo pelo urso polar e tudo não passa de uma questão de localização de termostato. O ministro não informou se o governo Bolsonaro pretende entrar com pedido na ONU exigindo a mudança dos aparelhos para mais perto do mato.

Andam zoando o ministro, mas se comprovada, a teoria do asfalto quente é de ganhar Prêmio Nobel, qualquer um deles, até o de literatura e o da paz. Talvez todos juntos, porque a comprovação do que defende Araújo não será apenas uma revolução científica. A descoberta vai ser a salvação da humanidade. Ao menos longe do asfalto, chega de ter medo do medo do aquecimento global.
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POR José Pires

Bolsonaro: a patroa é quem manda

Este presidente inviável está sempre dando seu espetáculos. Jair Bolsonaro disse que mandou Rogério Marinho rever na reforma previdenciária um ponto que trata da pensão para deficientes. Segundo ele, o pedido foi da sua mulher, Michelle Bolsonaro.

Suas palavras: “Pedidos de uma primeira-dama geralmente são irrecusáveis e inadiáveis também, nós já passamos para o Rogério Marinho esta questão e tenho certeza que ele vai atender a um pedido da primeira-dama”.

E lamentável o nível político, muito baixo e nada republicano, como se costuma dizer. Se algum bolsonarista tiver dúvida sobre o quanto é absurda a afirmação de seu líder, experimente colocar as mesmas palavras na boca de um adversário — o Lula, por exemplo. Dá pra sentir a baixeza, não?

E ainda tem uma diferença de qualidade, que neste caso coloca Bolsonaro em um nível abaixo inclusive do chefão petista: Lula nunca disse que tomava decisões de governo a pedido de sua falecida esposa, Marisa Letícia.
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POR José Pires

quinta-feira, 30 de maio de 2019

É fogo, torcida brasileira

A manifestação da oposição desta quinta-feira foi mais fraca do que a dos bolsonaristas, que foram às ruas no último domingo. Apesar de que é muito mais fácil mobilizar as pessoas para uma balbúrdia no fim de semana do que na tarde de uma quinta-feira.

De qualquer forma, a manifestação anterior da oposição teve participação muito maior do que a dos governistas. Creio que uma próxima manifestação dos bolsonaristas poderá nos ajudar a tirar a dúvida sobre essa disputa de forças.

Pode ser que os seguidores de Bolsonaro tenham alguma dificuldade, porque não dará mais para gritar para que o Coaf fique com Sérgio Moro. E se demorarem muito para por o pessoal na rua é capaz de nem ser mais permitido que falem em "Centrão", palavra que na comunicação do governo já foi proibida. E o Lula? Bem, o Lula está preso, babaca.

O negócio é correr com os preparativos, pois a fila precisa andar. A próxima manifestação tem que ser dos bolsonaristas, para depois a oposição entrar novamente em cena, com uma programação de manifestações intercaladas que deve se estender até o final do ano, para que possamos avaliar com precisão quem é afinal que está com a bola toda.
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POR José Pires

Barack Obama traz uma ideia interessante ao Brasil

Barack Obama está em visita ao Brasil e deu palestra em São Paulo, nesta quinta-feira. O ex-presidente americano criticou políticas liberais, afirmando que empresários e políticos conservadores da América Latina precisam entender que não existe mercado eficiente sem um bom Estado. Obama disse que "empresários deveriam ficar felizes em pagar impostos".

Para fortalecer sua opinião, Obama fez um desafio que parece até uma ironia na situação atual da nossa economia. 'Quem não gosta de pagar impostos deveria mudar para um país em que o Estado não funciona para ver como é", ele disse. Bem, no nosso caso não precisamos sair do nosso país para saber da condição de um lugar onde o Estado não funciona.

No Brasil, reclama-se demais de impostos e fala-se menos da falta da ação do Estado para que um país ande pra frente. Claro que Obama fala do imposto como um investimento para que os negócios sejam bem sucedidos e também é evidente que ele usa como exemplo tributos bem aplicados. Ele citou a Finlândia, onde professores recebem o mesmo salário de médicos. "Eles entendem a importância de formar para o futuro", disse o ex-presidente.

Nesta formação é que está a chave da prosperidade. A lição é antiga, mas sempre é bom repetir. Falando sobre educação, Obama citou o investimento em ensino público como um estímulo importante do Estado para garantir o crescimento da economia e consequentemente do sucesso nos negócios.

E de onde mais sairia o dinheiro para este investimento? De uma parcela deste sucesso, é claro, Para o Estado, em seguida, dar continuidade ao movimento, com investimento em infraestrutura, educação, criando um ambiente próspero para todos. Como motor desse progresso Obama apontou exatamente o fornecimento de infraestrutura e educação para os mais pobres, lembrando que isso não é caridade, mas algo necessário para o desenvolvimento de um país. Num país como o Brasil, com cada vez menos consumidores, está aí um ponto que nossos "liberais" levam pouco em conta.

Claro que no grau de ensandecimento em que está o debate público em nosso país, vai aparecer muita gente dizendo que Obama é comunista, mas a mensagem que ele trouxe ao Brasil nada mais é do que o velho capitalismo. É verdade que com uma grande dose de inteligência e bom senso, mas não é preciso que ninguem se alarme: é apenas capitalismo.
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POR José Pires

sexta-feira, 24 de maio de 2019

O filho bom de negócios do presidente Bolsonaro

É muito interessante o resumo dos bons negócios de Flávio Bolsonaro, deputado estadual no Rio de Janeiro até o ano passado, atualmente no Senado. Jair Bolsonaro já foi tido como um fenômeno, mas este seu filho é que é espetacular. Como sabe ganhar dinheiro o rapaz.

Zero Um, como ele é chamado pelo presidente, comprou em 2014 uma quitinete por R$ 140 mil e quinze meses depois vendeu o imóvel por R$ 550 mil. O talento do garoto para negócios imobiliários é reforçado pela informação de que na região da transação a valorização imobiliária média no período foi de 11%. O lucro de Flávio foi de 291%.

Parece reclame de construtora, mas tenho que dizer que o atual senador pelo PSL do Rio sabe mesmo, como ninguém, encontrar o imóvel certo. Noutro negócio, comprou por R$ 170 mil um apartamento e doze meses depois vendeu-o por R$ 573 mil. Desta vez, lucrou mais R$ 403 mil, em um ganho de 237%. Na área, a valorização média era de apenas 9%.

Em 2016 fez de novo um ótimo negócio. Pagou R$ 1,7 milhão por um imóvel, para oito meses depois vendê-lo por R$ 2,4 milhões. Havia no bairro uma desvalorização média de 3,34%, mas com ele não tem crise. Seu lucro foi de 36,89%, com um ganho de R$ 700 mil.

Flávio Bolsonaro tem um excelente faro para compra e venda. Um cálculo mostra que entre 2010 e 2017 ele movimentou R$ 9,4 milhões em pelo menos 19 grandes negócios imobiliários, tendo lucrado R$ 3 milhões.

São números impressionantes, que devem dar orgulho a um pai. Bolsonaro deve estar tão orgulho do seu Zero Um quanto o ex-presidente Lula ficava de seus rebentos, tendo até classificado um de seus filhos, que também era ótimo para mexer com dinheiro, como “meu Ronaldinho”.

Os filhos de Lula tanto sabiam ganhar dinheiro, que um deles conseguiu lucrar bastante até com campeonato de futebol americano. Porém, eu acho que como talento de negociante nenhum integrante do clã do presidiário é páreo para esse filho do presidente Bolsonaro.
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POR José Pires

Bolsonaro: mal informado até sobre seu próprio governo

São tantas as atrapalhações deste presidente inviável que algumas cretinices de Jair Bolsonaro vão ficando para trás. Não é fácil acompanhar tanta besteira. Já sabia da confusão que ele havia feito entre os modelos de previdência, ao falar para um grupo de estudantes na última terça-feira, mas não tinha visto o vídeo.

É até engraçado observar como o ministro Paulo Guedes fica contrariado e acena com a mão para seus colegas, negando o que seu chefe acabou de falar. Bolsonaro diz para a criançada que seus pais terão a aposentadoria pagas pela contribuição tirada do futuro salário delas, o que não acontecerá de forma alguma se for aprovado o projeto de seu governo.

A reforma da Previdência tem sido tão discutida que qualquer criança sabe que a proposta do ministro Guedes é de um regime de capitalização. Até uma criança de sete anos sabe a diferença entre o regime atual e o que pode ser implantado, mas como estamos falando de Bolsonaro, cabe citar Marx, não o comunista, mas o outro, Groucho: “Chamem uma criança de sete anos!”.

Bolsonaro parece que desconhece os projetos que seu governo envia ao Congresso. E não é só com o da reforma da Previdência que ele faz confusões sérias, como se estivesse por fora do que anda acontecendo. Acaba fazendo papel de idiota. A não ser que sejam de má-fé os sinais populistas que emite o tempo todo, como uma artimanha para manter uma porta aberta para cair fora se o seu ministro da Economia não conseguir emplacar o plano ultraliberal.
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POR José Pires

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Imagem- Foto de Marcos Corrêa, PR

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Raoni representa o verdadeiro Brasil no exterior

Jair Bolsonaro teve que evitar uma viagem a Nova York para receber um prêmio e foi para Dallas, no Texas, onde foi obrigado a arrumar um encontro às pressas com o ex-presidente George W. Bush, que até agora deve estar em dúvida quem é o cara que apareceu para visitá-lo sem ser convidado. O encontro durou apenas dez minutos.

Já o cacique Raoni viajou para a Europa, onde com três outros líderes da Amazônia — Kailu, Bemoro Metuktire e Tapy Yawalapiti — realizam uma turnê até o final deste mês. Levam aos europeus um alerta para salvar a reserva do Xingu, em sua biodiversidade. Raoni disse que a reserva vem sofrendo a invasão de traficantes de madeira e de animais, garimpeiros e caçadores.

Nesta quinta-feira, Raoni e seus companheiros foram recebidos no Palácio do Eliseu pelo presidente Emmanuel Macron. A reunião durou 45 minutos e Macron, que mesmo o mais desinformado bolsonarista deve saber que é um político liberal, anunciou que a França vai sediar uma cúpula internacional de povos indígenas do mundo inteiro, no início de 2020.

Não é o caso de confrontar histórias pessoais. No futuro, o grande Raoni será lembrado com respeito, quando Bolsonaro será apenas uma nódoa na memória brasileira. No entanto, fica evidente o prestígio político de quem leva aos outros questões substanciais e muito sérias, com preocupações que fazem sentido ao conjunto dos seres humanos.

Com o planeta Terra em alto grau de risco, a preservação do meio ambiente não é mais uma pauta alternativa, muito menos de exclusividade da esquerda. No Brasil, só esta direita tacanha que se alinha com os mais gananciosos empresários e produtores rurais é que procura sustentar uma discussão vazia acerca dos perigos que pairam sobre a humanidade.
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POR José Pires

José Dirceu de volta para o xilindró

Nesta quinta-feira tivemos pelo menos uma notícia que rende algum respeito à Justiça. Foi negado pelo TRF-4 recurso que pedia a prescrição da pena de 8 anos e 10 meses do ex-ministro petista José Dirceu na segunda condenação na Lava Jato. Foi expedido ofício para cumprimento imediato da prisão do chefão petista e nesta sexta-feira ele se apresentou à Polícia Federal, em Curitiba, para o cumprimento da pena.

O relatório da desembargadora Cláudia Cristofani, aprovado por unanimidade, traz um trecho que merece ser lembrado. “Não há que se falar em prescrição retroativa para os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro”, ela escreveu.

É preciso mesmo acabar com um monte de facilidades para os criminosos e entre as mamatas está a prescrição, que merece ser repensada. Crime de corrupção não tem que ter prescrição. Mas existem outras leis que favorecem o crime. Dirceu será beneficiado por ter mais de 70 anos na data da sentença. Isso é outra coisa que devia acabar.

A revista Veja já havia publicado uma notícia sobre um encontro ontem à noite em homenagem a Dirceu, em clima de despedida. Compareceram 350 pessoas, incluindo todos (eu disse TODOS) os deputados e senadores do PT. Isso explica a articulação da esquerda contra qualquer tentativa de impor rigor no combate ao crime, especialmente o de corrupção. Entende-se também a indignação esquerdista contra a prisão em segunda instância. Pelo bem estar de seus chefões, esse pessoal é capaz de relevar a libertação de assassinos, estupradores e outros criminosos cruéis que seriam soltos caso caia a prisão em segunda instância.
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POR José Pires

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Imagem- Dirceu em junho de 2018, em foto de Marcelo Camargo, Agência Brasil

Visita fora de hora

A jornalista Lúcia Guimarães conta no site da Veja que Freddy Ford, porta-voz do escritório de George W. Bush, disse que o ex-presidente americano foi surpreendido com a visita de Jair Bolsonaro. O porta-voz explicou que ao contrário do que afirmam algumas reportagens, o ex-presidente não esteve envolvido no convite a Bolsonaro para sua viagem a Dallas. E tem mais: o encontro com Bush durou apenas 10 minutos.

Que mico, não? Mas que nenhum brasileiro se avexe, pois é provável que a imagem do Brasil não tenha sido atingida. Do jeito que é o Bush, até agora ele deve estar em dúvida se o cara que esteve lá era afinal o presidente da Bolívia ou do Peru.
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POR José Pires

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Bolsonaro e seu prestígio de fast food

Corre pela internet esta foto de Jair Bolsonaro em Dallas, no Texas, comendo hamburger numa lanchonete não identificada. É a cena patética de um presidente brasileiro numa viagem sem agenda política importante, totalmente desprestigiado, tendo apenas sua equipe como companhia. Bolsonaro está em Dallas depois de ter cancelado na semana passada sua viagem para o recebimento de um prêmio em Nova York, onde dois estabelecimentos rejeitaram sediar o evento da homenagem.

Mas em Dallas a receptividade também não tem sido das melhores. O prefeito da cidade, Mike Rawlings, se recusou a dar as boas vindas ao presidente, depois de um abaixo-assinado de repúdio à sua presença, feito por metade dos 14 vereadores da cidade.

Isso retrata bem as consequências das encrencas políticas criadas por Bolsonaro. No entanto, a cena lamentável de seu isolamento político na lanchonete revela também o descuido que ele tem com a própria saúde. Aqui de longe dá para notar o nível baixo de qualidade da gororoba grudenta repleta de molho e gordura, com batatas fritas encharcadas de óleo.

Estamos falando de uma pessoa que levou uma facada na barriga, sendo obrigado a passar por cirurgias delicadas, com a reconstrução do trânsito intestinal. Depois de um ferimento tão traumático ele não teria que cuidar melhor de sua alimentação? Como a moçada costuma zoar dessas gororobas: isso é tarefa de bravos. Sei que Bolsonaro é um bravateiro, mas nem uma pessoa saudável deveria comer esse tipo de coisa.

É claro que a conseqüência mais grave fica por conta dele, porém, como a conta de 400 mil reais de sua cirurgia veio do bolso do contribuinte, abusar desse jeito de intestinos que sofreram uma forte agressão recentemente não deixa de ser desperdício de dinheiro público.
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POR José Pires

As ilusões do bolsonarismo no poder

Uma das coisas que procuro fazer quando acontece um lance político importante deste governo, como a audiência na Câmara com o ministro da Educação, Abraham Weintraub, é dar uma sapeada no material que o esquema subterrâneo do bolsonarismo espalha depois pelas redes sociais. Por este meio é possível não só avaliar a percepção que o bolsonarismo vem tendo de seus próprios problemas como também pode-se prever erros futuros.

E tudo indica mais atrapalhação vindo por aí. Logo que o ministro Paulo Guedes andou tendo aquelas encrencas no Senado e na Câmara, quando exercendo em plenitude sua arrogância e inabilidade política, quebrou o pau com parlamentares na própria casa deles, também corri para ver o que o bolsonarismo espalhava pela internet. Estavam naquela mesma toada, como o marketing tosco do supremo vencedor de batalhas. O texto é sempre na linha de “Paulo Guedes arrasa fulano” ou “Paulo Guedes cala não-sei-quem” e por aí vai.

A impressão é que o bolsonarismo tem como equipe de comunicação política uma porção de moleques viciados em internet que são instruídos para dar uma força a ministros e parlamentares amigos do governo. O primarismo tem sua origem em um equívoco de campanha, fortalecido pela impressionante vitória obtida: eles tem toda fé que Bolsonaro se elegeu devido à genialidade política do grupo que o cercava e a extrema capacidade de comunicação deles todos, incluindo o candidato.

Ocorre que não foi este o motivo do Brasil ganhar este este presidente inviável. Mas já ficou tarde para que entendam como foram para o poder. E nesta incompreensão terão dificuldade de mantê-lo. É uma das razões da manutenção do mesmo espírito da campanha, na continuidade da propaganda tosca. A ilusão de vitória política que tiveram com as lamentáveis performances de Paulo Guedes no Senado e na Câmara se repete agora na avaliação do desastroso embate do ministro da Educação com os deputados, que foi ainda mais negativo para o governo. E como esse pessoal se nutre basicamente do que eles mesmos espalham pelas redes sociais, Weintraub deve estar se achando o máximo. Pode-se prever que ainda darão muitas outras cabeçadas.
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POR José Pires

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Imagem- A foto da deputada Joice Hasselman levando o ministro da Educação pela mão feito
um estudante indo para a sabatina é de Fabio Rodrigues Pozzebom, Agência Brasil

Doce encontro de maiorais em Nova York

Como Jair Bolsonaro anda com medo de viajar para Nova York, enquanto ele seguia para dallas, no Texas, quem brilhou no evento da Câmara de Comércio Brasil foi o governador João Dória. Como se sabe, Doria é um sujeito dinâmico, de tal modo que a única garantia de que ele não largará o mandato de governador pelo meio é que eleição para cargo mais importante só tem em 2022. Até por isso, a ausência de Bolsonaro foi bem aproveitada por Doria, no papel de vendedor das facilidades de negócios no país. Esqueçam o Bolsodoria. Os indicativos são de que discurso violento não traz mais tanto benefício, o que exige uma mudança de marketing.

O rega-bofe teve a participação de empresários e investidores. Além de Doria também estavam em Nova York os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e David Alcolumbre, na mesma mesa em que estava o presidente do STF, Dias Toffoli, como pode ser visto na foto que publico, extraída do blog do jornalista Jamil Chade. Mas o que é que essas figuras públicas têm a ver com um evento para contatos com investidores? Nada, é claro. A não ser que se acredite que depois de ver juntos esses três, bebendo vinho francês, um investidor americano ficará mais convencido a arriscar seus dólares em nosso país.

Mas pode-se dizer que cada qual que viaje para onde quiser e vá ao evento que julgar apropriado. Bem, de fato a situação pode ser vista por este ângulo, no entanto os custos teriam de sair exclusivamente do bolso dos presidentes do Senado, da Câmara e do STF, o que não foi o caso. O país está em crise, sem dinheiro para uma porção de gastos essenciais, mas sempre tem verba pública para essas inúteis atividades de representação, que nada mais são que viagens de recreio de maiorais.
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POR José Pires

O leitor da cara alheia

A dificuldade pessoal de Jair Bolsonaro para entender o básico fica muito clara com este encontro com o ex-presidente George W. Bush, nos Estados Unidos, quando depois ele passou aos jornalistas interpretações políticas da posição de Bush sobre questões atuais muito sérias da Venezuela e da Argentina, pelo que teria percebido no “semblante” do ex-presidente americano.

Suas palavras: “Eu não sou vidente, mas, pelo semblante, eu entendi que ele [Bush] tem preocupação não só com a Venezuela, bem como a questão da Argentina”.

Ora, parece que temos então uma novidade interessante. Bolsonaro, que evidentemente é um sujeito que não costuma abrir um livro, agora deu para “ler semblantes”? Não quero ficar pegando no pé do Olavo de Carvalho, mas isso parece dica de astrólogo.

Mas como não existe esse negócio de interpretar posicionamento político “pelo semblante”, fica como mais uma cretinice de Bolsonaro, além de ser uma leviandade imperdoável depois de uma audiência com qualquer pessoa, ainda mais se o encontro foi com um ex-presidente estrangeiro, que sempre representa institucionalmente o interesse de seu país.

Neste caso, a lição é muito simples, fácil talvez até mesmo para Bolsonaro. De um encontro com alguma autoridade só se deve ter como fato o que foi dito de forma muito clara. Senão fica parecido com aqueles biógrafos de má-qualidade que revelam até o que passava pela cabeça do biografado diante de situações dramáticas de sua vida, ocorridas há muito tempo. Trazer ao leitor insondáveis pensamentos de uma personalidade que já morreu é mais ou menos o mesmo que ver no semblante de alguém algo que ele não disse.

Aliás, se fosse possível ler algo no semblante de um político americano, nos Estados Unidos isso seria feito com muito mais habilidade pelos jornalistas de lá, onde por sinal o jornalismo sempre foi de grande qualidade. Imaginem a facilidade que isso não traria aos profissionais da mídia naquelas coletivas na Casa Branca. Pelo método do Bolsonaro bastaria ficar sentado observando bem o presidente e lendo no seu semblante o que não sai pela sua boca.
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POR José Pires

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Weintraub, Paulo Guedes e suas atrapalhadas lições

Nunca houve no país um governo desastroso como o de Jair Bolsonaro, que conseguiu montar para si próprio uma equação política de tal forma problemática, que mesmo um opositor muito encardido teria dificuldade de bolar. A estratégia é destruidora. O governo não aproveitou a trégua protocolar de início de mandato, quando a população mantém uma absoluta tolerância e a própria oposição é obrigada a manter-se calada até que passe esse período de espera.

Era o momento de tomar ciência dos problemas, articular-se politicamente, estabelecer o comando sobre a máquina pública, criar pautas positivas e se possível travar a oposição. Pois o presidente Bolsonaro não fez nada disso. Ao contrário, ele levantou assuntos excelentes para seus inimigos. Que governo doido atua estimulando o confronto, como se tivesse uma eleição para disputar em poucos meses? É o governo Bolsonaro. Para a esquerda, isso tem sido muito bom. A situação ficou tão favorável que até o Twitter do presidiário Lula anda tirando um sarrinho.

O assunto mais quente pode fazer o país fervilhar nos próximos dias. Traz uma pauta criada exclusivamente por Bolsonaro, na área do ensino superior público, exatamente onde a esquerda é bem articulada e sabe atuar politicamente. A novidade é que a notória falta de tato deste governo pode ter criado uma unidade em todo o ensino superior, onde a esquerda sempre teve seu poder político restrito ao comando de organismos de representação, que ganha por meio de eleições de baixíssima participação de professores, servidores e estudantes. Ao bater de frente com as universidades, o governo junta ao mesmo bloco de resistência até quem nada tem a ver com os objetivos da esquerda.

O impagável ministro Abraham Weintraub e seu chefe deram a uma oposição até então desmobilizada esta pauta política facílima de tocar pra frente. Manifestações já aconteceram em várias cidades na semana que passou. Foi marcada uma greve geral para o dia 15 deste mês. Tudo indica que a “balbúrdia” será nacional. Nada mais fácil, com um governo que traz até chocolates para gerar assunto contra seu próprio interesse.

Na política, as chamadas “pautas-bombas” costumam aparecer como forma de pressionar o Executivo. São geralmente criadas pela oposição. A novidade é um governo que espalha seus próprios explosivos. Outro assunto que deve render bastante para a oposição é o da reforma da Previdência, com desdobramentos que com certeza chegarão às ruas. A apresentação do projeto do governo é um desastre, a começar pela incrivelmente inábil performance do ministro Paulo Guedes. Bem que uma conhecida aluna sua na universidade, a liberal Elena Landau, disse que ele foi um mau professor. E ainda era de matemática.

Guedes é tão ruim na exposição de suas ideias, que no confronto com ele até a deputada comunista Jandira Feghali passa a exalar simpatia. Políticos esquerdistas notoriamente agressivos conseguem até mesmo apelar ao respeito institucional e passar por vítimas. O “Posto Ipiranga” do Bolsonaro virou a preferência da esquerda. Adoram um debate com ele. E é claro que o clima tende a esquentar, conforme o processo se desenvolver no Congresso Nacional. Pode ser um passeio para a oposição. A bancada aliada do governo do Bolsonaro não tem capacidade de enfrentar parlamentares experientes em criar armadilhas e que agora se beneficiam com o confronto político.

E depois a pauta da Previdência deverá ir para as ruas, onde independente do modo como será aprovada servirá como um tema excelente para atiçar a população contra o governo. A reforma trouxe várias questões impopulares. Mesmo se forem limadas, estarão marcadas como intenção deste governo em tirar direitos dos mais pobres. Porém, a complicação mais difícil para Bolsonaro é que sua aprovação se dará com o país ainda em marcha muito lenta na economia.

A melhor das aposentadorias no futuro pouco significa em um país que no presente nem emprego tem. Mas acontece que o adorado ministro de Bolsonaro não estabeleceu uma relação prática entre a reforma da Previdência e a organização econômica do país, deixando o governo pendurado num projeto com efeito de longo prazo, enquanto o povo sofre o diabo no dia a dia, com os sérios problemas econômicos que há muito tempo atormentam a vida do país.
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POR José Pires

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Os descaminhos de Olavo de Carvalho

Olavo de Carvalho informa na sua página de Facebook que vai ficar três dias sem postar, mas não disse o motivo do afastamento. Nos últimos dias ele foi assunto diário na mídia, ainda que de forma altamente negativa para sua imagem. Nem é necessário fazer pesquisa alguma para saber que sua rejeição está em alta, com poucas possibilidades de que ele possa reverter o estrago.

Atiçador de conflitos, com o pouco cuidado que tem ao espalhar a cizânia o professor da Virgínia cometeu um erro grave enquanto atacava pesadamente a ala militar do governo Bolsonaro. Olavo escreveu que “altos oficiais militares” criticados por ele foram “buscar proteção escondendo-se por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas”, em referência ao general Villas Bôas, que sofre de doença degenerativa.

A indignidade só não foi repudiada por seus discípulos mais próximos. Poucas vezes se viu unanimidade parecida na política brasileira. Ninguém gostou do que ele escreveu. A grosseria teve protestos até de quem costuma se divertir com a atrapalhação causada no governo Bolsonaro pela sua xingação. Olavo ainda tentou consertar o estrago, inventando uma tola teoria conspiratória de que articularam tudo para que ele escrevesse o post desastrado depreciando a condição de saúde de Villas Boas, mas esta idiotice não colocou.

Esses três dias de resguardo anunciados pelo Facebook me parece pouco para uma tarefa que faz tempo que tem sido deixada de lado por Olavo, que é escrever coisa séria. Poderiam ser até mesmo artigos sobre a atual conjuntura, com ideias que ajudassem o governo apoiado por ele a concretizar alguma coisa. O sujeito quer ser reconhecido como filósofo, mas virou um caçador de likes nas redes sociais. Fica o tempo todo escrevendo palavrões e dando sarrafadas em integrantes do governo que ele apóia. Vai acabar sendo lembrado apenas por isso e mesmo assim não será por muito tempo.

Algumas pessoas tentam fazer análises elaboradas, procurando encontrar um habilidoso plano nesse comportamento de moleque mal educado, mas podem fuçar nessas nojeiras todas que eu duvido que surja dentre as maluquices de Olavo de Carvalho algo além da aparência de um tremendo desvario de um sujeito que perdeu de vez o bom senso e que não sabe mais nem qual é seu próprio objetivo.
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POR José Pires

terça-feira, 7 de maio de 2019

Olavo de Carvalho contra militares: briga suja no bolsonarismo

Como é notório, Olavo de Carvalho nos últimos dias está empenhado em uma artilharia cerrada contra os militares que ocupam cargos no governo Bolsonaro, numa briga por espaço no governo. Isso é até natural na política, no entanto, levando em consideração o resultado que sua metodologia de luta vem apresentando, há que se considerar se no final sobrará governo para seus olavetes pegarem umas boquinhas.

Não cabe aqui avaliar o que Olavo vem fazendo tendo em conta minha posição quanto a esse governo ou o que penso dele próprio. Sou contra ambos. Mas tenho que dizer que ele embola-se em seus próprios argumentos. Temos um caso sério de uma figura que é um  poço de contradição nos termos. E na prática. Já faz tempo que me parece que o comportamento do velho professor da Virgínia revela algo mais que a ferocidade também natural de um sujeito em uma luta política, ainda mais quando essa figura é alguém como Olavo, que incorporou todos os defeitos de sua história como esquerdista e depois como direitista.

Parece haver um sério desarranjo psicológico por detrás dessa movimentação histérica em busca da mera cizânia. Não faz sentido tanto esforço que gera apenas confusão e não tem resultado prático para seu grupo político, os chamados olavetes, como também desmobiliza demais os esforços de um governo que tem sua origem em grande parte em suas ideias. Muitos ficam procurando uma lógica política em seu comportamento. Não vejo assim. O que ele tem feito nem é matar a galinha dos ovos de ouro. Olavo pisa em sua cabeça enquanto o bicho mal saiu do ovo.

Nada tenho a ver com os dois lados dessa briga, mas sei do mau resultado do que esse sujeito endoidecido vem fazendo. Ai de nós se houver muita influência sobre jovens dessa forma de debater política e de procurar criar espaços políticos. É uma cultura da provocação barata, do insulto, do desrespeito à opinião alheia, da construção de versões mentirosas conforma o interesse de ocasião. Temos aí um perigo contra o qual não devemos nos calar. Pode ser o nascedouro de uma visão autoritária muito perigosa, seja tida como de esquerda ou de direita, não importa, afinal Olavo tomou lições de autoritarismo tanto dos comunistas quando da direita.

Seus ataques aos militares do governo Bolsonaro dão vergonha alheia até em quem é da oposição. O nível é baixo demais, com xingamentos até risíveis, como quando ele chama o ministro Santos Cruz, um general da reserva, de “bosta engomada”. Puxa vida, como é que alguém que quer ser reconhecido como “filósofo” se serve de argumentos desse tipo? E tem coisas muito piores e nada engraçadas. Nesta madrugada, Olavo postou no Facebook e no Twitter uma mensagem em que cita o general Eduardo Villas Bôas, de uma forma que até para um Olavo de Carvalho ele foi longe demais.

Ele diz que para se defenderem de seus ataques os militares se escondem “por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas”. Villas Bôas sofre de uma grave doença degenerativa que impede seus movimentos. Ultimamente ele tem dificuldade até para respirar. No mesmo post Olavo termina com uma afirmação que serve para qualificar quem posta essa indignidade: “Nem o Lula seria capaz de tamanha baixeza”. É verdade. Nem o Lula seria capaz de algo tão baixo como o que Olavo de Carvalho anda escrevendo.
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POR José Pires

sábado, 4 de maio de 2019

Nova York, um amor de cidade

Nesses dias em que Jair Bolsonaro deve estar sentido muito ódio por Nova York, lembrei de um dos logotipos mais importantes do Século 20, uma declaração de amor à cidade. O trabalho gráfico passou depois a influenciar a comunicação mundial. Ao contrário de Bolsonaro, milhões de brasileiros deve estar amando o que Nova York fez nesses dias, então vamos lá.

É esta imagem que publico aqui, criada por Milton Glaser, um dos grandes artistas gráficos que já existiu e também grande desenhista, criador outras imagens também muito marcantes. É um dos modernizadores da ;e comunicação de massa, genial ilustrador e publicitário, um dos bambas que no século passado movimentaram o mundo com sua criatividade.

O logotipo fez parte de uma campanha publicitária de 1977 para promover o turismo em Nova York, que teve também uma música, da autoria de Steve Karmen. A música é competente, mas o que ficou mesmo foi logotipo, para o qual foi usada uma tipologia que era novidade na época, a American Typewriter, inspirada nos tipos de máquina de escrever — a fonte foi criada em 1974 por Joel Kaden e Tony Stan.

Cabe apontar que era dessa forma que a gente escrevia nesses tempos distantes do computador e ainda mais da internet, batendo letra por letra as frases na fita da máquina, que passava para o papel o que pensávamos.

A grande sacada de Milton Glaser foi a colocação do coração formando a frase. Esse grande artista, atualmente com 89 anos, deu ali o toque inicial do uso da imagem do coração, depois transferida para uma diversidade de formas de comunicação. O logotipo declarando amor a Nova York virou um dos ícones mais famosos do mundo.
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POR José Pires

Fuga de Nova York: o persona non grata Bolsonaro recua mais uma vez

Jair Bolsonaro não vai mais a Nova York. Nesta sexta-feira a Secretaria de Comunicação Social da Presidência divulgou uma nota informando que foi cancelada a viagem que o presidente faria para ser homenageado pela Câmara de Comércio Brasil-EUA. Estragaram a festa de Bolsonaro. Empresas desistiram do patrocínio do evento depois de forte rejeição nas redes sociais e manifestações contrárias, inclusive do prefeito da cidade. A festa teve que mudar duas vezes de lugar, começando pelo Museu de História Natural de Nova York, cuja diretoria justificou a desistência argumentando que a homenagem a Bolsonaro seria "uma mancha na reputação do museu".

Logo que a homenagem foi anunciada, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, classificou Bolsonaro como “um ser humano perigoso” e pediu a um dos lugares escolhidos que não aceitasse o evento. O senador estadual democrata de Nova York Brad Hoylman disse que o único prêmio que Bolsonaro merece é o de "intolerante do ano". Com o anúncio de que Bolsonaro desistiu da viagem, o prefeito já fez uma zoação pelo Twitter. “Ele fugiu”, escreveu na mensagem: “Sem supresas — covardes não costumam aguentar um soco”. Escreveu também que "seu ódio" não é bem vindo em Nova York.

É óbvio que Bolsonaro seria recebido não com tapete vermelho, mas com protestos na porta do evento. Escrevi aqui sobre o assunto. Na minha opinião, a rejeição criada dificultaria até a escolha de um americano que deveria também receber homenagem, conforme a praxe do evento, marcado para 14 de maio. Até hoje não se soube de um gringo que topasse encarar a cerimônia na companhia do presidente brasileiro. Nem Steve Bannon apareceu para dar uma mãozinha. A homenagem ocorre durante um jantar de gala com a presença de mil convidados. A entrada individual custa 30 mil dólares. É óbvio que o público não compareceu. Que empresário seria doido de querer o nome de sua empresa associado a esta persona non grata?

A nota do governo brasileiro é puro mimimi, como costuma dizer a moçada. Eles dizem que a viagem foi cancelada “porque ficou caracterizada a ideologização da atividade”. O texto afirma que Bolsonaro desistiu “em face da resistência e dos ataques deliberados do Prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente”.

Ora, mas pelo que se sabe é exatamente por esta linha que Bolsonaro escolheu fazer política, confrontando de forma pesada assuntos polêmicos, atuando agressivamente contra adversários, reais ou de mentira, mas de qualquer forma sempre com um discurso violento e às vezes até com muito ódio. O prefeito de Nova York não deixa de ter razão no Twitter em que dizia que Bolsonaro é um fujão. Agora que encontrou uma reação à altura era o momento do líder da direita brasileira mostrar na prática a valentia que ele e seus seguidores trombeteiam o tempo todo.

A alegação sobre a ação de “grupos de interesses”, além de revelar a frouxidão do bolsonarismo quando encontra a reação de gente determinada, demonstra ignorância sobre o efeito internacional do que o governo Bolsonaro vem fazendo em várias áreas e também da rejeição que as falas do próprio presidente vem alimentando em todo o mundo. De fato, os tais “grupos de interesse” são muito fortes nos Estados Unidos e na Europa, o que faz parte de democracias mais bem estabelecidas.

Bolsonaro perdeu uma boa chance para mostrar que é valente de fato, encarando esses opositores com mesma agressividade e até a crueldade que usa com todos que discordam dele aqui no Brasil. No entanto, essa tarefa é muito mais difícil do que insultar jornalistas brasileiros, que por imposição do papel profissional, não podem colocá-lo em seu devido lugar. Também não é a mesma moleza que insultar minorias, ofender mulheres, desmerecer o trabalho sério das pessoas e seus direitos.

Como se costuma dizer, Bolsonaro fugiu do pau. E com essa vergonhosa covardia selou de vez sua condição de presidente que não poderá mais fazer com tranquilidade nenhuma viagem ao exterior, por medo da reação que pode encontrar de estrangeiros decentes que tem a coragem de se contrapor à sua arrogância e grosseria.
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POR José Pires

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Bolsonaro e seu sonho retroativo de ser militar

Jair Bolsonaro é um sujeito tão papudo, que costuma falar certas coisas da maior responsabilidade, se colocando em um papel que não se sustenta pela sua própria história. Em cerimônia no Itamaraty, nesta sexta-feira, ele disse a diplomatas: “Quando os senhores falham, entramos nós, das Forças Armadas. E, confesso, que torcemos, e muito, para não entrarmos em campo”.

Bolsonaro forçou a barra com esse “nós, das Forças Armadas”. O presidente da República é quem manda nas Forças Armadas, porém este papel constitucional não faz dele um componente militar. Sobre isso, aliás, o general Ernesto Geisel já foi muito claro: “Bolsonaro é um mau militar”. O ex-presidente do penúltimo governo do ciclo da ditadura militar falou isso em uma entrevista, lembrando o tempo em que Bolsonaro, já como deputado federal, atiçava as casernas para que os militares dessem outro golpe, retornando ao poder.

A verdade é que Bolsonaro saiu corrido do Exército Brasileiro. Respondeu a um inquérito por insubordinação e chegou a ficar preso 15 dias. Foi em 1988 o julgamento que pôs fim a sua carreira militar. Foi absolvido no STM, mas ficou claro que o processo podia voltar a ser apreciado. Foi praticamente uma ordem para que ele pedisse pra sair.

Quem abandonaria uma carreira militar no posto de capitão, saindo do Exército para ser vereador no Rio de Janeiro? Foi o que Bolsonaro fez. Das duas, uma: ou não tinha muito apreço pela carreira militar ou foi obrigado a sair. Portanto, “nós, da Forças Armadas”, uma pinóia. Bolsonaro está mais para paisano, além de já ter demonstrado que o conceito que Geisel tinha dele como militar serve também para definir sua qualidade como civil.
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POR José Pires