quinta-feira, 28 de junho de 2012


Porrada no bom senso

Por força de interesses comerciais ultimamente o MMA virou moda no Brasil. Como a Rede Globo detém os direitos no Brasil da UFC. a emissora tem feito o conhecido esforço para aumentar o interesse na luta, que nada mais é que um vale-tudo bastante violento. Até em enredo de novela arranjaram espaço para a troca de sopapos.

MMA não é esporte, mas o tamanho peso do dinheiro que gira em torno dos eventos vem fazendo até canais esportivos darem falsamente esse status à luta. A grana que a propaganda traz também faz com que os demais meios de comunicação explorem o assunto sem nenhum interesse na discussão sobre o impressionante clima de violência que envolve até o marketing dos eventos.

Hoje em dia um bullyng entre crianças no pátio de uma escola pode virar uma comoção nacional, mas poucos chamam a atenção ao fato do país não estar precisando nem um pouco da pesada forçação de barra para impor uma luta que estimula os piores instintos de violência. Mas isso não é surpresa, apesar de que não deixa de assustar. Dá até pra entender essa incoerência nos meios de comunicação, onde o interesse da grana costuma eliminar qualquer outro tipo de responsabilidade, mas socialmente isso parece uma esquizofrenia coletiva.

O clima de violência fica muito claro nas encenações públicas entre duas estrelas do MMA, que andam acontecendo por que os dois vão fazer uma luta no mês que vem. Como o americano Chael Sonnen e o brasileiro Anderson Silva vão trocar porradas, seus empresários vieram com a manjada jogada de atrair mais público fazendo um marketing da rivalidade.

E na minha opinião o resultado acabou sendo até educativo. A discussão pública entre os dois lutadores vêm expondo de forma explícita a base conceitual violenta desse tipo de luta. Anderson Silva tem falado que vai “quebrar todos os dentes” do adversário, além de outras considerações próprias de uma briga de rua. Por seu lado, Chael Sonnen contribui no bate boca com um nível parecido.

Até o futebol brasileiro acabou entrando na grosseira encenação. Como Silva tem ligação com o Corinthians, algum marqueteiro instruiu Sonnen para trazer para a briga o rival Palmeiras. E nisso foi ajudado até pela diretoria do clube, que deu para o lutador americano uma camisa do Palmeiras. Num dos vídeos mais estúpidos disponíveis na internet, vestido com uma camisa palmeirense o americano derruba com violência um boneco caracterizado como torcedor corintiano.

E aqui temos a esquizofrenia de que falei. Já é grande a violência que temos hoje entre os torcedores e ainda aparece agora um brutamontes vestido com a camisa de um grande time dizendo que vai dar porrada no adversário que torce para outro time. Mas é desse jeito que vem sendo conduzida a coisa, com a complacência cúmplice dos meios de comunicação e, por extensão, de grande parte dos brasileiros.

E é claro que tirando o lucro de poucos, coisa boa é que isso não vai dar. Mas é assim: quando os interesses são movidos apenas pelo dinheiro o prejuízo acaba sendo sempre muito grande.
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POR José Pires


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Imagem: O lutador Chaen Sonnen derruba um boneco caracterizado como torcedor corintiano. E vestido com a camisa palmeirense ele ainda fala que vai "destruir" o adversário, numa luta "de Palmeiras contra Corinthians".


terça-feira, 26 de junho de 2012

Crime que compensa muito

Era muito óbvio o conteúdo eleitoral daquele programa que o apresentador Ratinho fez no final do mês passado com o ex-presidente Lula e o candidato do PT à prefeitura paulistana, Fernando Haddad. Pois o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo multou os três por propaganda antecipada. Cada um deles terá que pagar R$ 5.000. A decisão veio de queixa feita pelo PPS e o PSDB.

Muito bem, pode até parecer que a Justiça Eleitoral está funcionado no Brasil, mas o valor da multa acaba caracterizando aquele “Programa do Ratinho” como uma das propagandas eleitorais mais baratas da história brasileira. E isso se a multa não for anulada num outro julgamento, já que ainda cabe recurso.

Lula ficou mais de 40 minutos no ar e Fernando Haddad também foi chamado ao palco por Ratinho. Ele e Lula disseram até que o candidato petista é bonito. E tudo isso ficou bem barato. Por 15 mil reais Lula e Haddad nem passariam pela portaria do SBT. E isso sem levar em conta que esta quantia não vai sair de fato do bolso de nenhum dos três.

É dessa forma que esse pessoal vai conquistando riqueza e poder. E ainda tem gente que acredita que foi usando o carisma que Lula chegou às alturas onde está hoje.
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POR José Pires


Sem o amigo Maluf para curtir

O ex-presidente Lula disse que não se arrepende “nem um pouco” da foto que fez junto a Paulo Maluf, nos jardins da mansão de seu ex-adversário. Mas o que é que ele poderia fazer depois desta grande besteira política? Claro que vai tomar a mesma atitude que teve diante de tantas outras trapalhadas e ilegalidades. Ele sempre faz de conta que não foi com ele ou que não viu nada. Ou tenta colocar a culpa nos outros.

Mas desta vez não deu para culpar nem a imprensa, porque foi o próprio Maluf que chamou os jornalistas para a exibição da vitória política sobre o adversário que durante anos o chamou de ladrão. Lula diz que não se arrependeu da foto, mas os fatos o contradizem. O ex-presidente tem uma página pessoal no Facebook e nela não publicou a memorável foto com Maluf. Ele, que anda sempre com um fotógrafo particular ao lado.

Na página do Lula são publicados posts sobre todos os eventos de que ele participa, com imagens de seus encontros com personalidades das mais variadas. Ontem, por exemplo, foi publicada a foto do encontro com o vereador Netinho e a cúpula do PCdoB, que foram ao Instituto Lula acertar a aliança que vai dar os minutos do partido à candidatura de Fernando Haddad. E há quatro dias foi publicada uma foto com Raúl Castro, que divide com o irmão Fidel o comando da ditadura cubana.

Mas nada da foto com Maluf. A histórica reunião pública entre os dois não é nem citada. Lula diz que não se arrepende nem um pouco do encontro com Maluf, mas não publicou a foto para os amigos de Facebook darem o seu curtir.
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POR José Pires


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Imagem: Lula foi ao Rio de Janeiro para se encontrar com Raúl Castro, que estava na cidade para a conferência Rio+20. A foto é da página do Facebook do ex-presidente. Se você gosta de ditadores, pode entrar lá para curtir. Mas não vai dar para curtir o encontro de Lula com Paulo Maluf.


sexta-feira, 22 de junho de 2012


Juiz indeciso

O julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) já está bem próximo e o ministro José Antônio Dias Toffoli ainda não decidiu se vai ou não participar do processo. O ex-presidente Lula, que até tomar aquele chega pra lá público do ministro Gilmar Mendes agia como se fosse chefe do STF, já disse que “Toffoli tem que participar”. Foi o ex-presidente quem o nomeou para o cargo.

Lula fez suspense sobre a nomeação até o último minuto e antes disso ainda soltou uma de suas demagogias: "Vou escolher o nome entre os 190 milhões de brasileiros". Bem, se ele me nomeasse eu teria de recusar, pois não tenho qualificação para o cargo. Apesar de que nunca fui reprovado em concurso público para juiz estadual, como já aconteceu duas vezes com Toffoli.

A ligação de Toffoli com os dirigentes nacionais do PT é demais. A suspeição é tanta que já criou um zumzum entre os procuradores da República, que pressionam o procurador-geral, Roberto Gurgel, para que ele peça seu impedimento. O jornal O Globo trouxe uma matéria onde diz que o comprometimento de Toffoli com réus graúdos do mensalão é assunto de intensa troca de emails entre os procuradores em rede interna do Ministério Público, com mensagens que chegam inclusive ao procurador-geral.

A relação de Toffoli com o PT sempre foi parecida com a de militante, mas muito mais que isso, já que pouquìssimos militantes estiveram tão próximos dos maiorais do partido. Ele foi advogado do PT exatamente à época em que aconteceram fatos definidores do mensalão, como os empréstimos feitos por Marcos Valério para pagar dívidas partidárias. Foram aqueles milhões de reais que o então presidente do PT e réu do mensalão, José Genoíno, disse ter assinado sem saber o que era.

Toffoli foi também subordinado de José Dirceu na Casa Civil, onde trabalhou como subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil. Ele ficava na sala ao lado do ministro de Lula que a Procuradoria-Geral define no inquérito do mensalão como “chefe de quadrilha”. Mas ainda tem mais, o ministro Toffoli namora a advogada Roberta Rangel, que está na defesa de réus do processo do mensalão.

Mesmo com todo esse rol de comprovações de suas relações com réus, Toffoli tem dito que não decidirá agora sobre sua participação. E isto é um absurdo não só moral como também acaba sendo uma demonstração pública do despreparo do ministro indicado por Lula.

Ora, numa situação tão clara de comprometimento, para evitar a suspeição de favorecimento num julgamento desses ele teria de condenar todos os réus, o que torna a sua presença um constrangimento bastante incômodo para o STF. E sua incapacidade inclusive política fica evidente pelo fato do ministro aparentar ainda não ter compreendido as evidentes complicações que podem trazer a sua atuação neste julgamento.
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POR José Pires


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Imagem: O ministro Toffoli na cerimônia de posse no cargo. E se você acha que é o então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos (hoje advogado de defesa no processo do mensalão) que está por detrás de Toffoli (na foto, na foto), é ele mesmo. Thomaz Bastos está em todas.


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Orgulho ferido

É tamanha a necessidade do brasileiro acreditar em algo honesto na política que está havendo até confusão entre ética e melindre. Com a desistência da deputada Luiza Erundina em ser a vice na chapa de Fernando Haddad, estão aparecendo muitas manifestações que dão ao gesto um significado muito além do seu valor real. Triste do país que precisa de heróis, mas muito mais desgraçado ainda é o país que precisa de uma Erundina para isso.

Erundina é deputada federal desde 2002 e passou os dois mandatos de Lula e esta primeira metade do governo Dilma ignorando na prática os sucessivos escândalos deste longo período do PT no poder, mas vamos ficar só na questão da sua desistência de ser vice.

A deputada resolveu renunciar só depois da divulgação da famosa foto do Lula com Paulo Maluf, quando malufistas e petistas afinal se misturaram nos jardins da mansão de Maluf. Que Erundina ou qualquer outro resolva não participar de tamanha farsa, muito bem. No entanto ela já havia aceitado ser vice de Haddad numa situação política que não era nem um pouco ética.

De origem, a candidatura de Haddad tem todos os traços da política de coronel que é comandada por Lula no PT. O candidato foi imposto de cima, sem nenhum debate no partido e muito menos a abertura para a participação da militância. Muito ao contrário, os chefes do PT até aboliram as tradicionais prévias que o partido sempre fez. Ocorreu também o aplastramento de Marta Suplicy, cuja candidatura era muito mais lógica na história do partido, mas não era do interesse de Lula.

E até aí estava tudo bem para Erundina ser vice. A sua própria entrada na chapa foi resultado também de política de coronel, este do nordeste: o governador Eduardo Campos, atual proprietário do PSB. A participação do PSB na campanha paulistana do PT é parte de um conchavo entre os chefões dos dois partidos, numa combinação para acabar com a candidatura à reeleição do atual prefeito de Recife, que é do PT, mas não se dá bem com Lula e nem com o governador pernambucano.

Enquanto o processo era esse, Erundina estava muito bem no papel de vice. Ela já falava oficialmente como vice e até dava entrevistas amenizando a aliança com o PP, que sempre foi do seu conhecimento. Acontece que Lula deixou de ir ao lançamento dela como vice e depois posou para as fotos que todo mundo já viu. Só depois disso é que Erundina deu o fora. É um engano achar que ela fez isso por ética. Foi por melindre.
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POR José Pires


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Imagem: Lula e Paulo Maluf se encontram como velhos chapas nos jardins da mansão de Maluf. Foi só aí que Erundina saltou fora.


terça-feira, 19 de junho de 2012


Lula, Maluf e companhia

Já se sabe que no acordo entre Paulo Maluf e o PT teve uma exigência de Maluf para que sua divulgação fosse feita na mansão dele e com a presença de Lula. E o ex-presidente da República foi lá fazer o papelão que todos vimos ontem. Maluf acabou saboreando uma vitória histórica no aspecto moral. Moral dele, é claro. E o PT acabou de vez com qualquer restolho de respeito que ainda pudesse existir em sua imagem.

Como é que ninguém chamou a atenção do Lula que dessa forma o acordo com Maluf teria um custo alto demais? Talvez até tenham feito isso, mas Lula já parece estar naquele ponto em que não ouve mais ninguém. Ele comete um dos erros perigosos em política que é acreditar no mito. Neste caso o mito é ele mesmo e foi feito com muita propaganda. Será que Lula pensa que o poder que ele e seu partido alcançaram é fruto de sua sedução pessoal?

Este é o mito que foi construído, mas fora da propaganda a realidade pode ser outra. E se ele não entendeu isso depois do quiproquó que deu o encontro furtivo com o ministro Gilmar Mendes, fica difícil articular qualquer coisa em que haja um relativo controle de encaminhamento.

Um acordo com Maluf não está no mesmo nível das demais combinações eleitorais tão comuns nessa época. Por isso é que fiquei surpreso que nem um marqueteiro tenha apontado a forte simbologia desse político que já foi definido pelos próprios petistas como “nefasto”.

O ex-prefeito de São Paulo é o próprio símbolo da corrupção, de tal forma que do seu sobrenome surgiu uma expressão negativa: o verbo “malufar”. E o PT até faturou muito eleitoralmente fazendo em São Paulo exatamente esta distinção entre ética e Maluf. Dá até pra pensar que Lula não entendeu direito esta questão, mas isso seria espantoso demais para um político com sua experiência. Outra impressão que me dá é que Lula está numa situação pessoal de muita perturbação. Daí os tantos erros recentes.

Já faz tempo que a reputação do PT não é boa, mas foi um estrago danado o acordo com foto tirada nos jardins da mansão com Lula e o agora compadre Paulo Maluf. O partido já vem numa desabalada queda moral desde que Lula foi eleito presidente da República e desde lá o próprio chefe maior também não em andado com as melhores companhias, mas a foto com Maluf simboliza demais esta queda moral. Nem os adversários bolariam um golpe maior na imagem de Lula e do PT.
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POR José Pires


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Imagem: Petistas e malufistas nos jardins da mansão de Paulo Maluf. No final, eles se misturaram.


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Negócios, negócios, dignidade à parte

Um dos melhores negócios hoje em dia, danado de bom para ganhar poder e dinheiro, é o comércio de horário eleitoral gratuito, que de gratuito não tem nada. A conta é do contribuinte e quem repassa o dinheiro para as emissoras é o Estado.

Para entrar neste mercado altamente lucrativo é preciso ter um partido. E o deputado Paulo Maluf tem um, o PP. A base da aliança entre o PT e Paulo Maluf em São Paulo é só o toma-lá-dá-cá com o horário do partido como moeda de troca. O pagamento costuma vir depois em forma de secretarias e cargos comissionados, mas em alguns casos entra também os custos de campanha eleitoral e existe até o caso do acerto ser em espécie. Em São Paulo ainda não sei como é que Lula e Maluf fecharam o negócio.

Mas por lá o PT precisa desesperadamente dos 1min35 do partido de Maluf, tanto que Lula se obrigou a ir até a mansão de Maluf, no Jardim Europa. O encontro entre os dois não se deu em sede de partido ou comitê de campanha. Foi na mansão do dono do horário eleitoral. Lula deve estar abilolado para ir beijar a mão do Maluf na casa dele. E acho que não é preciso especular sobre quem foi que escolheu o local.

O horário eleitoral gratuito rende muito e não é só quando tem eleição. A lei diz que o uso deve ser para propaganda institucional do partido. Só que o dono do partido faz do horário o que quer. Se a Justiça brasileira é cega de tudo por que a Justiça Eleitoral veria alguma coisa? O horário virou uma propriedade particular que serve de instrumento para propaganda pessoal, veiculando o tempo todo o nome de caciques políticos.

É isso que cria as condições para que muita gente jamais saia do poder. Com o nome sempre em evidência, fica muito mais fácil ganhar uma eleição proporcional e obter um gabinete de deputado em Brasília para facilitar os negócios.

Maluf, que hoje é deputado federal, é um exemplo disso, mas todos os partidos fazem a mesma coisa. Em cada estado brasileiro estão os chefes partidários tocando suas carreiras políticas na moleza com este grande capital. Os partidos são mantidos sem interação com a sociedade, não se renovam e nem se organizam. E também não se preocupam nem um pouco em criar debates vivos e interferências de qualidade em suas comunidades. O negócio deles é outro: é o horário eleitoral.
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POR José Pires


terça-feira, 12 de junho de 2012

O país do futuro sem estruturas

Afinal, qual é a língua que as autoridades brasileiras falam? Portuguesa é que não é. Em um evento oficial das Forças Armadas a presidente Dilma Rousseff mencionou a necessidade da ampliação da "capacidade dissuassória" do país.

Bem, como a mensagem foi lida na frente de representantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha, a presidente deve estar falando sobre a capacidade de combate, de ir pro pau, seja numa situação de ataque ou em defesa dos interesses do país e também em caso de conflito interno. É essa capacidade inclusive que costuma evitar que haja confronto militar no plano internacional. Do jeito que o mundo está é o poder militar que preserva a paz. E nação sem esse poder terá sempre mais dificuldade para exigir diálogo.

E o Brasil precisa sim, falando na língua da Dilma, de "capacidade dissuassória". E nem digo "ampliar", pois para isso é preciso primeiro ter alguma capacidade. E claro que não estou falando apenas em comprar trabuco. Falta domínio estratégico e estrutura que sirva de apoio em tempos de crises. E evidentemente tem que ser um pouco mais do que capacidade de ocupar favela para desentocar bandido.

Além da questão militar, falta também uma administração pública baseada num projeto de Nação e não nas trocas oportunas entre Executivo e Congresso, nos privilégios e na distribuição do dinheiro público entre as quadrilhas que encenam de forma fraudulenta uma suposta governabilidade. É preciso compatibilizar progresso e meio ambiente, tudo composto com decência na vida pública, pois sem isso o chamado “país do futuro” não vai chegar bem lá na frente.

No futuro do planeta países fracos terão um espaço bastante diminuído nas decisões internacionais. E podem até ser vítimas fatais na partilha dos recursos naturais de todo o mundo, que vão escasseando dia a dia. Recursos, por sinal, que em relação a muitos outros lugares o Brasil leva bastante vantagem.

O problema é que o tempo para isso vai se esgotando. Será muito mais difícil se estruturar em meio a uma crise. Essas coisas devem ser feitas antes. E o Brasil nem deu início ao trabalho neste campo. Se tivermos mais dois governos pela frente distribuindo demagogia para pobre em vez de administrar o país de forma ampla, estratégica e consequente, a posição futura do Brasil será a de uma colônia do século 21.
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POR José Pires


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Imagem: Arzach, personagem do desenhista francês Moebius (1939-2012) em história em quadrinhos que se passa num futuro caótico e violento. E o Brasil não está se preparando para chegar lá.









Estão fazendo making of até de propaganda de TV. Vi agora há pouco o making of do comercial de São João da cerveja Antárctica. Todo artificial, com efeito de sonorização até no ruído da chuva que caiu no meio das filmagens. Muito parecido com aqueles extras de Hollywood em que até os erros de cena dão a impressão de terem sido ensaiados. Ainda bem que ao contrário da propaganda o making of a gente só vê uma vez.





segunda-feira, 11 de junho de 2012


Parada murcha

E essa agora: a Parada Gay de São Paulo encolheu. A expectativa era da participação de 4 milhões de pessoas, o que é um exagero danado mesmo para um lugar do tamanho de São Paulo, mas parece que a festa não é de atrair tanta gente assim.

Todos os jornais perceberam a diminuição da quantidade de gente e tanto a organização da parada quando a Polícia Militar resolveram não apresentar estimativas oficiais de público. Mas a Folha de S. Paulo, novidadeira como só ela, fez uma "medição científica" que tirou muitos zeros da conta. Segundo o jornal, a parada reuniu 270 mil pessoas. Para avaliar a Parada Gay o Datafolha usou o mesmo método que mediu a participação na 28ª Caminhada da Ressurreição.

Como brasileiro é danado para mentir nestas questões de tamanho, a Parada Gay de São Paulo já vinha sendo chamada de "a maior do mundo". No ano passado a estimativa oficial foi de 4,5 milhões de pessoas. Se for feita uma relação com medição de agora do Datafolha, no ano passado na verdade a Parada Gay deve ter reunido no máximo 500 mil pessoas.

É claro que ainda é um sucesso de público, mas não é tanto como vinha sendo alardeado. E a tendência talvez seja de uma dimuição ainda maior no ano que vem, afinal o pessoal agora pode até casar oficialmente. E quando a gente casa, costuma deixar de lado a gandaia.
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POR José Pires

Ivan Lessa e o espírito criativo de O Pasquim

No texto sobre a morte do Ivan Lessa que publiquei ontem eu disse que ele foi essencial no espírito de “O Pasquim”, este jornal tão especial e já esquecido entre as tantas precisosidades que o brasileiro deixa para trás. Uma das suas melhores frases, que também já citei, é aquela em que ele diz que "a cada 15 anos o brasileiro esquece o que aconteceu nos últimos 15 anos".

Ivan Lessa escreveu isso na década de 70, quando o golpe militar de 64 já estava com mais de dez anos. De lá pra cá o período da perda de memória até se estreitou. Hoje em dia, com menos de cinco anos o brasileiro já perdeu a noção do que se passou em seu país. Muitos não lembram nem em quem votou para vereador ou deputado.

Então como é que o brasileiro vai lembrar o que foi "O Pasquim"? Muitos identificam este semanário como um jornal de humor, mas isso não caracteriza de forma alguma o significado para o Brasil desta publicação genial.

O Brasil teve com com a ditadura militar um dos ciclos mais cretinos da nossa história. Quando se fala hoje em dia daquele tempo, costuma-se lembrar mais a violência política contra a democracia e por isso fica muito em segundo plano ou nem é citado o conservadorismo instalado por aqui na cultura e no comportamento.

E como depois da ditadura a nossa democracia teve um desenvolvimento caótico, acabamos em um país de baixa qualidade política e cultural. Daí, existem até algumas pessoas fazendo um revisionismo histórico fraudulento, buscando destacar qualidades na ditadura militar. Nunca acredite numa tolice dessas.

A época da ditadura militar foi das mais idiotas que já houve em nossa história. Com o apertão de ferro na política veio também o apertão no comportamento dos brasileiros, com os militares querendo legislar e impor suas ordens até sobre o biquini das moças ou sobre o jeito de falar, namorar e, claro, fazer sexo.

Evidentemente juntaram-se em torno do golpe de 64 um conjunto de instituições reacionárias que tinham como objetivo básico o controle da vida das pessoas.

Entre essas forças retrógradas estava a Igreja Católica. Todo mundo se esquece, mas durante a ditadura a Igreja torrou a paciência da sociedade brasileira com várias questões, entre elas o divórcio. Impuseram durante anos este dogma católico para todos os brasileiros. E para isso contaram com os militares. Imagine um país onde os militares e os padres é que decidem como você deve se comportar. O Brasil era assim.

E aí é que entra "O Pasquim", com uma influência política e cultural que nenhum outro outro órgão de imprensa teve neste país. Aquela redação genial foi trazendo uma abertura na linguagem e no comportamento que foi um alívio naquele país fechado. E é claro que isso só podia ser feito por meio do humor. E nisso é que Ivan Lessa foi um craque, pois tinha uma habilidade como poucos para interferir de forma criativa revelando o rídiculo das convenções impostas de cima.

Ele editava, pautava, escrevia enredos de fotonovelas, criava capas, bolava piadas com fotos e gravuras, bolava cartuns e personagens, criava quadrinhos junto com o Jaguar. Enfim, ele fazia o diabo naquela redação. No humor, tinha um jeito tal para a coisa que com uma legenda de foto fazia o jornal crescer em qualidade e o leitor dar gargalhadas da hipocrisia que tinha tomado a faixa presidencial nas armas.

Naquele tempo, meus meninos, até uma bunda na capa do jornal era uma luz no cotidiano opressivo. Mas para isso era preciso ter criatividade e humor. E se não tivesse alguém como o Ivan Lessa para fazer isso lá atrás com tanta genialidade, com certeza teria sido bem mais difícil viver no Bananão.
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POR José Pires


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Imagem: Ivan Lessa num recorte de texto de humor de "O Pasquim" fazendo de conta que era um turista no Rio de Janeiro.


domingo, 10 de junho de 2012

A morte de Ivan Lessa

Morte sempre atrapalha. De repente fico sabendo que morreu o Ivan Lessa e estou aqui, muito atarefado neste sábado. Como o pessoal costuma dizer nessa hora, o que eu vou dizer?

Texto é algo que nunca fica perfeito, mas entre os brasileiros o Ivan Lessa era um dos poucos que chegava lá. Seu texto sempre foi muito admirado, tanto é que um mito que se formou em torno da sua figura foi a cobrança para que ele escrevesse um romance, o que ele nunca fez.

Esperteza dele, talvez. O paranaense Dalton Trevisan era outro que também sofria essa cobrança e resolveu contemplar os credores. E se estrepou, porque o seu 'A Polaquinha" decepcionou a crítica e os fãs. Voltou correndo para os contos cada vez mais curtos.

Ivan Lessa permaneceu fazendo uma variedade de coisas na época de "O Pasquim" e há muitos anos vinha escrevendo crônicas na BBC. Eram textos sempre muito bons, que ele mesmo lia no programa de rádio. Com a internet seus textos passaram também a ser publicados no site da emissora inglesa.

Só o que ele fez em "O Pasquim" já basta para que seja lembrado na história do jornalismo brasileiro para todo o sempre. Mas é claro que por um grupo restrito de pessoas já que, como ele mesmo disse, "a cada 15 anos o brasileiro esquece o que aconteceu nos últimos 15 anos".

Sempre foi um prazer ler o que ele escrevia. Era o mais engraçado da turma de O Pasquim e foi essencial no espírito daquele jornal. Eu pouco me importava com o assunto sobre o qual o Ivan Lessa escrevia. Me deliciava com a técnica perfeita, a capacidade de fazer humor trabalhando as ambiguidades da nossa língua (Epa! E este "epa" era coisa dele) e as confusões do comportamento do brasileiro. A sua genialidade estava na capacidade de fazer rir com o tema mais banal e mesmo sem tema algum, apenas explorando o absurdo ou fazendo humor com a própria linguagem.

Ainda na época da ditadura militar ele foi um dos primeiros a perceber que o Brasil tinha tudo para não dar certo e por isso botou o apelido de Bananão no país. E nisso ele foi de uma bondade sem tamanho: os outros países da América Latina eram todos repúblicas de bananas, mas nós éramos bem mais que isso.

Teve gente que não gostou do apelido, mas a verdade é que se o Brasil continuar seguindo nesta toada será melhor mudar de vez o nome oficial para Bananão.
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POR José Pires


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Imagem: Acima, trecho de uma Pasquim Novela, uma das engraçadas criações de Ivan Lessa em "O Pasquim". O debochado espírito deste jornal era em grande parte obra dele. Sentado à mesa apontando para Ivan Lessa está Millôr Fernandes, que morreu no final de março. Abaixo, recorte de um texto de humor publicado em O Pasquim com Ivan Lessa se fazendo de turista no Brasil. O jornalista morava em Londres desde 1978.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

O alimento em outras mãos

A trágica morte do principal executivo da fábrica de alimentos Yoki acabou trazendo também outra má notícia que estava restrita às seções de economia dos jornais e sites. A Yoki foi vendida há poucos dias para a companhia americana General Mills. É mais um lance da desnacionalização de indústrias e empresas no Brasil que atinge vários setores da economia. Isso tem ocorrido até na área editorial. Várias editoras brasileiras estão hoje sob o controle de grupos estrangeiros, que ocupam cada vez mais espaço inclusive na edição de livros didáticos.

Marcos Kitano Matsunaga, diretor executivo e membro da família que fundou a Yoki, foi morto e teve o corpo esquartejado. Sua mulher está presa como suspeita do crime. A negociação que levou à venda da empresa para o grupo estrangeiro foi feita enquanto Matsunaga estava desaparecido.

A General Mills pagou R$ 1,75 bilhão pela Yoki e pretende ampliar suas vendas anuais na América Latina para US$ 1 bilhão, que é mais do que o dobro do que vende até agora.

A aquisição feita pela gigante americana faz parte de sua estratégia de conquista do mercado brasileiro de alimentos. Um comunicado feito pela empresa logo depois de fechado o negócio afirma o seguinte: "A Yoki acrescenta recursos chaves e escala geográfica que irão acelerar o nosso crescimento no Brasil". O comunicado diz ainda que haverá a expansão no Brasil dos negócios de duas outras marcas da empresa, a Haagen-Daz e Nature Valley, além da introdução de "novas marcas da General Mills nesse importante mercado".

A entrada de uma empresa desse porte na área de alimentos certamente também irá influir de forma decisiva na relação com os agricultores brasileiros, categoria que têm sofrido bastante nos últimos tempos com a imposição de preços e condições de negociação de seus produtos em um mercado cada vez mais monopolizado.

A General Mills atua em mais de 100 países. No Brasil, só com a Yoki ela passa a comercializar mais de 600 produtos de nove marcas. Produtos que, por sinal, sempre foram muito bons. O Brasil vai ficando cada vez menos brasileiro e perdendo a capacidade de fazer seus próprios produtos. Se continuar assim, logo mais não teremos mais nem pipoca brasileira.

E aqui concluimos a ligação dos pontos: a Delta foi comprada pelo Grupo JBS.
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POR José Pires


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Imagem: Yes, nós temos popcorn!


Dano moral

No Brasil, já vimos corrupto se justificando de várias formas depois de pego em flagrante. Tem os que falam em perseguição política, outros dizem que foram traídos e teve até presidente da República que disse que de nada sabia e que também cometeu a maracutaia porque todos faziam o mesmo.

Mas vai ser difícil alguém ganhar da justificativa da empreiteira Delta Construção depois de flagrada em muitas irregularidades. Em nota divulgada à imprensa nesta segunda feira, dia 2, a Delta afirmou que está sofrendo "bullyng empresarial".

Do jeito que este país anda desavergonhado, não vou me espantar se um dia desses o contribuinte brasileiro for obrigado pela Justiça a pagar indenização por tratar os pobres coitados dos corruptos com tanto preconceito.
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POR José Pires