quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O triplex que pode valer por um Fiat Elba

Já se fala bastante no triplex do Guarujá como o Fiat Elba do Lula, com a gozação rolando nas redes sociais e a imprensa descobrindo contradições o tempo todo na versão apresentada pelo ex-presidente. É dificil saber qual é a história mais mal contada de Lula, sujeito notório por suas lorotas, mas esta do triplex é forte concorrente. Em 2014, sua assessoria havia admitido que ele era proprietário do imóvel, o que constava inclusive em sua declaração pública de bens como candidato em 2006. De fato, estava lá anotado um repasse para a Bancoop, porém de um valor bem estranho para pagar um triplex: exatos R$ 47.695,38. Ora, apenas com a reforma do triplex a empreiteira OAS teria gasto R$ 777 mil.
Depois da repercussão negativa mudaram a versão. Pegou mal o ex-sindicalista como proprietário de um triplex à beira mar numa das praias caras do Brasil. Na nova história, a responsabilidade ficava exclusivamente para sua mulher, Marisa Letícia. Até então, a preocupação era só com a imagem política do ex-presidente. No entanto, o assunto ficou mais complicado depois do edifício passar a ser investigado pela Operação Lava Jato. O Ministério Público suspeita que os apartamentos eram usados pela empreiteira OAS como pagamento de propina e lavagem de dinheiro.
O Fiat Elba é brinquedo perto desse caso, com o imóvel que vem sendo chamado por todo mundo de “triplex do Lula”, por isso ele se faz de bravo, ameaçando processar até promotores. É tudo encenação política, como tantas outras do chefão do PT em casos anteriores, mas o problema é que muitas peças foram se encaixando a partir de depoimentos da Lava Jato e descobertas feitas pela imprensa. No mês passado Lula sofreu uma derrota na Justiça para jornalistas de “O Globo”. O jornal havia publicado em agosto um matéria com o título "Youssef deu dinheiro à firma ligada à obra de prédio de Lula", o que motivou o ex-presidente a pedir indenização de R$ 25 mil de cada um dos três jornalistas autores do texto.
Lula age desse jeito. Suas ações não são contra as empresas jornalísticas. Ele ataca diretamente o jornalista, com a intenção evidente de intimidação de toda uma classe. Mas a Justiça não deu razão a ele e agora, com novos depoimentos aparecendo, sua situação vai ficando ainda mais complicada. Na ação perdida contra os jornalistas, o ex-presidente afirmava que “não é proprietário de nenhum imóvel no município do Guarujá” e alegava que sua esposa Marisa “detém apenas uma cota da Bancoop”. Ocorre que o dono da Talento Construtora, Armando Dagre Mari, afirmou em depoimento que a mulher de Lula esteve inspecionando a reforma no triplex. Ela apareceu de surpresa, acompanhada do filho Lulinha e com nada mais nada menos que o dono da empreiteira, Léo Pinheiro, atualmente condenado a 16 anos de cadeia na Lava Jato. O zelador do condomínio também afirmou que já viu Lula por lá. Ele contou que a OAS sempre “limpava o prédio e colocava flores para receber a família do ex-presidente”.
Não é incomum que em crimes que parecem perfeitos o criminoso acabe sendo apanhando por um deslize tolo, que pode ser um cigarro esquecido ou qualquer outro detalhe. A gente costuma ver bastante isso em filmes de TV, em roteiros que se inspiram na vida real, porque muitas vezes é desse jeito mesmo que os culpados acabam sendo apanhados. O Fiat Elba que botou Collor pra fora do Palácio do Planalto é um exemplo e no mensalão foi também um desacerto banal com o então poderoso José Dirceu sobre dinheiro para campanha que fez o ex-deputado Roberto Jefferson denunciar o esquema. Para enriquecer o enredo da corrupção brasileira podemos ter agora um triplex no Guarujá.
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POR José Pires

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Bolsonaro: a direita ganhando terreno

O protesto desta terça-feira em Porto Alegre contra o deputado Jair Bolsonaro teve uma cobertura da imprensa que deixou de lado o fato mais importante, que envolve o motivo da presença dele na capital gaúcha. Bolsonaro, que é militar da reserva, atendia a um convite do general de exército Edson Leal Pujol, novo chefe do Comando Militar do Sul. Essa informação saiu no pé das matérias na maioria dos lugares e se não fosse a bagunça de esquerdistas é possível que nem dessem a notícia. A baderna promovida pela militância teve por detrás a deputada Maria do Rosário, Luciana Genro e Manuela D'Ávila, hoje deputada estadual. A trinca está de olho na prefeitura de Porto Alegre, razão da disciplinada comunista Manuela ter trocado o Congresso Nacional pela Assembléia Legislativa gaúcha, num plano do PCdoB para ela ter mais visibilidade política entre os eleitores porto-alegrenses. Portanto, apesar da encenação de manifestação por direitos civis, o objetivo do furdunço esquerdista é provinciano.
Mas o que interessa na verdade ao resto do país é a troca de comando para a qual foi convidado o deputado Bolsonaro. Uma justificativa é que o general Pujol foi seu colega de turma na Academia Militar das Agulhas Negras, entre 1947 e 1977. Porém, levando em consideração o que representa hoje Bolsonaro como líder da crescente direita brasileira, fica muito óbvio o gesto político do novo comandante. Mas tem mais: Pujol substituiu no Comando Militar do Sul o general Antônio Hamilton Martins Mourão, afastado do posto depois de criticar o governo federal e propor uma homenagem ao coronel Brilhante Ustra, notório por seu papel na repressão durante a ditadura militar. Dá a impressão de que, mais que um recado, o convite a Bolsonaro foi um desafio à autoridade da presidente da República. Não vamos falar de golpe ou qualquer outra forma de insurreição, mas isso é mais um indicativo de uma ampliação da cultura política de direita nos meios militares.
O convite do chefe militar a Bolsonaro serve como demonstração de que a insatisfação nos quartéis pode ser muito mais séria do que sabe-se até agora, na desinformação geral causada pela superficialidade do jornalismo brasileiro. E essa inquietação militar foi causada por fustigações da própria esquerda. A direita vem adquirindo cada vez mais força no Brasil, o que é possível notar mesmo com negligência da mídia com este assunto. Foi um crescimento facilitado pela esquerda, com a colaboração irresponsável da máquina de comunicação e propaganda do governo do PT. Já faz tempo que a esquerda perdeu a capacidade de analisar com seriedade as consequências do que faz. De olho apenas em benefícios políticos ocasionais, foram gradativamente abrindo amplos espaços para o crescimento da direita, de tal forma que temos hoje um Bolsonaro como estrela nacional da política, ele que por merecimento amargou durante pelo menos duas décadas o papel de político do baixo clero. O que aconteceu em Porto Alegre mostra que o país pode ter surpresas políticas de curto prazo, com influência já nesta eleição municipal e de resultado ainda mais determinante na eleição do próximo presidente da República.
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POR José Pires

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Lula e seus similares

Ao dizer que não existe ninguém mais honesto do que ele, Lula deixa seus próprios aliados numa situação difícil. Renan Calheiros, Fernando Collor, José Sarney e Paulo Maluf não podem sair por aí dizendo a mesma coisa. Se falarem isso ficará ainda mais claro que são tão desonestos quanto o Lula e além disso vai parecer também que são igualmente idiotas.
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POR José Pires

A fatal falta de atração

Já disse várias vezes que a situação do Brasil é tão grave que se o PT não for tirado do poder corre-se o risco de entramos numa crise irremediável, com o nosso futuro tão comprometido que obrigue o país ser mantido por um tempo muito longo a custa de remendos. Teremos de passar a vida tapando goteiras, sem tecnologia ou recursos para fazer um telhado novo. Não tem problema que alguns achem que estou sendo rigoroso demais: já estou rigorosamente conformado. Lembram antes da eleição, quando qualquer um que apontava que 2016 seria um ano trágico caso Dilma Rousseff fosse eleita era demonizado de forma agressiva pelos petistas? Fomos chamados de "catastrofistas". Pois aí está a catástrofe, que em razão da desestruturação geral do país causada pelos petistas desde que Lula entrou pela primeira vez no Palácio do Planalto, será uma dificuldade para qualquer um resolver. Mas será que não tem muito mais coisas que não sabemos sobre o drama da nossa economia? É possível. Um governo que acoberta e até trata como heróis ladrões do dinheiro público na quantia de bilhões pode muito bem esconder a verdade sobre a quebra do Brasil.
E está sempre aparecendo um indicativo de que o rumo do país pode ser ainda pior do que revelam os dados de que dispomos. Hoje o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, deu uma entrevista ao jornal "O Globo", na qual disse que o Brasil tem que voltar tem que voltar a ser "um objeto do desejo". Apesar de ser banqueiro, o chefe do ex-ministro Joaquim Levy esta sendo delicado, um gentleman na exposição de seu desagrado com o nosso país. Na verdade, o que ele quer dizer é que o Brasil está um bagulho. E essa opinião é mais um dado sobre a gravidade da nossa situação. Quando um país não excita mais nem aos banqueiros, é sinal de que o problema é muito mais grave do que já estamos sentindo na pele e no bolso.
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POR José Pires

Mídia sem sintonia consigo mesma

É difícil ver um sentido lógico na tremenda repercussão que a mídia brasileira deu à morte do cantor britânico David Bowie. As homenagens foram fartas, com o assunto sendo explorado durante dias. A revista Veja embalou no exagero e saiu com 12 capas na mesma edição, cada uma delas homenageando o astro internacional. Não me lembro da Veja ter dado sequer uma capa para Bowie nos últimos tempos e não sei de matérias cobrindo sua carreira recentemente no site da revista, que já embarcou há algum tempo na cultura de curiosidades e distração. O mesmo ocorre em outras publicações e sites brasileiros, que nunca deram atenção ao cantor britânico, assim como nada publicam sobre outros grandes artistas internacionais. E nem vou falar de áreas como literatura ou teatro, já que uma cultura que não dá atenção mais nem para a música pop de qualidade dificilmente perderá tempo com essas coisas.
O fato é que Bowie nunca teve grande presença em nosso país, ainda que seja conhecido por aqui. É claro que sua morte merecia ser manchete. Bowie era tão hábil como artista pop que criou até seu próprio epitáfio em forma de clip musical. Morrer logo depois, ainda que tenha sido involuntário, deu o toque final na obra. Mas mesmo assim achei estranho a tremenda fascinação que de repente a imprensa passou a demonstrar por ele, uma paixão sem referência anterior na cobertura que vinha sendo feita na área da cultura. Em muitos lugares foi do BBB pro Bowie, nesta mixórdia que é hoje em dia a nossa internet.
É o que se chama forçar a barra. Sem conexão com o que vinha saindo antes, nunca poderia haver de forma alguma referência de sua importância, da mesma forma que ocorre com tantos outros assuntos que surgem de repente na frente do desassistido leitor brasileiro. Tem sido sempre assim, de uns tempos para cá, numa atitude jornalística que ficou mais marcante na passagem do impresso para a internet. Ainda que se faça algum esforço para contextualizar assuntos que surgem de repente, falta sempre um vínculo sólido com o que vem sendo publicado. Algumas figuras caem do nada, às vezes na hora da morte, como foi com o Bowie.
Sabe-se que o morto é ilustre, mas quem era ele mesmo? Ficamos cercados de material sobre o finado, que pouco aparecia anteriormente em publicações ou sites brasileiros, hoje tomados por uma grande quantidade de material sem qualquer preocupação editorial que dê uma unidade aos veículos. É uma boa forma de ler bastante e não tomar conhecimento de nada.Agora foi com David Bowie, mas logo pode ocorrer com outra personalidade, sempre com a possibilidade da desaparição de qualquer um deles depois do breve féretro midiático. Este é o resultado de uma comunicação tomada pela incoerência e a falta de sentido, como a que vem sendo produzida no Brasil. Passamos todo o tempo vendo fantasmas, às vezes até em 12 capas diferentes.
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POR José Pires

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Os apitos da crise

Já tem tanto alarme tocando, que ficou até repetitivo usar essa imagem para falar da crise econômica, mas vamos lá, porque temos um caso de alarme bastante grave. É assustadora a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) de uma retração de 3,5%% da economia do Brasil em 2016. Sabemos muito bem que este banco vai sempre procurar amenizar a divulgação de avaliações referentes a qualquer país, devido ao risco de fazer piorar a situação em razão da má notícia antecipada pelos números. Ao contrário do mito que até hoje a esquerda espalha com fervor, não é do interesse do FMI sair quebrando países pelo mundo afora. Em outubro o banco dizia que seria de 1% a retração. Em menos de três meses a previsão negativa caiu desse jeito, o que faz parecer que no ano passado o gato subiu no telhado. E até pode ser que agora o FMI já tenha conclusões piores do que os 3,5%%, mas estejam maneirando para evitar uma situação mais complicada, dando para o governo de Dilma Rousseff ao menos amenizar o estrago.
Bem, aí é que morrem as nossas esperanças de que sejam encaminhadas medidas sérias para consertar o Brasil. Conhecendo bem este governo do PT, sabemos que essa avaliação econômica será alvo de ataques da máquina de comunicação e propaganda dos petistas, que devem inclusive apelar para a velha tática esquerdista de demonização do FMI como inimigo da independência dos povos oprimidos. Sempre foi assim e não temos razão de acreditar que desta vez será diferente. Aliás, já se vê nas redes sociais os petistas fazendo troça da previsão do FMI. Não aceitar opinião divergente é um traço irremovível do caráter petista, defeito que foi até aperfeiçoado. Atualmente eles nem esperam a má noticia chegar. Alvejam o mensageiro de longe. Sobre esta assustadora ameaça de recessão braba, o FMI destaca a "incerteza política" como causa importante do problema. A "incerteza" — e aí sou eu quem está falando — tem nome e este nome é Dilma. E a incerteza política tem origem na arrogância petista já bem antiga que impede que o outro seja ouvido com respeito.
Se eles deixassem de mandar os problemas para o João Santana ou qualquer outro marqueteiro fazer da questão um logotipo novo e uma propaganda cara, talvez ainda desse tempo para fazer alguma coisa, revertendo a previsão do FMI. Mas eles não mudarão nunca. Já se prolongam os anos em que estamos vendo esse pessoal refutar toda crítica e qualquer avaliação que contradiga as tolices em que acreditam. As análises tanto de organismos internacionais quanto de especialistas brasileiros já vêm avisando faz tempo sobre o aumento gradativo do estrago. Isso me lembra de um episódio até engraçado de 2012, quando o ministro da Fazenda que projetou o atual desastre, o incomparável Guido Mantega, desdenhou a previsão do banco Credit Suisse de um crescimento do PIB menor que 1,5% para o ano. Na ocasião, Mantega garantiu que o crescimento seria de 4% e classificou a previsão do banco como uma "piada". A economia brasileira terminou com apenas 0,9% naquele ano. Certamente o governo do PT vai tratar também como piada esta previsão do FMI. No final, o resultado não terá graça alguma para o Brasil.
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POR José Pires

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho e Janer Cristaldo: lições para um bom debate

Ainda sobre o quebra-pau entre Olavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo, é preciso fazer a ressalva importante de que o Reinaldo só reagiu depois de ser muito atacado pelo grupo que se forma em torno de Olavo, quando ele lança sua agressividade verbal sobre alguém. Como eu já disse, isso já ocorreu noutras vezes, atingindo inclusive alguns anos atrás Janer Cristaldo, no tratamento injusto que Olavo passou a dispensar a ele depois do rompimento entre os dois no site “Mídia sem Máscara”. Era num tempo de internet ainda no começo, quando não havia a atual bagunça nas redes socias com certos assuntos. Um amigo trouxe a lembrança do falecido Cristaldo (morto no início do ano passado), que manteve até o final da vida um excelente blog, com renovação quase diária de conteúdo com textos de altíssima qualidade. Cristaldo tinha divergências tanto com Olavo quanto com Reinaldo e escrevia sobre esses desacordos de forma muito inteligente e com uma ironia finíssima e aguçada.
Além de ter um ótimo texto, o grande Cristaldo era um habilidoso aplicador de apelidos. O apelido de “Supremo Apedeuta” para o ex-presidente Lula foi criado por ele. Olavo de Carvalho era chamado de “Aiatolavo” e Reinaldo de Azevedo era o “Recórter Tucanopapista”. E para o Papa Bento XVI ele tinha o excelente apelido de “Pastor Alemão”. Do ponto de vista dele era ainda melhor. Cristaldo era ateu e fazia grande textos sobre o tema, sem a implicância banal ateística que é própria de fanatizados pela contrariedade com as religiões e com um profundo conhecimento de história, de filosofia e de todas as crenças, inclusive a marxista.
Após um periodo de bom relacionamento, Reinaldo Azevedo experimentou algo parecido do que Olavo de Carvalho fez no passado com Cristaldo e outras pessoas que eram até mais próximas dele. Quando surge alguma divergência que toca diretamente em uma posição política sua, Olavo tem um comportamento absurdamente agressivo. Ofende no mais baixo nível, usando para isso inclusive de escatologia e ataques pessoais que nada tem a ver com o tema em debate. Como eu já disse, é o lado Mr. Hyde que toma conta dele. Com este comportamento condenável, em que encarna um caráter grotescamente cômico, ele influencia uma enormidade de fãs e discípulos, que passam a fazer o papel de malhadores cibernéticos de Judas, num fuzuê danado onde rola todo tipo de difamação e calúnia sobre o adversário do momento.
Mas hoje, felizmente, Reinaldo encerrou o debate com um último texto. Ele fecha dessa forma o assunto com o mesmo bom senso e a necessária verve que vinha tendo até agora. No entanto, esta briga dispensável fez Reinaldo Azevedo produzir um ótimo texto, defendendo-se dos ataques logo no início do debate. É um de seus grandes artigos de fundo filosófico, de nome “É preciso aprender a ser mestre”, com serventia para muita gente que hoje em dia influencia o debate político.
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POR José Pires


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Texto de Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Quebra-pau à direita

Antigamente se dizia que a esquerda brasileira só se entendia na cadeia. A piada era com a dificuldade dos movimentos de esquerda se unirem, o que não se dava nem nos objetivos práticos da luta pela democracia. Era em plena ditadura que esquerdistas quebravam o pau entre si, numa divisão que atingia até a esquerda que pegou em armas, que sempre foi se fragmentando em grupos cada vez mais restritos enquanto a repressão da ditadura militar descia o cacete em todos eles, prendendo e torturando e até matando. Com a abertura democrática, a cizânia ficou a cargo do PT, com o partido de Lula atuando de forma irresponsável para romper a unidade das forças políticas surgidas da luta pela democracia. Depois, com o tempo, os esquerdistas foram se juntando e hoje estão ainda firmes defendendo um governo em que a ladroagem e a incompetência criminosa é a regra.
E agora é a direita que anda com dificuldade de se unir em torno do objetivo prático de tirar essa canalha do poder. No centro do desentendimento destaca-se Olavo de Carvalho, sobre o qual já fiz reiterados elogios, ainda que no geral eu tenha com ele uma porção de divergências políticas. Olavo é um pensador brilhante, do tipo que é sempre interessante acompanhar independente do que ele esteja falando ou de sua posição política sobre o assunto. Porém (ai, porém), muitas vezes ele têm reações bastante grosseiras à divergências que atingem de forma direta sua opinião. Então, ele parte para a ofensa pessoal, apelando para desqualificações muito baixas. Nessas explosões de baixo nível ele atinge pessoas que estiveram muito próximas deles, às vezes até como seguidoras de suas aulas de filosofia ou admiradoras do que ele escreve.
Olavo de Carvalho parece ter um distúrbio parecido ao do Dr. Hyde, o famoso personagem do romance “Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, de Robert Louis Stevenson. E o Mr. Hyde do Olavo é grosso pacas. É o que se vê agora na polêmica que ele vem travando com o jornalista Reinaldo Azevedo, em razão de divergências dos dois sobre os movimentos organizadores das manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Olavo já havia ficado muito bravo com o apoio do Movimento Brasil Livre e o Vem Pra Rua ao pedido de impeachment proposto por Hélio Bicudo, visto por ele como uma capitulação a um esquerdistas que até há pouco tempo era do PT. Discordo dessa opinião, mas de qualquer forma a tese poderia dar um bom debate, mas o que se viu foi uma torrente de insultos e acusações muito injustas contra o pessoal do movimento. Já o Reinaldo Azevedo acredita no potencial político do movimento pelo impeachment e vem abrindo generoso espaço para os jovens líderes.
Por isso, o pau vem quebrando entre Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho, com este último liberando sua porção Mr. Hyde e determinando também o comportamento de uma multidão de seguidores seus que em vez de se esforçarem para aprender com as qualidades do mestre procuram imitar o que ele tem de pior. Dessa forma, a baixaria lamentável se espalha pela internet. Não é a primeira vez que isso acontece, mas com o alvo de agora sendo Reinaldo Azevedo, isso pode causar um desgaste tremendo na oposição ao governo do PT, com um efeito negativo que os petistas já estão adorando. Este confronto tolo ocorre há menos de dois meses da grande manifestação pública pretendida para fortalecer o impeachment junto ao Congresso Nacional. Mesmo que não queira, desta vez Olavo de Carvalho está dando uma força ao PT. É lamentável, até pelo fato do país estar perdendo o bom debate que poderia surgir da divergência entre duas figuras inteligentes que têm o nobre objetivo em comum de tirar os petistas do poder.
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POR José Pires

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016