sábado, 9 de dezembro de 2017


sexta-feira, 8 de dezembro de 2017


terça-feira, 5 de dezembro de 2017

As cidades brasileiras colhem tempestades


O Brasil está ficando inabitável. Eu disse “está ficando”? Me retifico: dependendo do lugar onde a pessoa mora, já está inabitável. Mas em alguns lugares ainda dá para ir levando, porém já no limite do suportável e sempre contando com a sorte. A violência, os desastres de trânsito, a desordem urbana e suas consequências, essas desgraças todas estão em qualquer parte. Vivemos com medo. E agora apareceu uma nova fobia: o medo da natureza. A coisa é séria. Já estávamos numa situação em que a preocupação era grande com a segurança da nossa casa. O medo era de ladrão. Agora, quando estamos fora de casa, o medo é da chuva e dos ventos.

Houve uma época em que no Paraná a chegada da chuva era recebida com alegria. Já fazia parte da consciência coletiva o significado do aguaceiro nas lavouras, com o benefício financeiro para a cidade. Mas hoje em dia quando o tempo fecha apertam-se também os corações, pelo que pode vir com o exagero do que cai do céu e pelas ventanias violentas que derrubam tudo por onde passam. O mês de novembro foi todo assim em Londrina, no norte do estado, trazendo um pavor geral com as ventanias, alagamentos e derrubada de muros e casas. Ainda me alegro de correr de bicicleta no meio da chuva, na lama de uma estrada rural. Mas sempre bate o peso da preocupação do que pode acontecer na cidade com o que cai do céu.

Nesses dias, árvores enormes foram abaixo, abaladas pela força dos ventos, mas também como conseqüência da falta de qualquer política ambiental, seja na cidade ou no campo. A queda de árvores de grande porte, aliás, vai estimular ainda mais o corte de árvores, agora com o temor de que elas causem danos e machuquem as pessoas. Não deve ter efeito explicar o óbvio, sobre a origem dos problemas, que vem exatamente da falta de árvores. Até mesmo as ventanias avançam em volta da cidade, agora sem nenhuma barreira natural depois de tanto desmatamento, para depois os ventos varrerem violentamente todo o meio urbano, sem o anteparo de uma boa arborização.

O que deve ocorrer a partir de agora é ainda mais corte de árvores, o que é um problema também para quem anda a pé, que vai sofrer com falta de sombra, que já era pouca. Mas para que se preocupar com quem anda a pé? Outro agravante, além do vento, será o de mais enxurradas correndo soltas pelas ruas e causando alagamentos e desmoronamentos, já que teremos cada vez menos árvores para reter a água da chuva. Mas não há como conter as derrubadas, até porque agora, de fato, existe mesmo o risco de queda.

E não importa que isso venha acontecendo pela falta de cuidado de muitos anos com a natureza no entorno da cidade e com a própria ecologia urbana. Não é fácil fazer isso entrar na cabeça das pessoas. A consciência talvez venha quando a situação estiver muito mais grave, numa condição em que obviamente será muito mais difícil e custoso atacar os problemas. Mas este é o jeito de ser deste país inabitável, onde um indivíduo pode muito bem ser tachado de louco se vier com a proposta de colocar a tranca na porta antes do ladrão entrar.
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POR José Pires

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Imagem- Uma das belíssimas árvores do meu bairro, de que eu gostava tanto, não resistiu à ventania. Poderia durar muitos anos, mas estava isolada, sem o anteparo que uma boa arborização urbana pode dar em caso de ventanias, protegendo as próprias árvores e também as pessoas

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

STF, Eduardo Cunha, Gilmar Mendes e outras instâncias

O ex-deputado Eduardo Cunha teve negado pelo STF nesta terça-feira um pedido de liberdade. A decisão da segunda turma do STF teve quórum reduzido. Os ministros Ricardo Lewandowski e Celso de Mello não participaram da sessão por motivo de saúde. Edson Fachin e Dias Toffoli votaram contra o pedido de Cunha. Gilmar Mendes votou a favor. O ministro Fachin, que é relator da Lava-Jato, falou da gravidade “concreta” das denúncias contra o deputado e apontou sua “especial periculosidade”. Fatos também muito concretos confirmam a opinião do ministro. Cunha é um dos políticos mais perigosos da atualidade, com capacidade de articulação e poder que poderiam servir para atrapalhar bastante o trabalho que está sendo feito contra a corrupção. Com tipos como ele vale repetir o que costuma ser dito em programas policiais: solto, este homem é um risco grave para a sociedade.

Mas não é dessa forma que pensa Gilmar Mendes. Na sua opinião, Cunha poderia sair da prisão e cumprir medidas alternativas. Estou falando sério. Foi ele quem disse. Já vejo Cunha como voluntário, fazendo sua contribuição com palestras para alunos do ensino básico sobre ética na política. Mas não cabe brincar com uma coisa dessas. No Brasil é mesmo capaz de acontecer. Mas voltando ao ministro que queria soltar o ex-deputado corrupto, ele acha que o “uso extensivo” da prisão preventiva fere a dignidade humana. “Ainda que, em casos chocantes”, ressalvou, “a prisão preventiva precisa ser necessária, adequada e proporcional”. Bem, seria o caso de questionar Gilmar Mendes o que não há de “chocante” nos crimes que tiveram a participação de Cunha. O peemedebista está preso desde outubro de 2016, porque na ocasião o juiz federal Sergio Moro entendeu que ele estava obstruindo a Justiça e representava um “risco à ordem pública”.

Seria interessante saber de Gilmar Mendes qual seria o milagre que faria o ex-deputado passar a agir de forma diferente agora, que seus problemas pioraram bastante. Ele foi condenado por Sergio Moro a cumprir pena de 15 anos e 4 meses de prisão. A sentença já recebeu a confirmação em segunda instância, apesar de ter tido uma redução, passando para 14 anos e seis meses. Mas ainda cabe prisão em regime fechado. Cunha tem ainda mais dois mandados de prisão da Justiça do Distrito Federal e outro pela Justiça do Rio Grande do Norte, referentes a outras investigações. Como já foi dito, o cara é um perigo. Que não se veja segundas intenções no que eu digo, mas até o Gilmar Mendes talvez tenha medo dele, não é mesmo? Ou deveria, sei lá.

Por causa desses mandados de prisão ele não poderia ser solto, mesmo se desse certo a atuação de Gilmar Mendes em favor do habeas corpus. Porém, independente deste eventual entrave, o ministro mantém firme dedicação na batalha contra a prisão a partir de decisão de segunda instância. Causa até suspeita tanto empenho. Vale ressaltar que neste raciocínio não coloco acusação alguma a Gilmar Mendes. O cuidado é necessário, já que embora espalhe pela mídia declarações agressivas o tempo todo, o ministro mostra muito desconforto com questionamentos. No meio do debate, ele mete processo. Mas não há como não ter estranheza diante de tanto apego em livrar corruptos da cadeia, com toda data venia que o assunto pode exigir. Ainda mais que do laborioso ministro, efetivamente, sabe-se pouco de aplicação justa no trabalho pela “dignidade humana”, nem que fosse com menos esforço do que ele dedica a facilitar a vida de indivíduos como Eduardo Cunha.
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POR José Pires

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O sumiço do submarino e a corrupção nas Forças Armadas da Argentina

O jornal La Nación fez uma boa cobertura neste domingo sobre o desaparecimento do submarino ARA San Juan, tendo como centro uma reportagem de denúncia de irregularidades na compra de baterias do submarino. Há 12 dias o submarino desapareceu com 44 tripulantes nas águas do Atlântico. O jornal argentino diz que uma investigação do Ministério da Defesa já havia concluído que houve direcionamento na compra para beneficiar determinadas empresas e neste processo o serviço de reparos da embarcação militar acabou sendo de má qualidade. A investigação se desenvolveu entre 2015 e 2016. O jornal teve acesso exclusivo a documentos oficiais sobre o caso. Duas empresas são citadas como beneficiárias do negócio: Hawker Gmbh y Ferrostaal AG.

Esta investigação interna que chegou ao conhecimento do La Nación não foi a única que descobriu irregularidades das Forças Armadas na manutenção do ARA San Juan. Sobre esses problemas existem também informes da Unidade de Auditoria Interna do Ministério da Defesa. Outro órgão de controle, o SIGEN (Sindicatura General de la Nación), ligado diretamente à Presidência da República, também já detectara irregularidades, como a falta de rigor com os planos traçados para a execução material e orçamentária da obra, com atrasos de até 4 anos, o que no caso das baterias acarretou “a perda do período de garantia”. A falta de cuidado com os padrões afetou também os motores do submarino. A perda da garantia exigiu a contratação direta da mesma empresa para a execução da inspeção e verificação técnica. Segundo o SIGEN, esta obra teve quase um ano de atraso.

Claro que ainda não há nada conclusivo quanto ao efeito dessas graves irregularidades na causa do desaparecimento do ARA San Juan, mas de qualquer modo o drama do submarino argentino serviu como base para o La Nación traçar um amplo panorama da falência das Forças Armadas da Argentina, que desaba em paralelo ao desastre econômico, político e cultural que envolve os argentinos, não muito diferente do que ocorre nos outros países em volta, inclusive o nosso Brasil. A trágica situação dos argentinos foi resultado de violentas ditaduras de direita e governos civis populistas e corruptos, que desembocou no longo período em que o país ficou sob o domínio do kirchnerismo durante 12 anos, até a eleição de Maurício Macri, no final de 2015. O caso das baterias do submarino é do governo de Cristina Kirchner. A presidente fez um ato político em 2014 para comemorar o final dos reparos no submarino.

O jornal argentino traz bons artigos sobre o dramático desaparecimento da embarcação militar. Num deles, o secretário de redação Jorge Fernández Diaz traz à lembrança um episódio heróico de outro submarino — que alias teria recebido manutenção do mesmo modo irregular — o ARA San Luis, durante a chamada “Guerra das Malvinas”, entre junho e abril de 1981, quando militares argentinos tomaram as Ilhas Falklands, até hoje sob o governo do Reino Unido. O submarino foi alvo de um bombardeio britânico, escapando por centímetros de um torpedeamento. Após uma fuga habilidosa, apesar da péssima condição técnica da embarcação, os argentinos lançaram um torpedo contra a poderosa armada britânica. O projétil acertou o casco de um barco inimigo. E não explodiu. O relato serve pra mostrar a precariedade militar dos argentinos, que já era significativo naquele período, quando a ditadura militar lançou a Argentina numa das aventuras mais patéticas da história da América Latina. A derrota para o Reino Unido precipitou o fim do poder dos militares.

O sucateamento das Forças Armadas pode ser visto num gráfico comparativo publicado pelo La Nación, que coloca a Argentina em situação inferior na comparação com países da América Latina, mesmo todos não sendo grande coisa no aspecto militar. Os argentinos estão com um orçamento militar de apenas 0,8% do PIB, contra 2,3% do Chile, 1,4% da Venezuela, 1,2% do Paraguai e 1,3% do Brasil, cujas Forças Armadas sabe-se que também vão muito mal. Esta lamentável condição da defesa de importantes países da América Latina é ainda mais grave na situação atual do mundo, quando estão globalizados perigos gravíssimos como o avanço do crime organizado, o terrorismo e sérias disputas políticas e religiosas, junto à destruição ecológica e a carência de recursos naturais que colocam em risco o planeta.

Essa posição desvantajosa vem de uma mistura de governos militares de direita e governos populistas de esquerda, que se alimentaram mutuamente durante praticamente toda segunda metade do século 20. E ainda hoje existem forças políticas que acenam com a continuidade desse desastre, seja à esquerda ou à direita. O drama do ARA San Juan, que é apenas consequência do naufrágio geral da capacidade militar da Argentina, deveria servir de reflexão para todo o continente, para darmos fim ao insano hábito de tratar graves problemas com remédios que só pioram as condições dos nossos países.

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POR José Pires

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segunda-feira, 13 de novembro de 2017


sábado, 11 de novembro de 2017

William Waack em livro: pela inteligência e contra o racismo

William Waack é autor de um dos livros mais interessantes já publicados sobre a história brasileira, “As duas faces da glória”, trabalho com pesquisa cuidadosa e bem escrito sobre um período de máxima importância para o nosso país — o da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, com a Força Expedicionária Brasileira, a FEB, na Itália. O jornalista da Rede Globo, que agora é tachado como racista nesta lamentável algazarra digital, foi atrás do assunto e fez uma obra que além de trazer com bastante fundamento a nobre história desses homens valorosos é muito saboroso de ler. Além de escrever bem, ele sabe destacar detalhes interessantes do convívio humano, inclusive com histórias ligeiras e até divertidas, que servem como referência para contextualizar o sentido mais amplo do tema de seu livro.

O livro esclarece bastante sobre um período da nossa história cuja bibliografia de qualidade é bastante rara em relação à importância que a campanha da FEB teve para o Brasil. Foi a partir dessa participação na luta contra o nazismo na Europa, após a volta dos combatentes brasileiros, que ocorreu a queda da ditadura de Getúlio Vargas. Muito mais poderia ter sido extraído dessa experiência (talvez até um exército nacional mais qualificado), mas infelizmente por aqui falta memória e estudo. O livro aponta com equilíbrio as dificuldades do Exército Brasileiro, trazendo também boas referências sobre a capacidade de superação dos brasileiros, lidando com deficiências materiais que tiveram que ser supridas depois pelos americanos. Existem também boas informações sobre a honestidade pessoal dos nossos soldados, com destaque ao respeito à integridade física do inimigo vencido. Já aos 71 anos de idade, o capitão alemão Lotar Mull contou à Waack que ficou aliviado quando soube que seria preso por brasileiros. Até foram salvos de linchamento. “Nos protegeram da fúria da população”, disse Mull. “Ao meu lado”, ele lembra “um soldado negro ainda disparou sua arma para o alto para conter o povo”.

O jornalista da Globo trabalha muito bem com documentos oficiais. Essa habilidade valeu para que ele fizesse também outro livro, “Camaradas”, este sim odiado por esquerdistas. É excelente. Trata da relação da esquerda brasileira com a antiga União Soviética. Mas é neste trabalho sobre a FEB que é possível ler vários trechos em que o jornalista trata da questão racial, falando dos soldados negros que foram lutar na Europa, avaliando a situação deles internamente, nas tropas brasileiras, além do efeito de sua presença sobre o inimigo nazista. O respeito de Waack pelos recrutas no geral é evidente, sem nenhum desvalor racial. O livro é de 1985 e teve duas edições — a segunda, em 2015. Até que é muita coisa para um país sem memória, como o Brasil. Waack entrevistou sobreviventes inclusive das tropas nazistas. Uma delas foi com o tenente Klaus Dietrich Polz, capturado depois de uma batalha com os brasileiros. Ele tinha então 20 anos. A qualidade do jornalista pode ser constatada pela surpresa dele, que só meio século depois ficava sabendo que virara personagem da história da FEB. Preso, o oficial alemão foi colocado num caminhão entre um motorista negro e um sargento branco. Suas palavras: “Era uma grande novidade para mim. Eu nunca tinha visto um homem negro”.

Num trecho de “As duas faces da glória”, Waack informa que entre nove nacionalidades que estavam entre os aliados, o XIV Exército alemão passou a colocar também “negros” como “nacionalidade” especial, segundo o jornalista, “numa irrefutável demonstração de racismo”. Todas as referências de Waack sobre questão racial neste período são de críticas ao racismo e muito bem exploradas para que o leitor tenha uma compreensão do problema e sua interferência na atuação militar. A partir de depoimentos de sobreviventes alemães, ele refuta o racismo da propaganda nazista, que afirmava que os “negros” seriam particularmente ferozes e animalescos em seu comportamento com prisioneiros

Havia confusão da parte dos alemães entre brasileiros e “negros”, que veio de uma interpretação equivocada dos organismos de inteligência nazista, ao colocarem erradamente a FEB como subordinada à 92a Divisão de Infantaria americana. Essa unidade, diz Waack, era formada exclusivamente por soldados negros dirigidos por oficiais brancos, “fato que impressionou muitíssimo os brasileiros”. Neste estranhamento — e aqui entro eu com minha opinião — pode-se ver o contraste entre as relações raciais no Brasil e nos Estados Unidos. Infelizmente, por interesse político, a militância racialista prefere nivelar dois universos completamente diversos, procurando apagar virtudes brasileiras evidentes no relacionamento entre brancos e negros, que pode ser vista na segregação racial que os americanos mantiveram até no exército que foi lutar na Europa. Para mim, é a ausência de boa vontade para chegarmos à formas de melhor convivência e respeito mútuo que está na raiz dos ataques a William Waack, de quem não se sabe de nada que possa justificar essa horrível acusação, de fato uma das piores que existem, que é o racismo. São enormes as dificuldade que vão sendo criadas por essa atitude militante que valoriza sempre o conflito, passando por cima do verdadeiro conhecimento e da necessidade de entendimento. Essas maquinações precisam ser detidas. Esse derramamento contínuo de ódio pode dificultar ainda mais o caminho para que haja no Brasil mais respeito pelos direitos civis.
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POR José Pires

William Waack: bola da vez na algazarra digital

A Rede Globo podia fazer um bom serviço ao país, não cedendo ao justiçamento rotineiro que ocorre nas redes sociais, do politicamente correto e da má-fé dos interesses políticos, partidários, servindo até para o fortalecimento interpares em grupelhos do que se chama agora de “ativistas”. Como todo mundo sabe, a vítima do momento é William Waack, um dos mais preparados profissionais do jornalismo brasileiro. Até lamento que ele esteja esses anos todos na televisão, porque é um dos melhores na palavra escrita, com amplo conhecimento em um assunto no qual o Brasil vai ficando cada vez mais carente, que é a área internacional do jornalismo. Sendo uma terra de paradoxos, no Brasil não podia faltar mais este: na época em que tudo de mais importante e influente é o conhecimento globalizado, morre o nosso jornalismo internacional.

Mas voltando ao afastamento de William Waack, feito pela Globo, a emissora deixa claro na nota que a decisão é até que a situação esteja esclarecida. Bem, eu já acho estranho que a maior empresa de comunicação do país tenha se dobrado de imediato a uma grita nas redes sociais, tendo como única prova material um vídeo no qual nem dá para ouvir direito o que o jornalista diz. Além disso, o vídeo é um daqueles materiais de espera da televisão, até a entrada no ar. Não é uma manifestação racista colocada no ar ou dita em um dos programas comandados pelo jornalista, inclusive um dele próprio, de entrevistas e debates, na Globo News. Sobre essa acusação, por sinal, não existe na longa carreira de Waack absolutamente nenhuma fala sua ou material escrito onde haja sequer uma insinuação que possa ser vista como racismo.

Já apareceram duas figuras que se responsabilizaram pelo vazamento e pela retirada das imagens da Globo, de forma clandestina. São eles o operador de VT Diego Rocha Pereira e o designer gráfico Robson Cordeiro Ramos. O primeiro é ex-funcionário da Rede Globo. Os dois são produtores de uma festa de “música negra” na cidade de São Paulo. Bem, eu sou da opinião de que não existe música negra. O músico B. B. King também achava isso e até se irritava quando diziam que ele fazia “música negra”. Estava certo. Arte de verdade é universal. Além do mais, pobres das crianças negras com esses conceitos que a militância racialista quer fazer emplacar. Já pensaram que tristeza ter que ver, desde pequeno, um Beethoven, um Villa-Lobos e tantos outros gênios como homens de outra raça? Mas é William Waack que eles acusam de racista. Vamos ao fato.

Um dos divulgadores, com acesso como funcionário da emissora ao link do jornalista durante cobertura das eleições americanas de 2016, pegou sem autorização um material que seria descartado. É difícil saber o que está sendo dito, mas pode ser mais um comentário fazendo piada com um comportamento racista. Muitos já fizeram isso, em mesa de bar ou reunião com amigos, com a diferença de que não foi gravado e de que essa pessoa não é alvo político. Não vou entrar em debate aqui se isso está certo ou errado, mas é um fato indiscutível que não é uma piada besta que configura racismo, mesmo moralmente. Bem, aí um ano depois esse material cai na mixórdia da internet brasileira, onde no geral só se destaca o que há de pior e sem substância de qualidade. A isso junte-se também a ciumeira e o ressentimento que rola pesado nos meios profissionais, o que não é pouco no jornalismo brasileiro, principalmente entre o primeiro escalão, dos altos salários e muito poder.

Daí o sucesso do ataque, que não é pelo que William Waack estaria dizendo no vídeo, mas pelo que ele pensa de verdade sobre outras coisas e pelas consequências positivas da sua atuação, principalmente nos últimos tempos, para limpar o país da influência destruidora do projeto de poder da esquerda, não só no Brasil como também em seus planos continentais que abrangem toda a América Latina. Tomara que a Rede Globo resolva pela volta de Waack, o que vai fazer bem não só ao jornalismo da emissora como a todos nós, que já não aturamos mais tanta patrulha, com tanta maledicência e falta de compromisso honesto com o país, nesta algazarra digital que só favorece gente que busca interferência para o favorecimento de grupos e partidos.
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POR José Pires

Presente de Papai Noel para corruptos

No Brasil, a gente espera de tudo, mas sabe-se que sempre existe a possibilidade até de vir mais um pouco. O indulto natalino concedido pela Presidência é uma das ferramentas da impunidade, que aliás já teve uso entre companheiros durante a era petista na presidência da República. O ex-ministro José Dirceu foi um dos beneficiados por este absurdo poder de perdoar criminosos. No que se refere aos corruptos, o indulto já não era bom. Mas conseguiram piorar.

Nesta quinta-feira, o MPF de Curitiba, da força-tarefa da Lava Jato, se posicionou contra indulto natalino nos crimes de corrupção. Em carta ao Conselho Nacional de Política Penitenciária e Criminal, os procuradores afirmam que, caso mantidos no futuro os critérios do último decreto de indulto (n.º 8.940/16), diversos réus condenados por crimes gravíssimos na Operação Lava Jato cumprirão penas irrisórias. O decreto é do presidente Michel Temer, de dezembro do ano passado. A concessão do indulto se refere aos condenados sem grave violência ou ameaça. E aí entra a corrupção. Nunca se soube de corrupto arrancando dinheiro dos cofres públicos com a faca no pescoço de alguém, no entanto é sempre muito grande a quantidade de vítimas da corrupção, inclusive mortos e feridos por consequência da roubalheira.

Eles explicam que, pelo decreto de Temer, “um condenado por corrupção a 12 anos de prisão será indultado após cumprir 3 anos, se for primário. Um condenado por corrupção a 12 anos de prisão, se for primário e tiver mais de 70 anos de idade, será indultado após cumprir apenas 2 anos”. Acontece que o perfil desse tipo de criminoso é de pessoas de meia-idade, já que o corrupto é favorecido em nosso país pela possibilidade de adiar durante anos o julgamento de um processo. Na carta são apontados o caso “Lalau”, do desvio de mais de R$ 160 milhões do TRT-SP, e o caso “Maluf”, do notório político paulista. Maluf deixou de ser julgado em processos da época em que foi governador nomeado de São Paulo, mandato que terminou há 35 anos. O criador do termo “malufismo” é beneficiado há décadas pela falta de firmeza da Justiça brasileira com a corrupção.

Outro fato interessante ressaltado no documento dos procuradores da Lava Jato é que no crime de colarinho branco tradicionalmente os réus não são reincidentes. Mas isso se deve aos crimes raramente serem punidos e não por terem sido honestos no passado. Acontece muito também de na condenação as penas serem extintas por prescrição. Daí a quantidade de bandido de colarinho branco que permanece com a imagem de inocente, alguns até se gabando disso. Com o indulto sob a responsabilidade do tipo de presidente que o Brasil costuma ter, o resultado é mais impunidade. E com Michel Temer, aí é que não dá para ter confiança alguma. Até em razão da necessidade de defesa do próprio interesse, ele já demonstrou total falta de escrúpulo no uso do poder para diminuir a capacidade da Justiça em prender corruptos.
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POR José Pires
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terça-feira, 7 de novembro de 2017

O tarado Tariq Ramadan e as ameaças ao Charlie Hebdo

É preciso ter coragem para trabalhar no Charlie Hebdo. O jornal francês teve parte de sua redação assassinada por terroristas islâmicos, em janeiro de 2015, quando 12 pessoas foram mortas a tiros, entre elas os cartunistas Wolinski e Cabu, duas figuras históricas do moderno humorismo internacional. Por causa de cartuns satirizando Maomé os fanáticos criminosos entraram na sede do jornal atirando e gritando exaltações religiosas a Alá.

Pois o Charlie Hebdo volta a ser ameaçado, desta vez por causa de uma capa com Tariq Ramadan, o teórico islâmico e professor que está sendo acusado de estupro. As denúncias foram formalizadas por duas mulheres. Ramadan teve divulgado nesta terça-feira seu afastamento da Universidade de Oxford, onde leciona. A direção da instituição informou em nota que a licença foi “por mútuo acordo” para permitir ao professor “responder às acusações extremamente graves contra ele”.

A capa do Charlie Hebdo explora as acusações de estupro com uma caricatura de Ramadan com uma enorme ereção, fazendo sua defesa. “Sou o sexto pilar do Islã”, ele diz. O desenho foi alvo de muitos xingamentos nas redes sociais e áreas de comentários de sites, como costuma ocorrer com temas polêmicos. Só que no caso de uma publicação como o Charlie Hebdo já está demonstrado que o ódio de extremistas islâmicos e seus simpatizantes não fica só no bate- boca, como é usual internet. Os editores do jornal já formalizaram denúncia em relação às ameaças de violência.

Além do mais, pelo tema em que é especialista e por sua posição política, Ramadan tem a simpatia dos setores mais violentos dos muçulmanos. Ele teria também ligação com grupos extremistas perigosos, como a Irmandade Muçulmana, do Egito, fundado em 1928 por seu avô materno, Hasan al-Banna. Em artigo recente, mas anterior às ameaças ao Charlie Hebdo, a jornalista francesa Caroline Fourest falava dos riscos que corre quem critica o professor muçulmano. Ela é professora no Instituto de Estudos Políticos de Paris e também colaboradora do Charlie Hebdo.

“Estou bem situada para saber da violência que são capazes as redes da Irmandade Muçulmana quando alguém enfrenta o ‘irmão Tariq’”, ela escreveu. A jornalista é severa crítica na França das posições de Ramadan frente ao extremismo islâmico. Os dois já se enfrentaram em um debate que ficou famoso. Neste artigo sobre as acusações contra o professor agora afastado da Universidade de Oxford ela falava da coragem de Henda Ayari, uma das mulheres que denunciou Ramadan. Neste mesmo texto, Fourest aponta a hipocrisia do professor, segundo ela de comportamento parecido com o do produtor americano tarado Harvey Weinstein, só que mais violento.

Ramadan, que agora responde a dois processos formalizados por agressão sexual, costuma atuar muitas vezes de uma forma que nas redes sociais costuma ser chamada de “isentão”. Fazendo de conta que é imparcial, ele bate forte em quem aponta os riscos da religião islâmica para as liberdades individuais. Logo depois do atentado ao Charlie Hebdo ele insinuou que pela forma do humor do semanário, os jornalistas assassinados brutalmente teriam uma parcela de culpa no episódio. Ou seja, as vítimas da violência seriam culpadas por exercer a liberdade de expressão, um direito que tem o máximo respeito na França. Conforme o próprio Ramadan já foi obrigado a concordar, um lugar aberto a debates que são impossíveis de serem feitos em qualquer país muçulmano.
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POR José Pires

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Caetano Veloso e seus companheiros libertários

Caetano Veloso se queixa na imprensa da proibição de sua apresentação em invasão de sem-tetos no ABC paulista. É mais uma jogada dele. O embargo pedido pela prefeitura até defende a integridade física do público, sempre um risco em show improvisado, ainda mais no clima explosivo nesta ocasião, na qual ele dá uma de suas aproveitadinhas. No local, só de gente pobre querendo uma casa para morar são cerca de 7 mil pessoas. A ocupação em um terreno de São Bernardo é organizada pelo MTST, movimento liderado por Guilherme Boulos. A cidade onde mora o ex-presidente Lula era até há pouco comandada pelo grupo de Luiz Marinho, político ligado por laços de amizade ao ex-presidente e prefeito pelo PT por dois mandatos. Na eleição de 2016 o partido de Lula sequer foi para o segundo turno. Agora o prefeito é Orlando Morando, do PSDB.

Marinho foi denunciado pelo Ministério Público Federal por fraudes em licitações, desvios e superfaturamento de recursos da obra do Museu do Trabalho e do Trabalhador, uma das encrencas sérias de Lula com a Operação Lava-Jato. Há denúncias de desvio de R$ 11 milhões nas obras da instituição conhecida como “Museu do Lula”, iniciadas no final do segundo mandato do petista na prefeitura, mas que ficaram paradas por quase um ano e estão inacabadas. O ex-prefeito Marinho é um dos desastres administrativos do PT. Foi reeleito com um rombo de R$ 987,5 milhões e no segundo mandato fez sua própria dívida explodir. Deixou a cidade com uma dívida de R$ 2,2 bilhões.

Estas informações são importantes para situar bem o contexto político e econômico do lugar onde Caetano Veloso resolveu posar como artista ligado à justiça social, situando também a questão no plano da política nacional. Ainda que se faça de independente e queira se colocar como ativista imparcial dos direitos civis, na verdade Caetano atua como vanguarda do partido que jogou o país na maior tragédia econômica, social e cultural de sua história. São informações relativamente fáceis de coletar e deviam obrigatoriamente estar presentes em toda matéria na qual o artista baiano joga sua lorota social.

Sem nenhuma intenção de partidarizar a questão, mas apenas deixando mais claro o papel interpretado cinicamente por Caetano, cabe observar também que Boulos não teve tanta preocupação com justiça social na cidade enquanto a administração era de um maioral do PT, em paralelo com o mesmo partido no governo federal por dois mandatos seguidos. Que grande chance perdida para fazer “justiça social” e talvez até uns bons shows de protesto, não é mesmo?

Este neolibertário é também o mesmo artista que formou um grupo recentemente para garantir por lei o poder de personalidades vetarem biografias em desacordo com a visão do biografado. Felizmente não deu certo a tentativa de instaurar esse tipo de censura. Seria brutal o retrocesso cultural, podendo acabar com a publicação de biografias no país. Mas que ninguém pense que tanta contradição é fruto da ambiguidade própria de um artista de sensibilidade, na qual não caberiam essas materializações políticas. O foco do compositor é essencialmente material. Encaixa como ninguém em Caetano aquele jargão do “fulano sendo fulano”, usado para identificar atitudes muito marcantes em uma pessoa. Caetano está sempre sendo Caetano, como ele faz agora com esta apresentação que pretendia fazer para os miseráveis manipulados pelo grupo político de Boulos, que ambiciona até ser candidato a presidente da República.

O compositor é um manipulador da mídia, habilidade que exerce desde a ditadura militar. Claro que o sucesso dessa utilização se deve aos benefícios mútuos. Ele fornece à imprensa material que pode ser transformado em notícias supostamente polêmicas. O custo é baixo, com pouca necessidade de trabalho jornalístico, na reportagem ou pesquisa. Dá para fazer pelo celular, inclusive vídeos e fotos. Às vezes até pelo email. Caetano é garantia de audiência, com baixo custo para as empresas e nenhuma necessidade de esforço do jornalista. Esta barganha facilitada vem dando certo, tanto é que com ela construiu para si um prestígio superestimado como artista. Não que ele não tenha uma obra, não é disso que estou falando. O que ocorre é que hábeis jogadas de exploração das mais variadas situações vêm garantindo para ele durante anos uma evidência exagerada em relação à sua real qualidade artística. É até injusto na comparação com profissionais de altíssimo nível, que ficam fora da mídia, ocupada o tempo todo por ele como fenomenal artista brasileiro, graças ao seu poder de manipulação conjugado com uma imprensa de valores editoriais cada vez mais baixos.

Bem, veremos como ficará no futuro, com a obrigatória acomodação do fato político à dimensão artística de cada um. Teremos então a avaliação da obra e não das performances casuais. Na questão propriamente artística ele próprio sabe que na memória nacional não há jeito de ser mantido este alargamento forçado na atualidade. E na questão política, dependendo do que poderá ser feito para ao menos minimizar a tremenda crise que está só no começo, Caetano corre o risco de ser lembrado com desprezo e talvez até com ódio pelos brasileiros que no futuro terão que segurar este terrível rojão que foi acendido por seus companheiros atuais.
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POR José Pires

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Imagem- Caetano e uma dileta companheira quando estava no poder: para ele, foi golpe

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O bate-boca de Gilmar Mendes e Barroso e lembranças de um passado recente

O falecido Ivan Lessa, grande jornalista brasileiro, um dos criadores do semanário O Pasquim, é autor de uma frase que diz que “de dez em dez anos o brasileiro esquece os últimos dez anos”. Isso já era muito ruim na época da criação da frase, no final dos anos 70, quando o país já queimava neurônios. Um lugar sem memória resulta sempre em precariedade política e cultural, que no geral abre espaço para o pior, especialmente para as trapaças da política. Não foi à toa que chegamos a essa situação trágica atual, da qual não se vê perspectiva de saída.

A perda de memória do brasileiro já era de efeito dramático quando ocorria de dez em dez anos. Então imagine o estrago de agora, com este período bastante diminuído. Com a fragmentação terrível da comunicação, sem a relativa sistematização que era feita antes pela imprensa e com a intelectualidade caindo na safadeza à direita e à esquerda, a memória coletiva vem pifando em questão de meses. Estou dizendo isso em razão da polêmica criada pelo bate-boca entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, nesta quinta-feira, no plenário do STF. Os dois trocaram acusações gravíssimas, que na minha opinião mereceria para cada qual um processo.

Aponto a questão da memória exclusivamente no que Gilmar Mendes falou sobre Barroso. Todo mundo já aceitou as acusações de Barroso. Na sua fala, Gilmar Mendes insinua que Barroso absolveu o ex-ministro José Dirceu por motivações que não seriam exatamente de motivação legal. De imediato, o ministro alegou que sua decisão obedecia ao indulto presidencial assinado por Dilma Rousseff. Mas fugia do assunto de fato. E como vivemos em um país em que a memória é descuidada mesmo em assunto importante como o do mensalão, todos caíram na embromação de Barroso. Gilmar Mendes tentou alertar de que falava de outra coisa, mas como ele é a bola da vez em satanização política, todos se concentraram na fala agressiva de Barroso, muito objetiva por sinal, mas ainda opinativa, mesmo que haja razões para desconfiar muito de Gilmar Mendes.

Não tem indulto algum no assunto trazido novamente ao debate por Gilmar Mendes, desta vez em forma de acusação. O indulto presidencial usado por Barroso como justificativa é de outubro do ano passado. Gilmar Mendes falava é da votação dos embargos infringentes, que apareceram de surpresa já na finalização do julgamento do mensalão, em setembro de 2013. Os brasileiros nem sabiam o que era esse negócio, que na verdade, até pela forma que surgiram, lembravam mais uma negociata. Luís Roberto Barroso foi um apoiador não só do acatamento dos embargos infringentes pedidos pela defesa dos mensaleiros, como até se entusiasmou no final na aprovação desses embargos, que livraram José Dirceu e mais sete de uma condenação importante, que se fosse aplicada provavelmente teria evitado a roubalheira do petrolão, que viria depois. De dez anos e dez meses, em regime fechado, a pena de Dirceu caiu para sete anos e onze meses de prisão, em regime semiaberto. Cabe lembrar que Barroso não estava no STF quando as penas do mensalão foram definidas. Só entrou no julgamento dos embargos, depois de nomeado por Dilma Rousseff em junho de 2013.

Com os embargos, Dirceu livrou-se do crime de formação de quadrilha, que fez do mensalão na visão do julgamento do STF um esquema curioso: ocorriam por casualidade os crimes da ampla rede que operou por mais de dois anos e que na peça acusatória do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, aparecia ligada a três núcleos: político-partidário, o publicitário e o financeiro. A tese de Barroso foi a de que houve coautoria e não quadrilha no mensalão. Durante o julgamento que livrou Dirceu, o ministro Barroso teve também um bate-boca com outro ministro de personalidade forte, Joaquim Barbosa, que criticou o voto pela absolvição dizendo que o voto foi um "discurso político". Mais que isso, Barbosa disse também que o julgamento dos recursos teve influência de “maioria formada sob medida para lançar por terra o trabalho primoroso levado a cabo por esta Corte no segundo semestre de 2012”. Ele falava da condenação dos criminosos, que sem os embargos teriam recebido penas maiores. Pela desgraça que vivemos atualmente, já se sabe que o Brasil teria tido muito menos prejuízos com esse pessoal na cadeia.
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POR José Pires

Lula e a culpa do poste

Quem ainda defende Dilma Rousseff, que se prepare, porque parece que para Lula seu governo subiu no telhado feito o gato da anedota. O ex-presidente já começa a colocar a culpa em sua sucessora pelo insucesso do projeto petista de poder. Bem, para quem até já estabeleceu como estratégia de defesa jurídica botar a culpa na falecida mulher, Marisa Letícia, até que demorou em apontar o dedo para seu poste. O assunto entrou na pauta de Lula em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, publicada no último domingo.

Lula afirma que eles começaram a perder credibilidade com o anúncio de ajuste fiscal feito por Dilma. Com isso, conforme suas palavras ao jornal espanhol, “o eleitorado que a elegeu em 2014, para o qual havíamos prometido que manteríamos os gastos, se sentiu traído”. O chefão petista fala de outros assuntos atuais, como a crise na Venezuela, o governo de Donald Trump e até da crise na Catalunha. Nas suas respostas deve ter feito ao menos um bem ao povo espanhol, que precisava mesmo desopilar o fígado. Em meio aos problemas com o nacionalismo catalão umas risadas podem fazer bem.

Sobre Nicolás Maduro, claro que Lula passa longe do autoritarismo cruel do ditador bolivariano. Merece ser transcrito na íntegra o que ele diz sobre a matança na Venezuela: “Não entendo por que a Europa se preocupa tanto com Maduro, afinal ele foi eleito democraticamente e os venezuelanos têm que resolver seus problemas entre eles”. Já sobre Trump ele vem com uma piada pronta. Disse que fica surpreso com o presidente americano se pondo a falar sobre tudo. E indagado pelo entrevistador sobre sua opinião quanto ao problema com o separatismo na Catalunha, não se contentou em tratar o assunto de forma geral. Resolveu dar um conselho ao rei Felipe VI, por quem, bem a seu modo, disse conhecer e “ter muito carinho”. Como não podia deixar de ser, o “conselho” que ninguém pediu é banal. Para ele, o rei tem que exercer “papel de mediador”.

Tem mais outras patacoadas na entrevista ao El Mundo. Como eu disse, Lula pelo menos ofereceu aos espanhóis a chance de espairecer um pouco de seus problemas dando umas gargalhadas. No entanto, na política nacional já fica claro que o governo Dilma entrará na pauta petista como bode expiatório da derrocada do projeto petista. A culpa é do poste. E para manter esse discurso é evidente que Lula já deve ter à mão um monte de recibos falsos para mostrar como prova.
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POR José Pires

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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Temer: um governo que é o que lhe parece

Se as aparências enganam, Michel Temer resolveu demonstrar claramente que não há engano algum na cara desonesta de seu governo. Nove ministros foram despachados para a Câmara Federal para votar a seu favor. É o governo do bate-volta. São exonerados dos ministérios, votam como deputados pelo chefe e depois voltam a ser ministros. É claro que esta é a desmoralização definitiva de seu governo, se é que isso pode ocorrer com algo que nunca teve moral. E quanto aos partidos e deputados, também fica absolutamente visível que os ministérios são uma troca, com os mandatos valendo como moeda. Para este governo não deixa de ser um avanço. Dispensa os brasileiros de se deixarem levar pelas aparências.
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POR José Pires

Bolsonaro ao natural

O jornalista Claudio Dantas, do site O Antagonista, fez uma boa entrevista com o deputado Jair Bolsonaro, que permite compreender bem o nível do pré-candidato. Como Bolsonaro anda bastante ocupado fazendo campanha eleitoral fora do prazo legal, Dantas teve que colar nele a partir das cinco horas da manhã, acompanhando-o numa visita a Uberlândia. A entrevista foi se desenvolvendo durante o deslocamento do deputado até Minas Gerais, o que acabou resultando num formato de reportagem e deu naturalidade ao diálogo entre o jornalista e o político.

A viagem produziu também outro vídeo, que nada tem a ver com O Antagonista, mas mostra também de forma natural como é o candidato que a direita oferece para salvar o país. Em Uberlândia, Bolsonaro disse a um público reunido em volta de um caminhão-palanque que tinha muito orgulho de "também ser paulista desse estado maravilhoso que é a locomotiva da nossa economia". Em um cochicho no ouvido, foi avisado por um assessor de que estavam em Minas Gerais, mas não adiantou. Ele ainda disse que "como integrante do Exército brasileiro" queria saudar a Polícia Militar de São Paulo. Então pediu "uma salva de palmas para a Polícia Militar de São Paulo". Da plateia gritaram "Minas Gerais" e o deputado foi alertado novamente por gente que estava em cima do caminhão. Só então ele entendeu que não estava no estado de São Paulo.

A direita brasileira está com um problemão. Antes da largada conseguiram uma candidatura que surpreende nas pesquisas, mas que nasce com um sério problema que precisa se resolvido com urgência: o próprio candidato. Na entrevista, o jornalista de O Antagonista conseguiu extrair muita coisa que permite conhecer a complicação que será para que Bolsonaro chegue a 2018 com credibilidade para a disputa de fato, quando terá de enfrentar debates e questionamentos. Tudo indica que ele terá muita dificuldade com questões mais sérias que "pagar flexões". Uma boa mostra de como anda a cabeça de Bolsonaro é revelada numa significativa pergunta que saiu não do entrevistador, mas dele mesmo. "Eu tenho que entender tanto de economia?", foi o que ele perguntou de volta quando Dantas quis saber quais são suas diretrizes para a economia, indagando sobre nomes da equipe econômica e sua opinião sobre a atual situação do país neste setor.
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POR José Pires

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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Defesa de Lula investe na comunicação

A defesa de Lula vai atuar também nas redes sociais. Agora é oficialmente, claro, já que desde o início dos processos contra o chefão petista a atuação de seus advogados tem como foco colocar a opinião pública contra a Justiça. O modo de agir está mais para agitação política do que defesa jurídica. Tentaram tirar Moro do sério, com uma agressividade que eu duvido que seria tolerada no sistema judiciário de outros países. Não deu certo em razão do equilíbrio de Moro. Mas a intenção era a de criar um estrago na imagem dos nossos tribunais. Como forma de defesa foi desenvolvida por eles a tática absurda de encenar uma criminalização política do próprio juiz. Que até agora não tenham tomado uma reprimenda legal diz muito da precariedade do sistema judiciário brasileiro para colocar em seu devido lugar os poderosos metidos em ilegalidades.

Mas agora o uso da comunicação política é oficial. Cristiano Zanin e Valeska Teixeira têm sob contrato de seu escritório profissionais para produção de imagens, com vídeos sendo feitos no ritmo de um por dia. A equipe conta com roteirista, produtor e câmera. O jornal Folha de S. Paulo não obteve respostas sobre o custo da estrutura. Também não se sabe quem é que paga, conforme lembrou bem o site O Antagonista. E eu pergunto como é que pode ser permitido algo assim. Imaginem quando esse material cair nas redes, a confusão que pode ser criada sobre o real entendimento das pessoas de como se dá o andamento de um processo jurídico e sobre a imagem dos advogados. Usando a máquina federal, Lula bagunçou a política brasileira e agora pretende bagunçar também a imagem do direito brasileiro e do sistema judiciário. O serviço é completo.
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POR José Pires



Caio Blinder sai da Jovem Pan: a imprensa brasileira perde mais qualidade

Os ouvintes da rádio Jovem Pan perderam Caio Blinder. Ele esteve na emissora durante 23 anos. A rádio também demitiu outros profissionais. O jornalista é mais um nome conhecido na onda de demissões na imprensa brasileira e fará falta em um setor que já sofre desmonte há tempos, o jornalismo internacional. Caio é um dos melhores do ramo, além do que, traz suas informações e análises diretamente dos Estados Unidos. É muito bem informado e tem conhecimento histórico, principalmente da política americana, essencial para situar-se no mundo. Outra qualidade importante sua é o cuidado em assinalar fatores culturais na política americana. Seu texto é muito bom e ele sabe fazer o assunto ficar divertido, sem alterar a profundidade necessária não só do conhecimento da política internacional, como de qualquer outra forma de relação humana.

A queda de qualidade do jornalismo internacional em nossa imprensa ocorre já há algum tempo — em 2015 o próprio Blinder saiu do site da Veja, onde ficou cinco anos. A demolição vem de muito antes da popularização da internet. É o que ocorre também com as demissões, cuja relação não é só com o advento de novas tecnologias, ao contrário do que se costuma dizer. É uma política antiga de várias empresas jornalísticas, com um ponto histórico neste caráter destrutivo, que teve até nome: "reengenharia". Atinge televisão, rádios e claro que segue curso na implantação desses veículos na internet. Basicamente, o objetivo é lucrar mais, com menos esforço financeiro e menor interação com o jornalismo, principalmente no que se refere à influência política e criativa do próprio profissional em seu trabalho. Neste aspecto, sempre foi acirrada a disputa nas empresas jornalísticas, no que pode ser resumido como um embate entre o interesse comercial e o jornalismo. Publicações que alcançam um bom meio termo sempre tiveram o melhor conteúdo. Na internet, os sites já começam com as redações por baixo. Não é preciso dizer qual será o resultado, até pelo fato de que hoje em dia a baixa qualidade de conteúdo da internet brasileira já permite ter uma ideia para onde isso pode nos levar.

A demissão de Caio Blinder —sem falar de tantos outros profissionais experientes que se foram do mercado — mostra em parte o andamento da comunicação no Brasil e pode servir também para observarmos graves deformações no comportamento político e cultural no Brasil. Certas reações à sua demissão mostram como vamos mal. A cultura brasileira vem sendo prejudicada bastante pela abertura geral ao internauta de má índole, gente ignorante do que comenta e por isso o mesmo sempre tomados de uma violência impressionante. No geral, claro que não passam de bravateiros, mas o problema é que ocupam os espaços com aquela audácia própria dos que não sabem que nada sabem. E os veículos procuram satisfazer esses bandos. A própria Jovem Pan, por exemplo, tirou Caio Blinder, mas a rádio mantém grupos de jornalistas palpiteiros e de comportamento exótico, que passam horas conversando fiado e estimulando a pauleira.

O risco é que este clima acelere ainda mais o rumo equivocado da imprensa ou até desça ainda mais de nível na qualidade do objetivo. Já tem muito site que em seu formato editorial procurando contentar esse tipo de gente. Existe também uma satisfação da direita, que atualmente parece em maioria na exposição cotidiana de desatinos, mas cabe alertar que o clima de grosserias independe de ideologia. Vale sempre o tom dos que tem mais poder no momento. E isso é cíclico no Brasil. Só não muda a qualidade. A direita anda animada e se comporta exatamente como os petistas faziam no poder. Até comemoram certas demissões, como ocorre nas redes sociais com o fim da participação de Caio Blinder na Jovem Pan. Um problema desses brucutus nativos com o jornalista é que ele é crítico a um presidente que lhes chutaria o rabo na primeira oportunidade: ele mesmo, Donald Trump. Agora a direita solta fogos de apoio à demissão de bons profissionais, da mesma forma que o petismo (que logo depois deu chabu) comemorava quando saía algum jornalista que contrariava o interesse de Lula e seu partido. O estilo é o mesmo: mentiroso, caluniador, difamante. A falta de informação e conhecimento, a grosseria, o mau gosto e a má fé só mudaram de lado.
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POR José Pires