sábado, 26 de fevereiro de 2011

Lobão, a única voz inconformista do rock brasileiro

Ao ler qualquer entrevista do compositor Lobão tenho sempre a impressão de que gente como ele faz falta em todas as áreas do conhecimento e das artes no Brasil. Na política, então, faz uma falta danada a sinceridade que ele põe em tudo o que fala.

O engraçado é que em qualquer país em que haja um mínimo de coerência nas relações políticas quem acaba fazendo o papel que Lobão exerce na música é a extrema-esquerda, representada aqui por partidos como o Psol. Porém, até essa nossa esquerda extremada se aquieta nos momentos cruciais e se acomoda no clima de patota que a maioria dos brasileiros adora. Pois não foi o que aconteceu agora na eleição da Dilma Rousseff, quando ele votaram nela no segundo turno? Pois foi.

E na última eleição ocorreu até aquele grave desvio de personalidade do candidato da oposição, José Serra, quando ele começou a elogiar Lula, não foi? Pobre do Serra. Ainda bem que passou logo, mas aquilo não foi só um defeito pessoal dele. É parte do caráter nacional, um traço que parece indissolúvel. É coisa do brasileiro. Do homem cordial já bem decodificado por Sérgio Buarque de Holanda lá atrás, nos anos 30.

Tudo se ajeita e o espírito crítico vai sendo deixado de lado. É a velha dificuldade de fazer qualquer coisa de forma impessoal, da preferência pelo resguardo nas relações de amizade. A coisa é tão forte que podemos dizer que o velho Buarque foi grande ferreiro com espeto de pau em casa. "Raízes do Brasil" é um aviso do mal que este traço patrimonialista e acrítico da nossa nacionalidade poderia fazer com o país. É evidente que Lula nunca leu este livro, mas tem seguido na sua carreira exatamente o que está descrito ali e implantou isso como ninguém havia feito antes no governo federal. Faz o contrário do que pede o velho Buarque. E quem é o maior defensor dos feitos de Lula, do sindicalismo ao poder presidencial? Isso mesmo, o filho mais famoso de Sérgio Buarque de Holanda, o Chico.

Mas voltemos ao inconformista do rock. Às entrevistas do Lobão,então. Com o lançamento de sua precoce biografia ele tem falado bastante aos jornalistas. “50 Anos a Mil”, a biografia editada pela Nova Fonteira é um calhamaço de 752 páginas. Jornalistas já fizeram o trabalho de comparar com o número de páginas de biografias de artistas como Bob Dilan, Eric Clapton, Keith Richards e Tom Waits. Pela ordem,cada um tem o seguinte número de páginas: 574 páginas; 400 páginas; 640 páginas; 640 páginas.

É óbvio que Lobão não tem mais coisas a dizer que essas quatro grandes estrelas do rock. Parece ter faltado uma boa edição que desse concisão ao livro, mas a culpa não é só do Lobão. O compositor escreveu com a ajuda do jornalista Cláudio Tognolli.

Mas sempre é bom ouvir alguém que altera a pasmaceira da discussão cultural no país. O melhor do Lobão é que ele quebra o espírito de patota que domina qualquer tipo de relação no Brasil e que é bastante forte até no rock. Vale aqui uma variação daquela máxima que, mesmo que não seja do próprio, ficou conhecida como frase do Tim Maia. No Brasil, prostituta se apaixona, traficante se vicia e cafetão se apaixona. Pode-se acrescentar que no Brasil roqueiro também é um cara bacana.

Lobão quebra isso a todo momento e é claro que acaba sendo tachado de louco. Aqui na terrinha, quando alguém começa a alterar a cumplicidade que mantém o status quo logo é estigmatizado de qualquer forma. Tentei lembrar de outra voz inconformista do rock brasileiro e não encontrei nenhuma outra que acompanhe Lobão nem nas críticas que ele faz e muito menos no tom. A moçada é bastante bem comportada.

O rock brasileiro não levanta a voz. Por isso Lobão é chamado de louco. Mesmo que seja uma contradição danada dizer que um roqueiro é louco. Se um Keith Richards, um Lou Reed, ou qualquer outro artista que deixou sua marca nesse tipo de música ouvisse algo do tipo é claro que agradeceria o elogio. Mas no Brasil não é assim. Nosso rock é bem comportado, num nível sempre muito próximo de idiotas como os da Blitz ou de qualquer outro grupo. Não vou citar mais. A lista é grande. Pensem em qualquer grupo de rock brasileiro, que ele pode estar numa lista dessas. Eles fazem rock, mas o espírito é de pagodeiro.

Gilberto Gil mostrou bem esse clima numa música onde busca fixar uma imagem de meninos a homens já muito bem criados e prontos inclusive para competir com ele. Esse tipo de coisa deixa enfezado o Lobão. E ele tem toda a razão.

Na música que lembrei, do Gil, tem trechos como este: "Outrora, só cabeludo, agora, o menino é tudo de novo no front". E por aí vai, com paternalismo e valorizando o bom comportamento numa área em que exatamente a quebra de padrões é que justifica a criação.

Mas os roqueiros aceitam bem esta contraditória regra social. O rock brasileiro amoleceu mesmo. É música para dançar em festinhas. Está aí o exemplo da Rita Lee, que sempre fez isso e até hoje, já indo para os 70 anos, fazendo o mesmo papel de menina traquinas.

Incomodando as patotas da música brasileira
O discurso de Lobão quebra esta regra do interesse de patotas e é por isso que ele tem dificuldade de encontrar espaço na música brasileira. Com esse comportamento não vai ser aceito nunca. Na música e ou na cultura brasileira é impossível a convivência com alguém assim, sempre disposto a falar verdades que desequilibram os esquemas muito bem determinados que premiam o bom comportamento com gordas verbas estatais e tratamento amigável nos cadernos culturais que viraram espaço de variedades e tratam a cultura num nível de BBB.

É claro que isso está matando a cultura brasileira, mas quem é que se importa com o estrago, quando o dinheiro está tilintando no caixa? E não é preciso talento criativo e senso crítico quando o jabá institucionalizado dá conta de abrir espaços para tocar no rádio, na TV e conseguir publicação em revistas, jornais e sites.

Lobão não é fácil e disso não dá pra ter dúvida alguma. Está sempre denunciando alguma coisa e com isso afeta diretamente o conformismo de muita gente, às vezes até do leitor. A defesa natural contra alguém assim é tachá-lo de louco.

Mas dá para ver que Lobão sabe muito bem do que está falando. E muito do que ele fala nem é grande novidade.O inédito é que alguém tenha coragem de apontar o que todos estão vendo, mas se calam.

E parte dessa admirável coragem de falar, abrindo a boca para criticar até em situações que podem prejudicá-lo diretamente, deve vir dar sua história pessoal muito difícil, barra pesada mesmo. Mas o que importa é que ele vai ao ponto certo.

Sobre a nova ministra da Cultura, a irmã de Chico Buarque, Ana Hollanda, ele diz: "Pior que Gil não vai ficar, porque era mamata federal". Ana Hollanda, por sinal, começou seu trabalho no ministério com uma demonstração de como a cultura no Brasil virou uma bajulação dos que têm a chave do cofre, seja no governo ou na iniciativa privada. Com menos de um mês no ministério ela procurou a presidente Dilma Rousseff para dar-lhe de presente um retrato feito por um pintor puxa-saco.

É do espírito de patota tratar bem quem está por cima. Assim como é do mesmo espírito tratar bastante mal aquele que traz críticas que podem desestabilizar o bom convívio com quem tem a chave do cofre.

O bom mocismo impera até quando o artista é roubado em seus direitos autorais. E foi nesse ponto que alguém como Lobão incomoda mais. Sua relação com as drogas, a vida bandida que ele levou, tudo isso acaba sendo tolerado pela indústria, mas aqui o negócio é grana. Rola bastante dinheiro na indústria e sempre aconteceram muitos desvios. Todo mundo sabe disso, mas as estrelas da música brasileira nunca tiveram o interesse de criar regras de defesa dos direitos dos artistas.

Quando tentou criar nos anos 80 uma associação de cobrança desses direitos, Lobão conta que alguns figurões da nossa música não gostaram da discussão criada com o assunto. A mulher de Gilberto Gil chegou a falar que Gil havia sido ameaçado pelo presidente da gravadora. A mulher do compositor baiano também foi agressiva com ele: “Você é um canalha, moleque, tá querendo acabar com a vida dos artistas”.

Ele fala até da existência de fábrica clandestina tocada por gente da própria indústria fonográfica. E situa a origem da indústria pirata de CDs nas próprias gravadoras. Os CDs que não eram vendidos deveriam ser destruídos, mas, em vez de fazer isso, profissionais das próprias gravadoras encaminhavam de forma clandestina o produto para a venda em camelôs. Com isso, criou-se um mercado pirata que depois foi tomado pelos chineses.

Os músicos sempre foram roubados pela indústria fonográfica. E foi nesse ponto que a discórdia de Lobão criou mais problemas. Ele foi um pioneiro da luta para que houvesse numeração dos discos no Brasil e para isso teve pouco apoio dos figurões da nossa música, inclusive de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, que depois foi ocupar o ministério da Cultura de Lula.

Isso já parece bastante coisa, não? Mas Lobão tem muito mais histórias para contar, o que ele faz sem nenhuma trava na língua. Ele fala com franqueza até sobre o suicídio da mãe, pelo qual se sente culpado − "Ela deixou escrito!", ele diz. Fala também das drogas e do convívio com bandidos na prisão e nas favelas, onde viu gente sendo jogada viva no triturador de lixo e garoto jogando bola com cabeça humana.

Tem várias entrevistas desse cara impressionante à disposição na internet. Digitando "Lobão, entrevista" pode-se encontrar muita coisa interessante para ler. A melhor que vi até agora foi uma longa entrevista feita pelo site IG e que pode ser acessada por aqui.
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POR José Pires

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Angola ao lado de mercenários pagos para a defesa de Kadahfi

Os petistas já devem estar com as barbas de molho com o que vem acontecendo na Líbia com o ditador Kadhafi, mas eles tem muitos motivos para preocupações com o que deve acontecer adiante em países importantes não só na política externa desenvolvida pelo governo Lula, mas até em negócios particulares de gente graúda ligada ao governo.

Agora aparece a notícia de que o governo angolano ajuda Kadhafi a defender sua ditadura, com oficiais angolanos comandando mercenários de várias nacionalidades contratados pelo ditador líbio.

Outro governo amigo do Brasil, ou melhor, do governo petista, a Venezuela, não escapará de uma boa influência do que ocorre na Líbia, seja qual for destino de Kadhafi. Hugo Chávez é próximo demais do ditador, daí que nem foi preciso alguém mandar um "por que no se callas!" para ele ficar bem caladinho. Por essa ninguém esperava, muito menos o venezuelano. Seu boliviarismo acabará sendo afetado por um acontecimento bem distante do continente latino-americano.

Mas, como eu disse, os conflitos na Líbia podem acabar batendo também na África. Um pouco antes de começar a revolta no Egito, Lula andou cascateando com os jornalistas sobre seu grande futuro político em terras africanas, onde pretendia exercitar suas notáveis habilidades. Essa eu gostaria de ver. Se o ex-presidente não tivesse a mania de se esconder quando estouram graves problemas que o envolvem mesmo que de forma indireta, ele poderia começar já o serviço. A enrascada em que está metido seu "amigo, irmão e líder", Kadhafi, já tem no meio um país africano muito próximo de Lula e seus companheiros.

Angola já está dando uma mão (bem pesada, por sinal) para Kadahfi. Quem deu a notícia foi o Página Um, um excelente blog de informações sobre assuntos da África, especialmente de países de língua portuguesa, colonizados no passado por Portugal.

O Página Um publicou a notícia hoje, há poucas horas atrás. O texto é de Orlando Castro, do blog Alto Hama. Castro afirma que o ditador Kadhafi tem recebido o apoio do governo de Angola na violenta repressão à oposição líbia e na defesa do ditador encarniçada para se manter no poder. Mercenários atiram em manifestantes. Usam inclusive ataques aéreos para atingir a oposição.

Por detrás desses mercenários está o governo de Angola. Oficiais angolanos estão na Líbia coordenando as operações que usam tropas de mercenários contratados por Kadhafi. Pilotos angolanos também substituem militares líbios que estão desertando e passando para a oposição. Segundo o Página Um, nesses ataques podem estar sendo usados até aviões angolanos.

Entretanto, as manifestações no Egito e a do povo líbio contra Kadhafi incentivou a oposição angolana a fazer algo parecido em Angola. Segundo o Página Um a manifestação está planejada para o dia 7 de março. A justificativa do protesto foi explicada dessa forma pelo jornalista Orlando Castro: "A idéia é mostrar ao dono do país, José Eduardo dos Santos, que mesmo de barriga vazia os angolanos continuam a ter cabeça, continuam a saber pensar". Ele acredita que se conseguirem realizar a manifestação "é mais do que certo que haverá mortes", porque o uso da força é uma constante no governo do MPLA.

Angola é governada há 32 anos por José Eduardo Santos. Em parte, este caráter ditatorial explica a solidariedade facinorosa com Kadhafi. O líbio está há 42 anos no poder. Angola saiu da colonização portuguesa com a esperança da implantação do socialismo e hoje os angolanos vivem uma situação de pobreza imensa e muita corrupção, depois de terem passado anos por uma guerra civil das mais violentas.

Vejam ao lado o angolano Santos com o colega Kadahfi. Quem está à sua esquerda é esse mesmo que você está pensado: o ditador Mubarak que foi há pouco despachado do poder. Como se vê, Santos é um estadista muito bem relacionado.

Quando manda angolanos para lutar ao lado de mercenários pagos para defender um ditador em terras estrangeiras, o dirigente angolano está também fazendo uma ironia histórica. Durante muitos anos o povo angolano sofreu horrores com mercenários ferozes pagos para conturbar o processo de independência de seu país.

Santos é o sucessor de Agostinho Neto, o lendário líder do MPLA, o Movimento Popular de Libertação de Angola. Neto morreu em 1979, poucos anos depois da independência de Angola, que ocorreu em 1975. É claro que hoje o ditador José Eduardo Santos é um homem milionário, assim como estão ricos todos da camarilha que sustenta seu governo e que subiu ao poder usando o engodo da implantação do socialismo no país.

Quase quarenta anos depois da independência o povo angolano continua na pobreza, mas em volta do poder mantido há mais de três décadas com mão de ferro por Santos construíram-se muitas fortunas. Empreiteiras brasileiras fazem a festa no país. A Petrobrás também faz bons negócios lá. Angola também acende a ambição de muita gente do PT. Vejam esse trecho de um perfil de José Dirceu publicado recentemente na revista Piauí. Depois de ter de abandonar o cargo de ministro com o escândalo do mensalão e ser cassado, Dirceu virou lobista. Leiam: "No caminho até o hotel, ele [Dirceu] disse que pretende se dedicar a Angola. 'Meu interesse é infra-estrutura: rodovias, telefones, telecomunicações. Temos a vantagem do idioma, o know-how', afirmou".

É claro que Lula também já fez afagos em Santos, nas duas vezes em que visitou Angola quando era presidente. Ele é chegado num ditador africano. Nas vezes em que esteve em Angola, o petista não mencionou a palavra liberdade e também não falou nenhuma vez em democracia. E olha que não seria difícil mesmo para o Supremo Apedeuta. Em Angola falam uma língua muito parecida com a nossa.
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POR José Pires

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O El País e suas edições que fizeram história com coragem

O jornal El País traz hoje um belo presente para seus leitores, no dia em que a Espanha comemora os 30 anos de uma grande vitória da sua democracia. Em 28 de fevereiro de 1981 o tenente coronel Antonio Tejero Molina tentou um golpe de estado para anular a delicada transição para a democracia que o país vivia desde a morte do ditador Francisco Franco, ocorrida em novembro de 1975.

A ditadura fascista de Franco perdurou por 36 anos e isolou a Espanha de todas as transformações vividas pelos países democráticos da Europa, num período de censura, repressão, mortes e péssimo desenvolvimento econômico. Nos últimos anos do franquismo o país era um dos mais atrasados daquele continente, de par com Portugal salazarista, outra terra que também não encontrou a liberdade após a derrota do nazismo.

Na tarde de 23 de fevereiro de 1981, Tejero Molina invadiu o Congresso dos Deputados liderando cerca de duas centenas de soldados da Guarda Civil, uma espécie de polícia militar da Espanha. O Congresso celebrava a posse de Leopoldo Calvo-Sotelo como presidente do governo, cargo equivalente ao de primeiro-ministro — o mesmo ocupado na atualidade por José Luis Rodriguez Zapatero.

Os golpistas fortemente armados dominaram os congressistas, que foram obrigados a se deitar no chão. O chefe da conspiração subiu à tribuna com uma pistola na mão. A foto publicada na segunda edição especial de El País da uma da madrugada de 24 de fevereiro correu o mundo e tornou-se uma imagem famosa. Veja ela abaixo.

O relato desses momentos históricos é o presente do El País, com as sete edições especiais do jornal impressas entre a noite do dia 23 e a tarde do dia seguinte, no mesmo período de 17 horas que durou o frustrado golpe, as mais longas horas da democracia espanhola, como diz o jornal.

Nem é preciso dizer que é um material muito bom. O El País já é bastante conhecido como um jornal muito bem feito, qualidade antiga mantida até hoje e que conseguiram também repassar para o site da publicação na internet.

Tem jornal que depois de lido vira papel velho. Outros se tornam documentos importantes. Aqui temos um desses casos especiais, de um jornalismo feito com coragem e por isso mais digno.

Estas edições do El País acabam tendo um valor muito especial porque trazem os fatos e são ao mesmo tempo parte expressiva dos acontecimentos narrados, pelo papel relevante desse jornalismo atuante naquele momento delicado da democracia espanhola. O jornal se declarou de imediato pelo respeito à Constituição e a cada nova edição certamente foi um reforço de peso na resistência ao golpe. Foi uma demonstração histórica da importância da imprensa na defesa e construção da democracia.

Para baixar as sete edições, clique aqui.
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POR José Pires

Grande coisa

Estamos no Twitter.
Mas quem é que não
está, não é mesmo?


É aqui,ó.

O bravo PCdoB sempre no combate à denúncias de corrupção

Pequetito, pero cumplidor esse Partido Comunista do Brasil, o PCdoB. Mesmo numa base política voraz, como esta que foi montada por Lula e que está aí para o uso de Dilma Rousseff, o bravo PCdoB está sempre nas manchetes por conta de graves suspeitas de corrupção. É um partido bastante combativo na luta para se safar de acusações de tretas com dinheiro público.

O jornal O Estado de S. Paulo publicou nos últimos dias reportagens com denúncias de fraude envolvendo dinheiro do ministério do Esporte. São matérias muito bem documentadas. Num país sério o ministério já teria sido desocupado pelos comunistas, mas se o país fosse mesmo sério esse ministro Orlando Silva já teria saído lá atrás, na safadeza dos gastos com cartão corporativo, um escândalo que ficou marcado por uma das compras do ministro: ele usava dinheiro público para pagar suas tapiocas.

E como gosta de tapioca esse PCdoB. O Estadão descobriu que por detrás de programas do ministério, que é parte da cota do PCdoB no governo Dilma Rousseff, estão entidades fantasmas e núcleos esportivos que recebem bastante dinheiro, apesar de existirem só no papel. Os projetos são tocados por ONGs dirigidas por membros do PCdoB.

Já é coisa muito grave, mas é evidente que isso deve ser apenas uma parcela do que pode estar acontecendo com o dinheiro que sai por meio do ministério que deveria cuidar do esporte no Brasil, que no governo petista virou uma especialidade comunista.

Teve uma época em que se falava bastante do tal "ouro de Moscou". Havia também o ouro da Albânia, o ouro de Mao e até mesmo o ouro do Kadhafi. Mas o que são essas riquezas históricas em comparação com o ouro que se pode ganhar nas Olímpiadas que vêm aí?

Não é a primeira vez que aparece uma treta no ministério do Esporte comandado pelos comunistas. Noutra denúncia de maracutaia descoberta em 2009 também estava envolvida uma ONG do PCdoB. Na ocasião, escrevi sobre o assunto aqui no blog, quando até apontei a falta de vergonha da organização dos comunistas ter o nome de "Pra Frente Brasil", um slogan marcante da ditadura militar brasileira. Bem, mas os círculos se fecham, não?

Os textos sobre essa tal de "Pra Frente Brasil" (que estão aqui e aqui)são de abril de 2009, mas até hoje aparecem comentários me xingando e que tenho que cortar, é claro, até porque trazem muito palavrão para um blog de família como o nosso.

É uma militância aguerrida e essa é uma resposta quando se pergunta a razão do governo se arrisca tanto com um partideco desses que arruma tanto problema. É um partideco mesmo, na mesma linha de outras siglas dominadas caciques de esquerda, como o PSOL, o PSTU e também o Partido Verde. Já falei disso aqui.


A força aguerrida de um partideco
O que mantém o PCdoB no poder é menos sua contribuição ao governo e bem mais os problemas que o partido pode criar se não ganhar cargos. Os comunistas detêm o controle de uns poucos sindicatos e e também mandam em algumas entidades estudantis, muitas delas do ensino secundário. Não é nada representativo, mas contam com uma militância amalucada capaz de fazer tudo que os chefes mandam. E como este Brasil que teve ditadura recente ainda não consegue processar e até prender baderneiros, eles podem aprontar bastante.

Essa agressividade latente é o argumento prático do partido. E o PCdoB tem uma história recente que comprova seu risco para a democracia. Faz bem pouco tempo, nos anos 70, eles montaram uma guerrilha na Amazônia com o plano de implantar no Brasil uma ditadura comunista tipo maoista. Que hoje eles também tentem dar para aquilo uma imagem de luta pela democracia é parte da mentira que envolve todos os grupos grupos que fizeram a luta armada no país.

Em sua grande parte, esta é a lógica do poder político do PCdoB, que vive de um passado mal explicado, mas para o qual ainda conseguem dar ares de gande importância histórica. Bem, pobre de quem agiu lá atrás de forma verdadeira, sofrendo riscos, alguns até morrendo. Deve ser duro morrer para sustentar uma história que hoje serve basicamente para ganhar boquinhas, não? Bem, mas esse é um problema de toda a esquerda brasileira.

Não dá pra descontar a má-fé da militância de um partido que nasceu com o propósito de negar os crimes de Stálin, mas o PCdoB tem também um que de maluquice. Já presenciei teuniões do partido. O clima é como o de uma dessas seitas evangélicas que se dizem igreja. E o interessante é que na expressão corporal, nos gestos, na fala, no modo de ser, sua militância também acabou ficando parecida com os crentes.

Experimentem imaginar o deputado Aldo Rabelo com uma Bíblia debaixo do braço — não a do Marx, do Mao, ou aquela outra que esses estranhos comunistas também usaram, a do ditador albanês Enver Hodja, mas a dos cristãos. Eles tem o figurino de um crente sectário. E não é pra menos: toda seita acaba sempre determinando de forma muito bem definida a cara e o caráter de seus seguidores.

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POR José Pires

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Cadê Lula e Chávez, os amigos de Kadhafi?

Na madrugada desse domingo fui atrás de materiais comprovando a forte amizade entre o ex-presidente Lula e o ditador Muammar Kadhafi para publicar aqui no blog. Não foi tarefa difícil, bastou eu lembrar da calorosa amizade entre os dois e pegar em um ou outro site informações sobre o assunto. É claro que muita coisa eu já tinha arquivado, pois uma amizade dessas comove de tal forma que não tem como não querer manter as recordações muito bem guardadas até que surja um bom momento para trazer de volta o período em que o petista e o ditador da Líbia trocavam cumprimentos fraternos.

As notícias antigas entre os dois é só de afetos. Muito mais de Lula, que tem um amor estranho pela Líbia. Não foi complicado localizar as fotos dos dois governantes juntos. Ainda estão nos arquivos da Presidência da República. Não foram ainda apagadas, até porque antes da população líbia acossar Kadhafi, ele era defendido pelo governo petista como uma das grandes lideranças progressistas do mundo.

O governo distribuiu com orgulho as imagens de Lula com Kadhafi, na época em que os dois se encontraram e é claro que mantinha as fotos como um documento histórico da nova diplomacia implantada pelo PT. Não era essa a retórica da política externa dos dois mandatos de Lula? Pois foi assim até o momento da eleição de Dilma Rousseff e com certeza teríamos de suportar mais quatro anos da mesma lorota, caso a situação internacional não mudasse de tal forma.

Como é mesmo aquela história de falar fino e falar grosso? O compositor Chico Buarque não gosta de ser cobrado, mas não seria de forma alguma incorreto um jornalista meter um microfone na sua frente para que ele explicasse se o ditador Kadhafi está falando fino ou grosso quando manda reprimir, atirar e até bombardear o povo líbio.

Me lembro que um país citado por Buarque na frase infeliz era a Bolívia. Veja na foto abaixo, enquanto Lula cumprimenta efusivamente o ditador líbio, ao fundo o presidente boliviano Evo Morales quase gargalha de satisfação. É evidente que depois de Lula, ele deve ter ido pro abraço com o companheiro ditador. E aí fica a dúvida: isso é falar fino ou falar grosso? Chico Buarque precisa explicar melhor o conceito.

Kadhafi era uma peça essencial no modelo de diplomacia do governo Lula. Aqui na América do Sul o alinhamento se dava com o "bolivarianismo" chefiado por Hugo Chávez, mas no plano mundial os gênios da diplomacia lulista contavam com gente como o ditador líbio para criar mecanismos de pressão sobre as grandes potências. Outra peça importante nesta estratégia era o iraniano Mahmoud Ahmadinejad.

Enfim, falando grosso ou fino, esse foi caminho genial da política externa petista. Agora todos tentam tirar o corpo fora, mas se fosse para levar ao pé da letra essa diplomacia de Napoleão de hospício, o Brasil teria que imediatamente se solidarizar com o ditador acuado no palácio.

Mas de que forma fazer isso quando some todo mundo? O Lula, que já começava na semana passada a contar lorota pra jornalista, ainda não deu nenhuma declaração de apoio a seu "amigo, irmão e líder". E o venezuelano Chávez também tomou chá de sumiço. Muy amigos, não?

Até fui dar uma sapeada nos sites de jornais venezuelanos e nada. Só quem falou sobre o assunto foi ministro das Relações Exteriores da Venezuela que, pra piorar, ainda tem um sobrenome que dá trocadilho. Nicolás Maduro (que o jornal El Nacional chama de "inmaduro") na verdade não toma nenhuma posição prática. Apenas torce para que Kadhafi tenha o controle da situação na Líbia.

O editorial do El Nacional contesta o ministro venezuelano, critica a relação já antiga entre Chávez e Kadhafi, e faz uma pergunta que pode muito bem ser feita também aqui no Brasil: por que apoiamos este assassino?

Os petistas não podem fugir desta questão.
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POR José Pires

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O nome verdadeiro do "amigo, irmão e líder" de Lula


Gaddafi, Khadaffi, kadhafi, kadaffi ou Kadafi? Os jornais e sites não se entendem com a grafia do nome de Muammar Kadhafi, ou será Kadafi, ou...?, bem, não importa, o que interessa mesmo é que finalmente Kadhafi está sendo visto como ele realmente é.

Gaddafi, Khadaffi, kadhafi, kadaffi ou Kadafi, o "amigo, irmão e líder" de Lula é um ditador brutal, um dos piores assassinos do planeta. Em cerca de uma semana de protestos na Líbia, com os manifestantes pedindo apenas liberdade e democracia, ele já matou mais de cem pessoas na ruas.


Meta a mãozinha
Clique na imagem e você poderá ver a foto bem ampliada. Repare em detalhe nos rostos emocionados, as mãos apertadas fraternalmente no cumprimento bem fora de protocolo. É coisa de amigo e irmão mesmo. E pela cara de embasbacado do Lula, é mesmo um encontro com um líder dele.

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POR José Pires

Kadhafi, o amigo, irmão e líder de Lula mata e arrebenta na Líbia

A revolta contra ditaduras que começou no mundo árabe acaba de respingar na política externa promovida por Lula e propagandeada de forma ufanista como a grande qualidade do governo petista. No Irã, onde Lula gostava de um olho no olho com Ahmadinejad, o governo arma manifestações de apoiadores seus pedindo a morte de líderes da oposição. Já na líbia, o ditador líbio Muammar Kadhafi está reprimindo e matando os manifestantes nas ruas.

Logo que começaram as manifestações no Egito, a esquerda brasileira se assanhou e até começaram a ver revolução onde existe apenas revolta popular. O que tem ocorrido até agora parece mais com desabafos em razão da falta de perspectiva de vida do que lutas pela liberdade e muito menos por alguma transformação política mais radical.

Mas o fato é que as revoltas vão pulando de um país para outro e já se prevê seu alastramento por todo o mundo árabe. Seria interessante que essa movimentação política contagiasse também a África. Fico imaginando quantos amigos de Lula, ele que é o parceiro preferido de 9 entre 10 ditadores africanos, não baqueariam com uma coisa dessas.

Já o Kadhafi é muito mais que um parceiro de Lula. O ditador líbio é seu "irmão, amigo e líder". Foi o próprio Lula quem disse esse absurdo. A fala foi na Cúpula da União Africana, em julho de 2009, onde ele esteve como convidado de honra, na condição de presidente do Brasil.

Eram dadas como certas também a presença de Silvio Berlusconi, primeiro-ministro da Itália, e Ban Ki-Moon, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ambos como convidados especiais. Mas os dois cancelaram de última hora suas participações.

Nem o Berlusconi teve estômago para uma reunião daquelas, mas Lula estava bem ambientado. Na verdade, Lula foi escolhido como convidado de honra para ser um joguete de ditadores e do próprio Kadhafi, que pretende exercer uma liderança sobre a África. O anfitrião da reunião foi Kadhafi e naturalmente estava lá toda a corja de ditadores africanos que o petista cortejou em seus dois mandatos.

O companheiro Ahmadinejad havia sido convidado, mas não pode comparecer, o que foi uma pena. A reunião foi menos de um mês após Lula fazer piada com as manifestações contra a fraude na eleição de Ahmadinejad no Irã, quando o então presidente brasileiro chamou de "torcida perdedora" os manifestantes que estavam sendo massacrados nas ruas de Teerã.

Mas não seria a falta de um ditador que prejudicaria um encontro realizado na Líbia. Estava lá até o ditador sudanês, Omar al Bashir, com ordem de prisão decretada pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra e contra a humanidade.

Lula pererecou para evitar ser fotografado ao lado do ditador do Sudão. No final do encontro, o petista saiu correndo de um almoço oficial com mais de 30 líderes ao ver que havia sido colocado ao lado de Al Bashir.

O petista viu problema em ficar ao lado do sudanês, mas com o ditador Kadhafi ele se dá muito bem. É o "meu amigo, meu irmão e líder", como ele disse.


Kadhafi e esquerda, uma amizade antiga
A esquerda brasileira tem relações estreitas e muito antigas com o ditado Líbio. Existe até uma história de que Kadhafi teria dado gordas contribuições financeiras ao grupo MR-8. O que tem de comprovado é que realmente o pessoal do MR-8 adora o ditador. Houve uma época até em que eles andaram distribuindo o tal Livro Verde, de Kadhafi, que traz pensamentos escritos de forma parecida com o famoso Livro Vermelho, de Mao Tsé-Tung. São dois pensadores semelhantes até na cretinice que chega a ser cômica.

Mas não é só o MR-8 que trata Kadhafi muito bem na esquerda brasileira. O ditador líbio tem boas relações com o PT e é tratado com bastante respeito em muitos sites e também jornais. Articulistas de esquerda raramente mencionam a falta de democracia na Líbia e jamais apontam Kadhafi como o ditador que de fato ele é. Ao contrário disso, quando seu governo é o assunto sempre se dá um jeito de ressaltar seu papel como o de um líder árabe da ala progressista e entre os combatentes anticolonialistas da África e do Oriente Médio.

É claro que não dá para crer que haja dinheiro na relação entre Lula e Kadhafi, mas é bastante estranha a afinidade entre os dois, pra lá de protocolares. Dá para ver isso na atitude do petista na presença do ditador. Essa conversa de "amigo, irmão e líder" não parece ser só coisa da boca pra fora. Observem nas duas fotos. A de cima é a da Cúpula da União Africana e a do lado foi tirada na II Cúpula América do Sul e África, realizada no mês seguinte. As fotos foram distribuídas com orgulho pelo próprio governo.

Mas agora o "amigo, irmão e líder" de Lula está com sérios problemas em seu país e apelando para uma violência que faz parecer tolerante até o ex-ditador egípcio Hosni Mubarak. As organizações humanitárias informam que a repressão do governo líbio já matou quase cem pessoas desde que os protestos conmeçaram. Neste sábado eles usaram franco-atiradores contra os manifestantes. Segundo depoimentos, 15 pessoas teriam sido mortas e muitas outras ficaram feridas.

Os tiros foram disparados contra uma marcha em memória dos mortos nas últimas manifestações. Grupos armados também perseguiram as pessoas. Os manifestantes feridos estão chegando aos hospitais com lesões muito graves que parecem provocadas por armas potentes.

Um médico disse à BBC o seguinte: "Estou vendo pessoas feridas serem carregadas durante todo o dia. Elas foram alvejadas na cabeça e no peito, quebraram braços e pernas. Há tiroteios em toda a parte".

Na reunião da Cúpula da União Africana, além de bajular seu "irmão, amigo e líder" Kadhafi, Lula falou que "consolidar a democracia é um processo evolutivo". Que coisa, não? Parece conversa da nossa ditadura militar. É claro que ele disse isso para amenizar as possíveis cobranças sobre a reunião com os companheiros ditadores, mas parece que com o companheiro Kadhafi não tem esse papo de democracia. Nem como "processo evolutivo".

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POR José Pires

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ladroagem no Maranhão

Notícia do Maranhão traz sempre algo impressionante neste país que já é fantástico. O velho Mangabeira dizia que, que foi governador da Bahia na década de 40, dizia que qualquer absurdo que se pensasse, no seu estado já havia precedente. Bem, isso era antes dos Sarney fazerem o Maranhão suplantar a Bahia.

É, as coisas estão se complicando no Brasil. Pois não tinha até aquele música do Luiz Gonzaga que dizia que "no Ceará não tem disso não"? Vixi, seu menino: isso faz tempo. É da década de 20, 30, por aí. Mas com os Gomes no poder tem cada coisa hoje no Ceará...

Mas vamos pro Maranhão. Leiam esta notícia de hoje: "Um montante no valor de quase R$ 30 mil do Fundo Penitenciário sumiu de um cofre, dentro da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, em São Luís. O sumiço dos recursos, que deveriam ser pagos a presos que cumprem pena trabalhando, foi percebido na terça-feira, mas divulgado somente hoje."

Pois é, nesse negócio de corrupção, no Maranhão dos Sarney juntam-se todos os lugares-comuns. Roubaram o ladrão. E é de se pensar logo em chamar o ladrão, mas quem conhece o Maranhão sabe que lá isso isso não é bom de se fazer, não. Até o corporativismo anda em baixa naquelas bandas: ladrão não respeita nem ladrão.
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POR José Pires

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Despedida de quem já era faz tempo

Eu pensava que a desculpa do hipotireoidismo era o melhor da despedida do jogador Ronaldo, que anunciou nesta segunda-feira que vai pendurar as chuteiras, mas o melhor mesmo veio depois. Logo ele revelou o desejo de fazer uma partida de despedida com a Seleção Brasileira.

O jogador Tostão, que foi de uma geração que praticamente inventou o futebol brasileiro, com a genialidade que criou a imagem desse esporte no plano internacional, já disse que abandonar a carreira é coisa muito complicada. Ele também teve que fazer uma despedida precoce por causa de problemas nos olhos.

Mas a dificuldade de Ronaldo abandonar o campo pode até ficar bem engraçada. Um jogo de despedida na situação atual do jogador pode até ser cômico. Imaginem Ronaldo chutando bola entre os melhores que temos atualmente. Não dá para pensar em pior contraste para ele.

E nem dá para esperar uma partida histórica. Será mais uma oportunidade para ver o Ronaldo não jogar.
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POR José Pires

Repeteco esportivo

A finalização oficial da carreira do jogador Ronaldo me fez lembrar de um texto que publiquei há menos de um mês, no dia 16 de janeiro, onde eu observava o contraste entre a imagem do jogador imposta pela propaganda e a realidade que se via nas fotos publicadas em jornais e sites. Leia abaixo.


A alma do negócio
Imagem é tudo. Veja à esquerda a foto, digamos assim, "oficial", do jogador Ronaldo, imagem usada para propaganda e que ele usa inclusive na apresentação de seu Twitter na internet. E à direita temos uma foto feita por Ernesto Rodrigues, da Agência Estado, durante um treino no Corínthians esta semana.

Como diz o slogan de seu patrocinador: escolha.
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Por José Pires

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ronaldo pendura as chuteiras: hipotireoidismo nada, foi mais uma ziquizira do pé-frio Lula

E o Corinthians não para de descer a ladeira. No final do ano passado perdeu o campeonato brasileiro para o Fluminense. E perdeu de um jeito muito feio. O time apenas empatou de um a um com o já rebaixado Goiás. Mas o azar não parou aí e o timão entrou em 2011 com o pé esquerdo.

Além de perder o campeonato, os corintianos deixaram de faturar a vaga direta para a Copa Libertadores de 2001. E a disputa da Pré-Libertadores com o Deportes Tolima, da Colômbia, foi outro fiasco. Perderam por dois a zero. Mas o problema não foi só esse. O Corinthians também ficou na péssima situação de ser o primeiro time brasileiro eliminado sem sequer disputar a fase de grupos desde que foi criada a Pré-Libertadores, em 2005. Parece só um detalhe, mas quem gosta de futebol sabe que coisas assim podem render muita gozação das torcidas adversárias.

Já seria azar demais mesmo que as desgraças tivessem acabado aí, mas o time continua rolando pela pirambeira. Na última sexta-feira o lateral-esquerda Roberto Carlos pediu rescisão de seu contrato, que venceria só no final deste ano. Foi praticamente uma fuga do clima de violência criado por torcedores corintianos que faziam até ameaças de morte. Foi bem mal para a imagem do Corinthians e evidentemente cria dificuldades para qualquer técnico montar uma boa equipe.

Mas a ziquizira ainda não fechou com esse lance. Hoje Ronaldo anunciou que pendura definitivamente as chuteiras. É um fim de carreira melancólico, sem nenhuma conquista neste seu último time e, além disso, acossado pela torcida corintiana que o acusa de ser um dos responsáveis por esta má fase.

Acima publicamos uma foto do ano passado com os personagens mais destacados desta fase azaradíssima do Corinthians. No meio dos dois craques que passaram por maus bocados está o então presidente Lula, notório pé-frio e responsável por uma longa lista de azarações, de atletas que enfrentaram situações dramáticas, com derrotas inesperadas, times rebaixados em campeonatos e até impressionantes quedas, como aconteceu com o ginasta Diego Hipólito em 2008, nos jogos Olímpicos de Pequim.

No lado direito da imagem está Andrés Sanches, o presidente do Corinthians, que tem todo o interesse em atrair Lula para tirar foto, já que é filiado ao PT e tem o interesse em seguir carreira na política. Até o momento, Sanchez é o único corintiano da foto que ainda se mantém em atividade no time. Mas é claro que isso também pode ser visto como mais uma manifestação do azar repassado pelo pé-frio do Lula.
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POR José Pires

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Dilma rouba idéia de Serra e esquece o mulherio em discurso

Pobre José Serra. Todo mundo boicota o tucano. Seu próprio partido teve há alguns dias seu programa eleitoral na televisão e não deu espaço algum para ele falar algumas palavras. Apesar de ter conquistado 44 milhões de votos na eleição para presidente da República com uma garra impressionante e numa luta em que teve que enfrentar até os quinta-colunas infiltrados no PSDB, a direção do partido achou que não valia a pena dar um espaço para ele.

E agora veio a presidente Dilma Roussef falando em rede de televisão e também não chamou o Serra. E por que deveria chamar? Ora, porque ela lançou uma das propostas que Serra fez na campanha eleitoral, o Protec. Só mudou o nome, para Pronatec, mas a concepção é a mesma: um Prouni para o ensino técnico.

É um governo ladrão. Ladrão de idéias, já começa com um plágio. Mas não é só por isso que Dilma continua a mesma da campanha eleitoral. Balança a cabeça, pra cá, balança pra lá, pontua palavras com gestos que não querem dizer coisa alguma. E pelos cortes, deve ter dado um trabalho danado extrair dela cerca de 5 minutos de gravação. O pretexto para o programa em rede nacional é o início das aulas, mas da forma que Dilma aparece no vídeo lendo o teleprompter, se ela passasse por uma prova de leitura só iria ter média maior do que o Tiririca.

O texto é ruim, naquele estilo marqueteiro de falar bem do próprio governo e tentando uma informalidade que não tem jeito de dar certo com alguém como Dilma. Queridas brasileiras e queridos brasileiros é broca, não?

No meio da fala, uma falha imperdoável para quem está preocupadíssima com a questão de gênero na linguagem. O texto deve ter sido lido e relido. Foi incompetência deixarem passar isso:

"Em suma, esta é a grande hora da educação brasileira. Isso só será possível se cada pai, cada aluno, cada professor, cada prefeito, cada governador, cada empresário, cada trabalhador tomar para si a tarefa de acompanhar, discutir, cobrar, propor e construir novos caminhos para nossa educação."

Ora, se estão tão preocupados em chamar Dilma de "presidenta", então o texto deveria ser assim (meu retoque vai em vermelho):

"Em suma, esta é a grande hora da educação brasileira. Isso só será possível se cada pai e cada mãe, cada aluno e cada aluna, cada professor e cada professora, cada prefeito e cada prefeita, cada governador e cada governadora, cada empresário e cada empresária, cada trabalhador e cada trabalhadora tomar para si a tarefa de acompanhar, discutir, cobrar, propor e construir novos caminhos para nossa educação."

Fica bem mais no estilo da "presidenta" Dilma, não é queridos leitores e queridas leitoras? Eu ainda acabo pegando uma boca neste governo.
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POR José Pires

Corte de 50 bilhões é lorota. E é um economista do Ipea quem diz

Escrevi ontem sobre o uso do Ipea para dar uma força ao SUS, numa pesquisa bem marota que o órgão divulgou sobre o sistema público de saúde. Lula já andou dizendo que o SUS é o melhor sistema da América Latina. O Ipea ainda chega lá.

Perguntei então por que em vez de ficar editando pesquisa para parecer que a coisa está andando bem, o Ipea não é usado para referenciar o governo com dados aprofundados, buscando especialmente onde o governo precisa acertar, porque falar bem de governo já é serviço de marqueteiro.

Pois agora há pouco o blogueiro Reinaldo Azevedo, do site da revista Veja, divulgou que um economista do Ipea dissecou a promessa da presidente Dilma Rousseff de um corte de R$ 50 bilhões nos gastos públicos.

É uma análise muito boa e o economista — Mansueto Almeida é o seu nome — usa dados do próprio governo para provar que o corte é lorota. É impossível de ser feito da forma que foi anunciado.

Almeida vê o anúncio de corte como uma carta de intenções e nada mais. Ele acha impossível um corte de custeio de R$ 30 bilhões, R$ 40 Bilhões ou R$ 50 bilhões de um ano para outro e diz também que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sabe disso.

Almeida lembra que no primeiro ano do governo Lula (2003) o ajuste fiscal foi feito em grande parte em cima do investimento público. O corte foi de 50% e o ministro do Planejamento era Mantega.

Bem, isso faz parecer então que o anúncio do corte é mais uma peça de propaganda do que uma decisão econômica séria. Essa é minha opinião, é claro. O economista do Ipea até quer acreditar que ele é que está errado e não o governo.

Porém, os números que apresenta, dão outra impressão. Mansueto Almeida parece que está com a razão. Ele afirma que é impossível o corte sem atingir o orçamento do PAC, como o governo anuncia, e que sem sacrificar investimentos e gastos sociais simplesmente não é possível obter a porcentagem prevista de corte.

Almeida opina e dá os números. Vou dar apenas um exemplo das contas que ele faz e depois vocês podem correr para conferir no próprio texto dele, que é relativamente longo, mas muito fácil de ler. Ele não escreve em economês.

O governo anunciou a intenção de publicar um decreto reduzindo em 50% (eles adoram usar números assim para impressionar) as despesas com viagens e diárias. Almeida fez as contas e prova que se fizerem este corte de 50% a economia potencial será de R$ 1,04 bilhão. É só 2% do corte de 50% que foi anunciado.

O material do economista do Ipea é muito bom. Mas não adianta correr para o site do Ipea porque não é lá que o texto foi publicado. Almeida fez o serviço por conta própria e publicou em seu blog pessoal na internet. E aí está algo preocupante. É provável que o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, não goste nada disso.

Logo que assumiu a presidência do órgão, Pochmann exonerou quatro economistas que não seguiam sua linha de pensamento. Ele não queria ninguém dentro do Ipea dando má notícia porque o governo petista é composto de pessoas fracas dos nervos.

Tomara que Mansueto Almeida tenha estabilidade no emprego porque é provável que ele sofra pressão por causa do bom trabalho que fez. Em todo o caso, corram para o Blog do Mansueto Almeida para ver o que ele fez. E se der algum problema, já republiquei o texto aqui.
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POR José Pires

Um secretário pra arrumar confusão

A gente pensava que o ex-presidente (oba, até que enfim!) Lula seria um problema para o governo da presidente Dilma Rousseff e criaria ambigüidades políticas com seu estilo falastrão, mas a divisão veio mesmo de dentro. Ainda é cedo para Dilma sossegar em relação ao Lula, mas foi da sala ao lado que veio a confusão.

Governo do PT tem bastante maluquice, mas é esquisito logo em início tão problemático de administração, com divergências com sindicalistas da base aliada, corte de gastos e volta da inflação, o secretário-geral da Presidência dar o pira. Mas foi o que fez Gilberto Carvalho. O homem foi para o Fórum Social Mundial, em Dacar, no Senegal, e passou a opinar de forma determinante sobre assuntos que não são da sua alçada

Esse senhor não é brincadeira. Carvalho não conseguiu até agora sequer dar explicações convincentes para um conflito mais simples onde teve papel central, que é o da morte de seu falecido amigo Celso Daniel, que foi seqüestrado, torturado e assassinado quando era prefeito de Santo André, e vai se meter na confusão dos diabos que é o conflito no Egito. Não dá para evitar o trocadilho: se aquilo já é areia demais para o Brasil, imagine então o excesso que é para o seu caminhãozinho na Secretaria- Geral da Presidência.

Não sei se foi porque estava ao lado do ex-presidente (opa, mas isso é bom mesmo!) Lula, mas Carvalho resolveu também repetir o chefe e pedir desculpas pela escravidão. O ato é uma bobagem, mas, de qualquer forma, um secretário-geral não tem legitimidade para tomar uma atitude dessas em nome do país.

A bem da verdade, nem o presidente a República pode fazer algo assim se não for escorado numa legítima deliberação entre os brasileiros. O que acontece é que para contemplar parte da militância negra pendurada em boquinhas no governo ou com privilégios oferecidos pela máquina pública, o governo Lula veio com suas tolas leituras sobre a questão do negro em nosso país, a começar por este mito maluco da existência de uma africanidade.

Quando alguém vem com essa conversa pra mim, sempre alerto que antes de tentar me convencer é melhor juntar primeiro numa mesa um egípcio, um argelino e um sudanês e mais alguns países que podem ser escolhidos à vontade para ver o que eles pensam dessa idéia de uma África integral.

Zumbi quem mesmo?
Mas o pior é que, neste assunto, até naquilo que toca de fato o Brasil essa esquerda toma o caminho errado. Por falta de conhecimento ou má-fé. Ou mesmo as duas coisas, pois elas costumam caminhar juntas. Na análise do que foi a escravidão no país, esquecem Joaquim Nabuco e enaltecem um tal de Zumbi dos Palmares. Digo “um tal” porque falam de uma figura inventada, porque Zumbi não teve peso algum na libertação dos escravos.

Esquecem Joaquim Nabuco e até aí tudo bem. Se Nabuco tivesse a infelicidade de ver um dirigente petista na sua frente certamente sua reação seria de desprezo. Nabuco foi senador. Já imaginaram essa grande figura brasileira no Senado que Sarney amoldou junto com o governo do PT? Mas, além de esquecer importantes abolicionistas, essa esquerda também despreza de forma equivocada uma liderança importante entre os negros e um dirigente muito mais marcante na história de Palmares, que foi Ganga Zumba.

Mas esse tipo de perspicácia não poderia vir de uma esquerda que idolatra um incompetente político e militar como Che Guevara, em detrimento de tantos outros líderes bem mais capazes (alguns também de esquerda) de vários países da América Latina.


Venham para cá, africanos. Tem Prouni para todos
Mas voltemos ao secretário-geral da Dilma. Além da contrição pessoal em relação à escravidão, ele ainda prometeu curso superior de graça para imigrante africano. Ele quer um Prouni exclusivo para africanos. Será que alguém já explicou para Carvalho a conseqüência que pode ter para o Brasil uma promessa dessas em um continente com tantos países empobrecidos? Se a imigração africana já é um problema na atualidade, com oferta de curso superior de graça onde é que vamos parar?

Mas Carvalho aproveitou também para dar o famoso pitaco na crise política do Egito. Foi imediatamente desautorizado pelo atual ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que parece ter a intenção de tirar o Brasil das frias internacionais em que foi metido nos dois mandatos de Lula.

Em qualquer governo que sucedesse o de Lula alguém teria de fazer isso, pois sua retórica megalomaníaca acabou comprometendo o Brasil com situações muito complexas e que exigem um poder de fogo que o país não tem e provavelmente jamais terá.


Tática petista aérea no Egito
Mas alguém precisa avisar todo o conjunto do governo petista e até explicar detalhadamente para o PT que não somos o rei do mundo. Olha gente, aquele negócio do Obama dizer "Ele é o cara" era só brincadeira. Mas, para petista entender melhor, pode-se usar um outro exemplo simples, utilizando o drama vivido atualmente pelo Egito: como o Brasil tem dificuldade até para distribuir leite no Haiti é melhor ficar de fora da questão do Egito e de outras complicações políticas da região, que junta terroristas islâmicos, o Irã, Israel e todas as ditaduras árabes em torno, a maioria de países endinheirados pelo petróleo.

Mas vamos supor que os brasileiros se metam neste assunto, como o secretário-geral da Dilma expôs em Dacar. Bem, se acontece uma guerra civil no Egito, por exemplo, teremos tropas para mandar para lá para acompanhar o ministro Jobim com sua farda de araque? Ou podemos seguir o estilo da retórica paraquedista que vigora até o momento nas relações externas do governo petista e lançar de paraquedas o Lula para ele mandar ver um olho no olho com a multidão egípcia.

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POR José Pires

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Para o Ipea o SUS até que está bem

Hoje o Ipea lançou uma pesquisa de avaliação do SUS, cuja edição é um primor: deram um jeito dar a entender que, segundo a pesquisa, a população aprova o serviço. Alguns sites caíram na conversa do Ipea, mas o que acontece é que deram o destaque à opinião favorável do paciente quando é finalmente atendido. Mas o problema do SUS não é exatamente a dificuldade de chegar até o médico? É isso mesmo. Mas o Ipea quer que a gente se concentre na satisfação do usuário depois de ser atendido.

Tem uma frase no site do órgão que mostra bem aonde querem eles chegar: “Os resultados mostram que os serviços do SUS são mais bem avaliados por aqueles que costumam utilizá-los, quando comparados com aqueles que não os utilizam”. O título também vai ao ponto que interessa ao governo: “SUS é mais bem avaliado por quem utiliza o serviço”. Pela imagem do site do IPEA, que publico acima, dá para sentir o nível.

Isso significa que quem chega à frente de um médico para ser atendido avalia o serviço como bom, é isso? Bem, mas não é nem preciso fazer pesquisa para saber a dificuldade que é ser atendido.

Este problema também foi detectado pela pesquisa, mas o Ipea fez uma edição que puxa para esta pauta doida que afirma que quem é atendido gosta do serviço. Segundo a pesquisa, o maior problema é a falta de médicos, o que dizem 57,9% dos entrevistados. A demora para o atendimento nos postos, centros de saúde e hospitais ficou em 35,9%. E para 34,9%, a demora para conseguir consulta com especialistas é o maior defeito do SUS.

Mas até esse formato de pergunta e resposta não me parece ter muito a ver com o que se espera do Ipea. Eu penso que o órgão deveria trazer informações aprofundadas sobre o sistema SUS, fazer comparativos, e não vir com um esquema de perguntas e respostas. Está mais para pesquisa do Instituto Vox Populi. Mas a eleição ainda não acabou?

Acho os números, todos eles, muito fora da realidade. Não estão de acordo com a insatisfação que sentimos no cotidiano. Dá a impressão de que os pacientes do SUS estão com medo de expor suas opiniões. E quem não teria, na condição que essas pessoas vivem? Basta conversar com qualquer um que dependa de atendimento público de saúde para perceber que os problemas com o SUS são bem maiores que estes detectados pelo Ipea.

Já soube até uma pessoa que atendeu a um telefonema de um atendente de posto de saúde que avisava sobre a liberação de uma consulta e teve de dizer que o paciente havia morrido um mês antes. Não li isso em jornal, nem ouvi em conversa alheia. Soube por uma pessoa próxima da família.

Claro que este é um caso extremo, mas quem já não ouviu reclamações sobre atendimento médico de pessoas que dependem do SUS? Não são poucas as que revelam demora até de meses em consultas, mesmo quando o caso é de doença crônica ou com alto risco de morte.

Então de onde vem essa descoberta do Ipea de que o pessoal anda gostando do serviço? Talvez seja porque o brasileiro pobre leva uma vida tão difícil que é capaz de dar graças à Deus caso consiga ser atendido por um médico para tratar de alguma doença, mesmo que seja depois de passar dias e até meses numa fila. E alguém acredita que uma pessoa na condição de sofrimento dessa gente tenha capacidade de avaliar a qualidade do atendimento?

Ao contrário do mineiro, segundo diz o ditado, o SUS não é solidário nem no câncer. Quando a presidente Dilma Rousseff ainda estava em campanha tentou-se aplicar à sua imagem o mito de que ela seria uma pessoa de muita força de vontade, pronta a enfrentar o câncer recém-descoberto. Com o ex-vice-presidente José Alencar tentaram fazer a mesma coisa.

Bem, tanto Dilma quanto Alencar receberam atendimento de especialistas famosos e até bem caros e passaram pelos melhores hospitais aqui e no estrangeiro, para onde puderam ir de avião ou helicóptero. Não é o caso de quem depende do SUS, independente da força de vontade do paciente. No caso de Dilma, na época até foi revelado pelo colunista da revista Veja, Diogo Mainardi, que foi importante na recuperação de sua saúde um remédio muito caro, o Mab Thera. Um frasco custa cerca de oito mil reais e está fora do alcance de quem usa os serviços do SUS.

Quem tem câncer e está no SUS, portanto, tem duas doenças. E mesmo quem tem doenças menos graves sofre bastante em filas intermináveis , postos de saúde entupidos de gente e até hospitais e pronto-socorros que negam atendimento por absoluta falta de condições de acolher doentes ou feridos.

Mas aí vem o Ipea e revela que “o SUS é mais bem avaliado por quem utiliza o serviço”. Bem, a pesquisa elimina quem morreu por falta do serviço.


Tudo contra FHC e tudo a favor de Lula
Na eleição para presidente da República o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prestou um ótimo serviço para o então presidente Lula e, por extensão, para sua candidata Dilma Rousseff. Nos meses anteriores ao pleito, o Ipea foi divulgando um monte de números positivos sobre o país que coincidentemente acabavam batendo com a pauta da campanha do PT. Foi um serviço completo e tão bem feito que Márcio Pochmann manteve-se forte no posto de presidente da instituição. Saltou de Lula para Dilma sem nenhum arranhão.

Na eleição, assim como fez durante todo o segundo mandato de Lula, Pochmann atuou de forma bem diferente de quando estava fora do poder e os tucanos é que governavam o país. Naquela época ele desencavava números negativos.


Quando Fernando Henrique Cardoso era o presidente, Pochmann foi um mestre em descobrir mazelas do governo. E nisso estava certo. Nessa época ele escrevia artigos e dava entrevistas como professor da Unicamp e, de qualquer forma, na crítica às políticas oficiais é que está a maior contribuição de um pesquisador, de um jornalista ou de qualquer outro profissional que pretenda debater com seriedade os problemas brasileiros.


Porém, ao que parece, o ponto de vista rigoroso usado por Pochmann não era bem para resguardar sua independência intelectual. Parece que nesse período ele já visava a subida ao poder de seus companheiros que, quando lá chegaram, o levaram com eles.


Desde que assumiu a presidência do Ipea, Pochmann passou a adestrar os números, de forma que qualquer pesquisa que sai do Ipea é sempre para mostrar o Brasil no melhor dos mundos.

Isso pode muito eficiente em campanha eleitoral, mas desse modo o Ipea acaba tendo anulado seu papel crítico. Fica sendo mais um órgão de propaganda e deixa de apontar os reais problemas do país.

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POR José Pires

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Por detrás dessas pirâmides...

Senado brasileiro, uma Casa nada engraçada

José Sarney na presidência do Senado de novo parece uma piada imoral, mas não dá pra rir. O Senado é o contrário da casa criada por Vinícius de Morais. É tétrica. O governo petista, de início com Lula e agora em sua continuidade com Dilma Rousseff, mostra que está bem cristalizado o rumo moral (ou imoral, é bem melhor) que tomou depois de anos na oposição construindo um caminho para o poder com um discurso completamente oposto ao que fazem há mais de oito anos.

E não há porque se concentrar na crítica a Sarney. Se ele não existisse, outro ocuparia seu lugar assombrando o Brasil, talvez uma criação vinda até da acomodação natural criada pela forma dos petistas conduzirem os negócios de Estado, que basicamente se concentra em poder e dinheiro. Grana e poder atraem e até criam esse tipo de gente.

Além do mais, Sarney é o que seus colegas acreditam que o Senado tem de melhor, tanto que apenas oito senadores votaram contra sua candidatura. Se alguém ainda tem dúvida da inutilidade hoje do Senado para a sociedade brasileira, então está aí mais uma boa razão que os próprios senadores trazem para ser analisada.

Mas se as condições políticas permitissem, o presidente da Casa poderia ser até um petista histórico e para isso a própria Marta Suplicy mostrou que está bem preparada, aboletando-se com avidez na chapa sarneysista. Haveria então um outro presidente, porém o jogo (ou jogada, tanto faz) seria ainda o mesmo.

Marta é um fenômeno político que explica muito bem a tragédia ética do PT e da dificuldade do Brasil adquirir qualidade por meio da política. Ela parecia que ia ser grande coisa com sua personalidade audaz do início da carreira, mas conformou-se ao mais do mesmo da política. Vai longe o tempo em que dizia que Paulo Maluf era nefasto. Relaxou para gozar, parece isso. Seu prazer com o poder chega a ser lúbrico e pode ser percebido no olhar lascivo dela, sentadinha ao lado do Sarney.

Mas repito que o negócio não é o Sarney. Ele é só uma peça, ainda que muito importante no funcionamento da máquina de apropriação e uso dos recursos públicos.

Sarney é imoral. Claro que é, mas o chefe de tudo isso é o presidente de honra do PT. Vem de Lula e do forte grupo em torno dele o suporte para reinstalar na presidência do Senado um presidente envolvido em corrupção de moldes impressionantes até para uma Casa como aquela.

Na relação entre o PT e Sarney, no entanto, parece existir uma dependência extrema com o senador da parte dos dois governos, de Lula e Dilma. Sei que a dependência num caso assim é sempre mútua, mas percebe-se que ocorreu uma quebra de equilíbrio nessa relação, pendendo mais para o poder de Sarney.

E aí está um perigo, muito parecido como o que o governo de Fernando Henrique Cardoso viveu com outro senador poderoso e também nefasto, para usar uma palavra de que o PT gostava no passado. Com o falecido Antonio Carlos Magalhães os tucanos sentiram o drama que é um desequilíbrio desses entre o governo e um áulico.

Para um governo no início, como o de Dilma, seria até melhor evitar a repetição de Sarney na presidência. Para saber disso não precisa ser nenhum Maquiavel. Qualquer marqueteiro ou conselheiro político aconselharia isso, mas pelo jeito também esta marionete inverteu o controle sobre os cordéis que deveriam comandá-la. A presidência do Senado teve que ser de Sarney mais por imposição dele do que pela vontade e o interesse do governo petista.

Não é raro na política o boneco fazer refém seu titereiro, o que, como já disse, foi um erro que o governo FHC cometeu com o ex-senador Antonio Carlos Magalhães. O PT que se cuide. Os tucanos demoraram em perceber o problema com o falecido senador baiano. Em parte isso custou ao PSDB o poder — que, por sinal, foi para o PT — e até hoje os tucanos lambem as feridas feitas na imagem do partido.

Em relação à influência excessiva de Sarney na costura de apoios vitais, os petistas só podem contar com o tempo e rezar (ainda que a presidente não tenha aprendido a fazer isso durante a campanha) para que sua saúde não permita que ele percorra incólume os quatro anos de Dilma. Senão ele pode tomar conta. Até porque Dilma tem a seu lado, na pessoa de seu vice Michel Temer, alguém mais afeito à parceria com Sarney do que com ela.

Mas o tempo, que vem dando outra conformidade aos petistas em tão curto período, logo dará resposta também para esta questão. Para obter um resultado favorável o PT necessita sorte, o que não tem faltado para eles nos últimos anos e compensa bem o que lhes falta de juízo.


Quando é que alguém vai ouvir Paulo Francis?
Paulo Francis costumava dizer que alguém tinha que cravar uma estaca no coração do Sarney. É até engraçado ver as pessoas explicando hoje que este delicioso polemista (epa!) estava na verdade fazendo uma metáfora, mas tenho a impressão de que Francis estava sendo literal quando escrevia isso. De qualquer forma, o tempo mostra que a estaca era o único remédio.

Sarney esteve ao lado de todos os governos que o Brasil teve nos últimos tempos, da ditadura militar até agora. Sempre foi instrumento essencial na necessária legitimação do poder junto à classe política.

A ditadura militar serviu para ele criar uma base forte e também iniciar sua fortuna. Sarney é um milionário. Nossos historiadores cotumam fixar-se em demasia no aspecto político da ditadura brasileira, mas essa facilitação que os militares deram para a construção de fortunas pelo país afora foi fundamental para o apoio que deu a duração de duas décadas para o golpe de 64.

A ditadura perseguia, prendia e até matava o que havia de forte nos estados brasileiros. Fala-se mais na perseguição à intelectuais e políticos, mas a ditadura também destruiu muita coisa de qualidade que vinha sendo feita na área empresarial. Houve muita pressão sobre empresários combativos e mais criativos em regiões que, depois dessa política de terra arrasada, viu crescer mediocridades como a de Sarney no Maranhão. O senador Antonio Carlos Magalhães, de quem falo acima, também ganhou poder e conquistou sua fortuna dessa forma.

Com a queda da ditadura, Sarney foi servir aos governos civis e até virou presidente da República. Mas aí foi um acaso da sorte dele e do azar do Brasil. Fala-se bastante do governo Collor, mas sem o governo anterior de Sarney é provável que o breve reinado dele e de PC Farias não tivesse existido.

Collor nem teve tempo para a corrupção. Este sistema corrupto instalado no país tem origem na verdade no governo de Sarney, quando ele estabeleceu o esquema corrupto de trocas entre os políticos, a começar para estender seu mandato presidencial de quatro para cinco anos.

Sarney dura tanto porque faz a ponte entre o Poder e os interesses econômicos que na verdade dominam os governos, da ditadura até aqui. Dão muitas razões para o golpe de 64 — bagunça política, sindicalismo, ameaça comunista, etc. —, mas sempre é bom lembrar que acima de tudo havia o interesse de grupos econômicos em implantar ou manter o sistema econômico que mais lhes interessava.

Hoje essa regra não mudou. O presidente faz de conta que governa, tira a parte dele (e Lula, assim como Sarney, tirou muito), mas a verdade é que o controle de fato do poder está mais acima.


Sarney serve pra isso. E sua história fica até interessante porque fez parceria com os torturadores e agora está ao lado de alguém que foi torturada. Não deixa de ser um desfecho curioso para uma biografia. Se é que vivemos na atualidade um desfecho. Nunca devemos esquecer que ninguém fez o que o Paulo Francis aconselhou e Sarney segue sem nenhuma estaca cravada no coração. Vai que o homem seja imortal.
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POR José Pires

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sempre subliminar


Está aí uma coisa na qual somos parecidos com o Egito: lá também não dá para entender as mensagens dos pixadores.

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POR José Pires

Guerra suja nos bastidores

O PSDB não se acerta mesmo. Hoje, como muita gente já sabe, foi transmitido na televisão o programa político do partido. E a direção dos tucanos, na mão do ex-senador e agora deputado Sérgio Guerra, conseguiu a façanha de produzir uma peça que aparenta fraqueza e divisão interna do partido. Nem o marqueteiro da Dilma Rousseff produziria mais danos aos tucanos. Mas, de qualquer forma, talvez cobrasse menos por isso ou até faria o serviço na faixa, não?

Eu falava ontem num texto aqui no blog sobre a manipulação que as direções partidárias fazem do poder político e financeiro de um partido, servindo-se da máquina para favorecimentos pessoais e o bloqueio de talentos emergentes ou de qualquer outro tipo que não esteja de acordo com o interesse dos caciques. Pois a máquina serve também para o ataque a adversários internos. É o que parece que o deputado Guerra tentou fazer com Serra, mas acertou o próprio pé.

O programa do PSDB parece um Esperando Godot, pois os minutos passam como se fosse uma espera interminável pelo personagem principal que afinal não aparece. Não é o Godot, é claro: é o Serra.

Estranhei a falta de destaque para Serra, que aparece apenas em três cenas rápidas e não tem fala nenhuma. Mas parece que a coisa é ainda pior. Vi o programa na internet, mas o programa que foi ao ar na TV tem até menos cenas com Serra. É o que já se informa em alguns blogs.

Metade do programa é tomado por Fernando Henrique Cardoso. Esconderam o ex-presidente da República durante a eleição passada. Aliás, escondem o pobre em todas. Mas, se for para expor FHC da forma que fizeram nesse programa, creio que é melhor para ele permanecer escondido. O programa de perguntas e respostas com jovens não foi bem dirigido. Soou falso. O ex-presidente, que é bom de televisão e sempre se apresenta bem quando é entrevistado, estava pouco à vontade, parecendo repetir frases decoradas.

Outra estrela do programa foi Guerra, como sempre sem nenhuma intimidade com o vídeo, pura carranca. Certa vez o falecido senador Antonio Carlos Magalhães, que era uma víbora escolada, naquele ninho de cobras que é o Senado, acertou na mosca quando deu um apelido para o então deputado Michel temer: mordomo de filme de terror. É isso.

É claro que com isso não faço nenhum juízo de valor, é claro, mas aponto apenas uma questão técnica. Vejam lá em cima a performance do presidente do PSDB numa cena que tirei do programa. Cá pra nós, você compraria um partido usado desse homem? Mas política também não é só uma questão de vídeo. Tem ainda os bastidores, onde se dão as rasteiras e facadas pelas costas. Guerra suja mesmo, se é que me entendem.

Os jornais já começam a explicar que o imenso bloco em que FHC aparece é para aproximar os tucanos dos jovens, o que evidentemente foi assoprado para os jornalistas por algum marqueteiro ou dirigente do partido. Mas aí fica ainda maior o erro técnico da presença de Guerra logo depois: ele decerto espantou a moçada.

Bem, mas é menos mal que FHC não tenha feito uma palestra pela descriminação da maconha, o tema com o qual ele está encafifado no momento.

Mas agora falando sério: ao tomar metade do primeiro programa do partido depois da eleição presidencial em que não deram fala ao candidato Serra, um candidato que foi para o segundo turno depois de uma luta braba e teve 44 milhões de votos, Fernando Henrique Cardoso se coloca ou na posição de tolo ou de parceiro de Guerra e Aécio Neves na rasteira pública em Serra.

Talvez FHC não tenha sido avisado da treta, mas então ele foi usado de forma vergonhosa. Vergonhosa para ele também, é claro. Não fica bem para ninguém ser feito de laranja depois de velho, ainda mais para quem já foi presidente da República e por duas vezes. Logo mais saberemos o que aconteceu de fato.
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POR José Pires

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Depois do Morro do Alemão, Jobim quer por o exército argentino nas ruas

A criação do Ministério da Defesa foi uma das realizações do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso de grande importância histórica. Deu ao comando das Forças Armadas um peso civil, como acontece em qualquer democracia respeitável do Ocidente. O PT não pode se queixar disso, pois recebeu pronto um serviço que não foi um dos mais fáceis de fazer num país que em período relativamente recente viveu uma ditadura militar.

É uma herança bendita, ainda que o governo de Lula não tenha conduzido a pasta com o devido equilíbrio que um ministério tão importante exigiria. O Ministério da Defesa foi centro de crises graves, como a do setor aéreo brasileiro, e também foi envolvido em negócios pra lá de estranhos, como o da compra dos aviões Rafale, os caças franceses que o governo quer comprar de qualquer jeito, a despeito de vários especialistas garantirem que este não é um bom negócio.

Lula também colocou na chefia do ministério um político que não prima pelo equilíbrio e muito menos pela discrição. Ao contrário, o ministro Nelson Jobim atua até com certo prazer como chamariz para polêmicas que não raramente nada tem a ver com assuntos militares. É o tipo de político que parece ter um gosto especial em ver suas próprias fotos na imprensa. E depois que virou ministro pegou também a mania de vestir uma farda militar para sair a campo nas atividades da pasta. Nunca teve qualquer ligação com a Marinha, a Força Aérea ou Exército, talvez nem recruta tenha sido, mas sai de farda como se fosse militar graduado.

Mas o governo do PT gosta muito de Jobim, que, aliás, é uma herança do governo FHC, onde foi também figura poderosa. Mas a despeito disso e de outros atos condenáveis do passado, como a falsificação de parte da Constituição de 88, o governo petista gosta muito dele. E é claro que não pode ser pela sua experiência militar, pois no setor só existe em seu currículo o fetiche recente de sair nas fotografias envergando uma farda de mentira, nalgumas vezes uma farda camuflada, de combate nas selvas. É um costume que num homem da sua estatura física chama a atenção que é uma barbaridade.

Tirando a felicidade do ministro nessas situações, quando parece um menino orgulhoso fantasiado de militar, nem simbolicamente isso faz bem. A imagem do poder militar sob o mando democrático civil é parte importante do cargo.

Em qualquer nação sensata e ainda mais no Brasil, um ministério da área militar deveria ficar ao largo de muitos assuntos da República, mas como fazer isso se Lula nomeou para o cargo e Dilma manteve um ministro que palpita até sobre assuntos do Supremo Tribunal Federal em rodinhas de repórteres?

O comandante é fogo. Agora ele está colocando o nosso Ministério da Defesa até na definição da política interna dos outros países em assuntos militares. Ontem, durante a visita da presidente Dilma Rousseff à Argentina, Jobim trouxe um tema fora da agenda num encontro fechado com ministros do Brasil e da Argentina: “o uso das Forças Armadas na segurança pública”. Ele acha que esse é um ponto que deve ser discutido entre os dois países.

Jobim falou com orgulho das recentes operações militares em favelas brasileiras, no Rio, e afirmou que a Argentina deveria fazer o mesmo. O ministro argentino da Defesa foi rápido na resposta ao brasileiro: "Não temos possibilidades de usar as FFAAs, porque teríamos que mudar a lei".

Talvez o ministro brasileiro da Defesa não saiba disso, mas é bem óbvio que colocar as Forças Armadas atuando na segurança pública é um assunto bastante difícil na Argentina.

Lá a ditadura não é tida como branda e também é muito difícil encontrar um argentino disposto a esquecer o passado. Foram muitos os crimes cometidos pelos militares argentinos, a começar pelo golpe contra a democracia, o que aconteceu aqui também, não é mesmo?


O terror de uma nação aprisionada
A comissão criada para investigar os crimes políticos da ditadura militar, que governou Argentina de 1976 a 1983 ,foi presidida pelo escrito Ernesto Sábato, entre outros argentinos respeitáveis,. O relatório final trouxe resultados fora de qualquer suspeita no famoso livro “Nunca Más”, da Comissão Nacional para os Desaparecidos Políticos, CONADEP na sigla argentina, criada no governo de Raúl Alfonsín, em dezembro de 1983.

Foram mortas 30 mil pessoas na Argentina. Os militares mantinham 340 campos de concentração. Quanto aos desaparecimentos, a Comissão contabilizou na época cerca de nove mil. Porém, deixando muito claro que o número poderia ser bem maior, porque mesmo com a queda da ditadura, as famílias ainda tinham medo de denunciar os sequestros pelo temor de represálias. Hoje se sabe que o número de desaparecidos é bem maior, até porque todo o tempo aparecem histórias novas. Há quem acredite que pode chegar à 30 mil.

A repressão política não poupou setor algum da sociedade argentina e foi de uma ferocidade impressionante, com torturas, estupros, fuzilamentos sumários, pessoas atiradas de aviões em alto mar, roubos feitos por militares dos bens de prisioneiros e mortos e houve até o sequestro de crianças recém-nascidas, que eram tiradas à força das mães e cedidas para serem criadas por famílias de militares ligados à repressão.

Pesado, não? E esse terror foi praticado quando a Argentina tinha 28 milhões de habitantes, o que permite avaliar a proporção da influência que isso teve sobre todos os argentinos.

Outra questão é que por lá essa história não acabou em acordos em que de um lado a esquerda retira dinheiro do Estado por meio de anistias conduzidas de forma espúria e do outro militares ligados à repressão são compensados com o perdão por seus crimes.

Por sinal, o ex-ditador Jorge Videla foi condenado à prisão perpétua há pouco mais de um mês na Argentina, o que permite avaliar o senso de oportunidade do nosso ministro com sua sugestão de colocar nas ruas o exército argentino no combate ao crime comum. Mas possivelmente estamos com um trabalho ainda no início, com o assunto colocado para a discussão até que se caracterize uma proposta, para o que deve ser provavelmente um plano continental.

Nosso ministério da Defesa tem uma tarefa que vai ser interessante acompanhar. Vamos esperar para ver a reação dos chilenos quando o ministro Jobim desembarcar no Chile dizendo que eles também têm que botar as tropas na rua.

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POR José Pires