quinta-feira, 30 de março de 2017

A pichação no pé da Amazon

Sempre existiu o famoso tiro no pé, pois agora tomamos conhecimento da pichação no pé, que foi o que fez a Amazon com a infeliz cutucada publicitária que deu no prefeito João Doria, de forma negativa. A “sacada” do vídeo que favorece pichadores veio de gente que ganha bons salários, o que permite viver fora do ambiente em que a mentalidade criminosa da pichação é que comanda. São publicitários que podem curtir emoções baixas escutando funk e rap com suas letras bravateiras provocando a polícia e exaltando a bandidagem e fazem isso com a maior tranquilidade, bem longe do risco cotidiano de encontrar numa viela escura de periferia algum bando que vive imerso neste fétido caldo de cultura.

Foi muito feia a pichação no pé da Amazon, como dá para notar pelo clima criado nas redes sociais. Limpar a sujeira na imagem é um serviço que não vai ficar barato. Mas é ótimo que isso tenha acontecido, porque o efeito pode ser positivo inclusive em relação ao comportamento de outras empresas, para que passem a exigir que seus publicitários deixem de fazer gracinha com a cultura da agressividade e do desrespeito e passem a se comunicar com quem trabalha sério, dialogando com gente que não precisa tocar o terror pra provar que tem espírito criativo e que não passa por cima de regras básicas de convivência.
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POR José Pires

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Imagem- Uma das tantas criações oferecidas de graça por internautas para a Amazon; esta é a da nova sede da empresa

terça-feira, 28 de março de 2017

A volta às ruas de Chico Picadinho

No Brasil tem umas coisas que só não dá para rir porque é o tipo de piada em que estamos dentro. Vão soltar o famoso Chico Picadinho. O criminoso ficou conhecido por dois assassinatos com esquartejamento, nas décadas de 1960 e 70. Para a imprensa, era o “Crime da mala”. Jornais da época do tipo que espreme e sai sangue se fartaram em explorar o horror. Chico Picadinho está hoje com 74 anos e já teve sua soltura determinada pela juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, da 1ª Vara de Execuções Penais de Taubaté.

É mesmo preocupante e as justificativas da Justiça para soltar o criminoso não ajudam a tranquilizar ninguém. A conversa é tensa. Num trecho da decisão, que é do inicio deste mês, a juíza diz que Chico Picadinho mostrou intenção de “integrar-se socialmente, mostrando-se bem seguro e determinado neste propósito, assim como bastante lógico no raciocínio desenvolvido e coerente em suas colocações”. Pode ser que ela diga isso para amenizar o drama, mas de fato essas alegações só fariam sentido se o sujeito fosse o autor de um crime menor ou talvez uma contravenção. A descrição psicológica, porém, é de um indivíduo que matou e esquartejou duas pessoas. E tem também a palavra da promotoria, que diz que ele só poderia ser mantido preso se fosse inimputável, o que não é o caso. Ele “tem total capacidade para definir o que é lícito e ilícito”. Como seria ter na vizinhança o Chico Picadinho, ainda mais com tamanha lucidez? Sejamos justos: em casos do tipo deveria ser obrigatório que o beneficiado fosse morar ao lado dos responsáveis pela decisão.

O promotor Luiz Marcelo Negrini, ouvido pela Veja, afirma que não é possível dar garantias sobre o que Chico Picadinho pode fazer nas ruas. De seu comportamento na prisão chegou-se à conclusão de que existe “baixa probabilidade” de que ele volte a cometer crimes parecidos com os do passado. As justificativas são todas neste tom. Pela lógica, cada afirmação da juíza ou da promotoria para soltá-lo serviria muito mais para recomendar que a prisão seja mantida. E se logo veio à sua cabeça o caso do assassino do cartunista Glauco, que depois de solto voltou a matar, nem é preciso recorrer a isso como exemplo. O próprio Chico Picadinho já foi beneficiado com liberdade condicional dez anos depois do primeiro crime, quando teve que ser preso novamente porque voltou a matar e esquartejar uma segunda vítima, da mesma forma que havia feito antes.
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POR José Pires

domingo, 26 de março de 2017

Causas e efeito de um mau dia de manifestações

As manifestações deste domingo trouxeram um C.Q.D — Como se Queria Demonstrar — que eu não gostaria de estar registrando. Há pouco mais de um mês, quando os líderes do movimento divulgaram a pauta para este 26 de março, logo eu disse que estavam dando um tiro no pé. O fiasco deste domingo tem também outras causas, mas o mau resultado teve origem em grande parte na pauta com assuntos muito variados, alguns tão polêmicos que não permitem concordância nem entre as lideranças dos movimentos.

Entrou até um apoio à revisão do Estatuto do Desarmamento, certamente encaixada por uma direita muito inoportuna que vem tendo uma excessiva interferência na organização das manifestações. É até difícil debater um negócio desses, centrado na visão totalmente sem sentido de que a arma na mão de um cidadão pode ter um papel positivo contra a insegurança que aí está.

Se o debate de uma ideia tosca como esta não tem sentido, fica ainda mais difícil apoiar nas ruas um troço desses. Mas era uma das pautas, além de outras de apoio a medidas do governo de Michel Temer, um governo que definitivamente não empolgou a população, até pelo fato de ter perdido gradativamente e num ritmo bastante rápido qualquer credibilidade para propor transformações radicais.

Dentre essas questões que dificultam bastante a unidade política essencial num movimento de massas tem também o partidarismo de estrelas do movimento, vistas agora, como já falei, em apoio a um governo chocho como o de Temer, além de servirem como apressadinhos cabos-eleitorais de João Dória para presidente, um prefeito do qual até tenho gostado, mas que nem teve tempo ainda de comprovar se tem realmente qualidade.

Não vamos discutir méritos. Não cabe neste raciocínio nenhum juízo de valor sobre o apoio em si ao presidente Temer e muito menos ao Doria como prefeito. Podia ser a qualquer um outro. Acontece que a atitude do apoio político bate forte exatamente contra o conceito que foi a razão mais forte do sucesso das outras manifestações, que é o do apartidarismo e a imparcialidade frente ao papel dos políticos na vida brasileira.
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POR José Pires

terça-feira, 21 de março de 2017

O comendador do Paraná preso pela Operação Carne Fraca

O empresário Nilson Umberto Sacchelli Ribeiro, diretor do Frigobeto, se entregou à Polícia Federal nesta segunda-feira. Da lista de mandados de prisão da Operação Carne Fraca só faltavam ele e o pai, Nilson Aves Ribeiro, que tem cidadania italiana e está foragido na Itália. O juiz federal Marcos Josegrei da Silva determinou que o empresário seja incluído na lista vermelha de procurados pela Interpol.

A acusação da PF contra os dois é de pagar 350.000 reais em propina para fiscais do Ministério da Agricultura no Paraná por uma licença fora do prazo para o abate de carne de cavalo. Segundo o site da revista Veja, “as propinas pagas pela família Ribeiro abasteciam a organização criminosa liderada pelo ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, Daniel Gonçalves Filho”.

Com a prisão preventiva de Sachelli Ribeiro agora temos na cadeia um Comendador do Estado do Paraná. Isso mesmo: em dezembro de ele recebeu das mãos do governador Beto Richa a comenda da Ordem Estadual do Pinheiro. Como se costuma dizer, esta é a mais alta honraria do estado do Paraná.

O empresário parece ter um bom trânsito no Palácio do Iguaçu. Em seu blog na internet ele posta fotografias com altas autoridades do governo Richa, como o secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita de Oliveira, e o Secretário de Comunicação Social, Márcio Villela. As fotos foram tiradas nos gabinetes dos secretários. No mesmo ano em que recebeu do governador a comenda, ano de reeleição, o empresário passou o réveillon com Richa e a esposa, em Foz do Iguaçu. Em vários textos ilustrados com fotos em companhia de Richa, o empresário demonstra bastante intimidade com o governador. Em dezembro do ano passado, ele participou de uma homenagem a Richa, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.

Sachelli Ribeiro gosta de transitar na área da política e costuma publicar no blog notícias sobre seus contatos com políticos famosos, ilustradas com fotografias em que aparece com parlamentares como Ratinho Júnior, Álvaro Dias, Roberto Requião e também participando de homenagens a personalidades, entre elas os ministros Ricardo Lewandowski e Edson Fachin, além de outras figuras conhecidas nacionalmente. O empresário esteve no STF, na posse do ministro Fachin, que é do Paraná. Parte de seus encontros são em solenidades ou ambientes políticos, como o Senado e a Câmara Federal, mas com certos políticos ele demonstra maior intimidade pessoal, como acontece com Requião. Ele já esteve em almoço na casa do senador paranaense, em Curitiba, quando tiveram a companhia do sobrinho de Requião, deputado João Arruda. O empresário também recebeu Requião para almoço em sua residência, em Apucarana. Além do frigorífico, a família de Sachelli Ribeiro é proprietária de uma revista trimestral, com sede em Apucarana, a Frizz Magazine.
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POR José Pires

Requião amarelou

Várias máscaras vem caindo com as ações da Polícia Federal e do Ministério Público, que tem desentocado ladrões do dinheiro público nos mais variados setores. Com a Operação Carne Fraca o senador Roberto Requião (PMDB-PR) sofreu um tremendo abalo na sua imagem. Ele posa sempre de muito bravo, como se fosse um político que frente a uma safadeza se impõe em favor da decência com o dinheiro público. Não é o que se viu nos últimos tempos. Cabe lembrar que durante toda a roubalheira do governo do PT ele ficou caladinho, mas depois da queda da Dilma o papel dele foi ficando ainda pior.

Pois agora senadora Kátia Abreu disse que Requião afinou perante as pressões para impedir o afastamento de Daniel Gonçalves Filho do Ministério da Agricultura quando ela chefiava a pasta, no governo Dilma Rousseff. Gonçalves Filho é apontado como um dos líderes do esquema criminoso desbaratado pela Polícia Federal. Em discurso no Senado, Kátia Abreu o chamou de “bandido” e disse que nunca viu no período em que foi ministra e nunca teve notícia de “uma pressão tão forte” para alguém permanecer em um cargo. E entregou Requião, afirmando que embora o nome de Gonçalves Filho não tivesse a aprovação do senador paranaense, ele recuou das indicações que existiam para a substituição e disse que ela poderia aceitar a sugestão dos deputados.

Apesar de já existirem denúncias contra ele, Gonçalves Filho foi mantido no cargo no Ministério da Agricultura e foi o estrago que se viu. Requião vive fazendo cara de bravo, mas amarelou frente a uma pressão que manteve em um cargo federal importante de seu estado uma pessoa que, conforme apurou a PF, armou um esquema criminoso de propinas, que prejudicou seriamente setores essenciais da economia do Paraná, além dos graves problemas que vêm causando para o país até no plano internacional
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quarta-feira, 15 de março de 2017

Alvaro Dias e Beto Richa: cada um para o seu lado

Faltam apenas 4 assinaturas para que o fim do foro privilegiado vá para discussão no Senado e aconteça a votação da PEC, que é de autoria do senador Alvaro Dias, hoje no PV. Até recentemente o senador paranaense estava no PSDB, onde teve presença marcante em um respeitável mandato, com atuação exemplar na oposição aos governos petistas, combatendo a corrupção no Governo Federal e denunciando desmandos e a incompetência no governo do PT, até o impeachment de Dilma Rousseff. Mesmo tendo grande votação para o Senado na última eleição, Alvaro foi obrigado a mudar de sigla por pressão do governador do Paraná, que tem absoluto domínio pessoal sobre o partido.

Pois o prestígio de Alvaro Dias mantém-se em alta e deve crescer ainda mais com o debate que virá agora em torno da PEC de sua autoria, enquanto o governador paranaense segue em baixa, acumulando sérios desgastes na imagem. Nesta quarta-feira, ambos foram destaque no noticiário nacional, cada um a seu modo: Alvaro, pelo andamento da sua PEC contra o foro privilegiado, e Beto Richa com o nome na lista de Ricardo Janot, como um dos políticos com foro privilegiado que o procurador pediu ao Supremo Tribunal Federal que sejam investigados.
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POR José Pires

terça-feira, 14 de março de 2017

O bode na sala abrindo espaço para a esquerda

O presidente Michel Temer foi sempre um político de bastidores, extraindo sua força política do controle interno do partido e do jogo político praticado fora dos olhos do público, entre as paredes no Congresso Nacional e noutras casas legislativas. É nisso que ele prospera, conforme demonstra sua carreira política, incluindo o cargo de presidente da República, conquistado exatamente pela sua habilidade em lidar com a classe política.

A partir dessa experiência em negociar politicamente com os colegas, ele encaixou vários bodes na sala na proposta de reforma da Previdência. Os bodes estão lá para atrair repúdio popular e depois serem eliminados pelos deputados. Dessa forma, a proposta seria aprovada, com os parlamentares podendo fazer uma média com o eleitorado. Tiram os bodes da sala, mas segue adiante o que interessa de fato ser aprovado.

A jogada é velha e qualquer prefeito de cidade pequena sabe como usá-la quando é necessário aprovar medidas amargas. No entanto é preciso ter senso de oportunidade, um cuidado que evidentemente tem relação direta com os espaços que podem ser abertos para a atuação da oposição. E parece que Temer vacilou com seus bodes, faltando ele prever o que poderia ocorrer no período de discussão pública do projeto, antes do bicho fedido ser tirado da sala. Já se nota que com essa reforma foi aceso o fogo de uma militância que já estava quase nas cinzas, com um estímulo também para uma variedade de entidades pelo país afora, com um bom apelo para sindicatos fortes e as centrais sindicais colocarem suas máquinas à frente de protestos populares.

A própria entrada em cena da reforma da Previdência já foi um erro neste momento delicado do país e da própria situação política do governo Temer. Com os bodes, a coisa ficou pior ainda. Na história recente do país este tema da Previdência tem sido um atiçador das emoções mais fortes da população. Por isso mesmo é que, governo após governo, todos foram evitando medidas que caso fossem aplicadas pouco a pouco evitariam a conturbação que pode acontecer agora, com a esquerda se revigorando nas ruas depois da infeliz proposta de Michel Temer.
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POR José Pires

Brasil, o país da falta de foco

É difícil prever o futuro do Brasil, a não ser pela certeza de que vai demorar muito tempo para o país se recuperar da desgraça que se abateu sobre todos nós. Mas é possível saber de algumas coisas que devem acontecer lá na frente. Uma delas será a discussão sobre a perda de tempo que ocorre agora, na costumeira falta de foco do brasileiro sobre seus verdadeiros problemas e a eterna dificuldade de encontrar ao menos uma pista do que o país pretende ser e fazer, para poder alcançar uma identidade cultural, econômica, política, enfim para tornar-se um lugar em que seja possível viver ao menos com os requisitos básicos.

Mas para isso, repito, é preciso parar de perder tempo, nessa falta de capacidade de focar no que realmente importa e que impede o país de enfrentar com rigor o que é realmente prioritário. Não é fácil suportar hoje em dia essa falta de decisão, mas antevejo no futuro conversas engraçadas sobre isso, quando dentro de uns vinte anos, com o país ainda na pindaíba ou quem sabe talvez se recuperando, teremos brasileiros falando com ironia: “Lembra no início da crise, com toda aquela corrupção e falta de rumo econômico, quando a Justiça brasileira ficava se ocupando com a cobrança de bagagem em aviões?”.
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POR José Pires

Leandro Karnal, suas dificuldades de comunicação e os seguidores intratáveis

O desfecho da divulgação do jantar de Leandro Karnal com o juiz federal Sérgio Moro pegou mal para o professor de filosofia. Depois de ter sua página de Facebook invadida por esquerdistas raivosos e ansiosos por uma chance de provar para si mesmos sua utilidade política, ele apagou o post do jantar com Moro. Não sei como Kant explicaria isso, mas, no popular, o cara amarelou. E no texto em que explica o caso, ele ainda fez uma autocrítica que passa também por confissão de incapacidade para compreender que a subjetividade em comunicação pode resultar em encrenca braba. Ainda mais nesses tempos estranhos, em que até quando somos muito claros levamos cacetadas por coisas que nunca chegamos a pensar, quanto mais escrever.

Karnal foi vítima de algo que é muito comum no Facebook, onde pode-se ver o tempo todo muita gente que parece ter algo muito importante para nos dizer, mas que infelizmente não está expresso no texto que sai publicado. Daí, cada um interpreta do seu jeito. É claro que esta é uma dificuldade perdoável numa página pessoal e vindo de quem não é do ramo do pensamento e da escrita. Mas o Karnal é um bamba da filosofia. Tem o aval de colegas importantes quanto a esta qualidade e ele mesmo se esforça na função de mensageiro da inteligência. Corre o país na tarefa de mostrar que podem contar com ele na função de sábio. E tem até a pose.

Faltou também sensibilidade ao professor. É óbvio que Karnal não havia compreendido até agora seu poder de sedução sobre a esquerda. O fuzuê criado pela militância esquerdista tem a inconfundível histeria de amores traídos. É a pura violência da paixão, com o ressentimento de ver no Facebook uma selfie do amado jantando com outra pessoa. Karnal pode até alegar que o que vem falando nos vídeos que estão por aí não justifica essa imposição de fidelidade, mas aí ele terá um problema filosófico sério. A situação será a de casa de ferreiro e espeto de pau. O professor não está se comunicando direito.

Na prática, a compreensão de Karnal sobre o que se passou com ele também não foi lá essas coisas. Parece que só ele não sabia que uma tarefa expressa determinada para a militância azucrinadora é a de infernizar a vida de Sérgio Moro. A ordem vem de cima, dos que discordam absolutamente do hábito de Moro de prender corrupto. São incompatibilidades impossíveis de serem amenizadas por uma ou duas taças de vinho, seja de que marca ou safra. Será que ainda havia alguém no Brasil que não sabia que aparecendo em situação amigável com Moro atrairia sobre si esta reação da esquerda? Não tem mais. Até o Karnal já sabe.

E olha que eu, na abertura de espírito que me faz primeiro ver como é que as coisas se procedem para depois firmar um juízo, tive até a impressão de um ato admirável de coragem quando Karnal postou a foto com Moro. Bem, sejamos ainda tolerantes. Vamos esperar um pouco antes de concluir que na verdade a divulgação do jantar foi apenas uma atitude impensada, apesar de vir de uma sumidade em filosofia, um homem com todo um cabedal kantiano, mas que infelizmente não tem a capacidade de compreender as consequências do mais simples gesto político.
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POR José Pires

domingo, 12 de março de 2017


Leandro Karnal, Sérgio Moro e a birra petista

Os petistas estão bastante indignados com Leandro Karnal, por causa desta foto publicada por ele em sua página de Facebook. Na foto, Karnal está com o juiz federal Sérgio Moro e Anderson Furlan, que também é juiz federal e amigo de Moro desde os tempos de estudante em Maringá. Os petistas ficaram bravos com a descoberta da amizade de Karnal com Moro. Que desfeita, companheiro: adivinhe quem veio para jantar com o meu filósofo preferido?

E tem mais ainda: no post que acompanha a foto, Karnal anuncia que pode vir por aí um projeto em comum com Moro. Foi isso que deixou indignada essa esquerda maluca, naquele patrulhamento ideológico bem próprio deles, com umas cobranças de um jeito que até parece que as pessoas têm a obrigação de fazer apenas o que eles estão de acordo.

É até engraçado acompanhar as seguidas decepções dessa esquerda e suas lamentações e xingamentos. Eles vêm sofrendo bastante. Figuras de sua adoração transformam-se de um dia para o outro em alvo de insultos terríveis, às vezes só porque saíram numa foto com alguém de quem eles não gostam. É o que vem acontecendo agora, com Leandro Karnal, em quem estão descendo o porrete, numa decepção que não tem sentido algum.

Ora, Karnal vive filosofando em vídeos pela internet e em todas as suas falas está muito clara a defesa do conceito de liberdade do indivíduo. E muito além da liberdade do indivíduo de jantar com quem ele quiser. Mas é claro que essa percepção pode ser dificultada se a pessoa tiver sofrido lavagem cerebral, com o esvaziamento em sua cuca de tudo que não interessa ao partido. É o que acontece com petista. Como costumam ouvir só o que querem, acabam tendo uma tremenda dificuldade para prestar atenção ao que os outros estão falando.
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POR José Pires

quinta-feira, 9 de março de 2017

Demagogia não é política pública

Os brasileiros, mesmo os que são mais inteligentes e melhor informados, relacionam-se com os políticos de uma maneira que pode ser definida como próxima de um tipo de esquizofrenia. Ora, todo mundo sabe o nível baixo dos nossos políticos e cada um de nós tem plena consciência da má qualidade principalmente dos que são eleitos para cargos executivos. Nem é preciso se alongar sobre isso. A comprovação está neste país falido em todos os aspectos e em estados e municípios com dificuldades para honrar os compromissos financeiros básicos e que mal dão conta das obrigações corriqueiras.

A situação prática já serve para ter um amplo conhecimento do quanto está tudo muito difícil, tanto é assim que a gente pode ver o tempo todo condenações das mais variadas sobre o comportamento dos políticos. A impressão é que já está estabelecida uma consciência da necessidade de reformas profundas e que todo mundo já tem claro que atitudes isoladas deste ou daquele administrador público são meros tapa-buracos, insuficientes para criar um caminho sólido para que problemas sejam de fato resolvidos. Quando essa atitude isolada é repassada pelo próprio interessado, que filma, faz sua assessoria escrever textos elogiadores e manda publicar na internet, aí então nem é preciso saber muito de política para identificar de pronto a demagogia.

Parece que todo mundo sabe disso que estou falando, não é mesmo? É o que devia estar acontecendo. Por isso é que fica difícil entender a razão da euforia quando um prefeito de cidade do interior divulga na internet vídeo dele mesmo telefonando para um médico ausente ao trabalho num posto de saúde. Ninguém de bom senso vai ser contra cobrança de responsabilidade de qualquer funcionário. É uma questão não só de honestidade como também da eficiência que deve interessar a qualquer cidadão. Mas já deu tempo do brasileiro saber que, dentre os vários instrumentos políticos e administrativos para fazer o serviço público funcionar direito, o que dá menos resultado é dar pito em funcionário pelo telefone e repassar o feito para as redes sociais.
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POR José Pires

Temer na linha da cassação

Cresce bastante a possibilidade do presidente Michel Temer ser cassado, sendo que a condição para que isso aconteça é simplesmente o Brasil continuar no passo em que está, na mudança de hábitos que vem deixando para trás aquele Brasil da política tradicional em que a incompetência e o saque aos cofres públicos eram a norma. Pelo que foi divulgado até agora — sendo evidente de que ainda é pouco o material — Temer não escapa de perder o mandato. Só pelo que já se sabe com as provas tornadas públicas, se ele não for cassado o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decreta oficialmente a própria inutilidade.

É claro que forças dominantes da classe política se mexem como nunca para que as mudanças sejam mais de acordo com a famosa frase do livro de Tomasi de Lampedusa, onde se diz que “Algo deve mudar para que tudo continue como está”, mas a capacidade de manipulação dos políticos tem hoje pela frente a transformação muito clara que houve na opinião pública. Ninguém está mais aceitando de bico calado o que vem de cima.

A perspectiva para Temer é tão ruim que o PMDB já pensa em se aproveitar do fato da eleição de um novo presidente ter de ser feita no Congresso Nacional, pela via indireta. O partido de Temer pensa em reeleger o próprio Temer, o que, acredite se quiser, com um jeitinho a legislação permite. Duvido que avance esta maquinação sórdida, mas o surgimento de ideia tão absurda é por si uma comprovação de que, no geral, a classe política mantém aquele antigo desrespeito à qualquer mudança de qualidade na consciência dos brasileiros. Isso também mostra a imensa tarefa que homens e mulheres de bem ainda têm pela frente para tornar o Brasil um país decente.

Mas caso fosse "reeleito" dessa forma suja Temer tomaria posse? E tomando posse, teria respeito para criar governabilidade? Não há nenhuma uma garantia. Ao contrário disso, os passos indignados dos brasileiros nas ruas já deram o recado de que acabou a paciência com as mutretas de que a classe política gosta tanto. A luta vai ser braba. E como ainda acontece na política brasileira, quem é do bem leva desvantagem. Mas do jeito que estão as coisas, hoje em dia é provável que um embate desses tenha um resultado mais favorável ao país.
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POR José Pires

sexta-feira, 3 de março de 2017


O PT e a demolição de seus quadros qualificados

Esta queda no abismo do ex-ministro Guido Mantega é um fecho histórico na eliminação gradativa que o PT vem fazendo dos quadros partidários mais qualificados, desde a criação do partido. O esmigalhamento de reputações começou num processo de humilhações internas, no domínio dentro do partido, que no final acabou com Lula e José Dirceu como chefes, junto a uma minoria partidária que explorou esse poder até a eleição de Lula como presidente da República. Daí por diante foi um estrago mais acelerado desses quadros partidários qualificados, sem os quais o PT nem existiria. O desmonte intelectual e moral do PT tem até um documento histórico, a famosa Carta aos Brasileiros divulgada logo que Lula foi eleito, que teve como um autor de peso Antonio Palocci, hoje condenado e preso por corrupção.

Foram muitos os intelectuais, profissionais da área técnica e também artistas que tiveram suas vidas sugadas no ralo imoral desse partido, sendo um exemplo notório o de Chico Buarque. Excelente compositor, acabará marcado historicamente pela ligação extrema com um esquema de poder de uma imoralidade sem precedentes na história recente do país. Outras figuras essenciais da nossa cultura ficaram também marcadas, mesmo intelectuais que morreram antes desse estrago, como ocorre com a memória de Florestan Fernandes. O sociólogo levou uma vida dedicada ao trabalho de forma absolutamente honesta até sua morte, mas teve sua imagem usada pelo partido. Hoje em dia até tem seu nome numa fundação que serve como instrumento do PT e cujo nível de qualidade intelectual e moral pode ser conferido pela presença de Dilma Rousseff na direção.

Por ser um dos últimos que tem a reputação definitivamente destruída pelo partido, Mantega serve como exemplo para as novas gerações, mesmo de quem possa pretender no futuro manter uma atividade partidária em paralelo à vida profissional ou acadêmica. O melhor é ficar num lado ou noutro, mas essa é a opinião pessoal de quem, como eu, livrou-se de grandes complicações morais e psicológicas na vida tomando o cuidado de nunca entrar em um partido e também jamais militar politicamente de forma partidária. A razão é muito simples: estando lá dentro é muito difícil não se deixar levar por um ritmo coletivo que impede qualquer ponderação sensata fora do interesse de grupos e do partido. Mas é claro muitos não pensam desse jeito e é bom que seja assim. A vida política precisa de gente decente e de boa formação profissional. Bons partidos só existirão com uma boa reforma que terá de vir de gente mais nova. Mas exemplos como o de Mantega devem ser analisados com seriedade, porque na condução política de tipos como ele dá para aprender muita coisa. No sentido negativo, é claro.

Como esses já se estreparam, que sirvam então como lição negativa para evitar repetições. Mas é claro que não tem só a experiência lamentável deles para servir como guia para se movimentar na política. A História também dá bons puxões de orelha. O engraçado é que esse é o pessoal da ala intelectual do partido, o que ao menos teoricamente permitiria seu acesso a um vasto material histórico sobre acontecimentos em que outros quebraram a cara em situações muito parecidas. São inúmeras as teorias sobre esses assuntos, na sociologia e na filosofia, onde é possível aprender muito, além de se deliciar na leitura. Mas fiquemos em comparações práticas.

Numa reavaliação com atenção da Revolução Francesa, por exemplo, já seria possível ao petista incauto rever um monte de situações perigosas. Mas tem também o lado “religioso” de todo esquerdista, que dificulta tomar lições nessas leituras históricas, por mais simples que sejam. Estão sempre torcendo por este ou aquele lado e por isso deixam de prestar atenção quando a informação ou o conhecimento vai contra o que domina suas cabeças. Nisso que eu falei, só para citar um exemplo, se o sórdido Jean-Paul Marat for visto como um oportuno herói, então aí fica difícil ter o passado como fonte de conhecimento. Esse é o velho problema da esquerda. Até agora eles acham que alguma força, que só pode ser metafísica, garante que eles podem fazer o que quiserem que o sucesso será garantido por um ordenamento posterior. Ainda no tema que peguei como exemplo, eles pensam numa guilhotina só para a cabeça dos outros. Não tem sido assim e isso já vai para séculos. Mas eles não aprendem.
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POR José Pires

Falta de sintonia na hora do aperto

O PT está batendo cabeças já há algum tempo. E isso é normal depois de tanta sujeira ser descoberta. Com o cerco da polícia se apertando, mesmo grandes quadrilhas costumam se desfazer, no atropelo da busca da fuga a qualquer preço. Parece que os maiorais petistas estão assim. Está impossível manter uma unidade política, com uma defesa jurídica em que não haja contradições. É claro que as prisões preventivas estão aí para isso mesmo e também é pelo mesmo motivo que são muito combatidas pelo PT e seus aliados de ocasião, gente graúda do meio jurídico e até do STF dando uma mãozinha na desqualificação desse instrumento essencial no combate à corrupção. Sem alguns maiorais do esquema na cadeia ficaria difícil o trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. É provável que eles já tivessem juntado forças na criação de uma história convincente para se safarem.

Mas o aperto tem sido tanto que as contradições vão aparecendo até nas justificativas de quem está livre e que por isso podia ao menos combinar os argumentos de defesa. Mas será que no sufoco criado pela polícia e o MPF esse pessoal ainda tem disposição para se falar? Duvido. A ex-presidente Dilma Roussef e seu antigo ministro Guido Mantega parece que não fazem isso. E pelo que dá para notar, nem seus advogados de defesa têm trocado algumas palavrinhas esclarecedoras do que cada um vai falar em sua própria defesa. Parece que agora é cada um por si.

Nesta história de que Guido Mantega pediu dinheiro para a campanha de Dilma enquanto estava no Ministério da Fazenda tem uma contradição entre o que um lado e outro falam. A revelação surgiu no depoimento de Marcelo Odebrecht em ação no Tribunal Superior Eleitoral contra a chapa Dilma/Temer. Não vi nenhum site juntar os argumentos da defesa de Dilma e de Mantega. E tem uma contradição séria no que os dois lados alegam. Na nota que divulgou, Dilma afirma que “não é verdade” que ela “tenha indicado o ex-ministro Guido Mantega como seu representante junto a qualquer empresa tendo como objetivo a arrecadação financeira para as campanhas presidenciais”. No mesmo parágrafo, a ex-presidente diz também que “o próprio ex-ministro Guido Mantega desmentiu tal informação”.

Pois bateram cabeça aí. E é tarde para consertar. A linha de defesa de Mantega é outra, o que pode ser constatado nas declarações de seu advogado José Roberto Batochio. Em declaração à imprensa ele disse que “Mantega é filiado a um partido político e, naturalmente, as solicitações de contribuições nunca foram só para a Odebrecht”. É estranho que um ministro da Fazenda assuma essa função, daí a explicação de que “Mantega é filiado a um partido”. De fato, Mantega fez os pedidos, mas não só para a Odebrecht. O foco pode estar numa grande encrenca do depoimento do dono da Odebrecht, que é sua afirmação de que o dinheiro dado para a campanha do PT seria referente à propina pela aprovação da MP do Refis.

A nota de Dilma parece ter intenção de se desligar do ex-ministro, quando afirma que não o indicou para a tarefa de sair pedindo dinheiro. E de novo, politicamente ela só se safa dessa declarando-se uma idiota que não via nada à sua frente. O advogado do seu ex-ministro e antigo colega de governo antecipa a linha de defesa, afirmando explicitamente o seguinte: “No que diz respeito a Guido Mantega estamos certamente no campo das contribuições oficiais”. Ou seja; Mantega pediu, mas foi no oficial, sacou? E ele disse isso no mesmo dia em que Dilma afirma o contrário em nota oficial. É óbvio que eles não se entendem mais. Defendem-se agora cada um por seu lado, sem um plano conjunto para lidar com as complicações trazidas pelo depoimento do empreiteiro. Vão se pegar. Aliás, já estão se pegando. O que é muito bom para o combate à corrupção e até para a democracia brasileira.
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POR José Pires