segunda-feira, 30 de dezembro de 2013


Marketing de ocasião

Concepção de qualidade de vida quando é torta acaba dando até em marketing errado. A modelo Gisele Bündchen divulgou uma foto cuidando das unhas e cabelos enquanto amamenta o filho. Ela pensou estar fazendo algo muito bacana, de mulher extremamente ativa que não descuida dos cuidados com o filho. Deve também ter tido uma assessoria profissional na decisão de fazer e divulgar a foto. Mas sabe como é, todo mundo de bico torto pelo uso continuado do cachimbo, ainda que milionário. Por isso agora ela está sendo criticada pelo fato de não interromper o trabalho para dar atenção ao bebê.

E eu acho também que um ambiente com todos aqueles elementos químicos de produtos de beleza também não é muito bom para a saúde de uma criança de colo. Mas o bebê até que tem sorte, porque hoje em dia as mulheres estão presentes em todas as atividades profissionais. Seria pior para ele se, por exemplo, a mamãe fosse metalúrgica.
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Por José Pires

O logo da luta

Foi cerca de uma hora antes da luta entre Anderson Silva e Chris Weidman que escrevi o post abaixo. O confronto terminou no segundo round, com Silva quebrando a perna. O desfecho da disputa do título no UFC deu em CQD: como queríamos demonstrar. Anderson Silva quebrou a perna num golpe que deu para quebrar a perna do adversário. A razão dessa luta é basicamente esta: destruir o outro.

Anteontem os admiradores do lutador brasileiro haviam cunhado o expressivo slogan "Vai morrer!" para este tipo de luta, quando desejaram a morte do adversário. É o conceito exato do MMA. E logo depois a grande estrela do espetáculo acabou saindo do ringue com a perna quebrada. Os torcedores criaram o slogan da luta e em seguida veio a cena da perna se quebrando, que pode ser um trágico logotipo do MMA.

E o triste é que para uns poucos ganharem muito dinheiro o Brasil todo tem a atenção atraída para este tipo de coisa. Numa época em que a violência é um dos mais graves problemas brasileiros nós não precisávamos de espetáculos assim, tão marcados pela brutalidade. Ao contrário, o país deveria estar investindo sua energia em atividades mais saudáveis tanto para a saúde física quanto para a mental.
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Por José Pires


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Imagem - Anderson Silva quebra a própria perna na tentativa de quebrar a do adversário. Está criado o logotipo do MMA.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Luta conceituada

Nos últimos anos os brasileiros viram despontar para o primeiro plano as lutas de vale-tudo, ou MMA, o nome que foi determinado para atender ao interesse dos detentores da marca milionária. O MMA é de uma violência das mais brutais. O foco está na destruição do adversário. Quem entende do assunto já definiu esta troca de porradas como uma atividade a qual faltam técnicas definidas. Não há nem o domínio técnico do boxe. Um conhecedor inegável do tema já deu sua opinião determinante sobre isso. O campeão brasileiro Eder Jofre disse que "se [no MMA] fossem lutar na regra do boxe não aguentariam um minuto”. E o ex-boxeador disse isso muito tempo antes de Anderson Silva dar aquela bobeada e ir para o chão numa luta importante.

O MMA não é esporte, mas de uma hora pra outra já virou o centro da atenção do jornalismo e dos programas de esporte. Hoje esta luta talvez só tenha menos espaço na pauta do que o futebol. Com a Rede Globo dando tudo para fazer dela um sucesso, não teve como o MMA não saltar à frente. Encaixaram o assunto até em novela, com atriz global berrando de encantamento com as trocas de porrada. O interesse em ganhar dinheiro forçosamente fez o MMA virar uma mina de ouro no Brasil. É pesado o investimento publicitário, muita grana mesmo, com a indústria e o comércio dando este privilégio em detrimento de esportes muito mais importantes para a saúde física e mental, que no Brasil pouco recebem de incentivo na forma de publicidade.

O MMA está na crista da onda, mas faltava para esta luta um slogan com uma pegada forte. E digo "faltava" porque hoje na pesagem dos lutadores Anderson Silva e Chris Weidman os torcedores brasileiros que estavam no local gritaram para Weidman uma frase que sintetiza muito bem o MMA. Os fãs de Anderson Silva gritaram para o adversário várias vezes "vai morrer". Com isso, acharam o slogan ideal desta luta: "Vai morrer!". É o conceito perfeito do MMA e veio da própria torcida. Nem um publicitário dos mais bem pagos faria melhor.
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Por José Pires

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Impressões vistas de cima

A presidente Dilma Rousseff interrompeu suas férias para vistoriar áreas atingidas pelas chuvas em Minas Gerais. Já morreram 18 pessoas no estado em razão das chuvas. Na véspera do Natal a presidente já havia sobrevoado o Espírito Santo para observar danos causados também pelas chuvas. Quando ela passou de avião por cima da região afetada haviam morrido 14 pessoas. Hoje o número de mortos subiu para 21. Sobre o que viu no Espírito Santo, Dilma disse que foi 'impressionante".

Bem, eu usaria outra palavra. É lamentável o que acontece no Espírito Santo e também em Minas, mas a situação está mais para "previsível" do que "impressionante". Essas tragédias se repetem todos os anos, apenas mudando às vezes de lugar os acontecimentos mais trágicos. Porém estes desastres causados pelas chuvas já são parte da agenda nacional. É só chegar a estação das chuvas para que o brasileiro fique na espera das más notícias.

O brasileiro também reza para que não seja na sua região que apareçam as equipes de jornalistas para pegar essas notícias. E só resta mesmo ao brasileiro apelar para o socorro do mesmo céu que manda a chuva. A presidente Dilma se diz impressionada com o que viu, mas devia estar impressionada é com a incompetência de seu governo para evitar que aconteçam essas cenas todos os anos. Seu próprio governo já vai para o quarto ano e ela mesma já foi ministra poderosa nos outros dois mandatos de Lula, que a antecedeu na presidência da República.

O governo do PT não atua com prevenção e sequer dá atenção posterior ao problemas depois que a tragédia acontece. Várias regiões atingidas em anos anteriores por tragédias parecidas com as do Espírito Santo e Minas esperam até hoje pela ajuda prometida e pela obras necessárias para que a destruição de casas e as mortes não voltem a acontecer.

Nesses dias de tragédia a imprensa busca em seus arquivos estes temas e descobre que nada foi encaminhado na prática sobre as necessidades anteriores. O governo faz a maior propaganda política na hora do estrago, mas depois joga a questão numa gaveta qualquer. Assim vem sendo tocado este governo que só dá atenção aos problemas quando surgem os desastres e com eles a exigência de alguma resposta. É um governo que apenas sobrevoa o Brasil e por isso tem mesmo que achar tudo impressionante.
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Por José Pires

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013


O horror nosso de cada dia

Foi no mês passado que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, soltou aquela frase sobre as cadeias brasileiras, quando disse que "se fosse para cumprir muitos anos em alguma prisão nossa" ele "preferia morrer”. O ministro não falou isso em razão de nenhum estudo aprofundado da sua pasta sobre o sistema penitenciário brasileiro e nem foi a propósito de modificações de qualidade neste sistema. Nada disso. O desabafo veio como um lamento pela prisão de seus companheiros do PT, os mensaleiros condenados por corrupção pelo STF.

De lá pra cá não teve nenhum trabalho do ministério da Justiça para mudar o padrão medieval das cadeias brasileiras, até porque o ministro Cardozo continuou na defesa dos mensaleiros e também esteve ocupado em ataques políticos aos tucanos. As cadeias estão na mesma. O péssimo tratamento dado aos presos em nosso país é um daqueles horrores que já é visto como normalidade. É uma perversão praticamente oficializada e até é vista por muitos brasileiros como um castigo merecido para quem vai preso. Esta reação é uma óbvia confusão causada pelo terror da insegurança brasileira e quem pensa dessa forma nem se apercebe que além de ser uma desumanidade, tratar preso com crueldade e descaso não resolve o problema da segurança. Ao contrário, piora bastante.

Na oposição, os petistas aporrinhavam bastante com a situação violenta do país. E isso numa época que era até suave perto do que passamos hoje. Mas agora no poder o partido seguiu sua linha programática de esquecer o assunto. A insegurança dos brasileiros e a violência cotidiana só cresceu nos três mandatos seguidos do PT. Muitos são os dramas humanos causados pela violência, com famílias destruídas e o medo instalado até em cidades pequenas. Não deve existir ninguém hoje em dia que não tenha por perto uma história de horror. O medo obriga até a um toque de recolher oficioso em todo o Brasil. Tem que ter muita coragem para andar nas ruas brasileiras depois que o sol se põe.

O domínio do tráfico vai avançando e o das milícias paramilitares também. Nesta década de governo petista as drogas se espalharam por nossas cidades. Até o crack já é de uso comum. Uma pesquisa da Fundação Osvaldo Cruz mostra que nas capitais brasileiras cerca de 370 mil pessoas consomem regularmente esta perigosa droga. É um espanto a quantidade de mortes violentas. No ano passado a taxa de homicídios foi para 50 mil. E junto com este número veio outro espantoso: mais de 50 mil estupros.

Esta quantia escandalosa de estupros vem inclusive desmentir a retórica fraudulenta que trouxe a questão de gênero para a política, como se o fato de ser mulher desse ao dirigente público mais sensibilidade a determinados assuntos. É outra lorota de patifes da política. A presidente Dilma Rousseff ficou caladinha em relação ao número absurdo de estupros. A militância feminina de esquerda também não toca no assunto e muito menos cobra solução de seus companheiros no poder. A indignação seletiva não têm ouvidos nem para os gritos de socorro das mulheres brasileiras.
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Por José Pires

terça-feira, 24 de dezembro de 2013



sábado, 21 de dezembro de 2013


domingo, 8 de dezembro de 2013


sábado, 7 de dezembro de 2013

E essa agora: Lula era informante da ditadura, diz Tuma Júnior

A revista Veja sempre é esperada com ansiedade pelos petistas, mas a desta semana é mesmo de abalar. Ela vem com revelações espantosas feitas pelo delegado Romeu Tuma Júnior, ex-secretário Nacional de Justiça do governo Lula. Ele também é filho de Romeu Tuma, policial poderoso durante a ditadura militar e que chegou até a se eleger senador. Depois da ditadura, seu pai foi superintendente da Polícia Federal de São Paulo e também diretor-geral da PF, cargo em que permaneceu até 1992. Quando morreu em 2010, Romeu Tuma era senador pelo PTB, de São Paulo, atuando na base aliada do governo do PT. O pai de Tuma Júnior estava na chefia do Dops paulista, quando Lula foi preso como sindicalista em 1980.

Entre as acusações graves que faz na entrevista à Veja, Tuma Júnior diz que o então sindicalista Lula era informante da ditadura militar. Palavras do delegado: "Não considero uma acusação. Quero deixar isso bem claro. [...] 0 que conto no livro é o que vivi no Dops. Eu era investigador subordinado ao meu pai e vivi tudo isso. Eu e o Lula vivemos juntos esse momento. Ninguém me contou. Eu vi o Lula dormir no sofá da sala do meu pai. Presenciei tudo. {...} 0 Lula era informante do meu pai no Dops".

Na entrevista, o delegado diz também que quando ocupava a função de secretário Nacional de Justiça (foi exonerado em junho de 2010) sofreu pressão vinda de Brasília para divulgar dossiês apócrifos contra os tucanos. Quem o pressionou foi Tarso Genro, na época ministro da Justiça. Segundo ele, a Casa Civil também forçava a divulgação dos documentos falsos. A ministra era Dilma Rousseff.

Tuma Júnior conta ainda que militantes do PT estão envolvidos no assassinato do ex-prefeito Celso Daniel. "Aquilo foi um crime de encomenda. Não tenho nenhuma dúvida", diz ele, acrescentando que a intenção era apenas sequestrar o petista, que na época era coordenador da campanha de Lula para presidente, mas acabou acontecendo o homicídio.

O que sai na Veja desta semana já é suficiente para embrulhar o estômago dos petistas, porém isso não é tudo o que o delegado federal tem para contar. Ele já tem pronto o livro "Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado", que traz um longo depoimento dado ao jornalista Cláudio Tognolli. O livro deve ser lançado nos próximos dias. Outra informação antecipada é que além da espionagem feita em telefones e no computador de Gilmar Mendes, outros ministros do STF também sofreram espionagem de delegados da Polícia Federal.
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Por José Pires

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013


Um herói e toda uma luta

Louve-se a energia simbólica e a liderança de Nelson Mandela na luta pelos direitos da população negra na África do Sul e que se faça também a aclamação de sua presença carismática, que perdurou até a hora de sua morte e deve manter-se como uma consciência vital na história da África. Porém, para compreender a história é sempre bom manter os pés no chão e se desapegar de mitos. A queda do regime do apartheid na África do Sul não aconteceria se não fosse a pressão dos países ocidentais, iniciada a partir de 1973, quando a Assembléia Geral das Nações Unidas considerou o apartheid "crime contra a humanidade". O regime segregacionista caiu principalmente pelo bloqueio econômico decretado pelos Estados Unidos em 1986, que abalou a economia da África do Sul e forçou o governo racista a uma solução negociada que acabou por abolir o apartheid em 1994.

A eliminação daquele regime odioso não deve ser vista como resultado da força mágica de uma só figura, por mais importante que um indivíduo possa ser numa luta política e na história de um país. A movimentação mundial que ocorreu naquela época foi um dos grande eventos da história dos direitos humanos no mundo, que juntou na luta a comunidade internacional de uma forma muito rara no passado e infelizmente também pouco vista depois. A semelhança política do apartheid com o nazismo (que fora derrotado em 1945, também a partir da associação de várias nações) pode ter contribuído para que se juntassem países de diferentes sistemas políticos para acabar com o horror que era imposto aos negros da África do Sul em sua própria terra.

De início, o apartheid foi favorecido bastante pela dificuldade de comunicação naquela época, um tempo do telex e do telefone que funcionava com dificuldade. Na verdade, durante alguns anos do regime racista pouco se sabia do que acontecia na África do Sul. Porém, isso não impediu o empenho que se viu em todo o mundo quando apareceram as revelações sobre o horror. Jornalistas, intelectuais, cineastas e toda uma variedade de profissionais começaram a produzir materiais condenando o apartheid. Esta ação coletiva acabou criando o clima mundial que pressionou com rigor pela mudança do regime segregacionista.

A derrota do apartheid pode ter sim uma figura como Mandela lá no alto de sua significação, mas o movimento que levou a liberdade à África do Sul foi uma ação da comunidade internacional que mostrou a possibilidade das nações influírem de forma consequente no respeito aos direitos humanos. É sobre esta energia humana coletiva que precisamos meditar mais, porque ela é a prova de que o mundo pode ser melhor quando as pessoas são estimuladas a agir com boa vontade.
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Por José Pires

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013



Mensaleiro enquadrado

Até que enfim começam a dar um basta à farra de José Dirceu na prisão. A chegada de Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino à Papuda foi bastante esclarecedora sobre o nível de poder que a máquina governista estabeleceu no país. Até um regime de prisão muda totalmente em conformidade com seus interesses. No primeiro dia teve até pizza na cela da trinca. E depois foi aquele escandaloso tour de visitas a qualquer hora do dia, com bandos de deputados e senadores paparicando o poderoso petista em sua cela. Até o governador de Brasília, o petista Agnello Queiroz, apareceu para o beija mão. Foi a primeira vez na vida que ele foi ao presídio. Depois tiveram que maneirar no abuso, até porque os privilégios dos mensaleiros estava criando o risco de revolta nos parentes de presos comuns, que sofrem com o rigor que a penitenciária estabelece para as visitas.


Agora apareceu uma outra notícia que finalmente coloca Dirceu em seu devido lugar, que é o de condenado cumprindo pena por seus crimes. Foi rejeitada pela Vara de Execuções Penais (VEP) o pedido da defesa do chefe dos mensaleiros para que fosse dada prioridade a análise de sua contratação pelo hotel Saint Peter. O oferecimento da vaga a Dirceu já trouxe outras complicações, que foram reveladas em investigações jornalísticas sobre o que se passa naquela hotel. Até laranja já apareceu na história.


Segundo o juiz Vinicius Santos Silva, que rejeitou o pedido, o único direito à tramitação prioritária se deve aos 67 anos de Dirceu. Porém, a proposta de emprego do antigo capitão da equipe do Lula não pode passar na frente de pedidos de outros presos. E um processo como esse leva de 30 a 60 dias. Segundo o juiz, a prioridade é dada em razão das dificuldades de um preso para conseguir emprego, o que naturalmente ocorre com condenados mais pobres.


Um trecho da decisão do juiz mostra uma consequência que pode resultar do privilégio desses poderosos, que estão sempre atropelando o direito dos mais humildes:"É fato inegável que os sentenciados, boa parte deles composta de analfabetos, estão na fila prioritária de análise da proposta e teriam um risco iminente de ter as propostas simplesmente retiradas pelo pretenso empregador, caso ficassem atrasadas porque sobrepujadas pela proposta recém chegada do ora sentenciado".
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Por José Pires

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Histórias mal contadas

José Genoino só renunciou ao mandato quando já não havia outro recurso para fugir da cassação. Foi um final de carreira sem dignidade. E não é de agora que ele vem passando vexame. Suas encenações vêm desde a época em que foi presidente do PT, quando o esquema de suborno de compra de votos de deputados estava em andamento. E são situações vergonhosas criada exclusivamente por ele. Os fiascos começaram lá atrás, quando ele disse que havia assinado o famoso empréstimo milionário do mensalão sem saber de que se tratava. Em depoimento há oito anos na CPI da Compra de Votos, Genoino disse que botou seu jamegão no documento em total confiança ao então tesoureiro do partido, que não era outro senão o Delúbio Soares. Total confiança no Delúbio não cola, não é mesmo?

Parecia coisa de otário, mas ele segue até hoje com atitudes parecidas, o que lhe dá um ar de tolo num esquema que sabidamente só teve malandro da pesada. É bem verdade que quando optou por este papelão era grande a chance do mensalão não dar em nada. Mas, por variadas razões, não foi isso que aconteceu. Genoino acabou sendo condenado com provas materiais. Apenas Ricardo Lewandowski o absolveu de corrupção ativa. Ele teve voto contra até do ministro Toffolli, o que, aliás, pode render uns bons papos de cela com José Dirceu, que teve a absolvição de Toffolli nas duas acusações.

Genoino apelou até para problemas de saúde, comportando-se de tal forma que parecia que podia morrer a qualquer momento. Em paralelo, a rede governista na internet passou a repassar imagens e textos vitimizando o mensaleiro. No entanto, a encenação foi desmentida por duas juntas médicas — uma do STF e outra da Câmara — que o examinaram separadamente e chegaram à mesma conclusão: seu problema de saúde não é grave. O laudo da comissão médica da Câmara desaconselha sua aposentadoria por invalidez e a comissão do STF concluiu que não é necessário que ele fique em casa para se tratar.

Genoíno podia parar por aí e passar a se comportar de forma digna, mas sua farsa continua, como dá pra ver na carta divulgada por ele após a renúncia. Ali tem uma mentira pesada. É na afirmação de que ele tem uma história de “mais de 45 anos” de luta pela democracia. Puxa vida, como eles insistem em tentar mudar a história. Ao pegar em armas, na década de 70 o mensaleiro condenado e seu partido de então, o PCdoB, não tinham como plano democracia alguma. O projeto político era o de fazer do Brasil uma ditadura comunista de linha chinesa. E mesmo depois que foi para o PT, também neste partido a história de Genoino não é nem um pouco democrática. De parceria com José Dirceu e Lula ele foi um dos implantadores de um férreo controle da cúpula dirigente sobre a vida partidária. Acabaram com a democracia interna do PT, calando militantes, expulsando adversários e impondo um controle que inclusive decretou intervenções em diretórios que não seguissem a orientação que vinda de cima, de Genoino e sua turma.
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Por José Pires

Brasil de novo levando pau na prova

O Brasil levou pau em mais uma avaliação internacional sobre educação. Desta vez foi no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês). O relatório foi divulgado nesta terça-feira pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) O resultado é feio: entre 65 países avaliados, nosso país ocupa a 58ª posição. É claro que atrás do Brasil estão aqueles países que sempre nos acompanham nos últimos lugares.

Os estudantes brasileiros vão mal nas três áreas do conhecimento avaliadas: leitura, matemática e ciência. A divulgação do relatório teve um lance patético com a comemoração do resultado pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Do que ele está gostando? Ele está achando bacana o fato do país ter elevado sua média em 33,7 pontos de 2000 a 2012. Pela lógica dele “nós fomos o país em que mais os estudantes evoluíram neste década”. O raciocínio já aponta a forma que vão usar para esconder o péssimo resultado. Não vamos deixar de ser o primeiro entre os últimos, mas tudo será muito bem embalado com jingles e cenas pra lá de animadas.

O ministro tenta lograr a platéia com sofismas, o que não é novidade alguma neste governo. Por exemplo, o Brasil foi o país que teve a maior evolução em matemática nos últimos anos, porém teve esta performance ocupando uma das últimas posições. Pela forma de argumentar de Mercadante seria de lamentar que China, Coréia e Finlândia não avançaram nas provas. Só que os três país estão estacionados nos primeiros lugares.

Não seria melhor encarar com realismo o mau resultado e deixar claro para os brasileiros que o país precisa se empenhar mais? Sem dúvida, uma atitude assim permitiria a esperança de que é possível encarar o problema, corrigir erros e melhorar a nossa educação. Mas isso é muito difícil de acontecer num país que vive eternamente em clima eleitoral, com autoridades que em vez de assumir suas responsabilidade preferem esconder maus resultados e forjar uma realidade para faturar em imagem e se manter no poder.
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Por José Pires

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Exumações eleitoreiras

Como no Brasil não se respeita em situação alguma o sinal amarelo, acaba-se não tendo tempo algum para uma reflexão que evite a trombada no sinal vermelho. Mas eles estão todos por aí num piscar desesperado. Li agora há pouco num desses sites pró-governo e bancados por dinheiro público um artigo em torno deste esquisito revival janguista, que aparece inclusive numa hora imprópria para homenagens. João Goulart sendo reverenciado por autoridades de um governo imerso na lama da corrupção acaba dando um tom até cômico às suas exéquias.

Mas o artigo a que me refiro revela de forma mais clara o que está por detrás desta surpreendente redescoberta do presidente derrubado pelos militares em 1964. O título do artigo já diz tudo: "Depois de Jango, falta exumar as reformas de base". É isso mesmo, além da esquerda ter criado um monte de fantasmas próprios agora estão pensando na exumação de fantasmas do passado. E claro que não estou falando sobre a compreensão sempre necessário sobre o que vivemos no período pré-64. Não é este o interesse desta esquerda que está no poder.

Os dramas que o país viveu naquela época têm tudo a ver com o que interessa na construção de temas favoráveis à reeleição de Dilma Rousseff e a continuidade do projeto de poder do PT. O que estamos vendo é um janguismo marqueteiro. Interessa a eles trazer de volta ao debate a confusão conceitual e ideológica daqueles tempos. Se for bem manipulada, esta balbúrdia pode criar a ilusão no eleitorado de um sentido novo para um governo que falhou em tudo, inclusive nos temas das famosas "reformas de base" propostas por Goulart. Até pela incapacidade técnica do governo do PT ainda estão aí todos todos os problemas relacionados àqueles tempos. Tem até mais que isso. Naquela época não havia o assustador índice de violência e o país precisava dar um impulso às suas indústrias e não salvá-las do sucateamento, como ocorre agora.

Sistema financeiro, distribuição de renda, habitação, reforma urbana, relação do governo com os bancos, estrutura fundiária e a relação com o setor rural, todas as demandas daquela época servem de forma apropriada para um governo como este, que precisa desviar os olhos da opinião pública de sua incompetência administrativa e da índole dos larápios travestidos de líderes políticos e autoridades oficiais.

No meio disso tudo podemos ter também a extrema esquerda se colocando com sinceridade na luta pela volta inclusive daquele clima político conflituoso. Ah, teremos também com certeza na luta o sindicalismo atrelado ao governo, desta vez todos muito bem fixados em gordas verbas estatais ou tiradas do bolso dos trabalhadores, cargos nomeados e privilégios pessoais. Não falta também o uso demagógico da Petrobrás e o engodo do petróleo como combustível mágico para o desenvolvimento. Ainda bem que para a nossa sorte não temos sargentos nesta história e também nenhum cabo da marinha.

No Brasil sempre é difícil atinar para os nossos reais problemas, por causa da falta de atenção ao tempo de meditação e debate que pode proporcionar um sinal amarelo. Como este sinal nunca é respeitado, geralmente só percebemos o drama quando o amarelo virou vermelho e bem lá atrás. Apurem os ouvidos, estão ouvindo as correntes? Estão exumando até sinais vermelhos do passado.
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Por José Pires


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Resistência tardia

O grande cronista de humor Stanislaw Ponte Preta fazia nas décadas de 60 e 70 uma seção chamada Febeapá, sigla de Festival de Besteira que Assola o País. Nela, Stanislaw compilava o besteirol que rolava por aqui. Ele pegou uma época que teve asneiras multiplicadas pelo poder que a Ditadura Militar foi concedendo à mediocridade pelo país afora. O negócio era sério. Só entravam notícias verdadeiras. Com o tempo os leitores foram colaborando com o tema, enviando de suas cidades as besteiras locais. Stanislaw fez até uma carteirinha para credenciar os colhedores de material. O documento era distribuído dentro de seus livros, que tinham tiragem bem alta na época.

Infelizmente, Stanislaw Ponte Preta (conhecido também como Sérgio Porto) morreu bem novo, aos 45 anos, em 1968, deixando assim de ver as besteiras se acumulando neste país. Hoje em dia a coisa piorou bastante. Como diz o Lula, nunca houve tanta besteira na história deste país. Inclusive com uma contribuição imensa do ex-presidente, como todos sabem. O Febeapá desses anos recentes daria muitos volumes, inclusive com seções em lulês e dilmês, novilínguas trazidas pela cultura petista.

E foi nesta quinta-feira que o Congresso Nacional produziu uma peça histórica para o Febeabá. Foi anulada a sessão do Senado da madrugada de 2 de abril de 1964, que declarou vago o cargo de presidente da República. Fizeram tudo nos conformes: a justificativa técnica da anulação é de que João Goulart ainda estava no Rio Grande do Sul. Bem, no dia anterior, como todas sabem, João Goulart havia sido derrubado por um golpe militar e passamos a viver numa ditadura que foi até 1985.

A anulação não tem valor prático algum. A não ser de entrar para o Febeapá, que merece ser reaberto para o acolhimento de tão soberba asnice. E se alguém vier falar em valor simbólico do ato do Senado, digo que simbolicamente parece mesmo é gozação. O Congresso Nacional peitou o golpe militar 49 anos depois dos militares derrubarem Goulart. A medida é tão idiota que a única sessão que ficará de fato na História é a que foi anulada na sessão de ontem.
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Por José Pires

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Imagem - A carteirinha para os colaboradores do Febeapá, com a foto do cronista no lugar onde o leitor devia colar sua fotografia. Note que a credencial é para colher material para o Febeapá Nº 3. Normalmente os livros de crônicas de Stanislaw Ponte Preta vendiam bastante no Brasil, sucesso que também acontecia com as edições que juntavam as besteiras de todo o país, mas principalmente de Brasília, publicadas por ele na sua coluna no diário Última Hora, de 1955-1968. Outro detalhe interessante desta carteira é a editora que publicava os livros, a Sabiá, de propriedade dos escritores Fernando Sabino e Rubem Braga, este último um dos maiores textos que nossa terra já teve.

Esquerda racialista

Existe um erro da imprensa em identificar essa militância racialista como "movimento negro". Primeiro não é um movimento unitário e de amplidão nacional. São vários movimentos e na minha visão nem são representativos da (eles que classificam assim) raça negra. Então não existe propriamente um "movimento negro". Essa unidade não foi possível nem nos Estados Unidos, onde existiu discriminação de fato e apoiada em lei. Negros não podiam frequentar determinados locais e tinham que sentar em um lugar obrigatório nos ônibus. Até bebedouros de água eram separados. Estas regras racistas absurdas existiram até a segunda metade dos anos 50. Além disso, negros eram espancados e mortos por racistas. A Klu Klux Klan tinha um poder político imenso em estados do Sul e era determinante na vida da população negra.

Porém, mesmo nesta situação de terrível opressão racial, nos Estados Unidos não havia um movimento negro unitário. A reação ao racismo vinha de diferentes linhas políticas, com o pragmatismo de um Martin Luther King (que felizmente prevaleceu) ou com o radicalismo de um Malcom X, que liderava um grupo político violento e que era também fascista. Os grupos dos movimentos negros de esquerda no Brasil agem como se preferissem Malcom X.

Após a Abolição não ocorreram coisas assim no Brasil, onde leis de segregação racial nunca existiram. Mas os movimentos negros de esquerda agem em nosso país como se as relações raciais por aqui fossem até hoje muito violentas. É um problema inclusive de bravata, já que é muito fácil ser radical numa situação em que o risco de revide é praticamente zero. E esses militantes são grosseiros exatamente com brancos que aceitam debater com franqueza. Estão sempre agredindo quem não é racista, já que não teriam de forma alguma a oportunidade de uma conversa em pé de igualdade com um branco racista.

Todos os movimentos que vi até agora na mídia são na verdade "movimentos negros de esquerda". Alguns militantes são de extrema esquerda, como é o caso do líder da Educafro, Frei David. Neste até o espírito é autoritário. Ele não admite de jeito nenhum que alguém pense diferente e vê racismo deliberado até na Igreja Católica, onde, segundo ele, "quase todas as paróquias têm cozinheiras negras, mas as freiras, que são superioras, dificilmente são negras". Haja paciência para ouvir essas coisas, não é mesmo?

Mas o besteirol dos racialistas se acumula. O senador petista Paulo Paim é um político que fez carreira acenando para os trabalhadores com ganhos econômicos impossíveis de serem cumpridas pelo simples fato de não ter dinheiro no orçamento. Mas ele fazia mesmo assim suas leis. Como eram perdulárias e impossíveis de executar, não passavam no Congresso. Então ele punha a culpa no governo e veio se reelegendo dessa forma desonesta. Ele também descobriu na questão racial uma boa fonte de votos. É um dos político mais animados com as cotas raciais, que ele vê dessa forma: “É uma reparação de anos e anos de exclusão racial e social. Não é justo que o preto e pobre trabalhe de dia para pagar a universidade e estudar à noite enquanto o branco descansa o dia todo”.

São argumentos que podem até provocar o riso, mas nenhum desses extremistas têm graça nenhuma. Existe o risco desse tipo de argumentação absurda e criadora de conflitos ir se estabelecendo como conceito, criando entre a juventude uma forma de relação que dessa forma inevitavelmente levará o Brasil a viver conflitos raciais que podem ser muito sérios. A nós cabe evitar esta condição de violência que certos militantes racialistas vêm estimulando de forma irresponsável.
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Por José Pires


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Imagem - Joaquim Nabuco (1849-1910) era branco e fazendeiro muito rico, porém foi muito mais importante para a luta contra a escravidão do que Zumbi, personagem que é apenas um mito adotado pela militância. A vida de Nabuco é uma comprovação histórica de que a consciência humana da igualdade independe da cor da pele e da classe social.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Futuro assegurado

Pronto, ninguém precisa mais ter dó do José Genoino. Ele já está em regime semiaberto. Sua ceia de Natal também está assegurada e até as festas de Ano Novo. O ex-presidente do PT continua recebendo o salário integral de R$ 26,7 mil até janeiro, mesmo não sendo o titular do cargo de deputado. Ele está em licença de quatro meses e com isso mantém o cargo, mesmo já tendo um suplente em seu lugar. Genoino sabe fazer muito bem esses arranjos dentro da lei. Dizem que ele conhece tudo do regimento da Câmara, então é provável que saiba também de qualquer outro regulamento. Ele só é descuidado na hora de colocar sua assinatura junto às assinaturas de Marcos Valério e Delúbio Soares em documentos de seu partido, mesmo sendo um empréstimo de milhões de reais. Mas aí está: hoje o contribuinte paga o seu salário e também o do suplente.

Ninguém precisa também ficar sem dormir de preocupação temendo pela subsistência dele. O presidente do PT na época em que rolava o mensalão já é aposentado como deputado e recebe um salário mensal de R$ 20 mil brutos. Genoino pediu aposentadoria por tempo de contribuição na Câmara depois que teve má votacão em 2010. Ele não foi eleito, assumindo o mandato a partir de um arranjo político que deu um cargo a outro deputado, abrindo espaço na Câmara.

Genoino já ganha como aposentado e está pleiteando outra aposentadoria, agora por invalidez. Aí ele terá salário integral, que irá para R$ 26 mil brutos. A licença médica é parte dos trâmites para a aceitação da invalidez, que no caso só pode ser uma invalidez profissional para ser deputado, não é mesmo? Ele já passou por avaliação feita por uma junta médica da Câmara. A resposta está para sair e acho difícil que não seja favorável, afinal, repito, ele sabe tudo dos meandros daquele prédio das duas cuias em Brasília.

Creio que essas aposentadorias dizem bastante sobre o político Genoino. É claro que ele pode estar doente de fato e acho isso lamentável. Tenho um coração bem maior do que qualquer mensaleiro. Me comovo até com a situação mental e física de Hitler nos dias finais em seu bunker, isso na sua condição humana. Mas sempre lamento mais a falta que ele fez no banco dos réus em Nuremberg. Acredito que é desonesto misturar política com o sentimento nobre da compaixão, ainda mais quando isso é feito para mascarar responsabilidades.

Esta aposentadoria de um alto dirigente petista diz bastante também sobre o PT. Sou contra aposentadoria de deputado ou em qualquer outro cargo eletivo. Política não é profissão. E essa era também a posição do PT antes de alcançar o poder, quando os mandatos de sua cúpula ainda não haviam se enfileirado para muitos numa imensa quantidade de anos sem largar a cadeira. O decente para este partido (e também todos os outros partidos, isso é óbvio) seria que cada um tivesse responsabilidade pessoal por seu futuro, optando por um plano privado de previdência ou até trabalhando numa profissão de fato, que é o que faz a maioria dos brasileiros.
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Por José Pires

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IMAGEM - Genoino com um colega mensaleiro condenado, que ainda está no cargo de deputado. João Paulo Cunha mandou a mulher sacar R$ 50 mil na agência do Banco Rural, cuja dona, Kátia Rabello, está condenada a 16 anos e 8 meses de prisão. Já condenado por corrupção e peculato, Cunha será preso se o seu embargo não for aceito pelo STF. Reparou como ele está quietinho no cargo de deputado? Pois é, eles são assim.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O passado também condena

A partir da condenação pelo STF do deputado José Genoíno, seus partidários vêm tentando criar para ele uma imagem que nada tem a ver com sua real trajetória na política brasileira. A bem da verdade, a imagem de vítima e a humildade com que ele vem sendo apresentado não tem a ver nem com a sua personalidade. Até ser pego nas ilegalidades tramadas enquanto ocupava a presidência do PT, Genoíno vinha sendo implacável nas suas atitudes políticas, a começar da primeira vez em que se teve notícia dele no Brasil. Foi na sua prisão pela participação na guerrilha organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) numa das margens do Rio Araguaia, no sul do Pará. A guerrilha começou em 1967, se fortaleceu em 1970 e afinal foi derrotada pelo Exército Brasileiro em 1974. Esta primeira prisão de Genoíno ocorreu dois anos antes do final da campanha do exército.

E ninguém deve cair nas versões que dão aquele conflito como um violento ataque dos militares a idealistas que só visavam o bem. Os combatentes do PCdoB estavam armados e bem treinados e tinham o propósito claro de estabelecer um governo nacional a partir daquele foco guerrilheiro. Os comunistas levaram vantagem na fase inicial, fazendo emboscadas, ferindo e causando baixas às tropas do exército.

O propósito do PCdoB era o de uma guerra popular prolongada dentro do modelo do líder comunista Mao Tsé-Tung. O partido tinha fortes laços ideológicos com a China comunista, mas já pendia para o lado da Albânia, que é até hoje um país miserável e na época era comandada por um ditador doido chamado Enver Hodxa. Mas os comunistas do PCdoB achavam que a Albânia era o único socialismo respeitável no mundo.

É evidente que em caso de vitória de sua guerrilha o PCdoB não iria convocar eleições democráticas. Haveria a instalação no Brasil do que eles chamam de "governo popular", eufemismo usado para qualquer ditadura que lhes agrade. O PCdoB sempre foi ensandecido politicamente. O partido jamais aceitou sequer as denúncias dos crimes de Stálin, feitas pelo próprio governo comunista soviético, no final da década de 50. Certamente iriam impor ao Brasil um modelo híbrido que juntasse o maoismo e o desastre que era a ditadura de Hodxa na Albânia, país comunista que chamavam de "Farol do socialismo".

Esta é a origem política de Genoíno, que foi preso durante as ações do exército enquanto dezenas de companheiros seus foram mortos. Existem denúncias de atrocidades naquela ação dos militares brasileiros, atitudes que seriam condenáveis em qualquer guerra, porém é falsear a História tentar fazer crer que em qualquer lado daquele conflito havia alguma vítima inocente movida por ideais simplesmente libertários. Por isso, não é justo e tampouco é verdadeiro historicamente ficar tratando este mensaleiro condenado como se ele tivesse lutado pela liberdade e a democracia. Nenhum movimento comunista instalou democracia em país algum depois de vitorioso. É vergonhoso que não seja assumido hoje em dia o propósito real daquela guerrilha. Na minha visão, esta conversa dissimulada é até um desrespeito à memória de quem morreu combatendo por suas ideias comunistas.

Genoíno foi solto em 1977 e anistiado em 1979. Elegeu-se deputado federal pelo PT em 1982. É uma trajetória que seria impossível no Brasil para alguém na sua condição se a guerrilha do PCdoB tivesse alcançado a vitória. O que ele deveria fazer é parar com esta lorota de que "lutou pela democracia", assumir os erros de seu passado e além disso agradecer por estar sendo preso num país que não vive sob uma ditadura totalitária, como eles pretendiam. Aproveitando a ocasião, também seria mais honesto ele assumir que errou ao participar do atentado à democracia que foi o mensalão.
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Por José Pires