quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O domador de marolinhas

Vejam isto: "Não podemos permitir que alguém fique rico trocando apenas papéis. Às vezes, os papéis perpassam oito, nove, dez instituições, todas ficando ricas, sendo que poucas vezes se gerou a produção de um paletó”. É o Lula dissecando o mercado financeiro com seu arguto rigor analítico.

Quando essa fábrica de lucros que não produz sequer um paletó ajudava a embalar seu governo e inflar artificialmente sua popularidade ele estava quietinho, se empaturrando com a jogatina. É normal da parte dele. Na hora de pagar a conta como é que ele não iria reclamar?
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POR José Pires

Onde viceja o perigo

Uma das melhores idéias já discutidas sobre as eleições brasileiras é acabar com a figura do vice. Afinal, para que mais serve o cargo de vice, além de objeto das barganhas pré-eleitorais?

Tem até uns acertos bons, como o de São Paulo que o PCdoB fez com Marta Suplicy. Vejam se não é um negocião: Marta ficaria como prefeita menos de dois anos e depois sairia para ser candidata à governadora ou até para presidente da República, se a vaga sobrasse para ela. E tendo a frente o líder Aldo Rabelo, escorreito vigilante da língua pátria, os comunistas conquistariam este importante bastião revolucionário que é a prefeitura de São Paulo.

Mas Rabelo fixou-se demais na inevitabilidade histórica proclamada por Marx e esqueceu-se de um pensador nativo, o Garrincha, que não tem seu 18 Brumário, mas é autor de apenas uma grande sacada estratégica no ramo da política, única mas de uma sapiência elevada. aquela que aconselha antes combinar com o adversário. E Kassab e Serra não ficaram satisfeitos com o acerto.

Mas eu falava no vice, cargo que devia ser extinto, pois a desatenção (ou má-fé) da nossa política nem mostra direito para o eleitor aquele que pode ficar no lugar do eleito. E isso em um país, como o Brasil, que não dá sorte com vices. Lembrem de José Sarney, só para ficar em apenas um exemplo, o pior deles.

Mas nem os Estados Unidos cuidam muito bem deste lado da política. Lá também tem a figura do vice e eles, mesmo também não tendo muita sorte com isso, nem por isso se cuidam. Vamos lembrar também apenas um caso, o de Richard Nixon, que renunciou e deixou Gerald Ford em seu lugar. Pois é, o eleitor norte-americano elegeu um grande canalha e acabou ficando com um canalha menor. Não deixa de ser um prejuízo.

Agora, nestas eleições, eles correm um risco ainda maior e vem novamente dos Republicanos. Sarah Palin pode ser presidente no lugar de John McCain, claro, pois apesar de ele estar atrás nas pesquisas, o panorama eleitoral daquele país muda da noite para o dia literalmente. E caso a chapa republicana se eleja, as chances de Palin são bem grandes. Mccain já tem bastante idade. E Palin, que até ser escolhida era uma obscura política do Alasca, também parece ter muita sorte.

Veja aqui um site bastante interessante que mostra o que aconteceria caso se realizasse o sonho dourado de Palin – e pesadelo do resto do mundo, claro.

Entre na página, vá passando a mãozinha e clicando nos objetos, mas cuidado, muito cuidado mesmo, para não atender o telefone vermelho.
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POR José Pires

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Fique indiferente e confirme

Está todo mundo queimando as pestanas para entender a vitória acachapante do prefeito Gilberto Kassab (DEM) sobre a petista Marta Suplicy, mas a cientista política e petista de carteirinha Maria Victoria Benevides matou a pau. Foi em entrevista hoje na Folha de S. Paulo que ela acabou com a discussão.

Benevides acredita que Kassab venceu a eleição menos por seus méritos e mais pela rejeição à Marta Suplicy. Disse a sábia uspiana-petista sua análise: "Kassab não provocou nenhuma rejeição. Isso não significa que ele seja bom: significa que as pessoas eram indiferentes a ele".

Não deve ser o que a cientista política petista está querendo, mas ela acaba de dar o primeiro passo no estabelecimento de uma estratégia invencível para qualquer eleição. Já deve ter marqueteiro babando de contentamento com a dica preciosa inserida nesta análise.

De uma pratica bem antiga na moral petista, uma regra básica na cartilha do PT, que manda desqualificar o adversário em qualquer situação, especialmente quando ele ganha, ela traz uma grande novidade para a política brasileira: a do político que vence pela indiferença.
É uma nova arma de propaganda para os marqueteiros. Para cativar o eleitorado o negócio é trabalhar a imagem do candidato de modo que ele cause indiferença no eleitor. E a sacada de Benevides dá uma reviravolta danada nos prognósticos para 2010. Que Serra, que nada. Se o negócio é indiferença, para 2010 é Alckmin na cabeça.
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POR José Pires

Lições lulistas de economia

Lula está decepcionado com os grandes banqueiros. Na semana passada ele pediu que eles facilitassem o crédito, mas não é isso que os grandes bancos devem fazer. A Folha de S. Paulo informa hoje que a prioridade no momento é construir um “muro de liquidez”, o que em trocados significa fechar a mão e manter o caixa com alguns tostões e só emprestar com garantias sólidas do tomador.

Na crise que já está aí e sem nenhum indicativo de que seja uma “marolinha”, como disse Lula fazendo pouco caso do problema e da inteligência alheia, mais vale um tostão na mão que dois voando no crédito. Há poucas garantias de que esses dois voltem logo como quatro ou até cinco, como acontecia antes da crise. E banco, talvez só Lula não saiba, vive disso.

Será que é difícil para Lula perguntar o que seu presidente do Banco Central acha desses negócio de apelar para o patrotismo de banqueiros? Meirelles foi banqueiro, era presidente do Citybank, e poderia esclarecer muito bem com funciona o coração de um banqueiro.

Lula é um homem de rompantes, talvez por ter uma personalidade multifacetada, o que faz com que ele cometa demais o erro de dar opinião de peão onde o exigido é a fala do chefe de Estado. O contrário, o peão falar como chefe de Estado, evidentemente é raro acontecer.

A face do peão é eleitoral. E como Lula vive em campanha, esta prevalece. E não vai ser fácil enfrentar a crise com um líder que não desce do palanque eleitoral. Lula só governa de olho em 2010, ou 2012, ou 2014, o que vier pela frente. Já está aprendendo que não elege poste, mas parece longe de entender que não tem a capacidade de estimular bons sentimentos em banqueiro apenas apelando para o gogó.

A crise não é nova. Os avisos são bem antigos e a coisa é tão séria que até a Exame, revista espetacularizadora da economia, já deu capa há mais de um ano alertando para o problema. E quanto à falta de crédito no mercado, Lula não é aquele especialista que há pouco tempo dizia para o brasileiro ter um pouco mais de vergonha na cara e parar de usar o cartão, cheque especial e outros meios de endividamento?

Porque agora teria de ser diferente. Lula poderia exercitar seu senso de economia de dona-de-casa (lembram daquela besteira que administrar um país é o mesmo que administrar uma casa?), convocar uma rede nacional de televisão e mandar a indústria, o comércio, a agricultura e e pecuária, fazer o mesmo que ele pediu à classe média. Com uma receita dessas, iriamos para o buraco de vez, mas é o que uma dona-de-casa faria, mesmo se ela habitasse o Palácio do Planalto.

O pito na classe média foi seu lado peão analisando economia. Só faltava a pinga, se é que faltava. Mas para enfrentar a crise atual o ideal mesmo era o governo estudar o episódio dos cartões corporativos, um objetozinho magnético que tinha poder para comprar de tudo, de tapioca a aluguel de carrões luxuosos.

Lembram do assunto? A economia do País ia bem, empurrada pela boa situação econômica internacional e o governo Lula só gastava, inclusive com os tais cartões. Pois bem, pode estar aí a solução para o fechamentro do crédito. Já que os bancos não abrem a mão, o negócio é distribuir cartões corporativos para a indústria e o comércio.
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POR José Pires

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

PT, saudações

O PT de Lula foi varrido da cena política no Sul do Brasil. No sudeste também sobrou pouco do PT. Para 2010, o partido de Lula não vai contar com a máquina de importantes cidades brasileiras. Os números eleitorais mostram que o PT vai se tornando um partido dos grotões, movido à políticas assistenciais e clientelismo político. 

A derrota em São Paulo mostra bem as dificuldades que os petistas devem enfrentar daqui por diante. O significado da vitória de Kassab sobre Marta Suplicy obviamente vai além das fronteiras da cidade. São Paulo foi uma vitória de Serra. E além de ganhar a prefeitura mais importante do país, o governador tucano ainda se livrou de um estorvo sem tamanho em seu partido, o candidato Alckmin, o Geraldo, que sofreu derrota humilhante no primeiro turno.

Até agora Alckmin vinha fazendo a alegria dos petistas. É o tucano preferido do PT, pois além de causar um estrago danado dentro das própria fileiras tucanas, o ex-governador mostrou ser um adversário fácil. Depois dessa eleição, dificilmente  ele terá fôlego para prosseguir em sua atuação de quinta-coluna, que tanta alegria causa ao PT desde última disputa pela presidência com Lula, quando livrou os petistas de encarar Serra como candidato.

Mas não foi só na capital paulista que o PT se deu mal. Não fosse a vitória de Luiz Marinho em São Bernardo e o partido ficaria de fora de todas as grandes cidades do estado de São Paulo. E a vitória do companheiro de Lula foi arrancada com um esforço danado e muito dinheiro. O investimento milionário do PT na campanha fez dos votos de Marinho o voto por habitante mais caro do Brasil. A máquina do governo petista planejava ganhar no primeiro turno, mas teve que enfrentar também o segundo turno. E a campanha na cidade teve uma inovação política que deixa os petistas ainda mais por baixo: foi comandada pela CUT e não pelo PT.

O PT tinha como meta ganhar 700 prefeituras em todo o país, mas alcançou apenas 558, em sua maioria nos grotões da política. Nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste o partido fez o prefeito em apenas uma capital, Vitória. No Norte foi vitorioso em três capitais: Rio Branco, Palmas e Porto Velho. No Nordeste venceu em Fortaleza e Recife.

De São Paulo para baixo, o PT terá de catar os cacos para se reconstruir. No Paraná o partido praticamente acabou. Perderam em todas as cidades importantes do estado, inclusive na capital, onde houve um enorme investimento na candidatura de Gleise Hoffmann, esposa do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Até a ministra Dilma Roussef apareceu em Curitiba para fazer campanha, mas a candidata petista perdeu logo no primeiro turno. Lula também apoiou declaradamente a candidata.  Curitiba era de muita importância para o projeto de poder do partido, que ali fez uma experiência eleitoral que, caso desse certo, seria um modelo de campanha petista para todo o país. Mas levaram uma boa sova nas urnas.

No Rio Grande do Sul o partido perdeu na capital e também nas principais cidades gaúchas. Em Porto Alegre cidade emblemática para os petistas a derrota foi feia. O prefeito José Fogaça se reelegeu com uma diferença de 17,9 pontos sobre a petista Maria do Rosário. O resultado foi de 58,95% dos votos, contra 41,05%.

Mas outra derrota petista com forte valor simbólico aconteceu em Pelotas, onde o PT já foi uma grande força. Foi em Pelotas que o presidente Lula foi filmado em 2006 fazendo uma piada grosseira com os pelotenses. No vídeo, em seu notório e inoportuno estilo, Lula conversa com o então prefeito Fernando Marroni e diz que Pelotas é uma cidade “exportadora de viados”.

O mesmo Marroni foi o derrotado nesta eleição. Perdeu no segundo turno para Fetter Júnior, do PP. A grosseria de Lula (que você pode ver, clicando aqui) deve estar na memória dos pelotenses até hoje. A piada acabou ficando bem cara para os petistas.
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POR José Pires

Profeta vermelho

Neste momento é sempre bom recordar o que disseram grandes pensadores, homens com capacidade analítica e capazes de previsões importantes para sua gente. Vamos ao Supremo Apedeuta, o presidente Lula, que no dia 15 de outubro, direto da Índia, prognosticou a chegada de sua correligionária Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo, nos braços do povos.

Disse Lula: "Só para lembrar, a Marta vai ganhar as eleições em São Paulo com os votos do povo da cidade".
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POR José Pires

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Cesar Maia aposta em Gabeira

Em seu Ex-Blog, o prefeito do Rio, Cesar Maia, divulga a opinião de seu Data-Blog sobre a eleição carioca. O Data-Blog é uma forma criativa de Maia para logotipar sua forma de ver as variadas pesquisas sobre as eleições no Brasil. Vale a pena acompanhar. São análises excelentes, com gabarito técnico e sua experiência política. E neste ano Maia acertou bastante. Previu o fiasco de Alckmin, o Geraldo, em São Paulo, e foi o primeiro a detectar a subida de Gabeira, ainda quando os institutos colocavam o candidato lá embaixo nas pesquisas.

Sobre as pesquisas deste segundo turno, ele continua fazendo suas análises aprofundadas, checando dados, comparando metodologias e, claro, usando seu conhecido cabedal em disputas eleitorais. É um trabalho excelente, mesmo porque ele não fica apenas nos números, trazendo também "pitacos" muito úteis e até bem engraçados. 

O Data-Blog de Maia projeta uma vitória de Gabeira por cinco pontos acima de Eduardo Paes. E está aceitando apostas. Não vou entrar no jogo, mas uma aposta contra a vitória de Gabeira até que seria bom perder.
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POR José Pires

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sujeira bem Brasil

A suposta esperteza marqueteira de Marta Suplicy (PT) em São Paulo, que ataca Kassab com as armas do preconceito, e os desatinos eleitorais de Eduardo Paes (PMDB), no Rio de Janeiro, que faz de tudo para vencer, patrocinando e estimulando a difamação e até a violência física, não são o que parecem. A maioria dos comentaristas, políticos ou não, já que a forma dos ataques à Kassab e o papel histórico de Fernando Gabeira tornam o assunto bastante interessante também para outras esferas da opinião pública, tem errado em tratar as tropelias de petistas e peemedebistas nas duas cidades como atitudes pontuais, circunscritas à eleição municipal e movidas em parte pelo acirrado clima político nas duas cidades.

E quem acompanhou essas eleições sabe que o que ocorre no Rio e na capital paulista não é nada singular, algo totalmente fora de padrão, e muito menos localizado. É um método e dos mais perigosos, pois está se instalando na política brasileira, não sem uma ajudazinha esperta dos marqueteiros, esses traiçoeiros peixes-pilotos dos tubarões da política.

Estamos em meio à deformação das eleições municipais, em que a discussão sobre as nossas cidades vale menos que a vida íntima do adversário. E isso nem pode ser visto que como um absurdo, pois o que Marta e Paes fazem não é uma exceção nessas eleições. As perguntinhas capciosas da petista e as difamações contra Gabeira no Rio são condenáveis, sem dúvida, mas nada tem de diferente com o que acontece em vários municípios. Ou não se sabe que nos grotões até se mata pelo voto? Sabe-se menos, pois a mídia brasileira pouco vê além dos horizontes das grandes cidades.

Um modo de fazer política balizado por parâmetros reconhecíveis e aceitos pela classe política e pela sociedade, com padrões equilibrados e democráticos, excluiria de forma natural excessos como a difamação e até a falta de objetividade. Assim, numa sociedade com um equilíbrio democrático razoável, o Nazismo seria uma excrescência, como foi em seu início na Alemanha dos anos 20. Mas e quando o Nazismo se torna a norma? Bem, aí é que está o ovo da serpente.

Não estimulemos a paranóia, mas o que nos espera se os métodos de Marta Suplicy e Eduardo Paes se tornarem normas em nossas eleições?

Uma olhada geral no que aconteceu até aqui revela que os dois se dariam bem em muitos municípios brasileiros. O fato é que não conseguimos estabelecer nenhuma conduta unânime no aspecto jurídico e social nestes anos de democracia. Já se vão 23 anos desde o fim da Ditadura Militar. Alguns acham pouco para a construção de uma democracia de qualidade, eu vejo como um tempo suficiente para que os brasileiros já tivessem alguma vergonha na cara. Mas a realidade é que não foi o suficiente para obetermos eleições limpas e de qualidade.

Do jeito que a coisa está, não é preciso muito para que a loucura se torne a norma, ainda mais quando uma das forças políticas mais importantes da nossa República, o PT, têm contribuído com um esforço enorme para trancar os sãos no hospício e instalar o domínio da demência política aqui fora.

E os dois expoentes desse problema, Paes e Marta, só estão sob foco pelo fato de estarem fazendo absurdos em um segundo turno com poucos candidatos e, por isso, com maior visibilidade de cada um. Com já disse, o primeiro turno em várias cidades brasileiras não foi muito diferente do que vemos agora no Rio e em São Paulo.

Na fase em que estamos da vida evidentemente seria bobagem exigir que as campanhas não fossem feitas com dissimulação, traço destacado da política e até do comportamento humano. Mas a verdade é que nossos políticos avançaram além até da dissimulação e adotam um vale-tudo no qual até mesmo aquilo que estrutura suas próprias carreiras deixa de ter valor moral, para ser moeda de troca ou até para ser jogado no lixo da História, como fez a candidata do PT.
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POR José Pires

A História como piada

Os dois exemplos de baixaria, o do Rio e de São Paulo, são sintomas de uma crise nacional muito bem revelada nessas eleições municipais. Em sua cidade os problemas do município foram discutidos de forma objetiva? Se foi assim, sorte sua e de seus concidadãos, mas não saia dizendo isso por aí, pois na maioria das cidades brasileiras vão te chamar de mentiroso.

Vejamos o caso de Paes e Marta. O candidato do Rio é sabidamente um emergente da política e que pode ser definido como um trânsfuga da política, pois sai deste para aquele partido sem importar-se nem um pouco se ambos são adversários históricos. No plano nacional, de Paes também sabíamos apenas sobre sua participação na CPI dos Correios e sua aversão ao presidente Lula. Sem a projeção que os tucanos lhe deram, o deputado seria mais um do chamado “baixo clero” da política. Mas mesmo o papel combativo que ele teve na CPI foi jogado fora com uma carta de pedido de perdão.

Caso perca a eleição no Rio é pouco provável que Paes consiga chamar a atenção de modo sério em suas futuras atividades. Aí sim se encaixará no baixo clero da política, historicamente ao lado de um Severino e outros da mesma laia. Paes nunca foi grande porcaria, mas isso não diminue a gravidade política do que anda fazendo. O candidato foi até recentemente líder de um dos partidos brasileiros mais importantes, o PSDB, o que é um demonstrativo da seriedade com que os nossos grandes partidos constroem suas hieraquias..

Já Marta Suplicy é liderança histórica do PT, de cuja importância não é preciso falar. É o partido do poder federal e sobre o qual durante muitos anos a população depositou a esperança no surgimento de um modo de fazer política, senão competente, mas ao menos ético. E o PT decepcionou nas duas frentes. Deformar o passado para se amoldar às conveniências da luta pelo poder começou com Lula, mas uma boa olhada nessas eleições municipais em todo o país mostra que essa característica é acatada pelos petistas como um princípio estatutário.

Os ataques de Marta à Kassab aparentemente não deram certo. Tudo indica que ela perde esta eleição. Ou, se não perder, queimou a substância essencial da construção de sua personalidade pública e até pessoal: a da tolerância e respeito pelas diferenças.

Mas como os partidos políticos têm como responsabilidade básica a construção de normas sociais e até políticas, é sempre bom perguntar também pelo que não deu certo. Táticas eleitorais podem dar bons ou maus resultados para a sociedade. Quem se responsabiliza pelos maus? E se os ataques dessem certo e a população não votasse em Kassab porque ele não é casado e não tem filhos? O que sairia disso?

A homofobia certamente seria fortalecida e isso não é pouco, afinal pessoas são agredidas e até mortas por isso. Mas além disso, teríamos uma substancial fortalecimento do pensamento conservador, uma tarefa exatamente contrária ao que é esperado não só de Marta Suplicy como também de seu partido. Vindo do PT isso é mais uma grande traição, mas com sentido pior em São Paulo, cujo eleitorado sempre se preveniu quanto a isso em relação à Paulo Maluf. E vieram os petistas pelas costas. Tem aquele frase marxista da "história se repetindo como farsa". Pois o PT fez dela piada.

Kassab pode vencer, Gabeira também pode ser prefeito do Rio. É isso que espero, até para derrotar este tipo de atitude nefasta em política. Mas que ninguém pense que a vitória sobre este modo agressivo e desonesto de fazer política esteja embutida na derrota dos dois sacripantas, o do PMDB e a do PT.

Uma visão abrangente sobre estas eleições municipais mostra que o que aconteceu em São Paulo e no Rio infelizmente é a norma geral. E aqui a história também se inverte. E ainda parece piada, mas teremos que fazer como Marta Suplicy e seu partido, e alterar o sentido histórico de nossas lutas: agora teremos que agir para estabelecer a exceção.
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POR José Pires

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Vencer e vencer

Coisas estranhas acontecem no Rio de Janeiro. Na semana passada, em debate na televisão, o candidato do PV, Fernando Gabeira, disse que seu adversário do PMDB, Eduardo Paes, queria ganhar a qualquer preço. Gabeira se referia ao clima agressivo imposto pelo adversário na eleição do Rio de Janeiro. O que ocorre no Rio lembra bastante o "vencer ou vencer" de Collor de Mello.

Os ataques à Gabeira, com panfletos apócrifos e, agora, até com agressões, estão fazendo da eleição para a prefeitura carioca uma guerra, de forma unilateral pois a candidatura do PV é a única atacada. Gabeira mal tem dinheiro para a própria propaganda e não é de seu feitio mandar imprimir material apócrifo.

O mais estranho é que os panfletos difamatórios aparecem em tudos os cantos da cidade mas Paes nada tem a ver com eles. Mesmo quando surgem em comitês do peemedebista. A única explicação então é que um ser misterioso, talvez até de outro mundo, esteja fazendo o maior esforço pela vitória de Paes na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro.

Ontem o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) apreendeu no comitê de Paes, em Bangu, 15 panfletos com o título “Gabeira ofende a zona oeste”. No local havia também adesivos contra o candidato do PV. Imediatamente Paes negou que o comitê fosse dele.

Bem, como apenas dois candidatos disputam o segundo turno, então tem alguém, talvez o ser do outro mundo, dando para Paes uma mãozinha − bem pesada, diga-se.

E seria muito bom que este ser fosse logo encontrado, pois o teor agressivo está subindo. Ontem repórteres da Folha de S. Paulo presenciaram militantes de Paes atacando com pedras carros com adesivos de Gabeira. A agressão era comandada por um coordenador de campanha do candidato do PMDB. E claro que Paes nada tem a ver com isso.

E hoje em seu blog, o jornalista Ricardo Noblat informa que as duas filhas de Gabeira estão sendo ameaçadas. Elas começaram a ser seguidas por gente estranha e por isso foram aconselhadas por oficiais do BOPE a ficar em casa até o dia da eleição. Esses oficiais também se ofereceram para cuidar da segurança delas.

E nem adianta a imprensa ir atrás do candidato Eduardo Paes, o único beneficiado com o que anda acontecendo, pois ele evidentemente deve negar qualquer influência no acirramento do clima de agressividade na eleição do Rio.

Mas então onde estará o culpado? Para desvendar o mistério, a imprensa terá de descobrir o ser misterioso que quer ver Paes na prefeitura de qualquer jeito.
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POR José Pires

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A taxa de coxinha de Marta

A campanha de Gilberto Kassab conseguiu fazer colar em Marta Suplicy a imagem de prefeita das taxas. Isso foi feito de forma muito bem elaborada e até com humor em sua campanha de rádio e televisão, mas a obsessão da administração petista pelas taxas permite bastante a gozação.

No debate transmitido pela TV Record neste domingo Kassab falou sobre uma tal de “taxa de coxinha”, no que parecia ser mais uma ironia com a adversária.
Mas, por mais estranho que seja, a taxa de fato existiu. E Marta confessou isso no próprio debate.

Era um projeto de lei do Executivo que previa multas para o funcionamento irregular de atividades diversas em residências. Marta retirou o projeto em novembro de 2007, mas já era tarde. Aí então ele já tinha ganhado até apelido: “taxa da cozinha”.
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POR José Pires

Duas belezuras: Marta e Nicéa Pitta

Ao que parece Marta Suplicy tomou gosto pela coisa e ainda chafurda-se na lama. Os meios políticos comentam que sua campanha já gravou um depoimento de Nicéa Pitta, ex-mulher de Celso Pita, com ataques ao candidato Gilberto Kassab. O que se informa é que pretendem usá-la no final.

A história que corria nos bastidores cresceu um pouco mais com a entrada em cena do senador Eduardo Suplicy, que ontem revelou uma estranha conversa recente entre ele e a ex- mulher de Pitta. Fazendo-se se de sonso como sempre, Suplicy disse que Nicéa Pitta lhe telefonou oferecendo e colocando à diposição da campanha petista ”documento, ou uma gravação, relativa ao prefeito Gilberto Kassab”. O senador afirma que recusou a oferta e que ela também não pediu pagamento pela informação.

Mas tem outra figura que enreda ainda mais o partido do presidente Lula na trama da suposta gravação com Nilcéa Pitta. Na mesma matéria que saiu hoje em seu site, a Folha de S. Paulo, informa que Nicéa Pitta mora desde o mês passado no apartamento de Roberto Carlos Kurzweil, empresário investigado pela CPI dos Bingos. 


Ligado ao ex-ministro e atual deputado Antonio Palocci, Kurzweil esteve envolvido na história dos dólares que, segundo a revista Veja, teriam sido enviado de Cuba para o PT. Ele é o empresário que alugou o Ômega blindado para o PT, carro que teria sido usado para transportar o dinheiro. O empresário também teria obtido de angolanos R$ 1  milhão para a campanha do presidente Lula.

A cúpula do PT e a coordenação da campanha petista evidentemente negam qualquer contato com Nicéa Pitta ou que exista a tal gravação, mas o fato é que, pelo nível revelado pelos petistas nessa disputa, não haverá surpresa alguma se antes do final do horário eleitoral nesta campanha aparacer até a mãe de Lurian, a filha de Lula.

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POR José Pires

Quiproquó na publicidade brasileira

Na habilidade para esconder as sujeiras da profissão, publicitário é melhor que médico. Raramente eles expõem as contradições profissionais ou discutem com seriedade os desvios éticos de seu meio. Mas agora surgiu uma briga boa na publicidade brasileira, com pontificações de qualidade e até algumas verdades sobre uma figura conhecida, Nizan Guanaes, o marqueteiro de Fernando Henrique Cardoso e também eficiente marqueteiro de sua própria imagem.

O quiproquó envolve Guanaes, dono da agência Áfica e Fábio Fernandes, presidente da F/Nazca, que andaram se estranhando em um debate público. Logo depois, a rusga foi parar na internet, de forma muito mais interessante, por meio de um e-mail que Fernandes mandou aos seus funcionários para esclarecer os motivos da briga.

Não sigo vida de publicitário, a não ser uma sapeadas neste ou naquele site de informação sobre o meio. É difícil pescar algo que preste, já que até a mídia informativa da publicidade tem uma queda pela encenação e a exaltação do pitoresco. Aliás, Nizan Guanes não é peça adorada exatamente por manipular com habilidade este gosto vil?

A discussão entre os dois, Guanaes e Fernandes, parece vir de longe, de visões diferentes sobre a condução das atividades publicitárias, mas também surge no meio o temível toque da crise econômica. Antes mesmo da "marolinha" de Lula, a crise já era uma preocupação na área publicitária. O debate foi no Maximidia, evento publicitário ocorrido há menos de duas semanas.

Um discurso de Guanaes sobre a crise no setor levou Fernandes a pedir a palavra e criticar o colega pelo pessimismo. Os dois estavam na mesa. Fernandes aproveitou para acusarGuanaes de ser “responsável em grande parte pelo que está acontecendo", em razão de seu modo de atuação no mercado.

Na discussão durante o evento entrou inclusive lavagem de roupas sujas nas relações profissionais entre ambos, coisa que, como se sabe, não há Omo que dê jeito, de modo que o debate teve que ser encerrado pelo mediador.

Desconheço o presidente da F/Nazca, o que depõe a favor dele, já que desconfio de publicitário que sai demais na imprensa em atividades extra-profissionais. Se eu fosse um grande empresário, um critério essencial para contratar uma agência seria fazer uma pesquisa aprofundada nas edições da revista Caras e outras dessas revistas porcarias com fotos de gente famosa em sair em revista de gente supostamente famosa. Se o publicitário saiu lá, não contrataria de jeito nenhum. A não ser, é claro, com um álibi muito bom. Washington Olivetto já não foi seqüestrado? Pois é, vai que o cara tenha sido seqüestrado e levado para a "Ilha de Caras"? Aí daria para relevar.

Não sei se Fernandes já saiu na Caras, mas o Nizan Guanes sem dúvida é habitué. E nem é preciso folhear a revista por dentro: ele sai na capa. Está certo: o publicitário é pura festa. Não tem o "Homem do Ano" da Time? O Nizan Guanaes é o "Homem da Caras". E também de muito carnaval, claro.

No carnaval passado Guanaes, aliás, como é do seu costume, festou bastante em Salvador. Lá, seu camarote já é parte da folia. Como a mídia brasileira é frouxa intelectualmente e nossas redações estão tomadas por indivíduos deslumbrados e caçadores de boquinhas, ele sabe que isso é uma tática certeira para ocupar espaço na televisão, no rádio e até na mídia impressa, que pelo jeito cedeu ao “estilo caras” de editar e viver.

Para seu camarote em Salvador − e acho que também no Rio − veio Naomi Campbell. Quem é? Posa como modelo, mas não é só isso, claro. É uma personalidade, em um nível semelhante ao de Paris Hilton, esse tipo de gente cuja única sustentação para ser famoso é exatamente ser famoso. Está aí moto-contínuo da inutilidade e da exaltação de personalidades sem nenhum conteúdo.

Naomi Campbell veio à festa de Guanaes, mas não foi de graça. Teve cachê e muito bem pago. Nesse mundo as coisas se processam desse modo, mais ou menos como se faz em famílias ricas, que contratam ator global para dançar com a filha na festa de quinze anos. Gente como Nizan Guanaes vive eternamente estes quinze anos.

Mas a maior parte das pessoas não fica sabendo que a modelo famosa veio à África de Guanaes pelo cachê. Isso sai publicado bem escondido, quando sai. E assim o publicitário vai escrevendo e fazendo o público engolir sua falsa lenda de descolado e amigo de celebridades.

Mas vamos ao e-mail de Fernandes. É uma peça histórica da publicidade brasileira. Um retrato sem rebuscamentos de Nizan Guanaes. Veja abaixo alguns trechos diretos sobre ele. É meio longo, mas, sem brincadeira, é mesmo uma peça importante na discussão sobre a publicidade brasileira. O e-mail de Fernandes está na íntegra em nossos arquivos. Quem quiser ler, clique aqui. Não quero parecer sensacionalista e muito menos ser confundido com estes blogueiros que fazem de tudo para aumentar o número de acessos, mas no e-mail tem até ameaça de tapa na cara. Corram pra lá.

"Nunca escondi - nem dele - que o acho vil, pernicioso à nossa indústria, predador, oportunista, aproveitador, manipulador. Nunca deixei de observar e comentar que todo o tempo em que ele esteve criador, foi um tempo que ele utilizou apenas para forjar um personagem que, com tino e capacidade de observação, o levaria a ter seu próprio negócio, onde ele reproduziria não aquilo que ele almejou como empregado mas, ao contrário, os piores modelos, os piores ambientes internos, piores lugares comuns, entre todas as agencias em que ele trabalhou. Desde que isso, convenientemente, implicasse em fazê-lo mais forte, mais rico, mais poderoso."

"Caricatura de ser humano, dublê de político populista e novo-rico deslumbrado, comediante de frases de efeito repetidas à exaustão, arremedo de empresário anti-ético e criativo anti-estético."


"Nizan é um caso típico de uma pessoa que quanto mais tem mais quer. E que, quanto mais quer, menos mede esforços e as consequências nefastas dos atos que ele pratica, para ter mais."

"Se fosse presidente dos EUA não seria em nada diferente de Bush - só o discurso seria mais engraçado. Mas invadiria o Iraque, deportaria estrangeiros, perseguiria minorias, poluiria a atmosfera."

"Mas a minha questão mais vital em relação a ele, é o fato de que - queira eu ou não - ele se transformou em uma celebridade da propaganda brasileira. Os incautos, os bobos da corte, os novatos, os leigos, os incultos, clientes inclusive, publicitários inclusive, imprensa, principalmente, inclusive, o acham o máximo."

"Mas eu sei quem é Nizan. É um demagogo. Ele sabe bem que o discurso do tradicionalismo, do conservadorismo, da mediocridade, da pasteurização agrada em cheio a uma imensa gama de bundões de plantão que preferem demitir do que investir."

"De quebra, ele ainda usa todo o seu arsenal de repetidores e baba-ovos da imprensa e arredores para confirmar que um monte de estrume na verdade é um pote de ouro."

"Não é à toa que ele está tão preocupado com a crise de liquidez que todos vamos enfrentar nos próximos tempos. Ele sabe que o dinheiro, quanto mais valioso e raro fica, melhor tem que ser aplicado. E, com menos dinheiro, é a inteligência o que a propaganda vai voltar a exigir."

"Ou seja: o modelo de negócio dele desmoronou. A festa acabou para quem não passava de vendedor de um montão de espaço na mídia e começou para quem tem o Que e o Como dizer nesse espaço, que será inevitavelmente menor."
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POR José Pires

Entregando a fonte

Sabia do debate no Maximidia e do quiproquó entre Fernandes e Guanaes, mas tive conhecimento do e-mail interno no blog Catarro Verde, que nada esconde de seus leitores. Foi lá que peguei a íntegra do e-mail.
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POR José Pires

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Data insigne

O presidente Lula quer criar o "Dia da Hipocrisia". Foi o que ele disse em comício da candidata Marta Suplicy em São Paulo. Lula entra no esquema criado para tentar distorcer o sentido da polêmica criada pela peça de campanha da petista contra o adversário Gilberto Kassab. Na peça publicitária fazem a notória pergunta sobre o estado civil de Kassab. Com ela o petismo instituiu a exigência política mais singular que já se viu nesta terra: candidato bom é candidato casado e com filhos.

O ataque foi um desastre, o chamado tiro no pé. O ricocheteio foi tão sério que atingiu até a história pessoal de Marta, que fez carreira com um perfil bastante progressita na área do comportamento.
Mas também no terreno da indelicadeza a candidata tem um interessante histórico. O episódio do "relaxa e goza", uma de suas grossuras mais famosas, pode até ser justificado como sendo um lapso verbal (não que eu pense assim; para mim é falha de caráter mesmo), uma frase infeliz sem intenção maldosa. Porém, o comercial contra Kassab é uma peça elaborada por profissionais, certamente baseada em ponderadas discussões políticas e estratégicas. E depois de produzidas, sabemos muito bem que propagandas como essa são analisadas minuciosamente antes de ir para o ar.

O que foi feito é indesculpável. E até piora a situação o pretenso desconhecimento alegado pela candidata, que afirmou nada saber sobre o comercial antes dele ser veiculado e produzir toda essa polêmica. Se ela tem esse nível de desconhecimento sobre fatos tão importantes, tomara que o eleitorado paulistano tenha a sabedoria de desfechar-lhe um potente pontapé eleitoral no traseiro.

Após o desastre, a tática é inverter o foco da questão. Para isso, os petistas tentam vender a história de que Marta Suplicy é que é vítima de preconceito. Também não está pegando, mas ontem Lula entrou com tudo na farsa. Bem ao seu estilo, disse que "quando nós tínhamos preconceito ela já estava na TV Mulher defendendo as minorias".

O Supremo Apedeuta se refere à participação de Marta no programa TV Mulher, da TV Globo, onde ela tinha um quadro sobre assuntos sexuais. O "nós tínhamos preconceito" pode até ser uma involuntária autocrítica, pois na época Lula era de fato preconceituoso e não só em relação aos homossexuais. Mas isso era problema dele. Muita gente na época lutava contra o preconceito. Não era só Marta Suplicy. A diferença é que hoe muita gente também não inverte sua posição política pela ambição de ganhar o poder.

No comício petista, Lula teve a idéia de criar o "Dia da Hipocrisia". "Ainda vou criar o dia da hipocrisia nesse país", ele disse. É excelente idéia. E na minha opinião, há tempo para o dia ser comemorado em 2008 e ainda neste mês de outubro.

O "Dia da Hipocrisia" pode ser no dia 27 de outubro, data de nascimento de Lula. Acho que nunca neste país se viu homenagem tão apropriada.
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POR José Pires

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Custo alto

A eleição no Rio de Janeiro descambou de vez para a baixaria. Apenas de um dos lados, claro, pois a boataria e os panfletos apócrifos focam um único alvo: Fernando Gabeira. E considerando que no caso da baixaria surtir efeito eleitoral agora só beneficiaria um único candidato não fica difícil saber de onde vem a sujeira.

Só Eduardo Paes tem a ganhar com folhetos apócrifos com variadas mentiras ou com a boataria que tenta propagar, por exemplo, que caso se eleja prefeito, Gabeira vai colocar maconha na merenda das crianças. Então quem poderia estar aprontando para favorecê-lo?

Talvez o candidato republicano John McCain? É difícil, muito difícil que ele tenha tempo para isso. Com tantas para aprontar com Barack Obama, McCain com certeza não pode se ocupar com baixarias neste lado do planeta.

Mas Gabeira não se exaspera. Mantém o comportamento equilibrado com o qual entrou na eleição. E continua tinindo nos debates. No último domingo, em debate na Rede Bandeirantes, disse para o adversário Paes: “Eu não quero ganhar a eleição a qualquer preço. Você quer”.
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POR José Pires

Comendo mosca

Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo seria mesmo um grande risco para os paulistanos. E não sou eu quem diz. Foi ela mesmo que deixou isso claro ontem, com uma afirmação sua. A candidata petista disse à imprensa que somente ontem viu a peça de propaganda política de sua campanha com perguntas estranhas ao candidato Gilberto Kassab.

Todo mundo já sabe do que estou falando. Menos ela, claro. Em veiculação há dias, a peça tem causado um estrago danado na biografia da petista e exatamente em um setor, o do comportamento, onde ela ainda não havia demonstrado incoerência e falsidade. Mas ela só foi ver o material ontem.

Marta segue o modelo usual do petismo, o de que não sabia de nada, mas aqui o exagero é excessivo até em relação às justificativas de Lula. O presidente não sabia o que assessores próximos e altos dirigentes petistas estavam fazendo. E Marta desconhece até a propaganda política que seu marqueteiro está colocando no ar.

É, está mesmo comprovado: ela não pode ser prefeita. Uma prefeita desatenta desse jeito iria ser uma desgraça para São Paulo.
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POR José Pires

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Negócio de ocasião


Vende-se Kombi usada. Ano 2004, em excelente estado, pertenceu a apenas dois donos. Tratar com Marta Suplicy, Partido dos Trabalhadores, São Paulo, capital, ou com Paulo Maluf, na mesma cidade.
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POR José Pires

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Mais um pedido de perdão

O ministro Roberto Mangabeira Unger tem ao menos algo do que se orgulhar na sua adesão ao governo Lula. E um trunfo intelectual, por certo, já que com seu pedido de perdão pelos insultos que fez à Lula, ele parece ter inaugurado uma atitude na política brasileira que parece ter vindo para ficar. Mangabeira havia escrito em um artigo que Lula chefiava o governo mais corrupto da história brasileira. Agora está no governo Lula, não sem antes pedir perdão ao chefe.

E Mangabeira já tem seguidores, ou pelo menos um seguidor, e dos mais ilustres. É o candidato do PMDB à prefeitura do Rio, Eduardo Paes.

Na última terça-feira Paes se encontrou às escondidas com Lula e disse que errou ao fazer ataques pessoais em 2005, quando integrava a CPI dos Correios. Paes estava acompanhado pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, e entregou uma carta com um pedido de desculpas.

Na CPI dos Correios, Paes disse que Lula era “chefe da quadrilha” do mensalão. Ele foi um dos que insistiram, sem sucesso, para que no relatório final da CPI constasse o nome de Lula e também de seu filho Fábio Luiz, o Lulinha dono da Gamecorp. Na época o candidato era deputado da bancada do PSDB. Ele já trocou de partido várias vezes: já esteve no PSDB, PV, PFL, PTB e agora está no PMDB.

Agora Paes se arrependeu de tudo e até documentou a falta de coerência com uma carta. É mais uma realização do governo Lula. A falta de coerência não é novidade em nossa classe política. Aliás, é uma regra. A diferença é que, com Lula, foi instituída a formalização da hipocrisia.
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POR José Pires

Enfim, a carta

A carta de Eduardo Paes não foi divulgada. É pena. É um documento para ficar ao lado do pedido de desculpas de Mangabeira Unger, os dois juntinhos na História, naquele setor grafado como "lixo".

Lula ou o compungido missivista ainda não tornaram público o texto, mas o prefeito César Maia trouxe hoje em seu Ex-blog, o famoso correio eletrônico que envia pela internet, um modelo daquilo que poderia ter saído da arrependida pena de Eduardo Paes. Veja abaixo.

“Estimado Titio Lula,

Receba esta cartinha que expressa bem o que é o meu caráter. As seis vezes que mudei de partido são prova de minha instabilidade emocional. Foi por esta instabilidade emocional que falei o que falei a seu respeito, Titio, na CPI do mensalão. Quero jurar de pés juntos que não acho mais que você é chefe da quadrilha que operava o mensalão. Se foi, Titio, tenho certeza que você se arrependeu e nunca mais será chefe da quadrilha do mensalão. Deixo aqui meus votos (leia bem, Titio, votos) de que tudo esteja indo bem com você e com o Lulinha, seu filhinho que acusei de fazer negociata com empresa de telefonia. Tenho a certeza que ele não fará mais.

De seu arrependido sobrinho,

Dudu -upa-upa.”

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POR José Pires

Geopolítica

O presidente Lula está fulo da vida com o presidente Rafael Correa, do Equador. Ontem o governo equatoriano confirmou a expulsão da empreiteira Odebrecht. Acontece que Lula e Correa se encontraram em Manaus em 30 de setembro e as coisas aparentemente haviam se acertado, inclusive com o governo petista cedendo em questões que interessam ao Equador.

É como Lula tem feito em sua “política externa da solidariedade diplomática”. Sempre para aparentar ao mundo uma liderança na América Latina, algo que os fatos demonstram que ele não tem.

Mas vou ajudar, para não dizerem que só critico. Como Lula está muito descontente com o colega Rafael Correa existe o risco de ele acordar invocado e chamar a imprensa para ameaçar com tropas na fronteira com o Equador. É bom algum assessor preventivamente avisá-lo de que o Brasil não faz fronteira com o país desse ingrato.
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POR José Pires

Mais uma do Gabeira

Fernando Gabeira deveria disputar mais eleições majoritárias. Ele traz inteligência ao debate. Inteligência e frases boas. E notem que ele está na terra do César Maia, outro que está sempre tinindo em discussões políticas.

Vejam que citei dois políticos quase que antípodas politicamente, para deixar claro que estou interessado basicamente na linguagem, isso para evitar que me acusem de estar torcendo para o Gabeira. Ou me acusarem de ser um verde, já que até me caluniaram dizendo que sou tucano. Apesar de que, citando Maia, ainda podem me acusar de ser do DEM. Mas aí acho que abre espaço para um processo de calúnia.

Mas vamos à nova do Gabeira. Em debate no jornal O Globo o candidato Eduardo Paes veio com aquela conversa demagógica de que sempre se preparou para ser prefeito, papo manjado e que está mais para candidato dos grotões, mas cada um debate com o que tem. Paes disse que deseja ser prefeito desde que entrou na vida pública.

Então Gabeira disse que ele não se preparou ao longo de sua trajetória política para ser prefeito do Rio. Leia toda a fala: “Sei que Paes sempre se preparou para ser prefeito, a vida inteira. E eu me preparei a vida inteira para a vida inteira”.
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POR José Pires

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Fala o FMI

Ô boca. Anteontem Lula criticou o Fundo Monetário Internacional (FMI) pela falta de atuação na crise. “Cadê o FMI agora?”, ele cobrou. Pois o FMI apareceu. Agora há pouco seu diretor-geral, Dominique Strauss-Kahn, disse que “o Brasil será atingido pela crise financeira global”.

Ele fez a diplomática ressalva sobre os “fortes fundamentos econômicos do País” e blá, blá, blá, mas disse o que Lula não quer ouvir: que a crise bate forte por aqui. Mas também quem mandou perguntar?
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POR José Pires

Pérolas políticas

Fernando Gabeira ainda penava na rabeira da eleição no Rio de Janeiro, quando talvez nem ele acreditasse em algum resultado favorável, mas mantinha a boa performance de sempre. Destaquei aqui nos primeiros dias de setembro que ele já havia feito a melhor frase da eleição do Rio de Janeiro. E sua frase ainda é a melhor e não só do Rio. “"Ganhar eleição já é difícil. Imagine ganhar contra a máquina municipal, a estadual, a federal e a Universal", ele dizia então. A máquina Universal está lá trás toda destrambelhada. A frase e o autor ficaram.

De lá pra cá muita coisa foi dita, mas se tivemos uma eleição já pobre em idéias, que dirá em frases, mesmo que pitorescas. O que será da política brasileira, que nem pitoresca é mais? Há poucas frases boas e muito menos sacadas inteligentes como a de Gabeira. Está certo que Lula, como sempre também, fez muito esforço, mas nele a gente nem presta mais atenção. O homem é um portento como personalidade pitoresca. No começo de seu primeiro mandato até comecei a colecionar suas bobajadas, mas parei logo porque era um serviço interminável. Eu parecia um gari recolhendo suas bobices.

E, também, se continuasse com o projeto hoje eu teria volumes de suas batatadas, uma enciclopédia de lulices. E neste aspecto Lula acaba demonstrando uma falta de esperteza que lhe sobra em outras áreas. Alguém devia aconselhar o Supremo Apedeuta a economizar besteiras e distribuí-las em marolinhas e não em forma de maremotos. Na profusão com que saem de sua boca elas perdem peso na história política. Nunca neste país um líder político banalizou tanto... a banalidade.

Falastrão como é, Lula age como especulador às avessas na administração de seu capital. Com o excesso de oferta ele acaba desvalorizando suas pérolas.
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POR José Pires

Trombando no poste

No quesito “frases” ninguém tira o troféu do Gabeira, mas tem uma muito boa que saiu da boca do presidente Lula − e não é que ele é? − no dia votação do primeiro turno. Nem é pela frase em si, mas é que ela acabou sendo realçada pelo contexto.

No dia 12 de setembro o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, informava à Folha de S. Paulo que Lula estava “muito entusiasmado” com Marta Suplicy e que dava apara ela “ganhar no primeiro turno”. Isso era quando ele achava que podia eleger até um poste se quisesse. Logo ficou comprovado que o tal poste não iria nem para o segundo turno, como ocorreu com candidatos seus nesta eleição.

Mais tarde, votando em São Bernardo do Campo, Lula pensava que já tinha tido contato com a realidade eleitoral da capital paulista, mas ainda se enganava bastante. "Obviamente que numa eleição com três candidatos disputando, a Marta sair em primeiro lugar no primeiro turno já é uma coisa extraordinária", ele falou para a imprensa.

Disse também que ela ganha no segundo turno. Mas então o nosso eleitor de poste já havia deixado de ser uma fonte confiável para a análise do quadro da eleição para a Prefeitura de São Paulo.
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POR José Pires

Ainda Gabeira na cabeça

Agora o governador de São Paulo também começou a fazer frases. Permaneceu calado no primeiro turno. Calado pra chuchu, eu diria. Mas já iniciou bem no segundo turno.

Sua entrada na campanha de Kassab foi com uma cutucada irônica à proposta de Marta Suplicy para o metrô paulistano: “O que pensei em dizer a Marta Suplicy, no primeiro turno, mas me contive? Se eu fosse o Cesar Maia, que opina, até de forma bem interessante, sobre as campanhas adversárias, teria aconselhado que ela não acreditasse nessas propostas sem pé nem cabeça sobre o metrô que seus assessores estão lhe empurrando. Só vão minar sua credibilidade",

É um bom começo, mas ainda não é páreo para Gabeira com sua frase sobre as dificuldades do início da campanha. Neste campeonato ele continua na cabeça. E o próprio Gabeira já mostrou brilho também neste início de campanha em um breve confronto com Eduardo Paes, seu adversário na disputa pela prefeitura carioca.

Ontem Gabeira propôs a redução do tempo de propaganda eleitoral na TV de dez para cinco minutos, uma ótima sugestão já que um tempo tão longo tende mais a chatear que informar o eleitor.

Tentando mostrar-se esperto, Paes perguntou: “Diminuir por quê? Ele não tem propostas? E Gabeira respondeu de pronto e com pontaria certeira: “Não é falta de propostas. Eu tenho muitas propostas. Só que eu tenho capacidade de dizê-las em tempo menor".

É, Gabeira pode até perder a prefeitura, mas a melhor frase vai acabar sendo mesmo a dele.
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POR José Pires

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Tropeçando na largada

O bom da internet é que a gente não corre o risco de acordar com má notícia e muito menos ir dormir sem uma notícia boa. A Folha de S. Paulo publica amanhã uma pesquisa do Datafolha sobre o segundo turno da eleição para a prefeitura paulistana. A boa nova é que Marta Suplicy não precisa acordar amanhã com uma má notícia. Ela já deve estar sabendo.

A pesquisa mostra que Gilberto Kassab ampliou a distância sobre a petista. Kassab aparecerá com 54% e Marta Suplicy, que já entra caindo no segundo turno, com 37%. E os companheiros da candidata petista certamente também já sentiam algo no ar, pois há alguns dias que eles vêm fazendo um esforço considerável para desvincular a imagem de Lula da provável derrota em São Paulo.

Ontem o presidente do partido, Ricardo Berzoini, dizia o seguinte: “Sempre fui cuidadoso com as avaliações de transferência de votos do presidente Lula. É lógico que a popularidade dele ajuda, mas sempre disse que no Brasil não há tradição de transferência”.

E são os mesmo que, animados com a alta popularidade de Lula, diziam que ele seria capaz de eleger até um poste. Com a queda gradativa de Marta Suplicy nas pesquisas a conversa começa a mudar. Se não fosse já um hábito conhecido, esse de petista se desdizer na maior cara-de-pau, até seria de se estranhar.
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POR José Pires

Ah, que delícia de crise

Essa crise cansa a gente. Deve ter sido isso que pensaram os executivos da seguradora AIG quando sairam para uma semana de férias luxuosas logo depois de da empresa receber uma bolada do Federal Reserve Bak (FED), o BC norte-americano.

A AIG recebeu U$ 85 bilhões do FED em 16 de setembro, no início da crise. Poucos dias depois os executivos estavam na farra em um hotel da Califórnia, em que os quartos custam até U$ 1 mil por noite. Foi o presidente do Comitê de Supervisão e de Reformas do Governo da Câmara dos Representantes, o democrata Henry Waxman, quem denunciou o fato, informando que os executivos gastaram mais de U$ 440 mil em apenas uma semana.

Ontem, no debate com o republicano John McCain, o candidato democrata Barack Obama referiu-se ao caso dizendo que “o Tesouro tem que reclamar este dinheiro de volta e fazer que estes executivos sejam despedidos”. McCain foi mal no debate e, também, com fatos como esse ocorrendo, nem que o candidato republicano estivesse tinindo em retórica. Um conteúdo desses mata qualquer um.

A expressão "herança maldita" só não apareceu na campanha por que McCain não é brasileiro. Nesse caso ele faria como Alckmin, o Geraldo, na eleição para presidente do Brasil, e participaria com o oponente Obama na crítica ao governo Bush. FHC, coitado, apanhou pra chuchu e inclusive do Chuchu. Mas parece que norte-americano não é assim.

O recado de Obama é claro: se fosse ele o presidente, o Tesouro iria atrás desse dinheiro. McCain, claro, não pode afirmar algo assim, já que sua plataforma econômica é baseada no dogma da capacidade intrínseca do mercado em renovar-se e alcançar por si a salvação econômica.

E o comportamento do mercado tem sido bem parecido ao que fizeram os executivos da AIG: uma farra da pesada. E parece que a intenção é que a ressaca fique inteirinha para quem não participou da festa.
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POR José Pires

No país dos petralhas

O jornalista Reinaldo Azevedo publicou há algumas semanas o seu esperado livro “O País dos Petralhas”. O que posso dizer se não que não li e já gostei? Ou melhor, parte do livro já li com muito gosto, pois em grande parte a edição é resultado de uma compilação de textos de seu blog, um dos mais importantes da internet brasileira.

O livro foi lançado ontem em São Paulo na Livraria Cultura, em São Paulo, com sucesso merecido. A foto ilustrativa roubei do blog dele que, por sua vez roubou do blog de Barbara Gancia − como os petistas dizem quando são pegos em flagrante, ladrão que rouba... O monte de gente com o mesmo modelo de chapéu na cabeça se deve a uma ótima idéia promocional da editora que distribuiu aos convidados chapéus iguais ao que Reinaldo Azevedo passou a usar depois que foi operado de câncer na cabeça. Para azar dos petralhas, eram benignos.

Não li e já gostei não por alguma incondicional adesão ao pensamento político do autor. Nada disso. Reinaldo Azevedo atrai muita discussão e incompatibilidades idem. Não fosse assim e seu blog não teria alcançado a expressão que tem hoje, um espaço que, para alguns, é uma brava barricada contra a instrumentalização do Estado pelo PT, e que para outros, muitos deles, é um espaço em que a inteligência e a polêmica estão muito bem representadas. E a ferocidade também. Reinaldo Azevedo não é fácil. Ele pode até odiar a comparação − sempre é melhor ser visto como um Voltaire −, mas é o nosso Marat sem guilhotina.

É admirável o espaço político e profissional conquistado em pouco tempo por Reinaldo Azevedo. Em menos de três anos de atividade, seu blog é uma referência na política e na imprensa brasileira. Tirando as inevitáveis discordâncias neste ou naquele assunto, ciscos em relação ao conteúdo total de seu blog e natural, inclusive, no que ele pretende, as discussões nascidas em seu blog tem sido de extrema importância no combate ao aparelhamento político do Estado pretendido pelos petistas e em suas tentativas para costurar na parca democracia que aí temos retalhos autoritários que favoreçam seus planos para se perenizarem no poder.

E os petistas sabem da importância do que ele vem fazendo. Tanto que o atacam sem trégua − ele e seu amigo Diogo Mainardi, contemplado com um sem par de processos − e tentam criar na internet, na corrente de blogs chapa-branca, uma contra-informação para amenizar os estragos causados quase todo dia na retórica governista.

O título do livro, "O País dos Petralhas" (veja a capa ao lado), vem de um neologismo criado pelo autor, uma sacada política e de linguagem, coisa simples e bem eficiente. Ele juntou as palavras petista e metralha, esta última vinda do bando dos Irmãos Metralhas, dos quadrinhos de Walt Disney, e a primeira vocês sabem de onde. Deu petralha. E, para o horror dos petistas, acabou pegando, como se diz, na veia. Não dá para sangrar o Lula, mas causa um estrago danado e, pior, parece uma expressão que vai ficar.

Como eu já disse, não há como se enganar com o livro: é bom com certeza. Reinaldo Azevedo escreve bem e tem uma capacidade de análise espantosa, demonstrada até em opiniões das quais discordo totalmente, como, por exemplo, o alto apreço pela figura de Bento XVI ou sua contrariedade com as pesquisas de células embrionárias.
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POR José Pires

Dia atarefado

Agenda do Lula. O presidente da República – pois é... ele é – tem um dia corrido hoje. E notem que ele deve estar bastante ocupado, agora que seu governo se convenceu de que é mesmo muito séria a crise financeira que começou nos Estados Unidos e contamina o mundo todo. Não, não é uma "marolinha". E o Brasil nem é uma ilha e muito menos de tranqüilidade. Ah, sim, e para a crise vir dos EUA para cá não tem Oceano Atlântico no meio.

Mas ele começa o dia hoje resolvendo pepinos baianos. Reunião com Geddel Vieira, aquele que o ex-presidente Itamar Franco chamava apropriadamente de “piolho de gabinete”; ou será percevejo?; ou carrapato? Mas são pepinos da política baiana local. Nada como começar o dia com um cafézinho e pepinos baianos.

Depois tem reunião como o ministro dos Transportes, cerimônia de abertura de uma bienal de design, reunião com Luiz Dulci, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República e reunião com o governador de São Paulo, José Serra.

No final do dia tem a entrega do Prêmio Brasil Sorridente, um bom fecho, cá entre nós. É melhor entregar logo o prêmio desse ano. A "marolinha" é na verdade um maremoto. E tudo indica que para o ano que vem vai ser difícil encontrar o Brasil Sorridente.
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POR José Pires

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O marqueteiro explica

Marqueteiro explicando a própria derrota é algo que a gente precisa destacar. Sempre traz alguma coisa engraçada.

Raul Lima, o marqueteiro de Alckmin, o Geraldo, entrou na discussão para dar uma luz sobre o fiasco eleitoral do tucano. Lima, esclareço, é o segundo marqueteiro, aquele que pegou a campanha nas últimas semanas. Nem carecia do esforço, é verdade, pois não é o responsável pela queda. Já pegou o Chuchu em baixa.

Mas vamos ao que ele diz, pois é bem interessante. Segundo ele, Kassab foi confundido com Alckmin pelo eleitor. Lima diz que a campanha de Kassab “juntou sua imagem” à do tucano. Mas vejamos o que ele fala. "Fizemos todo um trabalho para tentar descolar a imagem dele da do Kassab. Na véspera do último programa eleitoral na TV, fizemos uma pesquisa qualitativa e metade do grupo achava que Kassab era candidato do PSDB”, ele disse.

É uma tentativa boa, das melhores, para fugir da sina de marqueteiro, que é a de levar a culpa pela derrota, mas tem pouca lógica política e faz da psicologia uma mera ferramenta de busca de resultado. É o que marqueteiro costuma fazer. Juntam algumas pessoas em uma sala para uma rápida pesquisa de opinião e buscam entender com isso coisas bem mais complexas e com sentido histórico que exigiria muito mais estudo.

Eles também concentram em um período de campanha, coisa de cerca de dois meses, algo que tem um rabo bem mais longo. E essa idéia contaminou até analistas aparentemente capazes. Veja pelos jornais ou na internet o que tem de gente que concentra sua análise no período da campanha eleitoral.

Daí a eles colocarem o Ciro Gomes ficar bem suave na TV ou até a Luciana Genro, do Psol, como aconteceu agora em Porto Alegre onde ela ficou na rabeira da eleição para prefeito, bem, isso é só um passo. Tem outro exemplo muito bom, de quando marqueteiros tentaram raspar o bigode do gaúcho Olívio Dutra em 1998 para ele disputar o governo do Rio Grande do Sul de cara lisa.

Olívio Dutra não permitiu que cortassem seu bigode e venceu aquela eleição. Não foi por manter o bigode, evidentemente, mas se tivesse raspado hoje esta seria uma forte ferramenta de marketing. O cliente está com problemas eleitorais? Corte o bigode.

O trabalho mais importante do marqueteiro é com sua própria imagem. E é claro que eles superestimam seu papel. Mas de que outro modo ganhariam dinheiro? Peguemos um exemplo até comercial, ligado ao show business e na raiz da história do marketing internacional. Ninguém transforma Johnn Lennon em Paul McCartney. Ou vice-versa.

Mas nenhum marqueteiro diria isso para os dois, afinal é um trabalho de apenas dois meses. E muito bem pago. Quando um ou outro perceberem que não deu certo a eleição já acabou.
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POR José Pires

Pro fundo

O problema de Alckmin não tem nada a ver com troca de cara com Kassab. É bem mais antigo. E se houve troca, foi ele que se apossou de algo que não era seu.

A história de Alckmin pode ser resumida como a do cara que esteve na hora certa no lugar certo. Até à morte de Mário Covas, em 2001, de quem ele era vice-governador, foi assim. E também era um processo natural, pelo menos dentro da política paulista.

Depois o tucano só foi para o lugar errado. Parece não ter entendido que até mesmo sua eleição para o governo de São Paulo vinha deste fluxo anterior, originada pela força da imagem de Covas. Aí sim o marqueteiro acertaria se dissesse que aconteceu uma marcante troca de imagens.

Mas depois disso Alckmin não acertou nenhuma. Sempre forçando a barra, era o homem errado, no lugar errado e na hora errada. É o anti-zen, por mais que ele diga o contrário. Teimou bastante para se colocar onde as forças estruturais da política não o conduziam e − nas duas eleições em que se colocou − até mesmo indo contra a realidade política.

Isso não tem nada de zen, claro. É uma subversão dos valores do zen. É uma luta contra a correnteza e não o aproveitamento natural da força do rio. Na verdade, Alckmin está mais para o escorpião que atravessa o rio nas costas do sapo. E desta vez ele afundou de um modo bem feio.

O homem que estava sempre no lugar certo e na hora certa gostou do negócio e pensa que ele mesmo pode produzir tal fenômeno. E não vai parar por aqui, podem ter certeza. E duvido que algum dia Alckmin consiga achar o lugar certo.
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POR José Pires

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Apanhando em casa

Entre os derrotados históricos desta eleição figura com destaque o deputado federal Ciro Gomes. Em Fortaleza, sua candidata e ex-mulher Patricia Saboya ficou em terceiro lugar com 15% dos votos. A petista Luizianne Lins foi reeleita no primeiro turno.

Ciro Gomes evidentemente apostou muito na capital de seu estado, o Ceará, como não podia ser diferente, pois é sua base eleitoral. Na disputa ele até apelou para a grosseria, o que não é novidade vindo dele. Fica para o anedotário político e para a extensa ficha de gafes do deputado a frase em que ele diz que Fortaleza é “um puteiro a céu aberto”.

A derrota acachapante não enterra de vez o sonho de Ciro Gomes em ser presidente da República, mas a situação eleitoral sugere que caso ele resolva disputar tal eleição terá de ter na chapa um vice com uma boa penetração política no Ceará.
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POR José Pires

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Ignorância correta

O pensamento politicamente correto é uma das novidades mais tolas que a esquerda conseguiu implantar mundo afora. No Brasil ainda não pegou de todo, apesar do esforço eleitoreiro de variadas ONGs pretensamente representantes de minorias mas que são, no final, apenas instrumentos de um Poder que busca nessas mesmas minorias um reforço não só em votos, mas também como munição para a intimidação de adversários.

É uma linguagem que adquiriu poder, invertendo lógicas e buscando evitar o aprofundamento de questões até históricas. Elege heróis de um dia para o outro, sem nenhuma preocupação com o aprofundamento intelectual ou, muito menos, em analisar os variados lados da História. A verdade é que tem mais um sentido de seita, de um fanatismo perigoso, com heróis defendidos como santos.

Pela falta de densidade intelectual e mais ainda pelo vitimismo que estimula a ignorância e nega o debate franco, o pensamento polticamente correto merece ir para o lixo da história. Pode demorar um pouco, mas ainda acaba lá.
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POR José Pires

Engolindo o próprio veneno

Mas acaba sendo interessante ver gente que sempre foi da linha de frente do politicamente correto sendo vítima de suas própria ferramentas, digamos assim, conceituais. O escritor português José Saramago é um dos que sempre municiaram bastante o politicamente correto.

Saramago sempre teve na ponta da língua algo para fortalecer esse tipo de discurso, mesmo que para isso tivesse que discorrer sobre fatos completamente fora de seu âmbito político e pessoal. O politicamente correto é assim. Um acontecimento, digamos, na Tailândia, exige de pronto uma opinião sua. E ele dá, claro. Se tiver também um manifesto, nota de repúdio, ou qualquer dessas manifestações fáceis de acatar, logo o politicamente correto assina embaixo, mesmo que seja sobre algo ocorrido nos confins do Afeganistão.

No caso de Saramago, aliás, a coisa é bem interessante, pois revela o politicamente correto como um eficiente escudo até para históricos stalinistas. Em política Saramago é bem lerdo. Largou Fidel Castro apenas em 2003, no episódio do fuzilamento praticamente sumário de três opositores que haviam seqüestrado um barco para fugir de Cuba. Mas no pensamento políticamente correto ele logo embarcou, como uma balsa para fugir da fama de stalinista.

Mas vamos aos problemas que agora Saramago sofre com o politicamente correto. Ele está enfrentando protestos nos Estados Unidos contra sua obra Ensaio Sobre a Cegueira, adaptada recentemente para o cinema. Os protestos contra o filme são liderados pela Federação Nacional dos Cegos, que pretende se manifestar diante dos cinemas, em 21 estados norte-americanos. E não me perguntem se os associados da tal federação viram o filme, pois não seria politicamente correto.

Saramago evidentemente está se saindo bem. Para quem passou mais de quatro décadas defendendo Fidel Castro do imperialismo, sob o fogo da Casa Branca, da CIA, do FBI e até da turma do Kruschev, encarar uma associação de cegos é fichinha.

Ele já disse que o livro, publicado em 1995, na verdade, trata da cegueira sim, mas é da cegueira da razão. Já o presidente da federação que é contrária à obra diz que o filme "retrata os cegos como monstros”.

E Saramago cria frases ótimas para encaixar no debate. Ele é bom nisso. É capaz de construir belas orações até para qualificar o MST, por exemplo, mesmo sem ter informações substanciais sobre o movimento político. Mas vamos ao protesto dos cegos. "A estupidez não discrimina os cegos dos que enxergam", ele disse sobre o episódio.

Mas temos aí uma situação interessante. É o ridículo do politicamente correto elevado a sua máxima potência. E bem que os politicamente corretos merecem. Tanto fizeram que temos aí uma Federação de Cegos querendo decidir o que as pessoas podem ver ou não.
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POR José Pires

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Lulices na crise

Se vivêssemos em outro país o presidente Lula seria um cara muito engraçado. Imaginem como se sente um cidadão de qualquer país europeu quando lê alguma declaração do presidente do Brasil. Na Suiça, por exemplo, Lula deve fazer um bem danado para o fígado.

As falas de Lula devem soar para eles mais ou menos como as de alguns ditadores para nós. Por mais que saibamos dos problemas que são os governos desse tipo de gente – estou falando dos ditadores africanos e também de Lula – sempre tem algo de engraçado no que eles falam. Mesmo os que não tem problema de dicção.

É, mas aqui oo Brasil a graça não é mesma. Esta crise financeira atual, por exemplo, foi desdenhada por semanas pelo Lula. Ele até deu pitaco nas atitudes do governo de George W. Bush. Um europeu deve ter achado hilariante: apenas falando em dinheiro, sem contar os dramas todos em torno do problema, a crise vai ficar para os Estados Unidos em cerca de 700 bilhões de dólares, quase uma vez e meia todo o nosso PIB.

Mas de uma semana para cá Lula se convenceu de que a crise é séria. Está até fazendo reuniões para tratar dela. Mas é claro que dessas reuniões sempre sai algo para o riso de um suíço, um francês, um inglês. Para nós não. Não que não seja engraçado, mas aqui é mais duro de rir dessas bobagens.

O ministro Paulo Bernardo saiu da última reunião em que trataram do assunto dizendo que “Lula mandou cuidar do crédito, pois o Natal já está aí”. Pois é, os especialistas prevêem o pior para a economia mundial, com a concordância de todos que a recessão já chegou e para ficar, sendo que os mais otimistas acreditam que a crise pode durar pelo menos três anos.

E esse governo vem com essa piada: Lula está pensando no peru deste Natal.
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POR José Pires

Desdenhando apoio

“Agora quero que se dane!” Esta foi a reação de Geraldo, o Alckmin, à nota do PSDB em seu apoio. Ué, ele não vai precisar do próprio partido no segundo turno?
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POR José Pires

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O documento da alckminização

Tenho falado sobre o abandono da candidatura de Geraldo, o Alckmin, por seus companheiros tucanos. É evidente que uma parcela importante do PSDB cansou-se da teimosia de Alckmin e largou ele falando sózinho em seu programa eleitoral. O candidato até já se queixou que sua mulher é a única que está a seu lado.

Pois hoje o partido divulgou uma nota em apoio a candidatura de Geraldo Alckmin à Prefeitura de São Paulo. E com ela documentaram o abandono. Se você quiser ler este estranho documento, clique aqui.
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POR José Pires

Didática

Existe aquela frase simples, mas muito verdadeira, a que diz que “o exemplo vem de cima”. Claro, nossos líderes têm muito a nos ensinar. Pois ontem foi realizada uma festa no Palácio do Planalto que reuniu 300 servidoras para comemorar o Dia da Secretária.

Foi um festão de fazer inveja a aloprado: teve até sorteio de passagens aéreas, hospedagens em hotéis e lingeries. Os brindes foram conseguidos junto a empresas privadas e a organizadora da festa foi Evanise Santos, coordenadora de Relações Públicas da Secretaria de Administração da Casa Civil.

Eu nem sabia que ontem foi o Dia da Secretária. Falha minha, claro. Pois meus parabéns a todas, especialmente para as secretárias do Palácio do Planalto. Parece que estão aprendendo muito com seus chefes.
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POR José Pires

O invocado

O arroubo e coragem do presidente Lula com o presidente George W. Bush são bem conhecidos. Quem não se lembra quando ele disse que um dia acordou "invocado" e ligou para o Bush para dizer umas verdades? E nesta crise financeira, Lula também andou mandando recados e até dando uns pitos em Bush. Pena que foi pela imprensa brasileira, que não chega até a Casa Branca.

Mas, pelo jeito, a valentia de Lula serve apenas para países grandes. No caso dos menores, como é o caso do Equador, o petista não tem voz ativa. Depois de conversar com o petista, o presidente do Equador, Rafael Correa, não recuou em sua decisão de expulsar a construtora Norberto Odebrecht de seu país. E manteve as acusações contra a empresa brasileira sobre "pressões, violações e propinas".

Talvez seja o caso de Lula ligar para o Bush para resolver o imbróglio. Apesar de que resolver problemas com o Equador parece estar mais na alçada do presidente colombiano Álvaro Uribe.
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POR José Pires

Sem plim plim no primeiro turno

A TV Globo parece disposta a reescrever pelo menos um ponto da Lei Eleitoral, o da obrigatoriedade participação de todos os candidatos em debates na televisão. A emissora está cancelando todos os debates deste primeiro turno em cidades com muitos candidatos.

É um direito dela e nisso está muito certa. A profusão de candidatos de partidecos sem representatividade alguma está tirando a seriedade das eleições. Prejudicam até mesmo o Horário Eleitoral Gratuito. E a verdade é que é impossível conseguir qualidade em debate com muitos candidatos – mais de quatro já é problemático; e tem cidades com até nove candidatos.

Agora, independente de resoluções dos tribunais eleitorais, as eleições brasileiras passam a ter regra nova: não há debate na TV Globo no primeiro turno. E isso é um problemão para aqueles candidatos com forte potencial, mas que não conseguem decolar.

Pelo prestígio e alta audiência, os debates nas retransmissoras da TV Globo, foram sempre uma esperança desses candidatos para resolverem seu drama eleitoral e decolar no final da campanha.
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POR José Pires

Enfim só

Alckmin, o Geraldo, andou falando na semana passada que foi abandonado pelo seu partido, o PSDB. O candidato tucano à Prefeitura de São Paulo afirmou que apenas sua mulher, Lu, estava firme na campanha.

Com os novos números do Datafolha, acho bom ele dar uma conferida se também a dona Lu não está dando o pé do ninho.
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POR José Pires

Alckminizado

A expressão “alckminizar” parece que veio mesmo para ficar. O Datafolha de hoje mostra Geraldo, o Alckmin, comendo poeira na pesquisa sobre a disputa pela Prefeitura de São Paulo.

O tucano, que tinha 20% na pesquisa anterior, agora está com 19%. Está bem atrás de Gilberto Kassab, que saltou de 24% para 27%, e de Marta Suplicy, que caiu de 37% para 35%.

A situação de Marta Suplicy também não é boa em um provável segundo turno. Ela, que em pesquisas anteriores ganhava de todos, agora perde para Kassab, com 49% contra 44%, e até para o Chuchu, que no primeiro turno está despencando da cerca. Nesse caso, a petista perde também de 49% a 44%.
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POR José Pires