terça-feira, 31 de março de 2009

Jota e os idos de março

Coisa de inglês

E na Inglaterra a ministra do Interior, Jacqui Smith, foi flagrada pagando para o marido ver filme pornô. Isso já é estranho, mas o pior é que as sessões quentes forma pagas com dinheiro público.

O dinheiro já está sendo devolvido. E a ministra já se desculpou por ter pedido ao parlamento o reembolso de despesas com um serviço de TV que incluía filmes pornográficos. Que o marido assistia, não se sabe se sozinho ou acompanhado e, se acompanhado, espero que tenha sido pela patroa ministra, que alega um erro na contas.

Lá na Inglaterra um caso desses gruda na imagem do político. Não é como aqui, onde seria tratado até de forma pitoresca. Isso lembra aqueles filmes em que o bandido foge para um certo país da América do Sul. Se fosse ministra por aqui, Jacqui Smith certamente teria menos problema.

Pois este é o país onde temos um ministro que foi obrigado a pedir demissão do cargo e teve o mandato parlamentar cassado por falta de decoro e também está sendo processado no Supremo Tribunal Federal por corrupção ativa, formação de quadrilha. Pois é, mesmo com tudo isso ele é ainda é tratado com todo o desvelo pela mídia, sendo entrevistado, publicando artigos e servindo como fonte. Em muitas dessas reportagens nunca é lembrada sua condição de deputado cassado. por falta de decoro. E ainda continua agindo como grande liderança política e partidária. Só falta discursar sobre a ética, se é que falta.

E isso para falar em apenas um deles e de um caso só, o da quadrilha dos 40 do mensalão. É ele mesmo, José Dirceu, o denominado “chefe da quadrilha” do mensalão, que é até convidado especial de blog político bastante prestigiado. Ou seja, a desfaçatez não é só nas páginas impressas.

Venha pra cá ministra Jacqui Smith, onde o maridão (ou husbundão) poderá ver filme pornô sem problemas. Afinal, no Brasil a ética é só para inglês ver.
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POR José Pires

segunda-feira, 30 de março de 2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

Pega!

Com sua famosa perspicácia, o presidente Lula identificou os culpados pela crise econômica mundial. "A crise foi causada por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis" - disse Lula.

Além de perpiscaz, o presidente inzoneiro também é muito educado, pois escolheu o encontro com o primeiro-ministro britânico Gordon Brown para divulgar sua interessante descoberta. No país de Brown grande parte dos cidadãos se enquadra na categoria citada por Lula. É possível que todos os netos da rainha da Inglaterra tenham os olhos azuis. A própria rainha parece ter os olhos dessa cor que para Lula denuncia cupidez e falta de responsabilidade. E com certeza o primeiro-ministro Brown também tem amigos e parentes com olhos azuis. Está certo. Não poderia haver melhor ocasião para denunciar essa gente irracional de olhos azuis.

Mas também por aqui temos que pegar os responsáveis pela crise. A maioria de nós tem a pele morena e é muito, mas muito racional mesmo, mas sempre tem uns infiltrados. E vai ser fácil para a Justiça, pois já identifiquei um deles em alto posto de comando. São os mais perigosos, pois agem por dentro.

E patriota que sou, já estou dedando o suposto culpado para que receba o devido castigo. É Tarso Genro, o ministro da Justiça. Clique no retrato aí do lado que você vai ver o o brilho azul e irracional nos olhos do suspeito.
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POR José Pires

Hay gobierno?

Vivemos em um país em que não sós os cupins, mas também as baratas, traças, percevejos, ratos e tantas outras pragas da política, opa, até mesmo tucanos, ia me esquecendo, essas pragas, enfim, roem o Estado e instalam a descrença na política.

Isso faz com que a gente até comece a aceitar que a falta de diferenças de conduta é algo realmente sem remédio. É que fica parecendo que essa história de que é tudo igual não é só coisa do PT de Lula em seu esforço combinado para fazer da corrupção e da trapaça a marca de caráter mediana do homem público. A persistência deles faz parecer que é assim mesmo: política é só sarjeta, sem projeto algum a não ser passar a mão no dinheiro público e conquistar poder e mais poder.

Mas aí surgem vozes de fora que dão alento pra gente. Com uma pequena interferência verbal em um assunto grave mostram que existem diferenças, sim. Que tem gente que quer trabalhar com seriedade.

Com uma fala simples, mas carregada de franqueza, dão até a esperança de que um dia essa postura apareça por aqui e possamos descer a lenha nos criminosos que vêm fazendo tanto mal ao país. Mas isso em conjunto com uma análise séria sobre as causas reais dos nossos problemas.

Foi Hillary Clinton, a secretária de Estado que por pouco não foi presidente, quem disse no México: “Nossa insaciável demanda por drogas ilegais alimenta o tráfico de drogas. Nossa incapacidade para prevenir que armas sejam ilegalmente traficadas pela fronteira provoca a morte de criminosos, policiais, soldados e civis. Sinto profundamente que temos corresponsabilidade”.

O "nossa", na fala dela, se refere aos Estados Unidos, com sua culpa pelo grave problema da criminalidade no México. Temos que esperar as ações de fato, é verdade, mas a simples admissão de que o o problema mexicano é de responsabilidade mútua dos dois países, inclusive nas causas, já parece apontar para atitudes diferentes das praticadas até agora pelo governo norte-americano.

É... não são todos iguais não, companheiros. Bem que o Brasil, que copia tudo dos Estados Unidos, podia copiar isso também.
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POR José Pires

Susto ético

O deputado Paulinho Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, conhecido pelos rolos em que esteve metido recentemente, passou algumas horas no Conselho de Ética da Câmara. Ele já esteve em julgamento no próprio Conselho e acabou sendo absolvido no final do ano passado.

Mas hoje o deputado teve uma experiência fugaz como membro do Conselho. Foi jogo rápido. Seu nome foi indicado de manhã e até constou da relação oficial dos integrantes do órgão. Deve ter sido um susto. Ética, eu? Não é minha área, sou do ramo sindical. Em poucas horas os pedetistas perceberam a burrada feita e o tamanho do alvo que estavam ajeitando para a imprensa. E o partido retirou seu nome.

As explicações para a mancada são muitas. Tem até a alegação de que ocorreu uma troca na hora de fazer o ofício. Paulinho, que seria indicado para a Comissão de Trabalho e Administração acabou no Conselho de Ética.

Mas o fato é que Paulinho da Força passou algumas horas no Conselho de Ética. Que isso não lhe faça mal, já que os gastos com a saúde dos deputados já estão bastante pesados para o bolso do contribuinte.
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POR José Pires

Em defesa de Delúbio Soares

O mundo petista se movimenta para tentar fazer Delúdio Soares desistir do pedido formal de refiliação no PT. Até Lula (que, sei lá por que razão, jornalistas grafam como "O Planalto") está na jogada para evitar a incômoda situação criada pelo pedido do ex-tesoureiro, que anseia pela volta ao convívio fraterno com seus companheiros de luta.

Não deixa de ser uma ingratidão danada com alguém que deu tanto — e como! — ao partido. E dava todo o mês, como indica o relatório da Procuradoria Geral da República.

Delúbio Soares é um símbolo vivo do PT e sua volta , além do reconhecimento de seus pares à sua contribuição perene à memória histórica do partido, seria também um merecido gesto afetivo ao filho pródigo que deseja retornar ao lar.

Não permitir a volta de Delúbio Soares é uma afronta aos mais caros (e bota caro nisso!) princípios do petismo. Seria uma indignação uma injustiça assim. Nunca gostei desses manifestos que entulham a internet, mas já estou quase criando um abaixo-assinado pela volta de Delúbio Soares ao PT.
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POR José Pires

Encontraram o castelo


Perguntei aqui na última segunda-feira aonde tinha ido o castelo do deputado Edmar Moreira, o ex-corregedor da Câmara dos Deputados. Pois a Corregedoria da Câmara recomendou ontem a abertura de processo contra ele por quebra de decoro.

Pelo nariz de Pinóquio! A Câmara se mexeu, enfim. A Corregedoria vê indícios de irregularidade no uso de verba. Moreira usou notas de suas próprias empresas de segurança para o ressarcimento com gastos da verba indenizatória. Ele recebia o “ressarcimento” em dinheiro vivo e admitiu que o pagamento era feito para suas empresas, mas nunca pago a pessoa jurídica.

Em 2007 e 2008 ele declarou R$ 246 mil em segurança, o que deve fazer dele um raro caso de deputado. Blindado assim nunca se viu.

Bem, se o deputado recebia em dinheiro vivo havia alguém que pagava desse modo, certo? E obviamente uma estrutura que permitia isso. Mas isso deve ser outra conversa para os deputados, um papo que não vem ao caso. Imaginemos então um funcionário indo ao banco pegar dinheiro vivo, em um mês 40 mil reais, noutro 30 mil e assim por diante, durante meses. Será que ninguém por lá suspeitava que houvesse algo errado? Até a Pollyanna iria desconfiar.

O processo contra o deputado foi aprovado por unanimidade. A Corregedoria está fazendo a coisa certa, sem dúvida, mas são evidentes os indicativos de que o deputado deve ser usado para desviar o foco dos escândalos do Congresso Nacional, que para conto da carochinha não falta mais nem castelo.

Era preciso encontrar um alvo bem vistoso para fazer a opinião pública nem pensar que já passou da hora de enquadrar nossos políticos e, para isso, talvez não haja nada melhor que um deputado dono de um castelo com 275 janelas.
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POR José Pires

terça-feira, 24 de março de 2009

Mais um vale

O governo Lula quer lançar o Bolsa-Cultura. A proposta é do Ministério da Cultura e consiste de um vale-cultura para o uso em cinema, teatro, shows e espetáculos em geral.

Hmmm.... não é que gostei? Mas acho que para ficar perfeito tem que pensar também em outro aspecto da cultura, que é o fato de após um cinema, show ou peça de teatro as pessoas terem que discutir o conteúdo artístico do que foi visto, debate que terá sempre menor qualidade se não for acompanhado por cerveja ou vinho.

Mas fiquemos na cerveja para não parecer coisa de elite. Proponho a criação também do Vale-Cerveja.
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POR José Pires

Incompatibilidades

Um terço da direção do PT rejeita a volta de Delúbio Soares. É mesmo uma barbaridade esse partido, hein? Eu acho que é o caso de expulsar esse um terço.
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POR José Pires

Sobre John Kenneth Galbraith e o esforço da escrita

Agora com a internet, quando o ato de escrever é fundamental, é sempre bom atentar que esta é uma das atividades mas difíceis que existem. Talvez seja até a mais difícil. A pessoa pode até ser o bamba em sua área, mas escrever sobre o que faz... bem, aí é outra coisa, bem mais difícil. Explico: o Pelé, por exemplo, neste caso não é nem um Tostão, mas já o Tostão é um Pelé escrevendo, já que poucos como ele escrevem tão bem sobre futebol.

Para dar outro exemplo, o sujeito pode ser um bom economista, mas nem sempre escreve bem sobre economia. Escrever, para um bom economista, é uma outra atividade. E pelo que lemos por aí vindo de economistas, parece ser bem mais difícil que ser um bom economista.

Escrever é uma tarefa difícil, nunca é demais repetir, até porque ajuda a amenizar o estrago que um texto pronto causa em nossa auto-estima. Ainda bem que os melhores do ramo sempre afirmam algo parecido. John Kenneth Galbraith, por exemplo, tem um texto ótimo sobre esse tipo de esforço humano muito mais difícil que carregar móveis ou ser presidente da República.

Ando relendo seus textos, sempre com muita atenção no estilo, na aparente facilidade com que ele trata temas difíceis da política e da economia. Um desses textos é genial, uma lição. Saiu no Brasil em um livro editado em 1979 pela Nova Fronteira. Não está mais em catálogo, claro, mas vale a pena correr atrás.

O título do texto é “Escrever e datilografar”, comparação alusiva a uma comentário de Truman Capote sobre a obra de Jack Kerouac, de que aquilo não é escrever e sim datilografar. Kerouac era francamente ruim na escrita, na linha de Charles Bukowski e vários dos chamados escritores "beats". Talvez por uma questão de método. Para fazer sua obra mais conhecida, "On the Road", colou um rolo de papel na máquina de escrever e mandou ver. Nâo preciso dizer que fez isso bebendo. Bem, um bom copidesque depois de passada a ressaca talvez ajudasse a alcançar um resultado de razoável qualidade.

Mas vamos a Galbraith. É um economista importante e esteve próximo a fatos decisivos na história da segunda metade do século vinte. É um verdadeiro liberal norte-americano, intelectual próximo do partido Democrata. Não é um intelectual partidário. Sua ligação com os democratas é daquele modo norte-americano, bem diferente daqui. Tem uma vasta obra: ensaios, programas de televisão e até romances. Dois deles foram publicados no Brasil com tradução de Carlos Lacerda. Sim, ele mesmo. Lacerda era tradutor até de Shakespeare, o que o deixa bem distante da atual qualificação dos políticos brasileiros, apenas entre o roubar ou não roubar.

Galbraith era do grupo de John Kennedy. Foi também embaixador na Índia. É lamentável que não esteja aí para escrever para nós sobre a atual crise do capitalismo, ele que previu tudo isso e que apontava Allan Greenspan, (para mim um dos maiores responsáveis por esta atual tragédia econômica) como um economista ultrapassado e que atendia apenas aos interesses circunstanciais dos Republicanos. E vejam que ele avisava isso quando Greenspan ainda era um sabujo de Richard Nixon.

Galbraith exerceu cargos importantes durante a Segunda Guerra Mundial na área da economia. Outra experiência sua, talvez uma das mais interessantes, pelo menos para mim, foi sua participação nas forças de ocupação do governo dos Estados Unidos na Europa, depois da e vitória sobre os nazistas. Ele tem ótimos relatos sobre esta experiência, que eu vejo como um período essencial para entender a psicologia do ser humano e a história mundial.

Mas o que mais importa aqui é que ele escreve bem demais, o que o referencia neste assunto. Texto dos melhores e numa área, a economia, em que a obscuridade é exercida até como uma obrigação. Sobre isso, ele diz que “em economia, não há proposições importantes que não possam, na verdade, ser formuladas em linguagem simples”. E criticando a grande maioria que não faz isso, afirma que para os economistas “a complexidade e a obscuridade tem valor profissional”. Fazem isso para excluir os que estão de fora ou como forma de conter a concorrência. O estilo obscuro serve também para conservar “a imagem de uma classe privilegiada ou eclesiástica”. Sabemos bem como é isso.

Concordo ipsis litteris. Quem escreve textos complicados geralmente está tentando esconder algo, talvez que não saiba escrever ou que desconhece o assunto tratado, ou lidando com a comunicação como mero instrumento de poder. Galbraith afirma também que esse pessoal usa seus textos mal escritos como “disfarce para pensamentos desleixados, imprecisos ou incompletos”. Isso também vimos bastante.

Outra frase boa sobre a arte de escrever, ele lembra ter ouvido de um amigo, Ralph D. Payne, gerente da Fortune, revista ainda importante hoje, mas de maior qualidade quando essa conversa aconteceu, provavelmente na década de 60. Payne costumava dizer que quem afirmasse que escrever era fácil era um mau redator ou um mentiroso congênito.

Ao contrário, não é nada fácil, volta Galbraith, desta vez citando Voltaire, que dizia que escrever é um processo muito cansativo, que os homens ou as mulheres farão tudo para evitar.

Mas tem um outro trecho que define bem o esforço que é preciso para conceber algo de qualidade. Galbraith fala da sua rotina de trabalho: “Em meu caso, há dias em que o resultado é tão ruim que é preciso um mínimo de cinco revisões. Entretanto, quando estou profundamente inspirado, bastam quatro, antes de, como já disse muitas vezes, eu injetar aquela nota de espontaneidade que até meus críticos mais severos reconhecem.”.

Portanto, quando bater aquela dificuldade para escrever, o que costuma ocorrer sempre, a lembrança do mestre Galbraith labutando nas suas cinco revisões, pode ser um incentivo. Sempre é bom saber que a tela em branco (que na maior parte da vida dele e parte substancial da minha era o papel em branco da máquina de escrever) que nos aflige é algo complicado até para seres de porte intelectual tão alto.
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POR José Pires

segunda-feira, 23 de março de 2009

Procura-se imóvel


E o castelo do deputado Edmar Moreira no interior de Minas Gerais? Construído em um terreno de 8 milhões de metros quadrados, o castelo tem oito torres. A mais alta com 110 metros quadrados é da altura de um prédio de treze andares. Cada uma das 32 suítes conta com quatro cômodos. O castelo conta também com uma cozinha industrial pronta para atender 200 pessoas. Além disso, no castelo tem dois elevadores, sistema de aquecimento central, uma capela e um anexo de lazer, com sauna, salão de jogos, de ginástica, e uma adega subterrânea climatizada, com capacidade para 8 000 garrafas.

Como dizem os mineiros, o trem é grande. Pois o castelo sumiu. Faz pouco mais de um mês que o deputado renunciou aos cargos de segundo vice-presidente da Câmara e corregedor da Câmara e o caso já foi para debaixo do tapete.

E o tapete da República, como todos sabem, é imensamente pródigo. Cabe tudo debaixo desse tapetinho. Até castelo de deputado.
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POR José Pires

Ditadura sim, mas sem camisinha

Lá vai o Papa Bento XVI em missão comercial pela África. Afligido pela miséria, doenças e ditadores implacáveis, o continente é perfeito para a Igreja Católica aumentar seu rebanho, em queda progressiva nos países mais ricos. Como diz aquele velho estelionatário que não pega um trouxa há vários meses, “hoje em dia ninguém acredita em mais nada”.

Bento XVI esteve em Camarões. E levou uma palavra de consolo para os pobres camaroneses: Não usem camisinha! O pastor alemão está com idéia fixa. E na Europa esse papo não cola. Imaginem se alguém na França ou na Itália leva isso a sério. Quando ele vem com essa conversa, até os guardas suíços do Vaticano dizem entre si que ele bebeu vinho da missa logo de manhã.

Então toca pra África. Bento XVI esteve com Paul Biya, presidente, digamos assim, de Camarões. O país é mais conhecido mundialmente por ter aparecido de surpresa certa vez na Copa do Mundo. Os locutores de futebol se animaram como sempre, mas foi rápido. Ninguém pegou na taça.

Biya está no poder há 27 anos. Governa com o porrete, claro. E deve ter gostado dessa conversa da camisinha, assunto bem mais interessante que aqueles papos incômodos da Anistia Internacional sobre prisões, tortura, assassinato.
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POR José Pires

Marketing de primeira

Camarões é uma festa para visitantes oficiais. Lula esteve lá em abril de 2005 e foi tratado como paxá. Em limusine aberta, foi saudado como o “campeão do combate à miséria” por claques do governo.

Deve ter se sentido em casa. Aqui também é recebido país afora por gente pega a laço. O PT aprendeu rápido. Será que também dão sanduíche pra tigrada?

Bem, mas também o que tem pra fazer em Camarões senão ir ver o papa passar? Na recepção para Bento XVI mulheres usavam vestidos multicoloridos com a imagem em destaque (no próprio tecido!) de Bento XVI e do, arrãm!, presidente Biya. Para não dizerem que isso é conversa da oposição, olha aí a imagem provando o que digo.

Quando Bento XVI aparecer por aqui os marqueteiros petistas já sabem o que fazer. É só substituir a fotografia de Biya pela de Lula. O vestido vai pelo bolsa família.
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POR José Pires

A receita do sucesso

Aliás, de manifestações populares o governo de Paul Biya entende. Em fevereiro de 2008 forças de repressão mataram 130 pessoas que protestavam contra o governo.
Antes do papa chegar para a visita desta semana várias pessoas foram detidas e ficaram presas em celas superlotadas, sem acesso a advogado, médico e nem visita de familiares.

A Anistia Internacional acusa o governo de Paul Biya de praticar prisões arbitrárias, tortura e detenções ilegais. Seu governo também executou várias pessoas.

Quando esteve fazendo graça para ditadores africanos, Lula fez a famosa piadinha de estava lá para que lhe ensinassem como ficar vinte anos no poder. Pois é desse jeito.
Paul Byia está no poder há nem mais de vinte anos. Já vai para 27. Camarões tem uma Constituição sui-generis: o mandato é de sete, sim, você leu direito, de sete anos e ainda com direito à reeleição uma vez. Byia já foi reeleito. E pensa que ele está satisfeito? Bem, nunca nenhum deles está. Pois ele quer mudar a Constituição.

Vejam ele falando e me digam se não parece o venezuelano Chavez: "Vamos então, neste espírito, reexaminar as disposições da Constituição que mereceriam ser harmonizadas com os progressos recentes do nosso sistema democrático para responder às expectativas da grande maioria da nossa população."

Bento XVI deve voltar satisfeito de sua missão comercial. Almas são mais fáceis de serem arrebanhadas na proporção da desgraça em que estão os corpos que habitam. Ele bem sabe disso.
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POR José Pires

Simbiose

E você, o que acha? Delúbio Soares deve voltar ao Partido dos Trabalhadores? Pois eu acho que o PT é que deve voltar ao Delúbio.
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POR José Pires

sexta-feira, 20 de março de 2009

Popularidade em queda. Que tal cair no trabalho?

Espero que a queda da popularidade do presidente Lula faça acender uma luz vermelha no Planalto e essa gente comece a trabalhar. Pesquisa do Datafolha divulgada hoje taxa mostra que sua taxa de aprovação caiu de 70% para 65%.

Ainda que tarde a crise começa a atingir consciência do brasileiro e talvez isso baixe a bola do Lula. E antes que alguém me acuse de estar torcendo contra, já explico minha visão de que uma situação menos cômoda para Lula seria um bem para o país. Nenhum governo funciona bem sem trabalhar sob o crivo de uma discussão crítica de qualidade vinda da sociedade civil.

Informação e conhecimento são o combustível de um governo de qualidade. É também o ingrediente básico de um país idem. Mas seria um estorvo para um governo cujas ações tem um foco mais eleitoral que qualquer outra coisa. Daí o investimento petista na desinformação, na falsa dicotomia PT-Tucanos, e no estabelecimento de um falso otimismo entre os brasileiros.

A receita é simples. Quando o brasileiro perceber o tamanho do rombo 2010 já passou. É parte da receita evidentemente que aí Dilma Rousseff esteja com a faixa presidencial.

É na desinformação que eles reinam. Onde se concentram a maioria dos beneficiários da Bolsa Família, o Nordeste, Lula tem 77% de aprovação. Teve uma queda também, quatro pontos a menos que no levantamento anterior, mas o governo ainda está por cima onde o ser humano precisa de esmola oficial para viver. Como Lula deve ser conhecido por lá? O homem da Bolsa Família, coroné Lula? É um jeito estranho de ficar na história.

Lula teve uma queda no geral, explica o Datafolha, mas o índice de 65% ainda é a maior aprovação obtida por todos os demais presidentes desde o advento das eleições diretas. E, para mim, outro número que explica é calcado também na falta de informação.

O Datafolha mostra que o percentual de vrasileiros que tomaram conhecimento da crise ainda é pequeno. Foi de 72% para 81%. Espera aí, mas é quase 100% de conhecimento. Aí que está. Porém, entre esses 81% somente 19% dizem estar informados a respeito. O instituto de pesquisa nem poderia se aprofundar tanto, mas eu pergunto: quantos entre esses 19% tem de fato conhecimento sobre a interferência desta crise não só em nosso cotidiano, mas em todas as projeções futuras?
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POR José Pires

Bom de fingir serviço

Lula se faz de songamonga, mas sabe que neste desconhecimento é que está seu trunfo. Aí é uma questão histórica. Sua ascensão no partido foi feita assim. E ele aprendeu que quando o debate se encaminha para a comparação de qualidades de fato, diminuindo o peso dos salamaleques e artifícios próprios da política, aí ele perde. O barbudo calado na reunião já fez Marilena Chauí ver luzes iluminando a sala. Mas e se ele se aprofundasse na discussão? Lula sempre sou evitar este interruptor.

O problema é que isso coloca ele e seu governo só na engorda, e não estou falando da sua robusta figura. No encontro com Obama deu pra ver os botões fchando com dificuldade um paletó já pequeno para o presidente inzonero. Nada que uns exercícios na esteira não resolvam. Dá bem menos trabalhos que a leitura, como ele já disse.

Logo depois do encontro com Obama, ainda sob o efeito da euforia pós-viagem, Lula veio com um de seus atos falhos dizendo que a crise seria um bom desafio para “eu e Obama”, como ele repete o tempo todo tentando fixar uma parceria nada crível. Embalado, ele dizia que depois de seis anos de governo poderia se acomodar e aí entra a crise como um fator estimulante. É um incentivo estranho, algo como apanhar para ir trabalhar, mas este é o Lula.

Mas o fato é que, mesmo que de modo involuntário, foi feita a detecção da lerdeza que acomete o governo e emperra o país. O empresariado que não vive grudado no Estado já percebeu isso há muito tempo. É um governo fora de forma. Adentraram o segundo mandato numa alta proporcionada por uma agenda que nunca foi petista. O modelo vinha do governo FHC e já apresentava sinais de esgotamento ainda no final do primeiro mandato tucano. Pois FHC percorreu todo o segundo mandato do mesmo jeito e Lula ainda pegou o modelo depois. E o que fizeram para aprimorar o modelo ou até colocar em prática um projeto próprio? Nada, estão até agora fazendo como os tucanos, quando até os tucanos sabem que a situação econômica pede posicionamentos novos.

Lula gosta de viajar. É o comportamento típico de quem se aflige com a rotina inerente a qualquer trabalho e sempre muito estafante no dia a dia administrativo. Aquele monte de papéis sobre a mesa que exigem leitura detalhada, comparações de números, muita pesquisa, ah, puxa vida, isso deve deixar alguém como o Lula doido para tomar um sol ou fazer um churrasco com o Ratinho e o Bruno e Marrone.

Mas alguma aparência de trabalho é preciso acoplar á imagem. Daí daquele tremendo ócio mascarado como trabalho produtivo que são as viagens políticas, as convenções, os seminários, e tudo mais. É tudo que qualquer executivo produtivo odeia, especialmente porque trava o trabalho. E, bem, é isso que Lula adora.

De novo, é sua história. O PT é conhecido por desperdiçar tempo nesse tipo de atividade que não dá em nada prático, mas que, apropriadamente, dá a impressão de produtividade, o que amacia a militância e abre facilita o domínio do partido por poucos. E no sindicalismo Lula também viveu essa rotina de ócio disfarçado. E pelo que sabemos gostava bastante disso.
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POR José Pires

Já pra esteira, companheiro

Atividades como a viagem para os Estados Unidos deixam o presidente em uma situação de extrema euforia, logo substituídas pela insatisfação com a rotina cotidiana. E aí é arrumar as malas e sair em viagem, mesmo que seja por aqui pelo Brasil.

Esse comportamento pessoal já é preocupante, mas quando leva consigo a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, aí é de se perguntar quem é então que governa. O governo petista é centrado na figura da ministra, que tem nas mãos a máquina de tal modo que até já causa mal estar com outros ministros. É para ela que convergem todas as decisões importantes. Já era assim com José Dirceu, porque é sabido que Lula não gosta de administrar. Talvez também não saiba, mas desta comprovação ele escapa, já que nunca tentou.

Mas com Dilma sempre em viagem, quem é que cuida do funcionamento administrativo? Não é a toa que sempre que alguém se debruça sobre os números do PAC ou de qualquer outro projeto do governo, descobre que nem as metas de rotina são cumpridas.

Não há como ser otimista com essa gente. Esteira de ginástica para eles só serve mesmo como um comparativo para fugir da leitura. Mas quem sabe os números do Datafolha não dão uma chacoalhada em um governo lerdo e amorfo? É esperar e torcer, porque ao contrário do que dizem, no meio dessa crise só alguém idiota como um petista na oposição poderia torcer contra.

Torço para que o presidente inzoneiro e sua equipe comecem a trabalhar. Afinal, infelizmente estamos todos no mesmo barco em meio a esta marolinha que revelou-se um tufão.
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POR José Pires

quinta-feira, 19 de março de 2009

Extra! Extra!

O Brasil parece mesmo virado de cabeça pro ar. Por mais que o eleitor vote para mudar, a cena política brasileira continua a mesma. A volta de Collor foi o toque simbólico no mais do mesmo que virou o país. Veja quem está no poder: Collor, Sarney, Renan Calheiros, Michel Temer, Jader Barbalho, Inocêncio de Oliveira e outros mais, todos iguais em desfaçatez.

Para averiguar o que foi que deu errado, só dando uma bisbilhotada no passado. Voltamos às eleições de 1989, quando Collor venceu Lula na eleição presidencial para ver o que aconteceu naquele ano, no fatídico último debate na televisão.

Até hoje a polêmica cerca aquele embate. Há quem diga que a vitória de Collor se deve à uma suposta manipulação da Rede Globo na notícia do debate no Jornal Nacional. Outros afirmam que mesmo que isso tenha ocorrido não houve influência no resultado final.

Outro grande mistério daquela época é sobre o motivo de Lula estar tão inseguro, até acovardado, frente a Collor. Existe até a versão de que ele temia a revelação naquela noite de um grande segredo de sua vida.

Voltamos na máquina do tempo para verificiar afinal o que aconteceu. Revemos muitas vezes o debate. E até acionamos o nosso Departamento Intertemporal de Leitura Labial (o DILL, um setor novo da casa) para saber tudo sobre aquela fatídica noite, inclusive o que não pôde ser ouvido de casa.

Enfim, revelamos o que Collor disse à Lula antes do debate começar. Veja abaixo. Não foi a toa que o sapo barbudo ficou tão nervoso. E o pior é que a provocação de Collor com o tempo tornou-se uma profecia.
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POR José Pires


quarta-feira, 18 de março de 2009

Alô paizão

Um pai extremado é coisa de se admirar. Ainda mais hoje em dia que os laços familiares andam tão frouxos. O caso do senador Tião Vianna, do PT do Acre, é de deixar os olhos molhados.

Sua filha mais velha viajou para o México em janeiro. Então Vianna emprestou seu próprio celular para ela usar durante as duas semanas que fio ou no exterior. Coisa de paizão, é claro. Mas deixemos o próprio senador contar: “"Fiquei preocupado em não conseguir me comunicar com ela. Foi uma atitude de pai".

Não é bacana? O problema é que o celular é do Senado, com as contas pagas pelo contribuinte. O senador justifica dizendo que já pediu à direção-geral do Senado para verificar o valor das ligações. O paizão paga. Agora que saiu na Folha de S. Paulo, é claro.

Mas esse tipo de abuso traz outras informações sobre gastos do Senado, fatos que se em tempos normais já são bem desconfortáveis, que dirá em época de crise. É o velho Senado custando os tubos para o pobre brasileiro. Por que não fechar aquilo lá? Alguns países não tem Senado e funcionam muito bem.

Mas vamos aos gastos. Os 81 senadores tem direito a dois aparelhos celulares e um telefone fixo no apartamento funcional. Tudo sem limite de conta. Vou repetir: sem limite de conta. Parece coisa de gênio da lâmpada, não? É o sonho de consumo de muita gente.

Você deve ter pensado o mesmo que eu sobre o porque de dois celulares. Um é para o senador, outro para o chefe-de-gabinete. E, claro, se o senador for um paizão, então ele empresta para a filhota.
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POR José Pires

terça-feira, 17 de março de 2009

É a ecologia, estúpido!

E a derrubada continua, com o Brasil na frente de todo o mundo como um país destruidor da natureza. O relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) divulgado ontem diz que o mundo perdeu 7,3 milhões de hectares de selva entre 2000 e 2005. O Brasil é responsável por 42% deste total.

Em relação à America do Sul o nosso país também está na frente em destruição. De todas as matas perdidas na região, 75% foi registrado aqui.

O desmatamento é apenas a parte visível da devastação que está sendo feita em nosso país, pois quando aparecem nas estatísticas estes números de árvores derrubadas toda uma gama de recursos naturais já se foram: plantas menores, rios, mananciais, bichos, peixes, insetos, talvez até populações humanas — brancos e índios — expulsas dali para a derrubada ou pela devastação posterior. Enfim, uma variedade em diversidade biológica que já se acabou.

Em meu blog o humor tem um peso relativamente alto, mas escrevo sobre um assunto como este com dor no coração.

Quando falo sobre situações sem perspectiva de solução como é o caso do desmatamento no Brasil costumo ironizar que só chamando as tropas da ONU. A piada pode um dia tornar-se realidade. Se fosse por mim, sinceramente, pessoalmente teria pouco do que me queixar, pois já estou naquela fase temporal da vida em que o passado é bem maior do que o futuro. Mas e os pequenos?

A ecologia para o governo brasileiro é assunto de somenos. O governo Lula é de modo notório avesso às questões ambientais, a partir da própria visão pessoal do presidente da República. Guia-se por uma lógica exclusivamente econômica, sem preocupar-se com as conseqüências ecológicas do industrialismo cego de sua equipe.

E na área da ecologia seu projeto sucessório é mais do mesmo. Dilma Roussef também despreza o assunto. Tanto ela quanto Lula ainda parecem viver no tempo em que o ser humano pensava que a natureza era eterna, inextinguível, sempre se recompondo de qualquer estrago ambiental.

Eu penso que já passou da hora de começar a dizer que somos governados por gente tola. É visível que o presidente Lula é uma pessoa de horizonte limitado, embasbacado pela solenidade do poder e que pensa apenas em se divertir. O próprio processo do poder o encanta, mas é um poder vazio que tem produzido muita coisa ruim.

Então dá-lhe hidrelétrica, transposição do São Francisco, ou qualquer outra coisa que dê prestígio eleitoral. Até em Usina Nuclear estão pensando. E o que são umas árvorezinhas perto de um ano eleitoral? Entre um "cerradinho" e a soja, estranha escolha por eliminação proposta por ele, Lula já disse que fica com soja.

Lula é o chefe de um governo com uma voracidade eleitoral incomum, mesmo para um país como o nosso onde os políticos pouca preocupação tem à mais que vencer a próxima eleição. Mas é claro que o problema não começou com Lula. Nenhum governo teve preocupação séria com o meio ambiente. E nesta tocada o país vem sendo destruído gradativamente.

E o pior é que todos fingem ser modernos, mas na verdade conservam o mesmo modelo de sempre de um Brasil inserido na eterna condição colonial de exportador de produtos primários. Com as hidrelétricas para gerar eletricidade para siderúrgicas exportadoras lá se vai nossa água, nossas terras. Fica a degradação. Com o avanço da derrubada para a criação do gado e para o biocombustível se vai toda a nossa natureza. O destino parece ser o mesmo do pau-basil: a extinção.

Como todo humor, a piada sobre a entrada de tropas da ONU no território brasileiro é baseado em temores reais. Nosso país cuida mal do que tem e nem está preparado para defender recursos naturais que sempre foram visados por países poderosos.

Até já virou jargão a frase do marqueteiro que teria virado para Bill Clinton em sua primeira eleição e dito "É a economia, estúpido". Pois agora é a ecologia. Dá para entender que Obama esteja ocupado no momento com a economia. É preciso arrumar a casa destruída para se ter estrutura para avançar. Mas espero que ele não seja estúpido de achar que agora também é a economia.

Infelizmente a crise econômica concentra a atenção de todos, mas a crise mais grave é na verdade a ecológica. Basta prestar um pouco de atenção até aos fenômenos apenas locais para sentir que está em gestação um processo de deterioração de difícil controle. Não é uma boa sensação. Faz até um ateu rezar para que não haja logo uma explosão, pois aí duvido que haja capacidade humana para resolver.

O Brasil cuida mal do que tem e tampouco está preparado para a defesa de seus recursos naturais. Pouco se faz na área, apesar de todos os prognósticos científicos apontarem para uma situação dramática para a humanidade. É provável que tenhamos um futuro calamitoso. Bem, quando houver o desespero em outros lugares, talvez venham buscar aqui o que estiver faltando. Quem viver verá.
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POR José Pires

Revanchismo


A foto é do jornal O Globo, que publicou o assunto na capa. O tal “Choque de Ordem” do prefeito, como é mesmo o nome dele?... ah, sim, Eduardo Paes, agora reprime as bicicletas, colocando o Rio na contramão dos nossos tempos, já que o estímulo ao uso de bicicletas é uma das soluções para as problemáticas cidades de todo o mundo.

Existe também a possibilidade de que seja uma atitude revanchista do prefeito, humilhado pelo adversário Fernando Gabeira em debates no ano passado. Paes ganhou a eleição por pouco e mesmo assim só depois de se aliar com tudo quanto é traste da curva de rio que é a política brasileira.

O deputado Gabeira é conhecido por andar de bicicleta, inclusive em Brasília — até mesmo para ir da casa ao seu local de trabalho, o Congresso Nacional.

Mas no Rio, Gabeira que se cuide. Lá, o prefeito apreende sua bicicleta.
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POR José Pires

Obama brabo, Lula gastando

A crise econômica é braba, mas os privilégios de alguns continuam intactos. Nisso não se mexe. E atitudes que certamente foram a causa da crise continuam sendo mantidas como se vivessemos no melhor dos mundos.

O problema é tão grave que deixou o presidente Barack Obama fulo da vida com segurado AIG e sua história de dar bonificações de US$ 180 milhões para altos funcionários. Os prêmios fazem parte de uma bolada de US$ 450 milhões, de modo que, se a indignação de Obama não for suficiente do dinheiro já embolsado, ao menos dá um basta à farra.

A gigante norte-americana do setor de seguros foi salva da falência pelo governo que lhe deu U$ 180 bilhões de ajuda. No ano passado o prejuízo da empresa foi de U$ 99,3 bilhões. E então qual é o motivo da bonificação? Talvez o fato de ter pegado toda essa bolada e feito de trouxa o contribuinte.

Os bônus milionários foram considerados por Obama uma ofensa ao povo norte-americano nesta época de crise. “Como vão justificar esse assalto aos contribuintes?”, ele perguntou em público. E ainda disse que seu governo adotará todas medidas legais para limitar a farra.

Legalmente pode até não ser possível, mas não importa. O presidente norte-americano está mandando um forte recado. Desse modo delimita de modo sério as condutas no mercado financeiro e também forma uma cultura para o enfrentamento da crise.

Mas e aqui, como vão as coisas? O jargão popular que diz que “o exemplo vem de cima”, sintetiza com perfeição o que se espera de qualquer governo atualmente. Será que Lula conversou sobre isso em seu encontro com Obama? Duvido. Obama poderia ficar bravo.

O governo Lula continua mão aberta nos gastos internos. Hoje o jornal O Globo traz notícia sobre o aumento nas faturas dos cartões corporativos utilizados pela Presidência da República. O aumento já é de 405% em 2009.

Vamos ao que o jornal publica: “O ano ainda está no começo e a crise econômica se agravou, mas as faturas dos cartões corporativos utilizados pela Presidência da República já registram gastos de R$ 2,785 milhões, 65,5% de tudo que foi gasto com os cartões em 2008: R$ 4,250 milhões”.

É um espanto. Imagino o Obama sabendo de uma coisa dessas. Ficaria branco de raiva. Podia até correr o Lula da Casa Branca. Mas veja mais: “Os gastos entre 1º de janeiro e 11 de março deste ano representam uma alta de 405,8% sobre as despesas do primeiro trimestre de 2008. De janeiro a março do ano passado foram gastos com os cartões corporativos R$ 550,6 mil. Os R$ 2,785 milhões deste ano foram gastos só até 11 de março, data em que foi fechado o levantamento. Até o fim do trimestre, a alta registrada será ainda maior.”

O encontro de ontem permite um paralelo entre os dois presidentes. Talvez aconselhado por algum marqueteiro, evidentemente Lula tenta colar sua imagem a de Obama. Em seu discurso, aparentemente espontâneo, esta questão se coloca o tempo todo.

Mas é mais uma farsa que tomara que não seja engolida pela opinião pública. Obama e Lula são antípodas. Enquanto um está zangado com bônus praticados por empresas privadas o outro pratica a gastança o dinheiro público.
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POR José Pires

O presidente viajante

Parece até ironia. As despesas com o cartão corporativo, que deram um salto impressionante, se referem principalmente aos gastos com viagens do presidente Lula.

Bem, se as viagens fizessem sentido prático para o país, ainda seriam aceitáveis, mas o fato é parece que Lula viaja por dois motivos principalmente: pra fugir do batente e para efeitos marqueteiros.

Para a viagem aos Estados Unidos, crave os dois motivos acima. Não teve nenhum sentido prático para o país, nenhum dos dois, aliás. Obama deve ter penado para arranjar um espaço na agenda para receber o presidente do Brasil (Lula pensa que é ele, pessoalmente, o motivo da deferência, e só vai cair na real quando desapear do poder).

E até a ministra Dilma Roussef foi junto. Nem vou perguntar se ela não tem o que fazer aqui. Uma das razões do PAC não andar pode ser essa. A mãe do PAC não pára mais em seu gabinete.

Desde que Obama tem recebido poucas visitas, quase nenhuma — eu mesmo agora não lembro de nenhuma recente. E o motivo é evidente. Os demais governantes, ou pelo menos os responsáveis, sabem que ele tem muito o que fazer. Talvaz não haja nenum governante tão atarefado quanto ele hoje em dia. Parece que tem uma baita crise econômica por lá e, se não me engano, atualmente o mundo todo depende do seu trabalho. Só um chato aparece nessa hora.

Lula tinha o que fazer nos Estados Unidos? Bem, vejamos sua agenda lá. No sábado teve o encontro com o presidente Obama na Casa Branca às 11 horas da manhã. Antes Lula se reuniu com o presidente da Federação Americana de Trabalho - Congresso das Organizações Industriais (AFL-CIO). Uma hora de papo com o presidente da AFL-CIO, não sei o que conversaram e nem quero saber, mas não dá para muita coisa. Foi mesmo tempo com Obama. É bom lembrar que tem sempre o tradutor no meio. Ora, com tradução, até um bom dia demora um pouco mais.

O presidente almoçou na embaixada brasileira e ás três da tarde já embarcava para Nova Iorque. No dia seguinte em Nova Iorque, domingo, só teve passeio (põe no cartão!). Nenhuma atividade oficial.

Na segunda-feira, dia do regresso, durante a manhã Lula teve um café da manhã com a direção do Wall Street Journal e um seminário que parece ter sido feito às pressas e de nome bem estranho: “Brasil: Parceiro Global em uma Nova Economia; Estratégias Sólidas para Momentos Desafiadores”. Depois do almoço (põe no cartão, garçom) deu também uma entrevista ao programa “Fareed Zakaria GPS”, da rede CNN. E às sete da noite voltou para o Brasil.

Talvez seja um dia bastante atarefado para um líder sindical. Mas para um estadista é pouco.
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POR José Pires

segunda-feira, 16 de março de 2009

Café com o presidente

Para não dizerem que só faço oposição, estou pensando em mandar uma idéia para o presidente Lula aproveitar em seu governo.

Em seu programa “Café Com o Presidente” de hoje, Lula disse que o Brasil vai construir junto com os Estados Unidos uma proposta para ser levada ao G20. Olha a conversa: segundo ele, Obama tem o interesse em “construir, junto com o Brasil, uma proposta para que a gente possa levar pro G20".

Lula disse também que discutiu “muito” com Obama sobre a América Latina. De novo ele: “. Eu já vinha discutindo isso com o ex-presidente Bush e retomei a conversa com o presidente Obama, de que é preciso que os Estados Unidos tenha uma nova visão na sua relação com a América Latina democratizada, com a América Latina que está crescendo, ou seja, uma América Latina que fez uma opção pelo desenvolvimento.”

Bem, Lula esteve apenas uma hora com o presidente Obama. É um tempo em que não dá para discutir “muito” assunto algum, mesmo sem levar em conta que o brasileiro depende de um tradutor, já que não fala inglês.

E nesta parte que nos toca, Lula aproveitou para recontar em seu programa a história da América Latina. Segundo ele, “estamos dando exemplo de democracia na América Latina com a eleição de todos nós que fomos eleitos nos últimos seis anos”.

Atentaram para o período destacado por ele? Pois é, não é surpresa alguma vindo de quem vem, mas só para constar, a democracia vem bem antes do governo petista. E caso não houvesse esse esforço anterior, jamais Lula poderia ter sido presidente do Brasil. Mais ainda: a democracia no Brasil nada deve à sua eleição e muito menos para o seu governo. Preciso dizer também que seu partido, o PT, atrapalhou bastante no período pós-ditadura? É só lembrar da constituição de 1988 (catorze anos antes dos "seis" de que Lula fala!) e, antes, muito antes, do comportamento do PT na eleição de Tancredo Neves em 1985. Se dependesse de Lula e dos petistas o presidente seria Maluf. 

E também quanto à democracia, o que o PT e Lula vem fazendo neste seis anos com o estímulo ao  desrespeito ético que hoje parece até institucional é expandir o descrédito na política trazendo um risco extremo à própria idéia da democracia. Lula é o presidente que de forma voluntária fortaleceu a idéia de que todos os políticos são iguais, isto é, nivelados moralmente ao nível da sarjeta.
Isso não é nenhuma novidade. Lula sempre reescreveu a história brasileira para adequá-la aos interesses seus e de seu partido. Agora passa a reescrever história da América Latina. Com isso apaga o advento da democracia no Chile, com a vitória do “Não” a Pinochet em 1988 e a eleição de Patricio Aylwin, da Concertacion, em 1990.
O presidente inzoneiro também faz questão de esquecer Tancredo Neves e até de Itamar Franco e, logo depois Fernando Henrique Cardoso, estes dois últimos presidentes à frente de governos muito mais importantes do de Lula para o fortalecimento da democracia.

Mas, como eu disse, é só para o registro. Longe de mim querer que o bom senso se aproxime do Palácio do Planalto. Mesmo esse encontro com Obama é  mais uma daquelas viagens que servem apenas como reforço eleitoral para Lula. O homem da marolinha estava precisando de algo parecido para fazer de conta que está agindo contra a crise.

Mas vamos ajudar o governo Lula e dar nossa sugestão, que nada tem a ver com o G20 e nem com o Obama. É para o programa de rádio do Lula. Eu sugiro mudar o nome “Café Com o Presidente” para “Cascata Com o Presidente”.
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POR José Pires

Jota e a Era Lula

sábado, 14 de março de 2009

Agora vai


Eu estava bastante preocupado com a crise econômica global, mas acho que a partir do encontro de hoje as coisas vão melhorar. Vejam o que o Lula foi fazer lá. São palavras dele: "Nós não podemos esperar 10 anos. Essa crise tem que terminar este ano. Portanto, tem coisas que precisam ser feitas com urgência. Eu sei algumas coisas que precisam ser feitas, vou conversar com Obama".

Ufa! Até que enfim apareceu alguém para dar jeito nessa marolinha. A pessoa que vem logo atrás de Lula é o tradutor dele. Espero que ele tenha passado direito as determinações de Lula para o presidente Barack Obama.
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POR José Pires

sexta-feira, 13 de março de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

Papa desinformatizado

O Papa Bento VI chorou as pitangas nesta semana em razão dos problemas causados por sua decisão de readmitir na igreja Richard Williamson, aquele que nega o Holocausto.

Em carta datada da última terça-feira sobre a anulação da excomunhão de quatro bispos consagrados à revelia do Vaticano pelo arcebispo Lefebvre, católico tradicionalista francês morto em 1991, o Papa confessou que anda desatualizado das novas tecnologias de informação. Lefebvre morreu excomungado pela Igreja por cisma e pela consagração dos bispos, entre eles Williamson, sem a permissão do Vaticano. Foi também uma questão de disciplina interna, algo muito precioso para a Igreja Católica.

Evidentemente o arcebispo francês é um ídolos da extrema-direita católica, especialmente na França, mas também em todo o mundo. Deve ter também a simpatia de Bento VI, ele próprio, aliás, também bastante próximo do Opus Dei, outra organização de extrema-direita formada por católicos.

Ainda sobre o tema, antes da excomunhão em 1988 quase houve um acordo entre a Igreja e Lefebvre. Pelo lado do Vaticano assinava o acordo o então cardeal Joseph Ratzinger.
Mas por que estamos neste assunto? Já prevejo o estranhamento de alguns leitores a esta minha concentração em temas eclesiásticos. O cara some, não posta desde segunda-feira, e agora volta com este papo igrejeiro. Ou estava em retiro espiritual e se converteu ou entrou no PT. Não seio o que é pior.

Calma. O assunto é internet. Na carta que citei acima e que está no site do Vaticano, o Papa Bento XVI, lamenta que o que ele chama de “caso Williamson”, o bispo que nega o Holocausto, tenha se sobreposto à remissão da excomunhão e influído para que houvesse um mal-entendido quanto à recente reconciliação entre cristão e judeus.

No mesmo texto, logo depois o Papa escreve que a “sobreposição de dois processos contrapostos”, ou seja, a remissão e o bispo que nega o Holocausto, lhe escapou por falta de informação. Parece coisa de velho descobrindo tecnologia, mas ele afirma que um pouco mais de atenção à internet poderia ter poupado a Igreja desses dissabores.

Leiam o que Bento VI escreve: “Disseram-me que o acompanhar com atenção as notícias ao nosso alcance na internet teria permitido chegar tempestivamente ao conhecimento do problema”.

E depois aconselha a Santa Sé a prestar mais atenção “a esta fonte de notícias”. Só faltou falar que o Papa só é infalível se contar com a ajuda de São Google.
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POR José Pires

segunda-feira, 9 de março de 2009

Aos poderosos, o Céu

Já vi de tudo na blogosfera petista para desqualificar adversários ou para incensar alguma figura governista, mas hoje em seu blog Luís Nassif inovou bastante. Para paparicar poderosos ele está distribuindo vaga no Paraíso . E não é em Brasília, não. É no Céu mesmo.

Sei que é bem estranho, mesmo vindo da seara governista da internet, gente que se esmera em mostrar serviço ao governo Lula, mas já explico.

Frei Betto, que já foi muito querido pelos governistas, hoje é o demônio da vez. Hoje ele deu uma entrevista no jornal O Estado de S. Paulo onde faz críticas ao Bolsa-Família, chamado por ele de “projeto de poder”. Na sua fala, ele diz que o programa assistencial é meramente “compensatório” e não abre nenhuma saída, ao contrário do que fazia o antigo Fome Zero.

Frei Betto saiu do governo Lula ainda no primeiro mandato, quando presidia o Fome Zero, aquele famoso programa que ia resolver o problema da fome no mundo. O Fome Zero foi extinto e substituído pelo Bolsa-Família, hoje presidido por Patrus Ananias e que tem o objetivo mais modesto de eleger o sucessor de Lula.

A entrevista de Frei Betto nada traz de novidade e nem é tão crítica. Aliás, parece mais ter nascido de uma daquelas tardes de tédio em redações que faz alguém telefonar para uma personalidade política para catar assunto. Bem, Betto está na segunda página da agenda, não? Frei está na sexta. Deu ele.

E a opinião dele também só tem importância pela histórica intimidade com Lula, de antes da presidência da República. Frei Betto é responsável por uma das mais importantes informações da nossa República, a de que dona Mariza obrigava Lula a lavar a cueca no banheiro. Não sei se ele ainda lava. Falando nisso, esta teria sido uma pergunta que talvez esquentasse a matéria.

Taí algo que os brasileiros precisam saber: dona Marisa ainda obriga Lula a lavar a cueca suja no banheiro?

Mas mesmo sendo chocha, a fala de Frei Betto deixou Nassif fulo. Onde já se viu criticar um programa tão valoroso como o Bolsa-Família? E passou a xingar o Frei Betto. Soberto, invejoso, fracassado, marqueteiro, adepto da auto-promoção, bajulador de celebridades, estas são algumas das xingações de Nassif em um laudatório texto colocando o Bolsa-Família em alturas tais que avexaria até o Lula se alguém lesse os elogios para ele.

E para cada desqualificação no Frei Betto, uma elogiada em Patrus Ananias. Ele escreve que “Um é candidato a estrela; outro, é candidato a santo”, um é fracassado, o outro vencedor, e por aí vai.

E segue lascando a lenha num e puxando o saco do outro até finalizar com uma história estranha sobre os dois, Frei Betto e Patrus Ananias, na porta do Céu se apresentando a São Pedro. Patrus Ananias então é carinhosamente encaminhado ao Paraíso pelo santo, enquanto Frei Betto é mandado ao Purgatório, segundo Nassif “para se livrar definitivamente dos pecados da soberba e da inveja”.

É impressionante. Luís Nassif inventou talvez a mais singular bajulação já havida até agora: a puxação de saco celestial.
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POR José Pires

Protógenes, a lenda

Entre todos os segredos guardados nos arquivos do computador do delegado Protógenes Queirós, não são os detalhes da vida amorosa da ministra Dilma Roussef que está deixando todo mundo curioso.

Os documentos revelados pela revista Veja foram extraídos do inquérito da Polícia Federal sobre os abusos que o delegado teria cometido na condução da Operação Satiagraha.

Protógenes estava metendo o bedelho em tudo. Espionou Lulinha, o filho milionário do presidente Lula. Grudou no ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, identificado pelo espião como “Zeca Diabo”, relatando seus variados negócios. E até bisbilhotou as relações amorosas de Dilma Roussef, descritas nos relatórios, conforme diz a Veja, “em termos grosseiros”.

Protógenes dá até o nome do parceiro da ministra, mas como ela disse que nos últimos tempos não tem tido vida amorosas, um dos dois está mentindo.

Mas o que interessa mesmo nos guardados que vazaram na matéria da Veja é a informação de que o delegado está escrevendo uma autobiografia. O título é bem bacana, com a simplicidade de alguém que é fanático por Mahatma Gandhi, como é o caso do delegado: “Protógenes, a Lenda”.

Nada vazou ainda da autobiografia da modesta figura, mas a revelação acabou ofuscando todas as outras. Afinal, os negócios suspeitos do Zeca Diabo, o gatão da Dilma ou a organização criminosa que teria cooptado o filho do presidente Lila são fichinha se comparados com a vida de uma lenda.
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POR José Pires

PAC eleitoral

sexta-feira, 6 de março de 2009

Sobre excomunhão

Um comentário de Newton Moratto, postado no texto que escrevi sobre as retrógadas ações do arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, traz informações escarecedoras sobre o ato da excomunhão na Igreja Católica. Moratto escreve usando como referência as intervenções recentes de Janer Cristaldo nesta polêmica. Cristaldo publica um blog, que hoje é um dos um do melhores da internet. No texto de Cristaldo, que pode ser acessado por aqui, você pode encontrar outras informações muito importantes sobre o tema, sendo ele um conhecedor da história das religiões. Vamos ao comentário do Moratto:

Esta história (que mais parece uma estória) é de doer mesmo. Então você não sabe como funciona esse negócio de excomunhão? Não creio que esteja muito preocupado com isto. Bem eu sei.

Contudo, o há pouco lembrado por você, Janer Cristaldo, num texto escrito logo depois do teu procurou esclarecer, e parece, ao menos em parte, que sabe como as coisas acontecem nos porões da igreja católica. Veja o que Janer diz:
"Mas não se preocupem os excomungados. Seus nomes não irão para a Serasa, nem serão privados de direitos de cidadão. As penas que atingem o excomungado são de outra natureza. A excomunhão é uma censura pela qual se exclui a alguém da comunhão dos fiéis e não pode consistir mais que na privação dos bens de que dispõe a Igreja, isto é, os bens espirituais ou anexos aos espirituais, mediante os quais a Igreja ajuda os fiéis, em nome de Deus, a conseguir a salvação. Por isso, a exclusão da comunhão dos fiéis representa um significado eminentemente canônico, isto é, a privação de todos os meios de que dispõe a Igreja e a comunidade dos fiéis para a salvação. A excomunhão proíbe receber os sacramentos, exceto a penitência e a unção dos enfermos, e celebrar ou administrar os sacramentos e sacramentais."

Faço força e me apresso em trazer a resposta, pois bem sei que a lembrada questão do Serasa pelo Janer Cristaldo é de suma importância para alguns católicos, que podem ou não saber como funciona ao certo o rito da excomunhão. Daí porque convém esclarecer.

Aliás, uma outra questão ronda e intriga o espírito do Janer, que a considero muito procedente, pois desde o primeiro momento que ouvi esta história da excomunhão também fiquei um tanto atormentado. Observa o nobre jornalista: "Além do mais, em seu ímpeto de proferir aiatolices, Dom José sequer se preocupou em saber se os responsáveis pelo aborto da menina pertenciam à Igreja Católica. Pois só pode ser excomungado quem a ela pertence."

Se são ou não católicos eu também não sei, mas aos católicos reafirmo o que está acima: para o Serasa é certo que não ficarão cadastrados.

Newton Moratto

quinta-feira, 5 de março de 2009

Passado redivivo

Veja aqui, numa reportagem da TV Globo, o arcebispo de Olinda e Recife falando sobre a excomunhão. É uma interessante experiência de linguagem observar por meio dessa fascinante tecnologia de comunicação que é a internet uma autoridade tornando atual coisas que já deviam ser apenas uma página, triste página, da história das religiões.

O som do meu computador até não é dos melhores, mas aqui de onde escrevo dá para ouvir ao fundo da fala do arcebispo, não muito nítido mas perceptível, o sussurro lúgubre da Idade Média.
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POR José Pires

Airbag: corra antes que acabe

Sabemos que no Brasil as coisas são mesmo atrasadas. Por exemplo, há algumas semanas a Câmara dos Deputados votou finalmente o projeto que torna o airbag obrigatório nos carros. Segundo estudos, entre 2001 e 2007 o airbag poderia ter evitado 3,426 mortes.

Com certeza evitaria mais. A estatística nos traz apenas os números. Porém, qualquer medida técnica traz sempre um avanço cultural — ou até é propulsionada por ele — que ocasiona outras transformações em torno do acontecimento. Por isso, se já tivéssemos airbag nos carros, certamente isso seria um sinal de avanço social. Então teríamos menos abusos e menos acidentes.

Mas esperem aí, não ocorreu avanço social algum. Na verdade, nem o airbag temos ainda. Nos Estados Unidos o equipamento é tão comum que é até motivo de piada em filmes. Aqui ele será obrigatório somente nos carros zero quilometro e, de forma gradativa, somente em cinco anos as fábricas estarão instalando em todos os modelos. Falta até o jamegão do presidente inzoneiro.

Desse modo o brasileiro terá pouco tempo para usufruir do privilégio. As previsões mais otimistas é de que o petróleo deixe de existir dentro de cerca 20 anos. Este, claro, é o prazo para extinção total. Teremos aí um período intermediário de grande escassez no qual o preço da gasolina estará lá em cima e os carros com airbag certamente ficarão parados na garagem.

Se o petróleo acaba em 20 anos, já pensou quanto estará o preço da gasolina em, digamos, dez anos? É chato, mas o Brasil chegou à sociedade de consumo quando já não há quase nada para consumir no mundo.

É claro que me tacharão de pessimista aqueles que acreditam que o mundo vai rodar movido pelo combustível vegetal do nosso presidente inzoneiro. É uma aposta com teores altamente excludentes na área do consumo. Você pode até sair por aí com seu carro movido a etanol, mas não vai ter espaço para criar boi para o hambúrguer.

Por isso, corra. Ou melhor, não corra... bem, sei lá. O airbag chegou tarde no Brasil. Ou melhor, o Brasil chegou tarde ao airbag.

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POR José Pires

E não sabem mesmo o que fazem

Eu falei do atraso brasileiro lá em cima, mas além da carência técnica que vivemos, tem notícias que deixam nos deixam com a sensação desconfortável de viver na Idade Média. Pelo que revelam de carência filosófica e intolerância, tais fatos trazem ares nada bons para a vida brasileira. E para este desconcerto espiritual e filosófico, certos setores da Igreja Católica, assim como as demais seitas que se autodenominam de “Igrejas”, ajudam bastante.

Vejam essa. O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou ontem a mãe, os médicos e outros envolvidos no aborto da menina de 9 anos, que foi feito anteontem. Excluiu a menina da pena, o que não deixa de ser um gesto bem bacana da parte dele.

A menina — uma criança de 9 anos — havia sido abusada sexualmente pelo padrasto e ficou grávida de gêmeos. A situação é muito simples: a criança corria o risco até de morrer durante a gestação. A gravidez foi interrompida dentro da lei, claro, já que em caso de estupro ou risco de vida para a mãe o aborto é permitido.

O arcebispo, que já havia se manifestado contra o aborto, agora excomungou todos os envolvidos no aborto. A prepotência e falta de equilíbrio impressiona mesmo em um país como o nosso. A intolerância não é exatamente uma singularidade na Igreja Católica, principalmente no reinado de Bento XVI (que já mandava na igreja quando João Paulo II estava vivo), apelidado de "o pastor alemão" pelo excelente Janer Cristaldo, mas tem vezes que até mesmo eles exageram.

Dá pra sentir o bafio podre da Idade Média. Já vejo dom José Cardoso Sobrinho catando lenha para queimar os infiéis. Calma, gente, um poucio mais de Giordano Bruno e menos, bem menos de Torquemada, por favor.

Não sei como é que é regida essa questão da excomunhão na Igreja Católica, mas nesse caso aí, se quiser, o arcebispo de Olinda e Recife pode me incluir. Mas que fique claro que da fogueira estou fora.
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POR José Pires

Torquemada ressuscitado

Citei acima Tomás de Torquemada (1420-1498), inquisidor geral espanhol que instalou a intolerância e o terror em um período terrível da história da Igreja Católica. Durante a Inquisição Espanhola teriam morrido cerca de 30 mil pessoas. Os atos de Torquemada eram em parte uma reação ao início do Renascimento.

Para saber mais sobre Torquemada, clique aqui, onde está um bom texto sobre esta triste fase da Igreja Católica, uma história que tem estar sempre sendo lembrada e discutida, pois os adeptos de Torquemada, ao contrário do que a lógica pode fazer crer, não estão todos enterrados com ele.
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POR José Pires

quarta-feira, 4 de março de 2009

Dando nome aos bois

Xô para a família Sarney inteira

Assim é difícil. O eleitor maranhense expulsou pelo voto a família Sarney do poder, acabando com mais de quarenta anos de uma oligarquia que colocou o estado em uma miséria em todos os sentidos, da economia à moral, além da deplorável situação cutlural, da destruição do meio ambiente. E aí vem a Justiça e repõe no poder essa gente....

Independente se há ou não razão jurídica para a deposição do governador Jackson Lago, essa forma de atuação da justiça eleitoral desmoraliza a política brasileira e pode acabar criando uma desmotivação tremenda no eleitor. E não é só no Maranhão. A leseira da justiça cria problemas em todo o país. Agem pouquíssimo, aturando situações que são até risíveis, como as prestações de contas dos candidatos, suas declarações de renda e de gastos em campanha, peças de ficção que fazem das nossas eleições uma piada. E quando alguma decisão é tomada é quase sempre desse jeito: com atraso e cercada de supeições.

O resultado final nunca é bom. Agora o Maranhão vive esse trauma. Tomara que os recursos jurídicos que ainda restam para Jackson Lago possam dar um conserto na atual decisão da Justiça. Se a família Sarney voltar mesmo para o governo do Maranhão quem é que por lá pode acreditar na força do voto?

Na ilustração, um adendo meu à imagem do Xô Sarney!,
campanha que nasceu nos muros da capital do Amapá e que
quase fez José Sarney perder a eleição para senador em 2006
.
O Xô tem que ser para toda a família e até para todos os "sarneys",
já que a palavra parece ter virado sinônimo de político sem ética
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POR José Pires

Bancada do Lost

Cesar Maia volta com seu Ex-Blog. Desde o início da semana o correio eletrônico cai certinho no meu computador. Indepentente do que se possa achar de sua posições, o ex-prefeito do Rio é um caso raro na política brasileira. É um político que usa a cabeça para pensar a política com profundidade. E faz isso com raro talento, até com ótimas tiradas humorísticas.

Hoje ele aponta algo interessante que acontece com São Paulo e que a mídia está deixando de ver por estar envolvida em tantos outros assuntos aparentemente maiores. Maia fala sobre o "desaparecimento" da bancada federal do PT de São Paulo. E isso no meio de uma crise econômica global.

E a bancada paulista do PT sempre teve um peso político nacional exatamente por ser bastante representativa na área econômica. Cesar Maia tem razão: cadê eles? Até mesmo o senador Suplicy sumiu de cena com sua persistente bandeira da renda mínima.

O sumiço da bancada é ainda mais marcante no momento que o mundo atravessa. Faz falta aquele pessoal extremamente crítico em relação às mazelas econômicas brasileiras. E do mundo também, claro. Será que estão satisfeitos só com o bolsa família? Bem, parte do problema, é que o mensalão fulminou a imagem sobre a qual se assentava essa bancada. E os escândalos também varreram para o baixo clero ou para lobbies obscuros gente com o deputado José Genoíno e o cassado José Dirceu, além de outros que não cabe citar agora, uma porção de parlamentares com boa presença física e bons discursos, elementos essenciais em qualquer campanha.

É um problema para 2010. Sem um puxador de votos com o peso político de Lula na cabeça de chapa das próximas eleiçõesa, a tendência é de que haja muita dificuldade para o PT em São Paulo, o que acaba influenciando a imagem do partido em todo o país. E também a sorte do próprio cabeça de chapa.

Eu acredito até que o sumiço da bancada federal paulista é um dos motivos do fiasco na eleição para a prefeitura paulistana. E uma causa bem forte, já que a eleição na capital sempre teve as estrelas nacionais petistas com um papel definidor. E na eleição passada se a candidata à prefeitura saísse na rua abraçada com alguns expoentes de seu partido certamente a população gritaria pega ladrão.

E hoje é difícil apontar um deputado paulista do PT com presença marcante no cenário federal e que tenha o respeito da população paulista. Alguém aí lembra algum nome? Pois é. Vai ser um problema para Dilma Roussef nos passeios eleitorais pela Mooca, Itaquera, Penha, Sorocaba, Campinas, Ribeirão Preto e tantos outros lugares em 2010.
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POR José Pires

terça-feira, 3 de março de 2009

A ditabranda e outras durezas

O grande problema de uma estupidez é que ela sempre pode levar à outra estupidez. Talvez até maior que a inicial. E quando entram no meio certos setores da esquerda, então, aí a coisa está feita. Ou melhor, malfeita.

Quem começou foi a Folha de S. Paulo. O jornal publicou um editorial, em que chama a ditadura militar brasileira de “ditabranda”. Quem é que lê editorial? Pois agora este todo mundo leu. É uma besteira sem tamanho fazer o comparativo entre diferentes ditaduras. Não há metro para isso. Os contextos são diferentes. Há quem compare o número de mortos do golpe de 64 Brasil, com golpes na democracia de outros países, mas não creio que o caráter político de uma ditadura seja melhor compreendido por seus mortos. Uma ditadura pode até ter um número menor de assassinatos ou de prisões e ser tão implacável nos males para a democracia quanto um governo sanguinário.

Aqui tivemos menos assassinatos que no Chile. Mas em que isso diminui o caráter nefasto desta ou daquela ditadura para a humanidade? Para duas realidades tão dispares quanto o Brasil e o Chile, independente de quanto uma ou outra matou, a única coisa certa é que as duas ditaduras foram péssimas para ambos os países.
E a ditadura chilena durou menos, 17 anos, contra 21 anos da nossa. Lá no Chile já aconteceram punições contra os militares, sendo que seu chefe máximo, Pinochet, só não acabou condenado porque morreu antes. O neto do ditador, um capitão, também foi expulso do exército por defender a ditadura em discurso no enterro do avô. Aqui nada ocorreu, nem com os bagrinhos do regime. E volta e meio um general comete ato de insubordinação sem que nada aconteça. Qual foi a pior ditadura?

Mas, de qualquer modo, é uma comparação que não faz sentido, ainda mais com o número de problemas que temos pela frente. Branda ou não, o que importa são os efeitos do autoritarismo na vida e na cultura de um povo. E na nossa cultura os efeitos não tem nada de brandura. Basta ver a violência e a corrupção que ainda tomam conta da vida brasileira. Se isso não é coisa de ditadura, então não sei o que é.
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POR José Pires

Dando assunto pro adversário

Mas a Folha caiu na besteira de falar em “ditabranda” e acabou dando o mote que muita gente ligada ao petismo precisava. Mas a besteira do jornal não parou aí. Entre as pessoas que mandaram cartas para o jornal reclamando do estranho neologismo, duas delas, o professor Fábio Konder Comparato e a socióloga Maria Victoria Benevides, receberam uma resposta bem agressiva.

O diretor de redação Octavio Frias Filho escreveu e publicou o seguinte: "Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa".

Desde quando o senador José Agripino, do DEM, fez a famosa pergunta à ministra Dilma Roussef sobre seu comportamento debaixo de tortura que a esquerda não recebia um mote tão bom para ocupar espaço político e de mídia. Não sei se foi de caso pensado, mas o fato é que quando sentiram a linha fisgar com a "nota da redação", Comparato e Benevidez caíram com gana no assunto.

Comparato menos. Quem tem agido com intensa avidez na exploração da polêmica é Maria Victória Benevides. Aproveitando-se do incrível erro da Folha, a socióloga tem estimulado a criação de manifestos, manifestações públicas e o que mais surge para fortalecer a polêmica e elevar seu papel pessoal.

O editorial da "ditabranda" somado à patada em Comparato e Benevides acabou sendo uma oportunidade e tanto para grupos com o interesse de desviar o foco cerrado sobre a corrupção e a incompetência do governo Lula, assuntos que estão entre os mais populares da internet brasileira apesar do investimento pesado dos petistas na criação de sites e blogs governistas.

A chamada blogosfera petista é um componente homogêneo da internet, com sites e blogs que falam a mesma linguagem, todos bem pouco atraentes e por isso mesmo com pouco público além de internautas com a mesma posição política.

A inacreditável bobagem da Folha com sua "ditabranda" trouxe uma oportunidade para essa gente mascarar seus propósitos governistas com a discussão da liberdade de expressão e do papel da imprensa durante a ditadura — alguns desses blogueiros recebem vantagens do governo, sendo que existem suspeitas de que há por detrás de vários deles a mesma sustentação política e financeira.

Daria até para entender se o puxão de orelha da Folha nos dois militantes fosse no âmbito da uma opinião pessoal, pois ambos partilham mesmo da incoerência comum em nossa esquerda de discutir com ênfase a ditadura militar brasileira e fechar os olhos para ditaduras comunistas, como a cubana. Mas do jeito que foi feito, com uma "nota de redação", que caracteriza uma opinião editorial do jornal, a Folha criou um problema institucional.

Octavio Frias Filho parece ter agido mais com a cabeça de dono do jornal (o que ele é de fato) do que de jornalista. É um dos problemas de ter o dono do jornal diretamente no comando da redação.
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POR José Pires

Blogs governistas babam de prazer

E a linha auxiliar do governo Lula, formada de blogs, sites e revistas está querendo fazer do deslize uma formidável bandeira de luta. Já houve protesto na frente da redação da Folha e corre um abaixo-assinado na internet. Esse pessoal tem mais de uma dúzia, sobre os mais diversos temas. Tem até um em defesa do italiano Battisti.

Houve uma época que eles até aparentavam ter propósitos ideológicos, mas pelo jeito o pragmatismo lulista contagiou de vez a tigrada vermelha. Já baixaram a bola, aparada e mantida no terreno meramente eleitoral. A tática imediata evidente é garantir o poder.

Maria Victoria Benevides, cuja dificuldade estilística impede qualquer proximidade com algum tipo de sutileza, entrega o jogo na revista Carta Capital dessa semana, onde publicou um texto sobre o assunto.

Lá no meio do arrazoado de má qualidade que escreveu, Benevides supõe que uma das razões para a nota de redação da Folha seria, vai em aspas, é coisa dela, “A possível derrota eleitoral do esquema PSDB-DEM, em 2010”. Bem, acho que nem precisa dizer que essa é uma argumentação bem estranha para quem pretende liderar um movimento pela liberdade de expressão e discutir o dimensionamento dos problemas históricos do país. Parece mais propaganda da candidatura da Dilma Roussef.

E acolhendo um texto tão estapafúrdio, Mino Carta, que parece ter problemas até pessoais com Frias, acabou respondendo a um erro com uma bobagem ainda maior. Sabemos o quanto é vital a a publicidade governista em uma revista semanal para o resguardo do "irremediável fracasso", como ele mesmo já escreveu. A responsabilidade em uma atividade comercial de vulto como é a da revista tem esse preço. Mas creio que não é preciso tanto.
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POR José Pires

Vamos contar direito a História

Foi um erro crasso da Folha essa conversa de “ditabranda”. O coice antijornalístico nos dois missivistas também não está certo. Mas não aconteceu nada de tão grave que não pudesse ter sido esclarecido com outra pequena nota. A vida é assim: errou, conserta.

Mas eu comecei dizendo que uma estupidez leva à outra. Pois elas se acumulam. Agora querem reescrever a história do jornal. A polêmica trouxe de volta a conhecida história dos carros que a empresa que edita a Folha de S. Paulo teria colocado à serviço da repressão policial na década de 70.

Pode até ter acontecido, mas não é fato comprovado que isso fosse uma política da empresa. A versões que circulam falam de carros da Folha da Tarde. Mas tem muita gente se aproveitando das imprecisões para tentar construir uma imagem da própria Folha de S. Paulo como colaboracionista da ditadura militar.

Mas aí já passa de equívovo. É mentira construída. O referido episódio teria ocorrido com outro jornal da mesma empresa, a notória Folha da Tarde, de triste memória. Este sim foi um jornal que colaborou, e muito até, com os setores mais extremistas da ditadura. Sua chefia da redação era ligada à repressão política.

Alguns espertos não estão nem um pouco interessado em deixar isso claro. Ao contrário, até incentivam a confusão. Não era a Folha de S. Paulo que publicava notícias sobre mortes de presos políticos enquanto eles ainda estavam bem vivos na prisão. Mas isso eles não dizem.

A mistura é até uma injustiça histórica com a redação da Folha de S. Paulo. Seus jornalistas não aceitavam a postura da Folha da Tarde e tampouco a da empresa. Existia um clima mútuo de animosidade entre os jornalistas das duas redações, que sequer tinham relações pessoais. Nem a cerveja eles compartilhavam.

Mas os disparates não se restringem a esse embaralhamento deliberado de fatos. Já li em blogs até que a Folha de S. Paulo se engajou na campanha a favor de eleições diretas para presidente da República por mera questão de marketing. São os mesmo blogs que não fazem crítica alguma ao agora lulista José Sarney, este sim um esforçado ativista na derrubada da emenda das Diretas-Já.

Poderíamos até deixar essas bobagens para lá, mas a coisa não é tão inofensiva quanto parece. Essa gente não é lá de muita qualidade e, por isso mesmo, carecem de credibilidade, mas o problema é que esse tipo de versão pode ir pegando aos poucos. Isso ocorrendo, o que pode acontecer é um fortalecimento da cultura do do “somos todos iguais”, que veio com Lula e seus mensalistas, e que já está fazendo um mal danado á cultura brasileira.

E dizer que Folha de S. Paulo foi um jornal que colaborou com a ditadura militar, além de ser uma mentira escabrosa, também desmerece o árduo trabalho de toda uma geração de jornalistas da maior qualidade — tendo à frente o grande Cláudio Abramo, pe mais entre outros, Tarso de Castro, Paulo Francis, Plínio Marcos, Oswaldo Mendes, Lourenço Diaféria e Perseu Abramo — para fazer daquele jornal um importante veículo na luta pela democracia e também um abrigo democrático para as mais variadas opiniões políticas, um papel que desempenha, aliás, até hoje. Por isso, inclusive a senhora Maria Victoria Benevides teve sempre espaço por lá. Ela que pouco deve saber das dificuldades cotidianas para editar um jornal no período da ditadura, pois no máximo comparecia com um ou outro artigo.

Extremistas jamais estão preocupados com algo que não seja a demolição de valores, qualquer valor, desde que os favoreça oportunamente. E nem é estranho a atividade febril dessas patrulhas de esquerda a serviço de um governo que no final só lhes concede algumas migalhas. Isso é assim mesmo. A história mostra que eles se valem desses pequenos golpes sempre à espera do momento que pode favorecê-los definitivamente.

A nós, cabe vigiar e atuar para que eles não prevaleçam, pois quando conquistam o poder, aí é que não tem mesmo ditabranda. Com eles é ditaduríssima.
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POR José Pires

Pegando o mote


É muito engraçada a poesia que Miguelzinho de Princesa fez para a ministra Dilma Roussef, figura relativamente recente no plano nacional (alguém já tinha ouvido falar de Dilma Roussef antes do governo Lula?) e que tornou-se objeto do desejo dos políticos da noite para o dia. Não por causa dos esticados efeitos da cirurgia plástica, claro, mas pelo tilintar dos milhões do PAC.

Desde fevereiro o texto anda sendo publicado nos blogs do norte e do nordeste. Agora as rimas engraçadíssimas saltaram de lá para todo o país, levadas pela agilidade da internet. Neste pau-de-arara de tanta possança, do Cariri para o mundo agora é que é mesmo um pulinho.

O cordel de Miguelzinho de Princesa despertou meu lado de poeta (e de cangaceiro, dirão os inimigos) e peguei um trecho para escrever uma resposta para o poeta cearense, dialogando na forma dos cantadores do nordeste. Vamos ver o material? Está é a parte do Miguelzinho da Princesa:

Eu já vi um deputado
Dizendo no Cariri
Que Dilma é linda e charmosa
Igual não existe aqui
É capaz de ser mais bela
Que a Angelina Jolie!


E pegando o mote, agora a minha visão sulista dos encantos das inacreditáveis belezas petistas:

Também no Sul do país
Puxa-saco é sem limite
A Dilma é linda e charmosa
E o Lula é o maior hit
Pro PT ele é mais belo
Que o tal do Brad Pitt



E para ler toda a poesia de cordel de Miguelzinho de Princesa, clique aqui. E vamos correr trecho que faz tempo que a polícia já está de pé.
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POR José Pires