quarta-feira, 29 de junho de 2016

A face humana de Gleisi Hoffmann

Achei muito interessante, espantoso até, ver nesses dias a senadora Gleisi Hoffmann tomando consciência de sentimentos humanos. O fenômeno ocorreu na ocasião da prisão de seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, pego pela Polícia Federal na última quinta-feira na Operação Contas Abertas, ação policial que foi um desdobramento da Operação Lava Jato. Bernardo já foi liberado por Dias Toffoli, do STF, mas terá de ficar com tornozeleira eletrônica e recolher-se à noite. Portanto, crianças: tomem cuidado durante o dia. Mas quando houve a prisão, a senadora petista ficou tocada pela emoção, o que costuma ocorrer apenas quando ela está buscando voto do eleitor e pode-se ver no horário eleitoral, quando ela surge como uma pessoa sensível, muito educada e até carinhosa com as pessoas. Quem não é do Paraná e só conhece Gleisi como a senadora de maus bofes da Comissão do Impeachment do Senado não acreditaria nem se visse com os próprios olhos. Na hora de pedir voto ela se transfigura. É difícil acreditar que alguém de tanta agressividade e até má-educação possa mudar de tal jeito, mas ela vira mesmo uma figura muito humana.
A gente poderia até pensar em tal transformação como exclusividade de uma eleição, mas agora, quando o ex-ministro foi levado pra cadeia, pudemos ver que não é só quando precisa se reeleger senadora ou disputa o governo do estado que Gleisi consegue expressar sensibilidade e preocupação. O ex-ministro acusado de pegar propina retirada de empréstimo consignado de funcionários aposentados, foi mencionado por ela, com os olhos quase marejados, como "pai dos meus filhos". A operação Custo Brasil foi também acusada por ela de ser “uma clara tentativa de abalar emocionalmente o trabalho de um grupo crescente de senadores que discordam dos argumentos que vêm sendo usados para tirar da Presidência uma mulher eleita legitimamente pelo povo brasileiro; afastar uma presidenta, legitimamente eleita por mais de 54 milhões de votos”. Como diz a moçada, "menos, Gleisi, menos". Com a desproporção da alegada conspiração não tem como isso colar, senadora.
A emoção da petista foi imensa, ainda que parecesse improvável. E, de fato, logo Gleisi voltou ao batente como a mesma Gleisi de sempre. Na segunda-feira ela ainda encenava na tribuna o papel de esposa comovida, em discurso em sessão deliberativa, quando falou pela primeira vez no Senado sobre a prisão de Paulo Bernardo. No entanto, logo depois, participando da reunião da Comissão do Impeachmment, ela voltou a ser a chamada "generala", comandando a violenta e patética tropa de choque da bancada governista, atacando de forma desonesta Janaína Paschoal, a advogada da acusação e corajosa autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff. Gleisi insinuou outra estrambótica teoria da conspiração, apontando o juiz que autorizou o pedido de prisão de Bernardo como orientando de Janaína, no curso da faculdade de Direito da USP. Já tinha de volta a cara de brava e o olhar irônico e cruel. Como eu disse, a petista voltou a seu estado normal. Quem estiver com saudade da Gleisi sensível e repleta de sentimentos humanos terá de esperar o período de campanha eleitoral. Ou então mais uma prisão do marido dela.
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POR José Pires

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Calamidade, o estado do Rio

A decretação de estado de calamidade pública pelo governo do Rio de Janeiro a dois meses da abertura dos Jogos Olímpicos tem todos os ingredientes da irresponsabilidade e incompetência do governo do PT, a começar da própria realização do evento esportivo aqui. Não faltaram avisos de muita gente sobre as dificuldades financeiras e estruturais que isso podia ser para o Brasil. E quem condenava a falta de bom senso do então presidente Lula em trazer os jogos para o Brasil nem podia prever os problemas com a mosquito aedes aegypti e suas doenças. Porém, fazer a Olimpíada no Brasil era um lance eleitoreiro do qual Lula não podia abrir mão, assim como foi com a Copa do Mundo, outro evento que o país não tinha capacidade de arcar.
Os motivos apontados pelo governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles, para a decretação do estado de calamidade também servem, todos eles, como exemplo da irresponsabilidade de Lula, Dilma Rousseff, e os aliados do PT, todos de olho em benefícios eleitorais na época em que ofereceram o Rio como sede dos jogos. Dornelles fala na crise econômica que atinge o Estado, na queda na arrecadação com o ICMS e os royalties do petróleo, além de dificuldades graves na prestação de serviços essenciais. Segundo ele, ficou impossível o atendimento nas áreas de segurança pública, saúde, educação e mobilidade. Tudo isso já era previsto, mas quem fazia qualquer ponderação crítica sobre o assunto era acusado até de ser contra o Brasil.
Como eu disse, é tudo resultado da irresponsabilidade de Lula e Dilma, os dois que chamavam de "catastrofistas" quem avisava dos riscos de trazer este mega-evento esportivo para o país. Entre os ingredientes eleitorais dessa dupla fraudulenta está inclusive os "royalties do petróleo" em queda. Cadê o milagre do pré-sal? Aquela lorota serviu não só para o sucesso eleitoral do PT como também do então governador Sérgio Cabral e seus cupinchas políticos, como Eduardo Paes, até hoje prefeito da capital. Naqueles eufóricos dias anunciava-se que a extração de petróleo do pré-sal faria da economia brasileira um paraíso, com dinheiro jorrando para a educação, a saúde e também para fazer bonito no mundo todo. Era a velha cascata de um país sempre em primeiro no pódio, que agora enfrenta uma realidade dura de vencer.
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POR José Pires

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Imagem- Dilma e Eduardo Paes em agosto de 2015 comemoram, por antecipação, em cerimônia que marcava um ano para o começo da Olimpíada

terça-feira, 7 de junho de 2016

A verba fácil da militância da TV Brasil e da blogosfera petista

Já faz um tempo que o jornalista Reinaldo Azevedo recuperou uma velha expressão caipira para falar da quantidade de encrencas criadas pelo governo do PT, que aparecem aos montes conforme a imprensa e o Ministério Público vão procurando, ou melhor, vão dando suas enxadadas. É impressionante o quanto os companheiros aprontaram nesses anos de poder. Mas a cada enxadada vai aparecendo também muito dinheiro. Surge nas perdas terríveis causadas pela incompetência, pela roubalheira, no achaque e na propina. E aparece também na dinheirama que sai dos cofres públicos para os entusiasmados defensores do governo do PT e seu projeto de poder. É um gasto impressionante.
O próprio Reinaldo Azevedo havia revelado no final de maio os salários pagos na TV Brasil, esse elefantaço branco criado pelos petistas. A audiência é um traço, mas é altíssimo o custo para cofres públicos: R$ 1 bilhão por ano. A emissora não tem telespectadores, mas o objetivo da TV Brasil não era propriamente a audiência. O negócio sempre foi o de angariar simpatias. Um desses profissionais da simpatia é Aderbal Freire Filho. Ele andou recentemente organizando atos de apoio a Dilma entre a classe artística e tem na TV Brasil pelo menos um bom motivo para gostar do PT. Fazia na emissora um programa semanal sobre teatro chamado “A Arte do Artista”. Para isso recebia R$ 68 mil mensais. Aderbal é casado com a atriz Marieta Severo, que andou dando um exaltado apoio ao PT no “Domingão do Faustão”.
Outro que ganhava muito bem na TV Brasil é Luis Nassif. Seu programa era também semanal, o "Brasilianas. org" pelo qual faturava anualmente R$ 761 mil, o que dava mais de R$ 63 mil por mês. Ou R$ 15.750 por programa. Já o jornalista Paulo Moreira Leite tinha um contrato anual de R$ 279 mil, para fazer um programa de entrevistas também semanal de nome “Espaço Público”. Todos esses programas eram de pouquíssima produção, como acontecia também com Emir Sader, que mantinha um contrato anual de 182 mil para fazer comentários. Outra comentarista política, Tereza Cruvinel, tinha um contrato anual de 182 mil.
Muito confortável "defender uma causa" desse jeito, não é mesmo? E a mamata na TV Brasil não foi o único caso revelado depois do afastamento de Dilma Rousseff. Nesta terça-feira foi divulgada a previsão de verba anual que seria liberada para blogs e sites que defendem a presidente afastada Dilma Rousseff e servem também para ataques à oposição. São 11 milhões de reais em publicidade de ministérios e estatais, como Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. O presidente interino, Michel Temer, conseguiu bloquear R$ 8 milhões do montante previsto a ser pago até dezembro. Deixam de receber recursos sites como Diário do Centro do Mundo e Brasil 247, e o blog Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, além do blog O Cafezinho, o site Pragmatismo Político e o blog de Esmael Moraes, do Paraná. Os contratos na TV Brasil foram rescindidos e foi cortado esse gasto imoral com penas alugadas para bater em adversários e bajular quem paga, usando dinheiro público. O governismo profissional do PT começa a ser eliminado. É um bom começo, que se tiver continuidade pode mudar para melhor a comunicação do Governo Federal.
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POR José Pires

sexta-feira, 3 de junho de 2016

O PT sempre na contramão do bom senso e da democracia

A atitude do ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, que abandonou na noite desta quinta-feira a sessão da Comissão Processante do impeachment no Senado, mostra o que virá por aí se os petistas acreditarem que não há jeito de reverter a queda de Dilma Rousseff. Vão tentar "melar" o processo de impeachment. Já apontei várias vezes contradições na, digamos assim, estratégia de defesa do governo Dilma e do PT para enfrentar esta crise política. A defesa desenvolvida até agora não contempla uma estratégia que preserve o partido do que está em andamento. Nesta defesa, o PT está colado ao governo de tal forma que corre o risco da inviabilização de seu futuro, independente do resultado da votação do impeachment. E no caso de Dilma, toda a defesa é feita num bate-cabeças que parece de grêmio estudantil. Não à toa, a base política da defesa do governo no Senado está sob o comando dos senadores Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann e Vanessa Grazziotin, todos os três com origem política no PCdoB, onde fizeram a cabeça na juventude. No Senado, assim como fizeram na Câmara, a condução é tão despropositada e agressiva que depois de terminado o processo no Legislativo os políticos petistas terão dificuldade até de encontrar companhia para um bate papo no cafézinho do Congresso.
Cardozo abandonou a sessão de trabalhos do impeachment no Senado e foi seguido pelos três senadores, os únicos da base do governo presentes na reunião da comissão. O motivo foi a rejeição de propostas deles. Nada substancial juridicamente, só aqueles golpezinhos de sempre que os petistas usam para embolar os trabalhos. É óbvio que fizeram essa saída de caso pensado. É visível na atitude uma manobra com um objetivo político que não está restrito aos trabalhos da comissão. O PT está se preparando para fazer o que já é um hábito no partido do Lula, que é o desrespeito à regras aceitas antecipadamente por eles. Petista sempre quebra os compromissos quando não consegue obter o resultado desejado. É quase certeza que já sentiram a contradição até cômica do discurso do golpe e suas variantes, que foram fazendo em paralelo à aceitação do governo e do partido da participação em todo o processo de discussão oficial do impeachment no Congresso Nacional. É para rir: temos em andamento um golpe com a participação dos golpeados. É possível que o desconforto político com a contradição brutal do discurso desenvolvido até agora tenha forçado a uma mudança abrupta, com a intenção de ir impondo uma saída política à maneira deles, com a desqualificação de todo o trabalho feito pelo Legislativo, no qual é forte a influência da sociedade civil brasileira.
Os petistas são assim. Não sabem ganhar, como foi muito bem demonstrado pelo resultado dos 13 anos que ficaram no poder, período em que não implantaram nenhuma política pública própria, nada mesmo de um projeto diferente do que já vinha sendo feito na política brasileira. Deram seguimento até ao roubo dos cofres públicos, com o agravamento da sistematização dessa corrupção, por meio de amplos esquemas que além do do enriquecimento pessoal contemplavam também o financiamento do projeto de perenização no poder do partido. Não sabem ganhar e não se conformam nunca em perder. O PT sempre agiu desse jeito nas situações em que as intenções partidárias ou do governo deles não prevalece. Nesses últimos meses, trabalhando duro e recebendo agressões terríveis da esquerda, os brasileiros conseguiram com a maior paciência desmontar parte do desastre econômico, ético e político que vinha sendo construído pelo governo petista. Como se diz no popular, foi tirado o bode da sala. Pois o PT quer colocar novamente o bode para dentro. É claro que numa condição política e social que já não é boa, essa radicalização pode prejudicar muito a democracia e a convivência entre os brasileiros. Mas quando é que a esquerda se preocupou em preservar o mínimo de respeito pela opinião contrária da maioria? Só fazem isso quando é do interesse deles e mesmo assim só de fingimento. Quando são contrariados pela realidade, quebram pro pau. Não deixa de ser uma forma de terrorismo. Mas foi desse jeito que eles conseguiram esse poder perigosíssimo para a democracia brasileira, que precisa ser desmontando, apesar de toda essa birra.
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POR José Pires

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Um golpe como nunca se viu

José Eduardo Cardozo entregou no início da noite desta quarta-feira à Comissão de Impeachment do Senado a defesa de Dilma Rousseff. Para quem tiver a curiosidade de ler a peça, publico abaixo o link, mas dizem que os argumentos são os mesmos de sempre, com a novidade da inclusão da conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado. Em rápida entrevista, saindo da Secretaria Geral do Senado, o defensor de Dilma disse que agora vão contestar a indicação do relator, senador Antonio Anastasia, "que pertence ao mesmo partido de um dos autores do pedido de impeachment". A alusão é ao jurista Miguel Reale. Será que o advogado Cardozo escreveu a peça com Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann e Vanessa Grazziotin? Só pode. É o mesmo argumento daqueles três gritões da bancada petista no Senado, que queriam discutir só o governo de Anastasia, em Minas Gerais.
Mas o que importa é que dessa forma prossegue então o "golpe" mais diferente que já houve nesse mundo. Pode-se dizer que nunca existiu um golpe como este na história mundial. Com direito à ampla defesa e sem nenhum constrangimento nem à acusada e tampouco as que a defendem. Só no Brasil mesmo pode haver um golpe inusitado assim. Todo mundo à vontade, dando entrevista à imprensa, recebendo apoios em pleno Palácio do Alvorada. Enfim, exercendo todos seus direitos, inclusive o de ir e vir. Não tem perseguidos, ninguém foi forçado a se exilar em outro país. Sem sangue, sem prisões, sem repressão, nenhuma tortura. É mesmo uma coisa fora dos padrões.
Os únicos apoiadores de Dilma que estão presos foram os gatunos, mas neste caso a questão é outra, até porque no pedido de impeachment não foi incluída a roubalheira. Mas no que toca ao impeachment, a liberdade é total. Soube até que o ex-ministro Cardozo goza dessa liberdade rodando de bicicleta por Brasília. Isso mesmo, ele pegou emprestada a bicicleta de Dilma para se locomover do hotel onde está hospedado até o Palácio do Alvorada, onde a presidente afastada goza de todos os direitos, até o de assaltar de noite a geladeira, caso ela deseje. Vejam só: um golpe em andamento e o defensor da presidente rodando livre de bicicleta pela capital do país. Nunca se viu coisa igual. É bizarro mesmo esse golpe à brasileira. Pode-se dizer desse golpe que ele é um um exemplo para a democracia.
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POR José Pires



Trabalhando para pagar imposto

Como o pessoal gosta de destacar datas, lembro que este 1° de junho marca os 153 dias do ano que o brasileiro trabalha só para pagar tributos. São cinco meses e um dia, conforme levantamento divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). É claro que é uma média, além do fato do estudo utilizar uma metodologia que abarca três faixas salariais: de até R$ 3.000,00 (classe baixa), de R$ 3.000,00 a R$ 10.000,00 (classe média) e acima a de R$ 10.000,00 (classe alta). Ainda segundo o IBPT, o brasileiro é obrigado a destinar 41,80% do seu rendimento bruto para uma diversidade de tributos, que vem aumentando nos últimos anos. Em 1996, o número de dias trabalhados só para pagar imposto era de 100 dias. Em 2006, era de 145 dias, até os atuais 153 dias.
É também muito claro que no Brasil o assalariado acaba sempre arcando mais com o peso dos tributos, que afeta também muito mais conforme vai caindo o poder aquisitivo. Uma quantidade enorme de brasileiros estão abaixo da faixa menor de rendimentos usada pelo estudo, uma classe social para a qual contam centavos e numa situação econômica em que pode-se perder tudo de uma hora pra outra, seja por problemas na saúde, por ter a moradia roubada, destruída ou ver os filhos se perderem por causa de drogas ou na desesperança da falta de oportunidades. Na classe média e entre os mais pobres a pressão na economia doméstica afeta até a própria sobrevivência, prejudicando inclusive a compra de alimentos e o estudo dos filhos. Na prática, perde-se a vida no desarranjo econômico. Nas classes de menor poder aquisitivo (e não estou falando dos miseráveis) pesam mais os tributos e também para essas pessoas é muito maior o peso da falta de retorno social do que é pago.
Esses números sobre os impostos costumam causar polêmicas, com opiniões que a meu ver não analisam com bom senso o assunto. Como tantos outras informações temas importantes neste país, este assunto dos impostos tem servido para a disseminação de conceitos equivocados sobre economia, a maioria sem fundamento. É proselitismo demais e do mais baixo nível, com pouco respeito a um tema tão sério. Um deles é o de que a solução seria baixar drasticamente os impostos e deixar por conta de uma fantasiosa capacidade do mercado de organizar a economia e estabelecer progresso e justiça econômica por meio do esforço individual. Do outro lado temos a esquerda, com a receita fantástica de levar os brasileiros a um paraíso social, com o Estado como promotor do desenvolvimento e da justiça absoluta. Bem, eles tiveram mais de dez nos para experimentar essa mágica e da cartola deles só saíram ratos. Gordos, vermelhos, endinheirados, mas só ratos e nenhum coelho.
Bem, agora que fiquei contra pelos menos dois lados bem encrenqueiros, digo o que penso. Comparando com o que acontece no mundo — em países que dá para levar a sério em matéria de qualidade de vida e construção de uma civilização —, como números os tributos no Brasil não são o escândalo que aparentam. Em peso de tributos nosso país está próximo de países como Noruega (157 dias), Suécia (163) e Alemanha (139), lugares nos quais devíamos prestar mais atenção em suas lições de vida, deixando para trás essa mania de grudar-se às receitas de lugares que não querem dar certo de jeito nenhum. O problema com os nossos impostos está na sua aplicação, com a falta do retorno do Estado na manutenção do bem comum. O grave é o cidadão brasileiro ter de pagar impostos e ainda por cima arcar com custos de tudo o mais, como saúde, educação e segurança, para ficar em apenas três das tragédias que hoje em dia acabam literalmente com a vida do brasileiro, sem falar em todos os outros custos, diretos ou não, que resultam da falta geral de infraestrutura em todo o país. Para mim, não é preciso baixar imposto. Não há problema em pagar o pato, desde que este pato possa ser visto por aí, como acontece em países como Noruega, Dinamarca, Suécia e outros lugares em que o dinheiro público é aplicado para a qualidade da vida das pessoas.
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POR José Pires

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Refrescando a memória de Dilma

Os depoimentos do empreiteiro Marcelo Odebrecht, agora que ele assinou delação premiada na Lava jato, vão servir para refrescar a memória da presidente afastada Dilma Rousseff. Em entrevista à Folha de S. Paulo, na semana passada, quando foi questionada sobre encontros que manteve com Marcelo Odebrecht, ela disse o seguinte: “Eu não recebi nunca o Marcelo no [Palácio da] Alvorada. No Planalto, eu não me lembro”. Era mentira dela e logo uma verificação feita pelo jornalista Josias de Souza nos arquivos arquivos eletrônicos do Planalto mostrou que Dilma recebera o dono da Odebrecht pelo menos quatro vezes desde que virou presidente. Isso oficialmente, é claro. Duas dessas visitas do empreiteiro foram no Palácio da Alvorada, a casa dela. Se encontraram em 2014, ano de campanha para reeleição. No Palácio do Planalto o empreiteiro teve duas audiências com a presidente, ambas em 2013.
Dependendo do que Marcelo Odebrecht terá para dizer ao Ministério Público, a reeleição pode ser um grande problema de Dilma e provavelmente não será o único. E pela sua negação imediata sobre os encontros que teve com o empreiteiro, a impressão que ela passa é que tem medo do que vem por aí. Ora, por que Dilma tentou esconder que recebeu o presidente de uma das maiores empreiteiras do país, que inclusive presta serviço ao Governo Federal? Em teoria, não há nenhum problema num encontro desses. A não ser que a conversa entre os dois tenha se desenvolvido por outros lados que não a boa relação entre o Estado e um prestador de serviço. Por isso eu acho que essa delação premiada do Marcelo Odebrecht vem em boa hora, agora que Dilma anda tão esquecida quanto seu padrinho Lula. Ela pode descansar a cabeça que o Marcelo é capaz de lembrar de tudo de interessante que aconteceu entre os dois.
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POR José Pires

Os apuros de Lula

Já faz tempo que até virou piada aquele velho papo do ex-presidente Lula, que a cada escândalo repetia que não sabia de nada. É óbvio que ele sempre esteve por dentro do que acontecia, a menos que fosse um idiota. Lula sabia de tudo e os brasileiros não tinham dúvida disso. O que faltava eram as comprovações de sua participação nos esquemas, o que foi aparecendo nas delações, em áudios vazados ou liberados pela Justiça e nas demais etapas da investigação. O que veio a público até agora deve ser uma parcela pequena do que foi descoberto pelo Ministério Público, no entanto o que foi divulgado já demonstra que o chefão do PT não só estava a par de tudo como tinha um evidente poder no encaminhamento das negociatas.
Em seu depoimento ao Ministério Público, o ex-deputado Pedro Corrêa sustenta que Lula tinha participação direta desde o tempo do mensalão. "Lula tinha pleno conhecimento de que o mensalão não era 'caixa dois' de eleição, mas sim propina arrecadada junto aos órgãos governamentais para que os políticos mantivessem as suas bases eleitorais e continuassem a integrar a base aliada do governo", disse Corrêa. Isso só vem corroborar a opinião de muita gente que achava já na época que o chefão do PT devia ter sido denunciado no processo do STF. Com a propina do mensalão, Lula garantia o apoio no Congresso Nacional às matérias do interesse do governo. Na prática, o PT estava dando um golpe contra a democracia brasileira. O acordo de delação do ex-deputado aguarda a homologação do Supremo Tribunal Federal, o que será mais um problema sério para Lula, que já tem muito com o que se preocupar.
Uma das encrencas novas para ele foi a informação surgida nesta terça-feira de que Marcelo Odebrecht assinou acordo de delação premiada e já começou a prestar depoimento. Temos então a mega-sena da delação premiada. Sorte do Brasil e, por consequência, azar do Lula. O dono da Odebrecht pode trazer informações essenciais para consolidar o caminho até o chefão disso tudo. A prisão de Lula está próxima e isso com certeza é possível notar que ele sabe. É só ver o desespero dele.
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POR José Pires