quinta-feira, 20 de março de 2014

O tucano e suas alegres companhias

Está sendo bastante compartilhada uma foto do tipo "lenda da internet", pelas dúvidas que aparecem sobre sua veracidade. Andam dizendo que é uma manipulação de photoshop para atacar a imagem de Fernando Henrique Cardoso, já que na cena ele confraterniza alegremente com Fidel Castro e Hugo Chávez. Existem versões que dizem até que colocaram a cabeça de FHC no corpo de Lula, mas seria um trabalho muito difícil eliminar no computador o barrigão do Lula. Ora, a foto é verdadeira, sim, e tem até uma cena mais animada entre o tucano e Castro, como pode ser visto na imagem.
Porém, nem seria preciso uma análise técnica para saber que a foto é mesmo do então presidente brasileiro confraternizando de forma efusiva com Chávez e o ditador cubano. O encontro foi muito importante na época e FHC devia sua euforia ao alívio da inauguração da linha de transmissão de energia entre Venezuela e Brasil. Seu governo estava no auge do famoso apagão. No mês anterior havia sido decretado um corte obrigatório no consumo de energia. O encontro entre os três foi no dia 13 de agosto de 2001 e Fernando Henrique Cardoso estava mesmo rindo à toa. Era uma boa notícia no meio do caos.
Não tenho objeção a quem acha que um presidente brasileiro deveria ter um comportamento ao menos mais discreto num encontro com Fidel Castro, mas é preciso observar as diferenças práticas do governo dos tucanos com o governo do PT em relação à ditadura cubana. É bem antiga a relação direta do PT com o regime cubano. Quando foi presidente da República, Lula compareceu sempre com muito gosto ao lamentável beija-mão a Fidel Castro. Mesmo depois de sair da presidência, Lula esteve várias vezes em Cuba e fez questão de distribuir fotos do beija-mão com o ditador. Como presidente, o apoio de seu governo ao autoritarismo na ilha foi total. Lula também fez até aquela famosa declaração colocando os presos políticos de Cuba no mesmo nível dos presos comuns do Brasil. Seu governo também deportou para Cuba os dois boxeadores que, estando no Brasil, tentaram fugir da ditadura de Fidel Castro.
A sucessora de Lula segue a mesma conduta de subserviência. A presidente Dilma Rousseff despejou através do BNDES uma dinheirama no Porto de Mariel, uma verba que o país terá dificuldade para receber de volta. E Dilma também comparece disciplinadamente ao beija-mão com Fidel Castro. Ela esteve em Cuba no final de janeiro e fez questão de distribuir foto promocional do encontro, o que no aspecto oficial não faz sentido. Dilma esteve na ilha como presidente e Fidel Castro já passou o governo para o irmão, Raul Castro. A deferência faz suspeitar de alguma grande dependência política do PT com Castro.
A divulgação da foto parece vir naquela manjada linha petista do "todo mundo é patife igual a nós", mas não cola. Da parte do governo tucano jamais houve apoio algum às graves transgressões aos direitos humanos em Cuba. E cabe também lembrar que Chávez ainda não tinha aprontado no governo. Na verdade a foto serve mais como uma má lembrança aos petistas, que é da dívida política que Hugo Chávez teve em vida com Fernando Henrique Cardoso. Menos de um ano depois dessa foto houve na Venezuela a tentativa de golpe e Fernando Henrique Cardoso teve uma pronta reação contrária à deposição de Chávez. A atitude imediata do presidente brasileiro foi essencial para a derrota dos golpistas venezuelanos.
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Por José Pires


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Imagem - Hugo Chávez, Fidel Castro e o então presidente Fernando Henrique Cardoso, rindo à toa.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Papelão no exterior

Saiu mais uma boa peça de comunicação sobre o vergonhoso apoio do governo do PT à ditaduras pelo mundo. O cartaz que publico aqui vem da Venezuela. Até agora já foram mortos 28 venezuelanos nas ruas e muitos estão presos, sabe-se lá em que condições. O cartaz já corre o mundo, é claro. É verdadeiro na denúncia da contradição do comportamento da presidente Dilma Rousseff em relação ao que acontece atualmente na Venezuela. O incentivo à imposição de um regime fechado na Venezuela não é de hoje. Para favorecer o chamado governo bolivariano, que na época estava com Hugo Chávez, abriu-se até uma brecha fora de propósito para encaixar a Venezuela no Mercosul.
Antes disso, em 2005, o então presidente Lula chegou a dizer durante solenidade de assinatura de um acordo entre as estatais de petróleo brasileira e venezuelana que a Venezuela tinha democracia "em excesso". O Brasil levou na cabeça neste acordo comercial, em prejuízo que tem sido comum nos apoios do governo do PT a ditadores pelo mundo. Não sei se existe algum lucro pessoal para os nossos dirigentes, mas não há dúvida de que o Brasil só perde. Os petistas perdoaram dívidas até de países africanos dominados há décadas por cleptocracias. Até o momento já foram perdoados US$ 900 milhões, em acordos que servem apenas para o fortalecimento de ditadores. Este dinheiro que o Brasil colocou naqueles países já havia sido embolsado por dirigentes africanos corruptos.
Temos também o apoio extremado ao regime dos irmãos Castro, na relação de estranha submissão do PT a Fidel Castro, um domínio sobre o qual talvez um dia surjam explicações do que houve nos bastidores. Tem que esperar a democracia na ilha. O nosso BNDES já despejou US$ 957 milhões no famoso Porto de Mariel. Custa caro o apoio ao regime cubano, uma ditadura que já dura mais de 50 anos e vive em estado falimentar desde o final da subvenção que vinha da extinta União Soviética. Também aqui no nosso continente, Evo Morales pegou para a Bolívia um belo pedaço da Petrobrás.
O apoio a ditaduras na América do Sul e na África custa muito dinheiro e afeta negativamente a imagem do nosso país no exterior. Pelo mundo afora o Brasil vem ficando conhecido como um país aliado aos destruidores de democracia. Este cartaz que já se multiplica pela internet é apenas a expressão do estrago que o governo do PT vem fazendo na imagem internacional do Brasil.
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Por José Pires

A morte exibida pela internet

Todos já devem saber do assassinato da menina Yorrally, de 14 anos, morta pelo namorado depois de ser bastante agredida. O criminoso gravou tudo em vídeo pelo celular e passou para o celular de amigos. Também postou na internet. Numa dessas coincidências que dizem muita coisa nestes tempos terríveis em que estamos vivendo, o assassino tinha exatos 17 anos, 11 meses e 28 dias de idade quando cometeu o crime. Sendo menor de idade deve ficar no máximo três anos preso.
A história é horrível e ficou ainda mais espantosa com esta loucura da gravação da morte da menina, mas o que ocorreu não é menos cruel do que tem acontecido todos os dias pelo país afora em crimes praticados por delinquentes que acabam sendo amparados pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). O estatuto foi criado com a intenção de proteger a criança e o adolescente e ninguém está querendo que ele seja anulado, mas o que se pergunta cada vez mais é se não é uma insensatez na situação atual do Brasil manter de forma absoluta esta proteção. Ao invés de proteger o adolescente que se desencaminhou na vida por variadas razões, o ECA já está servindo como amparo a criminosos cruéis e pode ser visto também como um estímulo ao crime nesta faixa de idade.
Mas existe um jeito de resolver isso sem afetar a devida proteção que toda criança e adolescente deve ter? A solução não só existe como já havia sido encaminhada pelo senador paulista Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), hoje em dia o parlamentar brasileiro de maior coragem para enfrentar temas difíceis sem se intimidar com a máquina de difamação do politicamente correto e dos esquemas governistas de comunicação.
Noutra coincidência também muito apropriada para estes difíceis tempos, poucos dias antes de Yorrally ser assassinada de forma cruel a Comissão de Constituição e Justiça do Senado considerou inconstitucional uma proposta de Aloysio que permitia processar criminalmente o menor entre 16 anos e 18 anos. Isso ocorreria só com a autorização de um juiz e depois de avaliação médica. A proposta previa a possibilidade do processo criminal apenas no caso dos crimes hediondos.
A emenda do senador tucano visava o a Artigo 228 da Constituição, que prevê a inimputabilidade de menores de 18 anos. Sua intenção era muito simples. Se além de matar Yorrally o criminoso invadisse a sua casa (isso mesmo, leitor: a sua) um dia antes de completar dezoito anos e praticasse outras barbaridades também estaria solto em menos de 3 anos. Com a emenda ele poderia ser processado e punido em conformidade com a gravidade do crime.
A proposta de emenda foi recusada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado por 11 votos a 8. Os votos a favor foram, além do senador Aloysio Nunes Ferreira, de Cássio Cunha Lima (PSDB), Cyro Miranda (PSDB), Armando Montero (PTB), Magno Malta (PR), Pedro Taques (PDT), Ricardo Ferraço (PMDB) e Romero Jucá (PMDB).
Votaram contra a possibilidade de processar menores entre 16 e 18 anos em caso de crimes hediondos os senadores Lúcia Vânia (PSDB), Randolfe Rodrigues (PSOL), Inácio Arruda (PCdoB); Antonio Carlos Valadares (PSB); Roberto Requião (PMDB), Eduardo Braga (PT); Angela Portela (PT), Eduardo Suplicy (PT), Aníbal Diniz (PT), José Pimentel (PT) e Gleisi Hoffmann (PT).
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Por José Pires


Imagem - A mãe de Yorrally viu o vídeo da sua filha sendo morta. Veja neste link uma entrevista com ela, mas prepare o seu coração. É duro.

terça-feira, 11 de março de 2014

Jayme Leão, o mestre do desenho


Com a idade a realidade vai trazendo pra gente a percepção de que existe algo maior do que o mistério sobre nosso destino final. É a dor da ausência dos que se vão antes. Chego em casa agora depois de passar umas horas pedalando na escuridão dessa noite nublada e recebo a notícia da morte do grande Jayme Leão. Como influência pessoal o Jayme tem na minha vida uma importância que é superada apenas pela do meu pai. Os dois tinham personalidades diferentes, mas uma grande semelhança no apreço pela cultura e na honestidade pessoal, que no Jayme era um predicado que ele juntou ao idealismo político. O idealismo é uma marca notável no seu trabalho na imprensa, de alta capacidade criativa.
Ele teve uma participação ativa na nossa imprensa alternativa, os jornais semanais de resistência à ditadura militar que contribuíram de forma decisiva na democratização do país. Trabalhou no semanário Opinião, que era editado no Rio, e foi um dos fundadores do jornal Movimento, de onde tenho ótimas lembranças, apesar da nossa convivência naquela redação ter sido num período de trevas deste nosso Brasil. Estive no Movimento desde seu número zero e foi o Jayme quem me levou a este jornal, onde comecei na imprensa em São Paulo. Minha ida de Londrina para aquela cidade aconteceu também graças a ele.
Movimento teve censura prévia desde o primeiro número, lançado em julho de 1975. O jornal deixou de existir em 1981. Editar aquele jornal era uma batalha dura. Para ter o material de uma edição era preciso produzir duas ou três vezes mais do que saia publicado, buscando driblar a censura e tentando criar algo que não fosse vetado. Senão não saía jornal.
A presença do Jayme Leão no Movimento dava um ânimo especial, porque ele sempre foi o tipo de pessoa que jamais se deixava abater nas situações difíceis ou no enfrentamento de trabalho duro. E aquele foi um tempo nada fácil. Era ele quem estava sempre estimulando a todos nas madrugadas que passávamos fazendo esboços de desenhos que seriam enviados de manhã para a censura em Brasília, em malote despachado por avião. Sua presença era um reforço muito especial também devido à sua impressionante habilidade técnica. O Jayme fazia de tudo em matéria de desenho: charge, ilustração, quadrinhos, caricatura, desenho de humor e trabalhos de conteúdo dramático ou mais naturalista, como retratos e ilustrações onde é preciso passar ao leitor informações precisas. Até letras ele era capaz de fazer. Desenhava à mão títulos perfeitos, como os de hoje que são feitos por computador. Essa capacidade permitia a ele na década de 70 a execução de capas memoráveis (que tinham de ser feitas no mesmo dia), com arranjos gráficos que só com computador é possível fazer.
Nesta época os textos eram feitos em máquinas de escrever e o material gráfico era todo resolvido à mão. E neste caso ter num jornal um profissional habilidoso como o Jayme Leão facilitava tudo, principalmente para uma redação de uma publicação sob censura da ditadura, que apertava ainda mais os prazos. O Jayme tinha uma capacidade criativa tremenda e conseguia obter soluções com rapidez, o que é imprescindível no fechamento de uma edição. Nunca vi alguém com tal multiplicidade de talentos e sua habilidade fazia muitas vezes com que nos juntássemos à sua volta para só ficar apreciando e aprendendo.
Me lembro de uma cena que mostra bem como ele sempre foi o centro da atenção até de quem era do ramo. Foi nos anos 70. Demos um curso rápido para alunos da área do desenho. As aulas eram na USP e consistiam basicamente de demonstrações técnicas. Fazíamos os desenhos na frente dos alunos. Eram vários desenhistas e me lembro de dois deles que já eram bambas do traço: o Alcy e o Chico Caruso. Fomos fazendo os desenhos, até que o Jayme também começou a rabiscar num papel. Foi juntando gente em torno dele, com os desenhistas parando de desenhar e chegando mais perto, até que no final apenas o Jayme Leão é que trabalhava com aquela impressionante facilidade, esboçando no lápis, passando a tinta nanquim no papel, jogando cores com o pincel e explicando todo o processo de forma muito tranquila. De pé em volta da mesa os alunos e os desenhistas acompanhavam maravilhados aquele grande mestre desenhando.
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Por José Pires

quinta-feira, 6 de março de 2014

Dramas da vida como bandeiras

Movimentos de militância de gênero, racial e sexualidade estão sempre em busca de um grande caso para comprovar suas teses e fazer crescer o prestígio de suas lideranças. Isso é parte de qualquer processo político, mas o problema é quando o uso como bandeira política se sobrepõe à justa denúncia do preconceito ou do crime. Isso ocorreu recentemente quando um jovem apareceu morto debaixo de um viaduto em São Paulo. A militância homossexual concluiu de imediato pelo crime homofóbico e até manifestações foram feitas, mesmo a polícia tendo adiantado que os indícios apontavam para suicídio. Esta versão preliminar foi repudiada pela militância e até colocada como suspeita. O caso já estava sendo usado como plataforma de denúncias de homofobia. Porém, a própria família do jovem morto apoiou a posição da polícia, que já está comprovada agora pelo inquérito.
O suicídio em São Paulo já estava para ser envolvido pela costumeira histeria promovida por militantes em assuntos de seu interesse. Mais do que chata, a confusão é contraproducente até no propósito de combater o preconceito ou crimes movidos de fato pelo racismo ou a homofobia. As posições pré-determinadas e a agressividade muitas vezes acima do limite do bom senso acaba criando um clima que favorece muito mais o conflito do que a compreensão do fato. Fecha-se o debate na área da sexualidade ou em outra condição específica, quando o problema é muito mais amplo.
Agora aparece outro caso que corre o risco de apenas servir de bandeira para a militância. É a morte do menino Alex, ocorrida no Rio de Janeiro depois de ele ser espancado pelo pai. A causa do crime já adquire a explicação exclusiva de homofobia. E a criança tinha apenas oito anos. A versão surgiu depois da divulgação pela imprensa de uma fala breve do delegado que tomou o depoimento do acusado. Segundo o delegado, o pai afirmou que dava surras como “corretivos”, para ensinar o filho “a andar como homem”. Ele também disse que o filho “gostava de dança do ventre”.
Não sei as condições em que se deu este depoimento, cuja divulgação só apareceu depois da morte da criança, após 17 dias no hospital. É óbvio o caráter machista do pai, mas daí a caracterizar de pronto o crime como homofóbico é ir longe demais. Ainda é necessário aprofundar a investigação, pois até agora não sabem nem se o menino vivia em cárcere privado. E vá saber do que mais a polícia fluminense não tem conhecimento e provavelmente jamais terá, como indicam as estatísticas sobre a investigação de crimes no país.
Pais esclarecidos sabem que um menino de oito anos pode se encantar por muitas coisas fora de um padrão tido como masculino sem que isso tenha qualquer relação com sua sexualidade. Com certeza o pai do menino Alex não tinha esse conhecimento cultural, o que acontece também com muitas outras pessoas. Essa ignorância independe de classe social e também não é exclusivamente masculina. E na minha opinião simplesmente demonizar esta característica cultural como homofóbica não ajuda a resolver a questão.
Também penso que a manifestação machista e condenável do pai não serve como chave da motivação do crime. Outras informações que a militância faz questão de desprezar mostram um panorama de crise social, que vai além da homofobia. É um padrão que não escolhe a sexualidade das vítimas. O pai do menino Alex poderia ter matado outros inocentes até fora da sua casa. Vários crimes que acontecem hoje em dia têm origem parecida.
O menino passou a morar com o pai no Rio desde o início do ano passado, quando a mãe foi ameaçada de perder a guarda do filho por não levá-lo a escola. Além de Alex, o pai morava com outros cinco filhos e a mulher em uma casa simples de três cômodos, numa área disputada por três facções rivais. Ele já cumpriu pena por tráfico de drogas e está desempregado. Por estas poucas informações já é possível entender que o crime se insere numa situação dramática que exige muita responsabilidade no debate. Sei que para alguns a limitação do assunto pode render reforço político em ano de eleição, mas o melhor seria não se fechar em conclusões levianas sobre um drama que não se restringe à nenhuma condição sexual.
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Por José Pires