segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Saindo para continuar

O PMDB é um partido que sabe o momento certo de mudar de lado, buscando sempre um caminho mais lucrativo e fugindo às vezes até das encrencas que eles mesmos ajudaram a criar junto com o aliado de ocasião. Isso muitas vezes faz o partido sair às carreiras (não poucas delas com gritos de "pega ladrão" atrás), abandonando qualquer parceiro caído em desgraça. Pois o programa político que a direção nacional do partido veiculará nessa terça-feira na televisão parece ser o aviso peemedebista de que já estão de malas prontas. Ainda não é o "Fora, Dilma!" do partido do vice Michel Temer, mas pode ser visto como o "Assim Não Dá Mais, Dilma!".
O mote político do vídeo é bem funcional: "a verdade é sempre a melhor escolha". Parece até um releitura do "A verdade vos libertará", numa visão peemedebista, gente de olho muito prático. Neste caso, a verdade lhes dará vantagens e boquinhas menos arriscadas, libertando-os também das encrencas petistas, para as quais contribuíam religiosamente até há pouco.
De tão sólida, a cassetada que dão com muita habilidade no governo — que em boa parte é também deles próprios — ficaria bem para o Psol, isso se esse partido extremista não fosse formado por idiotas políticos que servem de linha auxiliar do governo petista em vez de ser uma saída à esquerda. Aliás, o PMDB mandando pro ar uma mensagem que o Psol não tem a inteligência política de dar aos eleitores serve também para mostrar a razão da eterna força do PMDB, um partido balizador das movimentações tanto do poder quanto da oposição, enquanto o Psol é apenas um partideco muito chato.
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POR José Pires
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Superando o fracasso

Agora é oficial: o PT quebrou o Brasil. O governo apresentou na tarde desta segunda-feira a proposta de orçamento para 2016, com previsão de déficit de 30,5 bilhões de reais. Isso significa 0,34% do PIB, mas conforme mostra o histórico administrativo desse ciclo de governos petistas é muito provável que o tamanho do rombo não fique nisso. Eles têm know how de sobra para aumentar bastante o prejuízo. E sabe-se também da habilidade de Dilma para dobrar a meta mesmo quando não é definida meta alguma. Pois agora com essa meta de déficit no orçamento, que ninguém duvide da sua capacidade de fazer muito mais.
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POR José Pires

Desvalorizando a autoria

O PT anda perdendo o traquejo na propaganda, área para a qual sempre teve especial atração, sempre fazendo aquelas jogadinhas manjadas de relacionar fatos e desejos com o número do partido e a estrela da bandeira vermelha tomada emprestada de histórias revolucionárias em que houve coragem verdadeira. Mas foi só pra roubar que os petistas acenaram com tantos símbolos históricos da esquerda mundial, até mesmo o punho pro alto. Puxa vida, mas usar isso para prisão de político gatuno? Pobre de quem morreu no passado em nome dessas marcas simbólicas.
Mas eu dizia que o PT vem se distraindo na atenção ao uso do simbolismo para se reforçar junto ao eleitorado. Agora, nesta sexta-feira, quando o Brasil entrou oficialmente na recessão, eles fizeram tudo errado. E não é pouca coisa essa façanha petista de enfiar o país num poço onde cavaram fundo de sobra para o nosso sofrimento. Só o PT mesmo para levar à falência um país que pegaram com uma estrutura econômica relativamente arrumada e que no decorrer desta crise (que vem bem antes de agosto do ano passado, ao contrário do que diz a presidente Dilma) teve tantas possibilidades de criar uma base sólida para enfrentarmos estes tempos difíceis. Foi uma grande façanha. Um fracasso como nunca se viu. E o partido não está sabendo aproveitar o efeito disso.
É evidente que o dia escolhido para a entrada na recessão devia ter sido outro, assim como é também muito óbvio qual seria o número perfeito. Agosto é um mês bom para entrar numa recessão e apesar do dia 13 ter caído numa quinta-feira e não na sexta, essa data daria ao brasileiro uma memorização muito forte do número da legenda que até agora vivia de lendas e acabou metendo a cabeça dura na ainda mais dura realidade. Entrar oficialmente na recessão junto com o início do estouro da bolha chinesa também não foi uma boa sacada. É essa mania de não ter meta, sempre à espera de dobrar a mesma meta. Quem é que vai prestar atenção em um orgulhoso vira-lata com suas pulgas vermelhas quando um dragão despenca dos céus? Como se vê na imagem com o recorte do jornal espanhol "El Mundo", o mundo não deixa de estar atento ao Brasil entrando no vermelho. Mas fomos só pras páginas internas. Não dá pra competir com a China nem em falência.
Sinceramente, o PT não está sabendo aproveitar esse resultado prático do projeto revolucionário do partido, a criação de uma crise como nunca se viu neste país. Os incompetentes dos tucanos jamais teriam a capacidade de legar às novas gerações herança tão maldita quando esta feita por Lula e Dilma. No entanto, não sei se o marqueteiro João Santana anda ocupado demais ou numa fase pouco criativa, mas o fato é que os petistas não estão explorando bem esta culminância histórica do projeto de governo do PT. Com o perdão do uso da palavra neste momento de tamanha dureza: é preciso capitalizar mais o resultado, companheiros.
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POR José Pires

quinta-feira, 27 de agosto de 2015


quinta-feira, 20 de agosto de 2015


Perigo sobre duas rodas

O senhor que foi atropelado e morto nesta semana em São Paulo por uma bicicleta dá seguimento a uma nova divisão social criada pelo oportunismo e a incompetência dos políticos brasileiros, especialmente os de esquerda: de um lado ficam os pedestres e do outro os ciclistas. E a briga só tende a piorar. A nova confusão vem desta proliferação desequilibrada de vias exclusivas para ciclistas nas cidades brasileiras. Um dos equívocos é o de tirar as bicicletas do lado dos automóveis, nas ruas, para colocá-las rodando junto aos pedestres. E se tem algo que não dá certo de forma alguma é pedestre e bicicleta transitando no mesmo espaço. Aliás, o melhor é que não fiquem nem próximos. As pistas deviam ser exclusivas para bicicletas, mas como fazer isso no Brasil, onde os espaços urbanos carecem bastante de planejamento?
A dificuldade entre pedestre e a bicicleta é coisa antiga e nisso cabe sempre ao ciclista a parcela maior de responsabilidade, qualidade sempre em falta por aqui, independente do veículo. Já havia o inferno criado pelos motociclistas em nossas vidas e agora teremos de aturar ciclistas, que no geral são piores na quebra de regras do que quem dirige uma moto. Sei disso, porque enfrento a questão tanto como pedestre quanto como ciclista. Um grande perigo nas cidades brasileiras é o de bicicletas rodando na calçada, atitude que mereceria uma punição bem rigorosa, mas não dá em grande coisa para o culpado, da mesma forma que qualquer outro acidente de trânsito. Já é grande hoje em dia o risco de morrer ou ficar com sequelas graves ao pisar na calçada saindo de casa ou de uma loja. Um atropelamento por bicicleta pode causar danos físicos graves, mesmo se o ciclista estiver em baixa velocidade. E quem espera que venha um ciclista idiota pela calçada? A situação atual me obrigou a tomar cuidados extras como pedestre. Agora, além deter atenção aos carros nas ruas, tenho também que cuidar das bicicletas, que podem vir em qualquer lugar. Se correr, o bicho pega e se ficar, o bicho come. Tanto faz agora, se na rua ou na calçada.
Lugar de bicicleta é na rua, junto aos carros. Sei que motoristas não respeitam as regras nem entre eles, hábito perigoso que piora em relação ao ciclista. Este é tratado como inimigo, mas o que se há de fazer? A opção de sair de bicicleta é do ciclista. E sendo este o caso, não faz sentido transferir o risco para o pedestre, na calçada. Mas como defender a segurança do pedestre, que terá sempre razão até pelo fato de ser o lado mais frágil neste massacre social entre doidos, que começa nos carros? Não com ciclofaixas misturadas aos espaços do pedestre.
Se tivesse estudado com atenção o uso da bicicleta, o prefeito Fernando Haddad saberia disso. Mas, puxa vida, estamos falando de um sujeito que produziu e lançou uma monografia na sua formatura como mestre em economia defendendo e exaltando o sistema social e econômico soviético justamente quando Mikhail Gorbachev dava fim à arrasada União Soviética. Do jeito que o prefeito petista vem fazendo as ciclofaixas paulistanas, a única surpresa que tenho com a morte por atropelamento de bicicleta em São Paulo é que isso tenha demorado a acontecer.
Mas o problema não é só dos paulistanos. Desastres surgirão também em outras cidades. Esta moda atual da valorização da bicicleta surgiu no Brasil do mesmo jeito improvisado e incompetente de tantas outras novidades vindas do poder público. Políticos de todos os partidos cometem desatinos parecidos nesta suposta valorização da bicicleta como meio de transporte, porém a esquerda sempre complica mais porque ideologizam também as duas rodas. Em São Paulo, onde o pedestre foi morto por uma bicicleta o debate é até partidário, resultado evidente do estilo administrativo de dirigentes públicos de esquerda, sempre focados na politização de qualquer coisa que fazem. É um jeito lamentável de administrar, porque pouco a pouco várias questões sociais importantes vão ficando estigmatizadas junto à população. Agora é a situação dos ciclistas que fica impossível de debater.
Sou um adepto do uso da bicicleta muito antes de políticos como o prefeito paulistano Haddad resolverem usar as ciclofaixas como oferta de palanque eleitoral. Lembram de ofertas anteriores, como a da distribuição geral de computadores? Agora é com a bicicleta. Não deram computador algum para a população. Bem, mas pelo menos isso não mata ninguém. O foco político na bicicleta veio sem nenhum planejamento sério, como acontece com quase tudo que se faz neste país. E as rolices rodam ligeiras. A gente ouve até argumentos favoráveis a esta nova onda extraídos do hábito do uso da bicicleta em países como a Dinamarca, Holanda e de outros lugares com uma longa história de planejamento urbano e civilidade entre os cidadãos. Nem dá para rir, porque é grande o risco de ser vítima dessa demagogia do improviso. Outros mortos e feridos virão com essa forma de favorecer o uso da bicicleta. Sobre duas rodas, o jeitinho brasileiro é ainda mais perigoso. Teremos inclusive o acidente entre bicicletas e outras novidades desastrosas criadas pela falida administração pública brasileira, agora transitando por ciclofaixas.
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POR José Pires

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Imagem- Pedalando bem longe de ciclofaixa: foto tirada por
mim neste mês de agosto, em estrada rural do norte do Paraná.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015


O último a saber

Corre pelas redes o desabafo do jornalista Juca Kfouri, reclamando do mensaleiro José Dirceu ter traído sua confiança. Ele parece o Brahma: não sabia de nada. Até a recente prisão do antigo capitão da equipe de Lula na presidência da República, vejam só, o inocente jornalista esportivo acreditava que a péssima fama de Dirceu era só campanha maldosa da oposição. Será que ele já desconfia de alguma coisa do Lula? E não estou fazendo piada, pois até recentemente Kfouri era um atirador de elite das tropas governistas, um sniper que felizmente era ruim de mira. No ano passado, durante a campanha de Dilma Rousseff, ele foi firme na atuação contra a oposição e na defesa do ciclo de governos do PT. Uma de suas tentativas mais espantosas de desmoralização do candidato oposicionista, Aécio Neves, foi quando ele tentou criar uma ligação do tucano com Ricardo Teixeira. E isso com o governo do PT fazendo negócios há anos com Teixeira, de olho nos esquemas da Copa do Mundo no Brasil. Numa outra situacão, o jornalista também tentou atingir a vida pessoal de Aécio. Veja no link um texto sobre isso, publicado na época aqui no blog.
Kfouri sempre fez o tipo songamonga, daquele jeito de articulista descompromissado, sem vínculos diretos com o partido, mas que via nos governos do PT, desde Lula, um importante avanço para o país. No meio dessa lorota, sentava a lenha na oposição e afagava o governo petista. O Kfouri era mais um Sakamoto quebrando pernas em campo, enquanto fingia estar jogando limpo. E suas entradas na canela soavam até mais estranhas do que às dos demais escribas governistas porque, além de tudo, o blog dele é exclusivamente sobre esporte. Sua carreira jornalística também é toda ligada ao futebol e não à política. Por isso mesmo, quando falou mal da vida pessoal de Aécio Neves, na área de comentários de seu blog muitos leitores que o seguem por razões futebolísticas reclamaram bastante dessa absurda forçação de barra.
Pois é, o país vive nesses últimos treze anos sob o jugo de um partido que implantou o pior sistema de corrupção que este país ja teve, num projeto de poder em que José Dirceu sempre foi claramente um chefe destacado. Tivemos também o escândalo do mensalão, com as investigações do Ministério Público, o julgamento no STF e a posterior condenação da cúpula do PT, entre eles o chefe José Dirceu, que inclusive foi pra cadeia e cumpre pena até hoje. E cito o mensalão apenas para ressaltar o esquema recente mais pesado, pelo menos até ter sido suplantado pela roubalheira na Petrobras em que — ó, surpresa! — apareceu também o Zé. E fizeram no passado muitas outras maracutaias, pois o PT aprontava muito antes de ganhar o poder central. Era muito fácil para o Juca Kfouri não ter que fazer agora o papel de idiota que transparece neste texto. Sendo jornalista experimentado e homem já vivido, indo já para os setenta anos, bastaria ele ter ficado atento ao noticiário para saber quem é o Dirceu e o que é o seu partido.
O depoimento político do jornalista saiu na "Folha de S. Paulo" e está também em seu blog, no site UOL. É um artigo que deve ficar na história política desta era muito triste do PT e não será o único. Veremos ainda muitas tentativas de fraudes como esta, de gente saltando do barco que já não dá sustentação e nem garante mais nenhum benefício pessoal. Do naufrágio petista sairá muita coisa como esta peça lamentável, de uma fingida lamentação. Esse pessoal não teve vergonha de apoiar todo esse tempo esta tremenda patifaria sistematizada que comprometeu de forma terrível o futuro do nosso país. Agora aparecerão muitos governistas tentando fingir que foram logrados na boa fé que nunca tiveram.
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POR José Pires


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Recordação do que ficou pra trás

O Brasil tem umas coisas de doido. Por aqui, como se sabe, esquece-se de tudo. Como já disse o grande Ivan Lesssa (alguém lembra dele?), numa de suas frases memoráveis, ou que pelos menos deviam ser sempre lembradas, “a cada 15 anos o brasileiro esquece o que aconteceu nos últimos 15 anos”. Pois nesta semana deu a louca de lembrarem do Adoniran Barbosa. Até o Google fez homenagem, daquele jeito deles, incorporando uma imagem do homenageado no logotipo da página. Um desenho bastante fraco, que nem parece o autor de "Saudosa maloca" e tantas outras composições que, além de belas, trazem ótimas caracterizações de uma São Paulo que teve o mesmo destino do palacete assobradado do ótimo samba. Mas não é só na cidade cantada por Adoniran que está tudo sendo posto abaixo. Nesses últimos anos todo o Brasil vem sofrendo um processo de demolição, com as nossas cidades perdendo suas características originais e ficando todas iguais. Os lugares onde vivemos vão sendo tomados por prédios sem absolutamente nenhuma relação com a história e a cultura formadora de nossas cidades, numa mudança abrupta sem nenhuma ligação também com algo que possa ser chamado de arquitetura.
O resultado são cidades todas iguais, com a perda de suas marcas essenciais e até da paisagem. A sanha comercial acaba também com a ecologia urbana. Nada tenho contra transformações em área alguma, mas desde que elas não venham da forma que está acontecendo, impostas pela força da grana, por uma especulação imobilária idiota que derruba o que era uma base cultural e psicológica das pessoas, para substituir tudo por prédios horrorosos, que acabaram até com a qualidade anterior das moradias. E o toque irônico da especulação é que depois da demolição os maioriais das construtoras vão morar fora das cidades, em condomínios protegidos contra o que eles mesmos fizeram.
Mas voltemos ao Adoniran Barbosa, que tem muito a ver com o que estou falando. É um dos grandes compositores brasileiros, ainda mais importante pelo que deixou em sua músicas como referências da fala e do comportamento de uma época. É um dos artistas de que mais gosto, até pelo linguagem humorística, bastante marcante em sua obra. Eu ouço sempre, mas é claro que só posso fazer isso em casa, porque é raro neste país um lugar onde haja música de qualidade. E por que estão lembrando do Adoniran? Fui conferir e vi que é pelos 105 anos de seu nascimento. Bem, nada contra a recordação de um bom compositor, mas fora de uma data redonda a lembrança dá a impressão de uma mera referência ao que está esquecido de todos. Na semana que vem não se fala mais nele. E o chato é que o aniversário de 106 anos vai passar em branco. Esta é mais uma daquelas recordações súbitas que tornou-se comum na amalucada cultura brasileira. No Brasil, estamos sempre recordando por alguns instantes coisas essenciais na nossa formação, mas que sumiram totalmente do nosso cotidiano.
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POR José Pires