A gente poderia até pensar em tal transformação como exclusividade de uma eleição, mas agora, quando o ex-ministro foi levado pra cadeia, pudemos ver que não é só quando precisa se reeleger senadora ou disputa o governo do estado que Gleisi consegue expressar sensibilidade e preocupação. O ex-ministro acusado de pegar propina retirada de empréstimo consignado de funcionários aposentados, foi mencionado por ela, com os olhos quase marejados, como "pai dos meus filhos". A operação Custo Brasil foi também acusada por ela de ser “uma clara tentativa de abalar emocionalmente o trabalho de um grupo crescente de senadores que discordam dos argumentos que vêm sendo usados para tirar da Presidência uma mulher eleita legitimamente pelo povo brasileiro; afastar uma presidenta, legitimamente eleita por mais de 54 milhões de votos”. Como diz a moçada, "menos, Gleisi, menos". Com a desproporção da alegada conspiração não tem como isso colar, senadora.
A emoção da petista foi imensa, ainda que parecesse improvável. E, de fato, logo Gleisi voltou ao batente como a mesma Gleisi de sempre. Na segunda-feira ela ainda encenava na tribuna o papel de esposa comovida, em discurso em sessão deliberativa, quando falou pela primeira vez no Senado sobre a prisão de Paulo Bernardo. No entanto, logo depois, participando da reunião da Comissão do Impeachmment, ela voltou a ser a chamada "generala", comandando a violenta e patética tropa de choque da bancada governista, atacando de forma desonesta Janaína Paschoal, a advogada da acusação e corajosa autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff. Gleisi insinuou outra estrambótica teoria da conspiração, apontando o juiz que autorizou o pedido de prisão de Bernardo como orientando de Janaína, no curso da faculdade de Direito da USP. Já tinha de volta a cara de brava e o olhar irônico e cruel. Como eu disse, a petista voltou a seu estado normal. Quem estiver com saudade da Gleisi sensível e repleta de sentimentos humanos terá de esperar o período de campanha eleitoral. Ou então mais uma prisão do marido dela.
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POR José Pires