segunda-feira, 14 de maio de 2018

O quiproquó na casa do juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos

É escabroso o caso da denúncia de agressões de Roberto Caldas, juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que foi presidente da instituição no biênio 2016/2017. Ele é acusado pela ex-mulher Michella Marys Pereira de agressões físicas e humilhações durante o período em que foram casados. A revista Veja revelou a história na sua última edição. O casal está em processo de separação. A ex-mulher registrou em áudio durante anos o relacionamento conturbado, em que ela foi destratada continuamente de forma violenta. São muitas horas de gravações. Os diálogos terríveis estão disponíveis na internet.

Claro que se não fosse o cargo ocupado por Roberto Caldas o caso ficaria restrito ao conflito entre marido e mulher, a ser resolvido pela Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, onde já está feita a denúncia, com pedido de enquadramento dele na Lei Maria da Penha. Um representante internacional de direitos humanos metido numa encrenca dessas parece piada pronta. Além disso, o ex-marido acusado de agressão tem proximidade também a um partido político de postura radical na defesa do politicamente correto, pelo menos no aspecto da propaganda política e da imagem pública.

Caldas foi indicado em 2012 por Dilma Rousseff para a Corte Interamericana dos Direitos Humanos e desde então prestou relevantes serviços ao governo do PT naquela corte. Ele é responsável direto por tentativas de transformar em problema jurídico internacional o processo de impeachment de Dilma desenvolvido pelo Senado brasileiro. Como presidente da corte internacional, Caldas esteve em maio de 2016 em audiência pública no Senado, organizada por aliados de Dilma para rechear o noticiário favorável ao PT com desqualificações ao processo de impeachment. Ao lado de Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), ele criticou a “falta de base jurídica" do impeachment e colocou em dúvida o comportamento de senadores. Almagro e Caldas chegaram a se reunir com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, para levar a preocupação deles com o processo de interrupção do mandato de Dilma. Não importa se tudo estava combinado ou não com o partido de Lula. O fato é que isso fez a festa do esquema de comunicação e propaganda governista do PT, na época em grande atividade e muito poder financeiro, com o apoio da máquina pública.

Com a denúncia da ex-mulher de Dantas, agora aparecem cobranças aos petistas, principalmente a parlamentares que fizeram carreira com discurso feminista, ligados também ao direito de minorias e combate à violência contra as mulheres. As cobranças fazem sentido. A acusação de violência doméstica levanta contradições graves de comportamento do presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos indicado pelo governo do PT. Como diria a deputada Maria do Rosário, “mas o que é isso, mas o que é isso, mas o que é isso?”. Porém, até agora ela não disse nada. Está calada sobre o assunto, a exemplo de toda a bancada de aguerridos parlamentares do PT, que na verdade usam esse tipo de assunto apenas quando serve de apoio ao projeto de poder petista ou para intimidar e atingir adversários. Se é alguém do lado deles que apronta, aí todos ficam quietos. Isso quando não se solidarizam com o agressor em vez de dar apoio à vítima.

Imaginem o que estaria acontecendo se o juiz acusado de cruéis agressões tivesse sido indicado por um partido rival. Políticos do PT já estariam ocupando agressivamente tribunas nas duas casas do Congresso, fazendo audiências públicas, atos de repúdio, manifestações de ruas com logotipos, palavras de ordem, faixas, camisetas, além de posts, artes nas redes sociais e todas aquelas ações e materiais que aparecem de imediato quando a hipócrita seleção indignativa da esquerda encontra algo que pode servir para seu proveito político.
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POR José Pires

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Imagem- Eugênio Aragão, último ministro da Justiça de Dilma Rousseff, abre reunião da Comissão 
da Anistia em abril de 2016, lembrando o golpe de 1964, com a presença de Roberto Caldas, 
último à direita

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