Deixa
ver se eu entendi: a esquerda quer derrubar o papa, é isso? É o que dá a
entender a corrente de difamação que desenvolveram contra o papa
Francisco, a partir de acusações que se baseiam na sua atividade como
bispo, na Argentina. As fontes carecem e muito de credibilidade. Existe
uma acusação muito pesada, de que dois jesuítas teriam sido delatados às
forças da repressão na época da ditadura militar. Isto veio do
jornalista Horácio Verbitsky, fundador do Página 12, jornal que atua na
defesa do governo de Cristina Kirchner. Verbitsky é tido na Argentina
como influente mentor político do "kirchnerismo". Sua relação pra lá de
estreita com os Kirchner vem desde o governo anterior de Néstor
Kirchner, o falecido marido da atual presidente, que a fez como
sucessora.
Verbitsky
tem uma história política com vínculos com o autoritarismo. Fez parte
do extremismo que tivemos na América do Sul entre as décadas de 60 e 80,
quando grupos políticos violentos tentaram substituir ditaduras de
direita por ditaduras de esquerda. E existem suspeitas muito sérias sobre este seu passado. Ele foi da organização política Montoneros, grupo
armado dos mais agressivos da América Latina, que praticava até
terrorismo. O jornalista que acusa o papa Francisco fazia parte da área de
inteligência dos Montoneros, que tinha entre outras funções a de apontar
bons alvos físicos para sequestros e chantagens para arrancar dinheiro
para a organização. Um dos sequestros mais rentáveis deles foi o duas
pessoas da família que controla a Bunge e Born. O ex-montonero é acusado
de ter ajudado a desviar para Cuba US$ 60 milhões vindos deste
sequestro. Ele nega e diz que é tudo invenção de adversários para
destruí-lo.
A
acusação contra o papa Francisco está em "El silencio", livro escrito
por Verbitsky onde ele expõe sua visão sobre o papel da igreja durante o
regime militar na Argentina. Para ele a igreja católica colaborou com a
sucessão de ditadores, de 1976 até 1983. Foi um período violentíssimo.
Quem reclama com mau humor dos que falam que em "ditabranda" no Brasil
está fechando os olhos ao que ocorreu na Argentina. Calcula-se em cerca
de 30 mil o número de mortos e o de desaparecidos é de 10 mil. Colocar a
igreja católica entre os colaboradores de um regime de terror desses é
uma acusação da maior gravidade. Na Argentina não tem coisa pior. E o do
Página 12 sabe disso. Ele me parece uma dessas pessoas que se nega a
rever seus erros do passado. Está preso aos rancores do passado. É
costume dessa gente fazer a difamação histórica de qualquer um que não
esteve com eles nas aventuras do passado. No Brasil também temos este
tipo de problema, até na situação muito cômica de gente que defende
erros graves do passado sem sequer ter participado deles. O ex-montonero
argentino mantém-se aferrado a uma vendeta particular com igreja. Ele
queria que, quando foi bispo na Argentina, o papa Francisco tivesse
prestado apoio incondicional às suas ações criminosas.
Mesmo
atuando hoje junto a um governo que já está no quarto mandato
consecutivo, Verbitsky parece não compreender que a ampliação dos
horizontes políticos que houve no mundo exige análise e argumentação
muito diferente daquela feita na obscuridade da militância clandestina.
Daí a minha questão inicial, perguntando se a esquerda quer derrubar o
papa. E quando embarca nesta rede da difamação que saiu da Argentina, a
esquerda brasilera se situa de forma ainda mais tola. Essa azucrinadora
militância puxou para cá o antagonismo violento da esquerda argentina,
que talvez seja a mais maluca do continente. Com isso, assumem um
confronto desnecessário com todos os católicos.
Será
que é preciso dizer pra esta gente que na relação com uma instituição
do peso moral da igreja católica é preciso agir com equilíbrio e razão?
Especialmente na hora de expor supostas faltas graves desta intituição
não é nem um pouco inteligente agir de forma difamatória, com argumentos
sem nenhuma base de sustentação. Será que até algo simples assim eles
precisam ouvir? É claro que precisam. E se tiver alguém temendo que uma
dica dessas possa fortalecê-los, não há porque se estressar com uma
preocupação dessas. Esse pessoal não se emenda de jeito nenhum.
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POR José Pires
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Imagem: Juntos numa ocasião pública, Verbitsky e Cristina Kirchner revelam de forma muito expressiva a sintonia entre o jornalista e a presidente; à frente, capa de "El silencio".
Um comentário:
Jota:
Veja o filme " O Dia em que eu não nasci", de uma alemã que descobre ser filha de desaparecidos durante a ditadura. Creul.
Mas, enfim, sou grouxomarxista.
Abraços, Solda
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