Como
acontece bastante no país, a novidade é um assunto velho. Nos próximos
dias haverá uma remexida no assassinato de Paulo César Farias, o
poderoso tesoureiro de Fernando Collor na sua caminhada até a
presidência da República, que depois virou homem forte de seu governo
mesmo sem ter nenhum cargo oficial. Conforme está em toda a imprensa,
nesta segunda-feira começou o julgamento de quatro envolvidos no crime.
A
morte foi há 17 anos. Mesmo a gente vivendo num lugar onde é normal um
julgamento levar tanto tempo para começar, o despropósito causa um
estranhamento, até pela exigência das relembranças de pouca ou nenhuma
utilidade. O assunto é antigo demais e pode ser até um estorvo à atenção
da opinião pública aos problemas realmente sérios que temos pela
frente.
Mesmo
no plano da morte de um braço direito de presidente da República, a
morte de PC Farias teve sua importância bastante diminuída frente a um
assassinato como foi o de Celso Daniel. A morte do ex-prefeito de Santo
André poucos meses antes de Lula ser eleito presidente e o PT ganhar o
poder tem elementos mais fantásticos. Porém, são crimes similares no
grau da importância que ambos tinham junto ao presidente da República de
cada período. E também no clima misterioso que envolve as duas mortes.
PC
Farias mandava mais no governo Collor do que qualquer ministro e
aproveitava este poder para realizar negócios altamente lucrativos nos
bastidores. A suspeita que persiste até hoje é que agia em comum acordo
com o presidente. Com a queda de Collor o país cuidava de questões mais
importantes e esqueceu por um tempo os dois, até que veio a surpresa do
assassinato à tiros em Alagoas, junto com a amante Suzana Marcolino.
Para a polícia alagoana, Suzana atirou em PC Farias e depois se matou.
Collor
foi cassado em agosto de 1992 e PC Farias foi morto em junho de 1996.
Da mesma forma que acontecia entre Lula e Celso Daniel, antes de
alcançar a presidência em 1989 Collor era amigo de PC Farias. É claro
que ele era o homem com mais conhecimento sobre a atuação de Collor
antes, durante e depois da presidência. Devia saber também muito do que
foi feito nos bastidores daquele governo. Daí a suspeita da queima de
arquivo, desconfiança que existe também na morte de Celso Daniel, neste
caso por corrupção em Santo André, cidade onde era prefeito e que,
segundo o Ministério Público, tinha dinheiro público sendo desviado para
a campanha presidencial do PT.
O
governo Collor foi o governo mais corrupto da República, mas isso
acabou deixando de ter a importância de antes porque a avaliação precede
a chegada do PT ao poder e sua revolução no conceito de corrupção no
país. O PT e Lula gritavam muito alto contra o Governo Collor. Berravam
até. Para eles o então presidente estava abaixo de ladrão. Hoje Collor é
da base aliada do governo e chega a dar uma mão como senador na defesa
de maiorais petistas condenados por corrupção no STF.
O
interessante neste círculo que afinal juntou grupos que antes brigavam
tanto é que isso deu unidade também à condição política dos dois
cadáveres mais importantes da nossa história recente, o de PC Farias e
Celso Daniel. Tudo é muito parecido, especialmente no enorme esforço
para que nenhuma das mortes se afaste da conclusão mais fácil do crime
comum.
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Por José Pires
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