segunda-feira, 6 de maio de 2013

Crimes sem solução


Como acontece bastante no país, a novidade é um assunto velho. Nos próximos dias haverá uma remexida no assassinato de Paulo César Farias, o poderoso tesoureiro de Fernando Collor na sua caminhada até a presidência da República, que depois virou homem forte de seu governo mesmo sem ter nenhum cargo oficial. Conforme está em toda a imprensa, nesta segunda-feira começou o julgamento de quatro envolvidos no crime.

A morte foi há 17 anos. Mesmo a gente vivendo num lugar onde é normal um julgamento levar tanto tempo para começar, o despropósito causa um estranhamento, até pela exigência das relembranças de pouca ou nenhuma utilidade. O assunto é antigo demais e pode ser até um estorvo à atenção da opinião pública aos problemas realmente sérios que temos pela frente.

Mesmo no plano da morte de um braço direito de presidente da República, a morte de PC Farias teve sua importância bastante diminuída frente a um assassinato como foi o de Celso Daniel. A morte do ex-prefeito de Santo André poucos meses antes de Lula ser eleito presidente e o PT ganhar o poder tem elementos mais fantásticos. Porém, são crimes similares no grau da importância que ambos tinham junto ao presidente da República de cada período. E também no clima misterioso que envolve as duas mortes.

PC Farias mandava mais no governo Collor do que qualquer ministro e aproveitava este poder para realizar negócios altamente lucrativos nos bastidores. A suspeita que persiste até hoje é que agia em comum acordo com o presidente. Com a queda de Collor o país cuidava de questões mais importantes e esqueceu por um tempo os dois, até que veio a surpresa do assassinato à tiros em Alagoas, junto com a amante Suzana Marcolino. Para a polícia alagoana, Suzana atirou em PC Farias e depois se matou.

Collor foi cassado em agosto de 1992 e PC Farias foi morto em junho de 1996. Da mesma forma que acontecia entre Lula e Celso Daniel, antes de alcançar a presidência em 1989 Collor era amigo de PC Farias. É claro que ele era o homem com mais conhecimento sobre a atuação de Collor antes, durante e depois da presidência. Devia saber também muito do que foi feito nos bastidores daquele governo. Daí a suspeita da queima de arquivo, desconfiança que existe também na morte de Celso Daniel, neste caso por corrupção em Santo André, cidade onde era prefeito e que, segundo o Ministério Público, tinha dinheiro público sendo desviado para a campanha presidencial do PT.

O governo Collor foi o governo mais corrupto da República, mas isso acabou deixando de ter a importância de antes porque a avaliação precede a chegada do PT ao poder e sua revolução no conceito de corrupção no país. O PT e Lula gritavam muito alto contra o Governo Collor. Berravam até. Para eles o então presidente estava abaixo de ladrão. Hoje Collor é da base aliada do governo e chega a dar uma mão como senador na defesa de maiorais petistas condenados por corrupção no STF.

O interessante neste círculo que afinal juntou grupos que antes brigavam tanto é que isso deu unidade também à condição política dos dois cadáveres mais importantes da nossa história recente, o de PC Farias e Celso Daniel. Tudo é muito parecido, especialmente no enorme esforço para que nenhuma das mortes se afaste da conclusão mais fácil do crime comum.
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Por José Pires

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