É
bastante simbólica deste lamentável tempo em que vive o Brasil a foto
publicada ontem na capa de "O Globo" dos dois deputados mensaleiros do PT,
José Genoino e João Paulo Cunha, durante a reunião que aprovou a emenda
à Constituição que submete decisões do STF ao Congressso Nacional. A
decisão foi da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, da qual os
dois fazem parte mesmo estando condenados por corrupção pelo mesmo STF. E
isso reforça a imagem como representação desta época sem respeito até
ao bom senso.
Genoíno
esbraveja. Ele voltou ao combate. Saiu do papel de humilde vítima de
circunstâncias que o penalizaram até por distração. O deputado era um
dos chefes da cúpula do PT enquanto o partido mantinha em atividade o
esquema de suborno a parlamentares que garantia maioria favorável ao
governo na Câmara Federal. É dele a desculpa mais incrível do mensalão:
assinou o documento de um empréstimo de milhões de reais sem saber do
que se tratava. A justificativa faz dele um idiota, mas Genoíno aceita
este papel. O militante disciplinado é capaz de tudo para ajudar a
sustentar o poder do partido.
Genoíno
vem de uma linha de militância de esquerda intensivamente treinada para
o combate intensivo mesmo nas situações mais adversas, como aconteceu
agora nesta sua condenação à cadeia por causa da participação no esquema
de conspiração contra a democracia que foi o mensalão. Sua origem
política é o Partido Comunista do Brasil, o PCdoB, de longa história de
luta contra a democracia. É um partido que nasceu de uma teimosia contra
a história: foi criado pelos comunistas que jamais aceitaram a denúncia
dos crimes de Stálin feita pelos dirigentes da própria União Soviética
no final da década de 50.
A
primeira notícia que se teve de Genoíno foi no final da década de 70
quando ele foi pego pelo Exército Brasileiro na região do Rio Araguaia,
no Pará, durante os combates contra a conhecida guerrilha do Araguaia,
organizada pelo PCdoB. Até hoje a esquerda tenta fazer da luta armada do
período da ditadura militar uma história de heróis que lutavam pela
democracia, mas isso é mentira.
O
nosso exército realmente representava uma ditadura, mas casos
específicos como o do Araguaia não podem ser vistos da mesma forma que
as ações repressivas contra a resistência democrática ao regime. Não foi
pela democracia que o PCdoB organizou aquela guerrilha no norte do
país. O plano político do partido era a partir dali instalar uma
ditadura comunista no Brasil. Da mesma forma que agiu também contra
verdadeiros democratas, o exército errou quando atentou contra os
direitos humanos, desobedecendo até convenções de tempos de guerra que
condenam o extermínio e a tortura. Porém, o lado de Genoíno e seus
companheiros do PCdoB tinha para o Brasil planos até piores que os da
ditadura militar.
O
partido de Genoíno daqueles tempos tinha apoio externo. O PCdoB então
oscilava entre o radical comunismo maoísta da China e o da Albânia, país
atrasadíssimo e de regime ainda mais fechado. Naquele época esta
esquerda brasileira que optou pela luta armada era até comandada de
fora, por dirigentes estrangeiros que determinavam o que devia ser feito
aqui no Brasil. Isto é confirmado por documentação oficial que apareceu
depois da queda do comunismo, especialmente na União Soviética.
De
Cuba também vinha dinheiro e instruções aos participantes da luta
armada. O doutrinamento político e treinamento militar também eram
feitos lá. O companheiro de partido de Genoíno e chefe da quadrilha do
mensalão, José Dirceu, passou uma temporada sendo treinado por cubanos e
veio na clandestinidade ao país também na década de 70 para implantar
aqui o comunismo. Faltou-lhe coragem para enfrentar este tipo de luta e
ele acabou arrumando um jeito de se homiziar no interior do Paraná, mas
isso é outra história.
Trago
José Dirceu para fechar este raciocínio porque me parece evidente que é
um negócio casado a maquinação para dar aos deputados a exclusividade
da decisão final sobre as patifarias praticadas por eles mesmos. A
proposta que elimina o poder jurídico do STF sobre a corrupção é do
mesmo feitio da PEC 37 que acaba com o poder de investigação do
Ministério Público. Não é por acaso que ambas têm o entusiasmado apoio
de políticos da mesma laia.
E
não é só pelo fato de Genoíno e Dirceu estarem juntos nessa parada que
fiz a análise histórica buscando lá atrás os antecedentes históricos
deste setor da esquerda que inclusive tem hoje o máximo poder sobre o
partido do governo. É porque essas duas emendas são parte de um plano
autoritário. E para isso eles trazem o mesmo argumento mentiroso que
usaram tantas vezes numa história cheia de tentativas de golpes: é para o
bem da nossa democracia.
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Por José Pires
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