sábado, 7 de setembro de 2013

O grito que deu cana

Há 43 anos uma piada dessas dava cana braba. Foi esta charge feita pelo cartunista Jaguar que serviu de pretexto para prisão em novembro de 1970 de toda a redação do jornal "O Pasquim". O motivo da prisão chega a ser também engraçado porque a ditadura militar tratou como símbolo nacional o conhecido quadro de Pedro Américo – muito ruim e uma cópia deslavada de uma pintura do francês Ernest Meissounier, onde ele retrata uma vitória importante de Napoleão. A frase brincalhona que Jaguar colocou na boca de D. Pedro I era de uma música cantada por Jorge Ben (que na época não era Benjor) que tocava muito no rádio.

Na época era assim. Tempos de "Brasil, Ame-o ou Deixe-o", não se podia brincar nem com o verde e amarelo da nossa bandeira. E nem com uma pintura ruim que era reverenciada pelos militares como símbolo da pátria.

Os milicos não acharam graça. Numa invasão da redação de madrugada pela polícia foram presos José Grossi, Fortuna, Ziraldo, Paulo Garcez e Luiz Carlos Maciel. Estavam terminando a edição daquela semana do jornal. Tarso de Castro fugiu pelos fundos quando a polícia chegou. A polícia foi na casa do Millôr Fernandes mas não o encontrou. Paulo Francis foi preso em casa. E Jaguar, Sérgio Cabral e Flávio Rangel se entregaram depois. Atendiam a uma proposta da polícia, que disse que assim soltaria os outros. Era um truque. Ficou todo mundo preso.

A prisão foi tratada depois de forma escrachada pelo jornal. Não perdiam a piada de jeito nenhum. Apelidaram o episódio de "A gripe da turma do Pasquim". Segundo Jaguar, nos dois meses que ficaram presos nunca foram interrogados por ninguém. Mas a verdade é que correram um risco tremendo. O clima político era pesado, com presos sofrendo torturas e também desaparecendo para sempre. Pelo menos um perigo sério chegou muito perto deles. Um comando da extrema-direita tentou pegá-los na prisão, mas um militar impediu o sequestro.

Passadas quatro décadas a piada do Jaguar não causa mais reação nos militares, que não estão nem aí para uma gozação dessas. A situação se inverteu no Brasil. Hoje em dia quem bronqueia contra gozações ao poder é a esquerda governista, que está sempre atiçando suas patrulhas sobre qualquer um que tente fazer algo fora do senso comum e sem reverência babaca por uma pátria que é roubada de cima a baixo.
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Por José Pires

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