segunda-feira, 12 de junho de 2017

Botando a família no meio da corrupção

Quando se vive em meio ao escândalo, na situação em que estamos atualmente, a gente deixa de se surpreender com fatos que seriam um despropósito em um país de relativa normalidade. Não é o caso dos dias de hoje, neste nosso sofrido Brasil. No entanto, mesmo envolvidos pelo descalabro, ainda que nossa sensibilidade esteja bastante debilitada, mesmo nesta triste condição certas atitudes ainda causam espanto, mesmo que o acontecimento seja parte de algo que já é uma afronta o bom senso.

Estou falando do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, o político que foi buscar uma mala cheia de dinheiro com Ricardo Saud, diretor da JBS. A entrega do dinheiro foi flagrada pela Polícia Federal, que até filmou Loures em uma corridinha pela calçada, levando a mala até o táxi. A cena é totalmente absurda até para o Brasil, pois junta elementos demais como prova da sem-vergonhice em que meteram o país. Rocha Loures, que é suplente, havia assumido no lugar de Osmar Serraglio, então no Ministério da Justiça. O homem da mala era também pessoa de total confiança do presidente Michel Temer, de quem inclusive havia sido assessor na vice-presidência. Até assumir o mandato, ele era Assessor Especial do Gabinete Pessoal da Presidência da República.

É muita coisa para um carregador de mala, não é mesmo? Mas não é isso que acho espantoso demais neste caso. O que me surpreendeu e dá até um certo mal estar foi saber neste final de semana que depois de pegar a propina com o diretor de JBS, Rocha Loures foi de táxi até a casa de seus pais, onde deixou a mala. Foi o “Fantástico” que descobriu isso, o que tem tudo a ver com o nome do programa. Mais fantástico ainda, a mala foi escondida no armário da mãe de Rocha Loures, segundo a PF. Vejam só: o sujeito envolveu a própria família numa das maiores sujeiras da história recente do país.

O ex-deputado é de Curitiba, no Paraná. De família tradicional, é filho de Rodrigo Costa Rocha Loures, conhecido empresário brasileiro, fundador da empresa Nutrimental e presidente por duas vezes da FIEP, federação de indústrias do estado. Dá para imaginar como a revelação do envolvimento com corrupção deve estar pesando para a família do ex-deputado, ainda mais pelo lance grotesco dele sendo filmado dando uma corridinha puxando uma mala cheia de dinheiro. O despropósito já era tanto, que parecia ser o máximo em degradação. Mas ainda tinha mais essa, da mala escondida na casa dos pais, logo no armário da mãe, o que vem comprovar que em matéria de absurdo não se deve subestimar a realidade brasileira.
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POR José Pires

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